TESTAMENTO VELHO, '^^
TRADlJZIDO EM P O UG^UE Z ^ 1913
S E G U N D Ò,dt.,
A VULGATA LA _
ILLUSTRADO DE PERFAÇÕES,
NOTAS,
E LIÇÕES VARIANTES.
ANTONIOÍ" 'pereira
DE FIGUEIREDO.
TOM. VI.
QUE CONTÉM O III. E IV. LIVRO DOS REIS.
Segunda Imprefsao revi fia , e retocada pelo mefm9
Jiithor,
LISBOA
NA REGIA OFFICINA TYPOGRAnCA.
M.DCC. XCVI.
Com licença do Defemhargo do Péi^o,
e Privilegio Real,
Vende-fe na loja da Viuva Bertrand e Filhos , Merca-
Aore% de Livros | juAto á Igreja dçfi J^^ityces a« Xiradtf
Taxio eflc Livro na quantia de quatrocentos
e oitcma reis. Lisboa 20. de Abril de 1796,
Com fm Âulrícas,
lU
índice
DOS
C A P I T U L O S,
Que fe contém neftes dous LivroSé
IIL LIVRO DOS REIS.
CAR I. Ahifag ef colhi da para aquen-
tar a David na fua vtlhice. Ado-
nias fórma feu partido para fer accla-
mado Rei, Mas Sa/amão lhe he prefe-
rido por diligencias de fua mãi Berfa*
bí\ Salamào perdoa a Adonias, Pag. i.
CAP. lí. Últimos confelhcs de David a
Salamão : fua morte, Adonias , Joab ,
e Semei mortos por ordem de Salamão^,
Abiathar deflerrado pelo mefmo. p. ij,
CAP. III. Salaynão Je defpofa com a filha
de Faraó, Pede a De os f abe dor ia. De os
lha dá fobre as riquezas , e a gloria.
Juízo que elle fez entre duas mulhe^
res. p. 24.
CAP. IV. Principaes Minijiros de Sala-
filão. Extensão dos feus dominios* Pa3
durante o feu Reinado* Sabedoria dejie
Príncipe, p. 32*
CAP. V. Alliança entre Hirão , e Sala^
IV
Índice
mão, Hirã o lhe manda as madeiras nê"
ceJJTarias para a conjirucção do Templo,
Salamão ej colhe d* entre os filhos d^ If-^
rael os que havião de trabalhar nejie
edifício, p. 39.
CAP. VI. Epota^ e Dejcripção do Templo
de Salamão, p. 44.
CAP. VII. Defcripção do Palacio de Sa^
lamão, Diverjas obras para o Tem*
pio, p. 5-4.
CAP. VíII. Dedicação do Templo. Oração
de Salamão a De os. Numero das viãi'
mas iynmolaàas nefta folemnidade, p, 67.
CAP. IX. Apparece o Senhor fegunda vez
a Salamão. EJie Principe dá vinte Ci»
dades ao Rei de Tyro, Edifica outras
de 7Í0V0 , e fujeita vários Povos, Man^
da huma frota ao paiz d^ Offir, p. 83.
CAP. X. A Rainha de Sabá vem bufcar
Salamão, Sabedoria , e riquezas defie
Príncipe, Defcripção do throno ^ que eU
le mandou fazer, p. 91.
CAP. XI. Salamão fe deixa arraflar do
amor das mulheres. Elias o fazem ca-»
hir na idolatria, Adverfarios que Deos
lhe fu feita, O Profeta Abias promette
a Jeroboão o reino das dezTribus, Mor*
te de Salamão, Roboão lhe fuccede, p. 99.
CAP. XII. Roboão dá lugar d feparação
das
DOS Capítulos.
das dez Tribus , que elegem a Jeroboão
por Jeu Rei, Roboão Je prepara para
fazer guerra a Jeroboão. O Profeta Se^
meias lho prohihe. Culto ímpio dos Be-
zerros ouro ejlabelecido por Jero-
boão. p. 112.
CAP. XIII. Hum Profeta prediz diante
dè Jeroboão o merecimento de Jojias ^
e a dejiruição dos Altos, FJic mefmo
Profeta he morto por hum leão , por ter
dejobedecido ao mandamento de De os. Je^
roboão perfifte na fua impiedade, p. 1 20.
CAP. XIV. Envia Jeroboão fua mulher a
confultar o Profeta Ah ias fobre a doen-
ça de feu filho. Morte de Jeroboão, Sue-
cede-lhe Nadab, Sefac Rei do Egypto
defpoja o Templo de Jeru falem. Morre
Roboão ; fuccede-lhe Abião. p. i 30.
CAP. XV. Abião imita a impiedade de
Roboão. Morre : e Aja feu filho lhe fuc-
cede. Efe imita a piedade de David.
Succedè'lhe feu filho Jofaffat. Nadab
Rei d^ Ifrael he morto por Baafa , que
reina em feu lugar. p. 137.
CAP. XVI. Jehu prediz aBadfa aruina
da fua familia. Morte de Badfa. Sue-
cede-lhe Ela. Zambri mata a FJa , t fe
faz Rei ^' Ifrael. Amri he eleito Rei
pelo Povo* Zambri Jè queima no Jeu pa*
VI
Índice
lacto. Morte d^Amri. Succede4he Acah.
EJie cafa com Jezabel, p. 146.
CAP. XVIL Elias declara a Ac ah , que
não choveria até que Deos o não decla^
rajfe pela fua boca, Efie Profeta Jujien^
tado pelos corvos. Vai a Sarepta a ca^
fa d^ huma viuva , a quem elle multi-
plica o azeite^ e a farinha. O filho dejla
viuva morre» Elias o refu feita, p. 155',
CAP. XVHI. Manda o Senhor a Elias,
que fe apprefente diante Acab, Elias
perfuade a Abdias que vd annunciar a
Ac ah a fua vinda. Entre vifta d'' Ac ah ,
e d"^ Elias, Elias faz defcer o fogo Jo-
hre o feu facrificio , e mata os falfos
Profetas de BaaL Promette chuva , e
ella cahe, p. icp,
CAP. XIX. Jezabel quer matar a Elias^
O Profeta fe retira ao mo'nte Pior eh.
O Senhor lhe manda que vã ungir a Pla-
^ael Rei da Syria , e a fehu Rei dUf
rael. Elifeo recebe o ejpirito de Profe»
cia ^ e fe aggrega a Elias. p. 169,
CAP. XX. Cerco de Samaria por Bena^
dad. Derrota do feu exercito. Outra
derrota do exercito dos Syros, Ac ah faz
alliança com Benadad, Pie por iffo re^
prehendido por hum Profeta, p. 174,
CAP. XXi, ilahqth reçuja vender a fua
DOS Capítulos.
VII
vinha a Acab. Jezabel faz condemnar
Naboth a Jer apedrejado, Elias faz ter-
viveis ameaças a Acab, EJie Principe
fe humilha , e defvia de fima de fi os
males de que ejlava ameaçado, p. 184.
CAP. XXIL Acab ^ e Jofajfat je Ugão con-
tra os Syros, Os faljòs Profetas d'Acab
predizem a viBoria. Miqucas lhe pre^
diz a fua morte, Acah morre. Orozias
lhe fuccede. Morre também Jofafat ^ e
fuc cede- lhe Jorão, p. 191.
IV. LIVRO DOS REIS.
CAP. I. Moab J acode o Jugo d^Ifrael.
Ocozias manda confultar a Belze-
bií fobre a fua doença. Elias lixe pre^
diz que morrerá. Efie Principe manda
gente , que lhe prenda Elias. Morte d^
Ocozias. Succede-lhe forão. p. 20:^.
CAP. II. Arrebatamento ^' Elias. EJie
Profeta promette a Elifeo , que lhe com^
municard o feu efpirito , e lhe deixa a
fua capa. Elifeo fcpara as nguas do
Jordão , e torna fddias as aguas de Je-
ricó. Quarenta e dous memnos são de-
vorados por dous Ur/os por terem feito
zombaria defte Profeta, p. 2 to.
CAP, III. O Rei de Moab recufa pagar o
tri'
vin
Índice
tributo ao Rei d' IfraeL Marcha ejle
Principe contra elle com o Rei de Ju^
da ^ e o Rei d'' Edom, Elifeo livra o feu
exercito de morrer de Jede, Os Moahi-
tas são vencidos, p. 218.
CAP. IV. Elifeo multiplica o azeite d^hu-*
ma pobre viuva. Alcança de Deos hum
filho a huma Sunamites : refujcita-lhe
efie menino. Adoça a amargura d"^ algu-
mas hervas, f arta a cem pejfoas com
alguns pães, p. 224.
^CAP. V, Naaman he curado de lepra por
Elifeo, Giezi he ferido do mefmo mal por
ter recebido prefent es de Naaman, p. 235'.
CAP. VI. Elifeo faz vir affirna d"" agua o
ferro hum machado, D ef cobre ao Rei
Ifrael a embofcada , que lhe queria
armar o Rei de Syria, Efle manda fol-
dados , que prendão o Profeta, O Rei
de Syria cérca a Samaria , e caufa nel-
la huma f orne horrorofa, p. 245'.
CAP. VÍI. Elíjeo prediz huma grande
abundância de viveres em Samaria, Os
- Syros fogem , e deixão todos os feus pro-
vimentos. Hum Ojficial do Rei , que não
tinha crido na pre dicção dJ" Elifeo , he
morto , pízado , e abafado d porta da
Cidade: p. 25:4.
CAP, VI 11. A Sunamites torna a vir pa-^
ra
DOS Capítulos. tx
ra^Ifrael depois dos fete annos da fome,
Elifeo vai a Damafco , e prediz a mor-
te de Benadad , e o reinado ã' Hazael,
Jorão filho de Jofaffat reina em Juda.
Revolta dos Idumeos. Morte de Jorão,
Succede4he Oco-zias. p. 2 5" 9.
CAP. IX. Jehu he ungido em Rei d' If
rael , e recebe ordem d^ extinguir a ca-
fa d^Acab. Mata a Jorão. Ó cozi as he
morto pelos feus, Jezabel he precipita-
da da Jua j anel la. p. 267.
CAP. X. Jehu faz morrer os filhos d*
Acah , e os irmãos d'^Ocozias. Extin»
gue os falfos Profetas de Baal ^ defiroe
o feu Templo , e queima a Jua efiatua.
Hazael alcança grandes vantagens fo-
bre IfraeL Morte de fehu. Sue cede- lhe
Joaccdz. p. lyf.
CAP, XI. Athalia faz matar toda a def-
cendencia real ^ e ufurpa a coroa. Joas
efcapa defta matança , e he depois ac-^
clamado Rei, Athalia he entregue d
morte. p. 284.
CAP. XI í. Joás manda reparar o Tem-
plo. Hazael vem fitiar feruf alem. Mor-
te de Jods, Sue cede- lhe Amália s. p. 290.
CAP. XIII. Joaccdz Rei dHJrael he op-
primido pelo Rei de Syria, Morre. Sue-
cede-lhe Jods. Elifeo prediz a Jods ^
que
X
Índice
que elle derrotará tres vezes o Rei
de Syria, Morte d"* Elijeo, Hum morto
lançado na fua fepultura refujcita lo-
go, p. 296,
CAP. XÍV. Amaftás manda matar os ma^
t adores de feu pai. Bate os Idumeos.
He vencido por Jods Ret d^Jjrael. Mor-'
te de Jods. Succede-lhe Jeroboão. Ama^
fias he morto pelos feus. Azarias reina
depois de lie. Morte de Jeroboão. Em
feu lugar reina Zacarias. p. 302.
CAP. XV. Azarias Rei de Juda he fe-
rido de lepra. Governa Joathão em feu
lugar. Zacarias Rei ^' Ifrael he morto
• por Selluyn , que reina depois de lie. Ma-
nahem fuccede a Se Hum , e tem por f
cejfor a Faceia , e depois delle a Facée,
Theglathfalafar tranfporta para a AJfy-
ria huma grande parte dos Ifraelitas.
Levanta-fe Ofée contra Facée , e occu^
pa o que lhe havia ficado em Ifrael. Em
Juda morto Joathao lhe fuccede feu fi^
lho Accdz. p. 310.
CAP. XVÍ. Accdz fe entrega ao culto dos
Ídolos. He cercado em Jeru falem por Ra-
fin-t e por Facée, Chama em feu foccorro
a Theglathfalafar. Manda levantar em
Jeru filem hum Altar como o de Damaf
CO, Morre, Succede4he Ezequias, p. 319»
CAP-
DOS Capítulos.
XI
CAP. XVíí. Cereo de Samaria por S alma-
nafar, rh tomada a Cidade , e os Ifrae^
litas tranfportados d Afjyria. Colónias
mandadas para Samaria em lugar dos
Ifraelitas. p. 325".
CAP. XVI íl. Ezequias rejlitue o culto do
Senhor d fu a pureza, Sennaquerib je che^
ga a Jeru falem, Difcurjos ímpios , e
ameaçadores de Ráb faces Official de Sen^
naquerib. p. 337.
CAP. XIX. Ezequias manda confultar a
1 faias, Efie Profeta o co-nfola, Senna-
querib marcha contra a Ethiopia , e blas-
fema novamente contra o Senhor, Eze^
quias faz oração ao Senhor, Ifaias pre*
diz a desfeita de Senna querib, O ji^ijo
do Senhor extermina o exercito deflc Prin-
cipe, p. 346.
CAP. XX. Doença d^ Ezequias, Retrogra-
dação do Sol. F.mbaixada do Rei de Ba--
bylonia, Ezequias he reprehendido por
ter moftrado os feus thefouros a ejles
ejirangeiros. Morte d^ Ezequias. Succe-
cle-lhe M anafes, p. 3 5' 6.
CAP.XXÍ. Impiedade de Mandjfes. Ameaças
do Senhor contra Jerujalem, Amon fuc ce-
de a Mandjfes , e Jofias a Amon, p. 363.
CAP. XXII. Piedade de Jofias, Acha-fe
no Templo o Livro da hei, Jofias ate-
mo»
xn Índice dos Capítulos.
morizado com a fua leitura confulta
Profetiza Holda. p. 369.
CAP. XXIII. Joíias tendo ajuntado todo
o Povo , renova a alUanca com o Senhor.
Dejiroe as relíquias da idolatria , e or-
dena a celebração da P afio a. He morto
fleuma batalha, Succede-lhe Joaccdz , e
a Joaccdz fiiccede Joaquim. p. 374.
CAP. XXíV. "Joaquim hefujeitado ao Rei
de Bahylonia, Morre, Succede-o outro
Joaquim, Nabucodonofor fitia a Jeru*
falem. Os principaes habitantes dtfta
Cidade são transportados a Bahylonia,
Sedecias he pojio em lugar de Joa-
quim, p. 384.
CAP. XXV. Ultimo fitio de Jerufalem por
Nahucodonojor, Sedecias he tomado , e
levado a Eabylonia. Nabucodonofir põe
fogo d Cidade , e tranfporta delia os ha-
bitantes, Godolias he confiituido Gover-
nador dopaiz, O Povo foge para o Egy^
pto, Joaquim he favorecido d^ Evilme^
rodach, p. 389,
PRE-
xm
PREFAÇÃO
AOS
DOUS ÚLTIMOS LIVROS
DOS
K E I S.
O Primeiro, e o Segundo Livro dos
Reis , os Hebreos os intitulão,
Primeiro^ e Segtmdo de Samuel', o
terceiro, e o quarto, intitulão-nos , Pri-
meiro , e Segundo dos Melaqtiins , ifto he ,
dos Reis. Mas ifto he do tempo de São
Jeronymo para cá : porque antes , como
fe colhe d' Origenes ^ dous não fazião
fenão hum , e todos quatro não fazião
fenao dous.
Quem foíTe o Author do terceiro,
e quarto , nao fe íabe. Como em Ifaias ,
e em Jeremias fe achão alguns Gapitu-
los , que também fe Icm no quarto Livro
dos Reis (Ifai. XXXVII. e XXXVIIL
comparado com os Capitulos XIX. e
XX. do quarto dos Reis : e Jeremias
LII. I. comparado com o quarto dos
Reis , XXIV. i8.- e XXV. i. ) cmdárão
XIV Prefação. •
alguns que as Profecias , e a Hiftoria
onde ellas fe referem , erão obra d'
huma ineíma mão, e d' hum fó Author.
Porém os mais hábeis, e judiciofos
Críticos eftão hoje de parecer , que o
que fe lê nos Capitulos XXXVlí. e
XXXVIIL de Ifaias , da Hiftoria de
Ezequias; c no Capitulo LII. de Jere-
mias, da tomada, e ruina dejeruíalem
pelos Caldeos , tudo foi alli inferido
por outra mão , e extrahido do quarto
Livro dos Reis. Sem que obfte o que
fe diz no fegundo dos Paralipomenos ,
XXXII. 32. o 7'ejio das acções d!" Eze-
quias , e das fuas mifericordias ejid efcrito
na visão do Profefa Ifaias filho d^ Amós , e
no Livro dos Reis de Juda , e d^ IfraeL
Porque nós não negamos que Ifaias não
efcreveíTe algumas Memorias pertencen-
tes ao Reinado d' Ezequias: mas dize-
mos que eflas Memorias não chegarão
a nós , como também não chegarão os
Annaes dos Reis de Juda , e d'IfraeL
A fentença pois mais commum , e
mais bem fundada he a que faz Efdras
compilador deftes dous últimos Livros ,
já
Prefação. XV
já depois do cativeiro de Babylonia.
Não que todos os períodos y e claufu-
las deites Livros fe polsao attribuir a
Eídras : pois que algumas fe encontrão
em ambos elles, que por fi fó fe eftão
dando a conhecer efcriras , por quem
vivia antes do dito cativeiro (como o
que fe lê no Livro 111. Capitulo VIIL
verfo 8. de ptrfeverar ainda a Arca no
Templo: e no Livro III. Capitulo XIL
verfo 19. de perfeverar ainda a fepara-
ção das dez Tribus , conftituindo outro
Reino:) mas fim que Efdras ^ que nas
coufas anteriores ao feu tempo fe gover-
nava pelas Memorias authenticas, que
exiftião nos Cartórios públicos , quiz
em prova da fua fidelidade , e finceri-
dade confervar na fua Compilação as
mefmas palavras , por que fe tinhão ex-
plicado os Eicritores definas mefmas Me-
morias , ajuntando de feu fomente aquil-
lo , que era do feu tempo. Como o que
elle efcrcve do anno trinta e fete da
tranfmigração de Joaquim para Babylo-
nia 5 que era o anno quarenta e finco
do cativeiro, (iv. Reg. xxy. 27.) E o
que
xví Prefação.
que elle diz noutro lugar , que as dez
Tribus do Reino de Samaria eftavao
ãinda em feu tempo no paiz dos AíTy-
rios 5 para onde tinhao fido tranfporta-
das por caufa dos feus crimes , em con-
íequencia das predicçoes dos Profetas,
(iv. Reg.xvii. 23.)
REIS.
v^i?^ !>^^SS^ ''-^ ^ ^
REIS.
LIVRO TERCEIRO,
CHAMADO EM HEBRAICO
PRIMEIRO LIVRO
MEL A^^Q^^U I N S.
CAPITULO I.
Ahifãg e [colhida para aquentar a 'David na
Jua velhice^ Adonias forma Jeu partido
para fér a c clama do Rei, Alas Sa Ia ma o
lhe he preferido por diligencias de Jua
mãi Berfabé, Salamão perdoa a Adonias.
Rei David tinha envelhe-Anno
eido, (^) e achava-fe nu-^^^i^^*
ma idade mui avançada; e^j^^^g
por mais que o cobrião de de J.C,
roupa, {b) não aquecia. ^015.
Tom. VI. A Dif-
( /j ) E acha^>a'fi nmna idade , ^c. Pelo que fc
áilTc , 11. Rcg. V. 4. c , que D^vid começara a rei-
nar aos trinu annos , e reinava ao todo quarenn ,
fc colhe* , que a efte tempo tinha David entrado
nos letcnta , ou cftava perto dclics. Pe;<eira.
(i») Nio aqum4. Por falta dc calor n;<tuf4Í. O
í
1 R. E I S.
2 Diff.Tão-lhe pois (c) os feus cria*
dos : Bufquemos para o Rei noíTo Se-
nhor huma rapariga virgem , que lhe af-
lifta, que o aquente , e que dormindo a
feu lado remedee o grande frio do Rei
noíTo Senhor.
3 Bufcárão pois em todas as terras
d'Ifrael huma rapariga que foíle fermo-
fa : e tendo achado a Abifag (d) de
Sunam , a trouxerão ao Rei.
4 Era ella huma rapariga d' extre-
mada belleza, e dormia com o Rei, e
o fervia : (e) mas o Rei a deixou fem-
pre virgem.
Por
ue não era muito num Príncipe , que ainda que
huma conftituição rebuftiíKma , tinha paflado a
maior parte da fua vida entre períeguiçóes , fobrc-
faltos , cuidados, e guerras. Pereira.
(c) 05 feus criados. Por eftcs entende aqui Jo-
fé Hebreo os Médicos da Camara. Pereira.
(íi) De Sunam. Era huma Cidade daTribu d'
lílacar. ]of. xix. i8. E daqui ficarão advertidos os
meus Leitores que Sunamitis não he nome próprio
deita mulher , mas próprio da fua pátria, Perei-
KA.
(e) Mas o Rei a deixou fempre virgem. Grande
prova da virtude, e continência de David! princi-
painiente para com os que fentem, que Abifag era
câfada com elk^ como com «S. jeronymo^ c oa-
Lrv. Ili. Cap. I. 3
y Por efte tempo Adonias filho d'
Haggith fe elevava , dizendo : Eu ferei
o que reine. E mandou fazer para li
coches , c tomou gente de cavallo, e
iincoenta homens^ que foíFem correndo
adiante delle.
6 (f) E nunca fcu pai o reprehen-
deo, nem diíTe: Porque fazes ifto ? E
elle era também gentil , e o fegundo
gcnito depois d'Abfalao.
7 E tinha inteiligencia com Joab
filho de Sarvia , e com o Sacerdote Abia-
thar, que ambos fuftentavão o fcu par-
tido.
8 Mas nem o Sacerdote Sadoc , nem
Banaias filho de Jojada, nem o Profeta
Nathan , nem Semei , e Rei , nem o
grolTo do exercito de David, erão por
Adonias.
9 Adonias pois (g) tendo immola-
A li do
tros Padres fentem Lyra , Caetano , Mcnoquio,
Tirino, e outros muiro?;. Pereira.
(/) E nunca f eu pai orepi ehcmko. Com ifto pa-
rece noiar a Efcritura a David de demaziadamente
froxo , e negligente: do que largamente trata aqui
P Abuienfe. Pereira.
C^) ^endo immolado carneiros , <ú>*c. Immtar
4 R E I Si
do carneiros, novilhos, e toda a forte
de viítimas gordas ao pé da Pedra de
Zoeleth y que eftá junto da Fonte de
Rogel , convidou a todos feus irmãos
filhos do Rei , e a todos os de Juda^
que eftavâo em ferviço do Rei.
10 Mas não condi vou nem ao Pro-
feta Nathan , nem a Banaias , nem a al-
gum dos mais valentes , nem a Salamão
feu irmão.
11 Então diíTe Nathan a Berfabé
mãi de Salamão : Tu não ouvifte , que
Adonias filho d'Haggith fe tem feito
Rei , fem que noíFo Senhor David o
faiba?
1 2 Agora pois vem , e toma o meu
confelho , e falva a tua vida , e a de teu
filho Salamão.
1 3 Vai , e entra ao Rei David , e
dize-lhe : Não he aflim, óRei meu Se-
nhor , que tu jurafte á tua efcrava , di-
zendo : Salamão teu filho reinará depois
de
por degoUar y ou matar, como adiante noverfo 2^.
Porque contra o que cuidava Menoquio , não fc
falia aqui dc verdadeiro facriíício, que Adonias fi-
zclTc a Deos , mas d' hum banquete que nada ti»
nha de fagrado, Malvenda.
Liv. III. Cap. L 5-
de mim, e elle ferá o que feaíTente no
meu throno ? Porque reina logo Adonias ?
14 E quando tu ainda cíliveres fal-
lando^ com o Rei , fobrevirei eu depois
de ti , e acabarei as tuas razões.
15* Entrou pois Berfabé ao Rei no
feu quarto: eoRei era já muito velho,
e Abifag de Sutiam o fervia.
16 Inclinou-fe Berfabé profunda-
mente, (h) adorou o Rei. E o Rei
lhe diíTe : Que he o que queres ?
1 7 Ella refpondeo , dizendo ; Meu
Senhor, tu jurafte átuaefcrava pelo Se-
nhor teu Deos, e me diíTefte : Salamão
teu filho reinará depois de mim , e elle
ferá o que fe aíTcnte no meu throno.
18 E agora eis-ahi temos a Ado-
nias feito Rei , fem tu, ó Rei meu Se-
nhor, o fabcres.
19 Elle immuloubois, etoda a for-
te de gordas viftimas , c hum grande
numero de carneiros: e convidou a to-
dos
(/O É adorou o Rei. O termo adorar neftc, c
noutros lugares femelhantcs, náo denoca corra cou-
fa mais do que o ado exterior de inclinação , ^ç*
nuácxào , ou proftraçáo, com c]uc o vaíTalIo pro-
teftava o ícu profundo rcfpeico ao Rei. Peheira.
6 Reis.
dos os filhos do Rei , e ao Sacerdote
Abiathar, e a Joab General do exerci-
to : mas não convidou a Salamão teu
fervo.
20 Entretanto todo o Ifrael eftá com
os olhos em ti ^ ó Rei meu Senhor , cf-
perando que tu lhe declares , ó Rei meu
Senhor , quem he o que deve aíTentar-
fe no teu throno.
21 Porque tanto que o Rei meu Se-
nhor dormir com feus pais , eu , e meu
filho (/) feremos os peccantes.
22 Eftando ella ainda fallando com
o Rei 5 eis-que chegou o Profeta Na-
than.
23 E avisarão ao Rei , dizendo:
Eis-aqui eftá o Profeta Nathan. E Na-
than entrado que foi á prefença do Rei
o adorou, proftrando-fe em terra, e lhe
diíTe :
24 O' Rei meu Senhor , acafo dif-
fefte tu: Adonias reine depois de mim,
e
( i ) Sermos os peecantes, Ifto he , os que como
réos dcLcfa Mageftade padeçamos os últimos fup-
plicios. E fobentende-fe , fe tu em tua vida náo
declarares teu fucceílor a ^alamáo. Feksí^vA*
Liv. IIL Cap. I. 7 -
e elle fe ja o que fe aíTente no meu thro-
no?
25 Porque elle defceo hoje, immo-
lou bois, e viftimas gordas , e grande
quantidade de carneiros : convidou a to-
dos os filhos do Rei , e aos Generaes
do exercito, e ao Sacerdote Abiathar,
os quaes comerão , e beberão com elle ,
dizendo : Viva o Rei Adonias.
26 Mas não me convidou a mim
que fou fervo teu , nem ao Sacerdote
Sadoc , nem a Banaias filho de Jojada ,
nem a teu fervo Salamão.
27 Acafo fahio efta ordem da par-
te do Rei meu Senhor , fem que tu me
declaraífes a mim , que fou teu fervo,
quem era aquelle, que devia depois do
Rei meu Senhor aflentar-fe fobre o feu
throno ?
28 E o Rei David refpondeo, di-
zendo: Chamai-mecá aBerfabc. Eten-
do-fe ella aprefentado ao Rei , e citan-
do em pé diante delle,
29 jurou o Rei, e lhe diíTe : Viva
o Senhor, que livrou a minha alma de
todo o género de perigos:
8
Reis.
30 que aílim como eu te jurei pelo
Senhor Deos d'lfrael 5 dizendo-te : Sala-
mão teu filho fera quem reine depois de
mim , e elle ferá o que em meu lugar
fe aíTcnre no meu throno : aíTim o cum-
prirei hoje.
31 E Berfabé proftrando-fe com o
rofto em terra , adorou o Rei , e lhe
diííc: Viva David meu Senhor para to-
do fempre.
3z DiíTe mais o Rei David: Cha-
mai-me cá ao Sacerdote Sadoc, ao Pro-
feta Nathan, e aBanaias filho de Joja-
da. E tendo elles entrado á prefença do
Rei,
3 3 eftc lhes diíTe : Tomai comvof-
co os fervos de voflb amo; (k) e fazei
montar na minha mula a meu filho Sa-
lamáo, (/) e levai-o a Gihon.
E
Ck) ^ f^zei montar na minha mula , <^e. Ifto
hc , na mula de que eu fò ufo , ou como hoje fc
diz, na mula da Pcnba. Pereira,
(/) E levai o a Gehon, Era huma Fonte , oii
Regato , que banhava a Cidade de Jcrufalem , e
corria fronteira á outra Fonte de Rogel , onde Ado-
nias fc tinha feito acclamar. ii.Paralip. xxxiu^O»
Liv. III. Cai>. I. 9
34 E o Sacerdote Sadoc com o Pro-
feta Nathan o unjão alli em Rei d'lf-
rael. E vós fareis foar a trombeta , e
direis em alra voz : Viva o Rei Sala-
mão.
3) Depois voltareis em feu fegui-
mento , e elle virá aíTentar-fe fobre o
meu thronoj e reinará em meu lugar: e
eu lhe ordenarei que governe a Ifrael ,
€ a Juda.
36 ErefpondeoBanaias filho dejo-
jada y dizendo : Amen : Aílim o confir-
me o Senhor Deos do Rei meu amo.
37 Bem como o Senhor foi com o
Rei meu Senhor , aíIim feja elle com
Salamáo , e eleve o feu throno ainda
mais 5 do que o throno do Rei David
meu amo.
38 Então dcfccrão o Sacerdote Sa-
doc, o Profeta Nathan, eBanaias filho
de Jojada, com osCeretheos, e osFe-
letheos, e fizerao montar a Salamáo na
mula do Rei David, e o levarão a Gi-
hon.
^39 E o Sacerdote Sadoc tomou do
Tabernáculo o vaio do oleo y e ungio a
Sa-
TO Rei s.
Salamão : e tocarão a trombeta , e difle
todo o Povo : Viva o Rei Salamão.
40 E fubio toda a multidão apôs
clle 5 e o Povo cantando ao fom de flau-
tas, e moftrando grande regozijo, e a
terra retinio com as fuas acclamaçóes.
41 Ouvio Adonias , e ouvirão to-
dos os que elle tinha convidado efte ef-
trondo , a tempo que o banquete eftava
já acabado. EJoab como ouviíTe foar a
trombeta , diíTe : Que quer dizer efte
ruido de Cidade alvoroçada?
42 Ainda elle eftava com a palavra
na boca , eis-que chega Jonathas filho
do Sacerdote Abiathar , ao qual diíTe
Adonias : Entra , porque tu es hum va-
lente homem , c nos trazes algumas boas
novas.
43 E refpondeo Jonathas a Ado-
nai: Não por certo: porque o Rei David
noíTo Senhor conftituio Rei a Salamão.
44 E enviou com elle ao Sacerdote
Sadoc, ao Profeta Nathan , a Banaias
filho de Jojada , aos Geretheos , e aos
Feletheos : e elles o fizerão montar na
mula do Rei.
L I V. III. C A P. I. II
45* E o Sacerdote Sadoc com o Pro-
feta Nathan o ungirão em Gihon ^ don-
de elles voltarão com os alaridos dogof-
to que atroáríso a Cidade: efte he o ef-
trondo que vós ouviftes.
46 Pelo que Salamão eílá já aíTen-
tado no throno do Reino.
47 E os fervos do Rei entrarão a
dar o parabém ao Rei David noíTo Se-
nhor , dizendo : Deos faça o nome de Sa-
lamão ainda mais illuftre do que o teu, e
elle eleve o feu throno fobre o teu throno.
E oRei(;;2) fez adoração no feu leito,
48 e diífe : Bemdito feja o Senhor
Deos d'irrael , que me fez ver hoje com
os meus próprios olhos ao que fealfcnta
fobre o meu throno.
49 Aquclles pois, a quem Adonias
tinha convidado , todos cheios de medo
fe levantarão , e cada hum foi para fua
parte.
50 Adonias porém temendo a Sala-
mão, fe levantou, (w) e fe foi abraçar
com o corno do Altar.
En-
(m) Tez adora(^ao, Emende-fe a Deos, dando-
Ihe 39 s;raçHS. Pekeira.
(«) jE fe foi abrai^ar com o çorno do Altar. Ef-
l^ Reis.
5-1 Então vierão dizer a Salamão:
Eis-ahi Adonias 5 que por temer ao Rei
Salamão , ellá agarrado ao corno do Al-
tar, e diz: O Rei Salamão me jure ho-
je j que elle não fará morrer íeu fervo
á efpada.
5-2 E Salamão refpondeo : Se elle
fe houver como homem de bem , não
cahirá em terra nem hum fó cabello da
fua cabeça : (0) mas fe fe achar nelle
maldade , morrerá.
53 (p) Mandou pois o Rei Sala-
mão
pcrando que o lugar fanto lhe ferviíTc dafylo , pa-
ra o náo matarem. Boa prova da immunidade dos
Templos entre os Hebreos. Pereika.
(o) Mandou pois,., que ofojfem tirar do Al-
tar. Aqui manda Salamão tirar do Altar a Ado-
nias 5 depois de lhe ter perdoado , e de lhe ter pro-
mettido impunidade. No Capitulo feguinte, verfo
29. e ^i. manda o mefrao Salamáo matar no Al-
tar ajoab, viftoque requerido que fahiíTe do Tem-
plo , o náo quiz fazer. Logo na mio do Rei ella-
va guardar , ou quebrar a immunidade dos Tem-
plos , conforme erâo as circumftancias do crim«,
ou do réo. Pereira.
(p) Mas fe fe achar nelle vtaldade , <^c. He co-
mo íe diíTera: Mas fe me conftar, que elle toma
a afpirar ao Reino , pagaHo-ha com a vida. Psr
KEIRA.
Liv. III. Cap. L 13
inão , que o foíTem tirar do Altar : e
Adonias tendo entrado á prefença do
R«i Salamão, o adorou, eSalamão lhe
dilFe : Vai para tua cafa.
CAPITULO II.
Últimos confelhos de David a Salamão \
Jua morte, Adonias , Joab , e Semei
mortos por ordem de Salamão» Abiathar
dejlerrado feio mejmo.
I XT^Stando próximo o dia da mor-Anno
JLte de David , deo elle eítes^^^ ^•
mandamentos a Salamão feu filho , di-^^j^'^
zendo-lhe. Chr.
2 Eis-me aqui perto do termo 5 pa-1014.
ra onde cammha toda a terra , arma-te
de valor , e porta-te como homem.
3 Obferva tudo o que o Senhor teu
Deos te mandou: anda pelos feus cami-
nhos : guarda a^ fuas ceremonias , os
feus preceitos , as fuas ordenações , e
as fuas leis , conforme eílá efcrito na
Lei de Moyíes, para que entendas tu-
do o que fizeres^ e para onde quer que
tc voltares.
Pa-
14 R È í s.
4 Para que o Senhor confirme as
íuas palavras, que elle fallou de mim,
dizendo : Se os teus filhos vigiarem fo-
bre os feus caminhos , e andarem dian-
te de mim em verdade , de todo o feu
coração , e de toda a íua alma , terás
tu fempre algum dos teus dcfcendcn-
tes 5 que efteja aíTentado no throno d'
Ifrael.
5" Tu fabes também ^ (a) como me
tratou Joab filho deSarvia, e o que el-
le fez aos dous Generaes do exercito
d' Ifrael , a Abner filho de Ner , e a
Amafa filho de Jether , os quaes elle
matou 5 tendo derramado o feu fangue
em tempo de paz , como fe foíTc na
guerra , e tendo tinto com elle o boldrié
que trazia fobre feus rins , e os fapatos
que tinha nos pés.
6 Farás pois conforme a tua fabe-
doria, enãopermittirás queasfuas cans
o levem em paz á fepultura.
Mof-
(^) Como me tratou Jcab , é^c, O qual depois
de matar a Abfaláo contra a ordem cxpreiTa que
eu tinha dado , de que fe lhe confervaííe a vida ,
teve ,0 atrevimento de me fallar com huma info-
Liv. in. Ca?. IL
7 Moftrarás outrofim o teu agrade-
cimento aos filhos de Berzellai de Ga-
laad y c elles comeráõ á tua meza , por-
que me fahírão ao encontro , quando
eu fugia de diante d'Abfalão teu ir-
mão.
8 Tens também comtigo a Semei
filho de Gera , filho de Jemini de Ba-
hurim , que me maldifle com huma pef-
fima maldição , quando eu hia para o
arraial. Mas porque elle veio encontrar-
fe comigo , paíTando eu o Jordão , eu
lhe jurei pelo Senhor , dizendo : Não
te matarei a efpada.
9 (b) Não deixes fem caftigo o feu
cri-
lencia intolerável : e demais a mais favorecco a
Adonias na empreza d' invadir o reino. Saci.
Çb) Não deixes fem caftigo ^ eb^c Sem ficar per-
juro , cncommenda David a Salamáo , que dê gei-
lo , a cjue Semei pague com a vida a infolencia.
Porque o que David tinha jurado a Semei , não foi
que nunca o faria matar j mas precifamente , que
o nto mataria em fua vida. Também náo pódc
David fer notado de vingativo , pelo que encom-
inendou a Salamáo acerca de Semei. Porque co-
mo particular , elle tinha perdoado de todo o feu
coração a Semei , e foíFrido com cfpirito dc peni-
tencia a maldição : m»8 como Rei devia procurjit
i6 Reis.
crime. Homem entendido es pára fabc-
res , como te has de haver com elle : e
levarás as fuas cans á fepultura com mor-
te violenta.
10 Adormeceo pois David com feus
pais, (c) efoi fepultado na Cidade de
David.
11 E o tempo que David reinou Ib*
bre Ifrael , forâo quarenta annos. Elle
reinou íete annos em Hebron, e trinta
e tres em Jcrufalem.
12 Ao mefmo tempo Salamao to-
mou poíTe do Reino de David leu pai,
(d) e o feu Reino fe fortificou fobre
maneira.
13 Então entrou Adonias filho d'
Haggit aver a Berfabé , mãi de Salamao.
^ Ber-
cvíraf para o futuro com o caftigo d1ium táo ma<3
vaíTalIo as rebcldias dos outros. Pereira.
( f ) E foi fepultado na. Cidade de David. Na-
quella parte dc Jerufalem , que David tinha toma-
do aos Jebufcos chamada então a Fortaleza dc
Sião, c depois a Cidade de David. 11. Reg. v. 7.
Pereira.
(^) E o feu Reino Je fortificou poder ofamettte;
Por caufa de que todo o povo acecitou a fua elei-
ção , c lhe fez juramento dc fidelidade. ^Ieno*
Liv. III. Cap. II. 17
Berfabé lhe diíTe : He por ventura de
paz a tua entrada.^ Elie lhe reípondeo :
De paz he.
14 E ajuntou : Tenho huma pala-
vra que te dizer. Dize-a , refpoiídeo Ber-
fabé.
Tu ilibes , diíTe Adonias , que
o Reino era meu , e que todo o Ifrael
me tinha efcolhido com preferencia pa-
ra feu Rei ; mas o Remo foi transferi-
do, e paíTou para meu irmão, porque o
Senhor o deftinou para clle.
I 6 Agora pois huma fó coufa te pe-
ço 5 nao me faças paíTar pela vergonha
de ma recufares. DilTe Berfabé : Ex-
plica-te.
17 Continuou Adonias : Como o
Rei Salamão nao pode negar-te nada,
peço-te que lhe digas , que me dê a
Abifag de Sunám por mulher.
18 Berfabé lhe refpondeo : Eílá
bem 5 eu fallarei por ti ao Rei.
19 Veio pois Berfabé ter com o Rei
Salamão , para lhe fallar por Adonias.
E o Rei fe levantou a vir rccebella, e
a faudou com huma profunda reveren-
Tom. YL B cia.
i8 Reis.
cia , e fe aíTentou no feu throno ; e poz-
fe hum throno para a mai do Rei , a
qual íe aíTcntou á fua mão direita.
20 E diíTc Berfabé a Sahimão : Eu
não tenho fenão huma pequena coufa
que te pedir: não me envergonhes com
a repulfa. E o Rei lhe diíTe : Dize , mi-
nha mãi, que he o que pedes: porque
não fera jufto deixar- te ir defcontente.
21 Diffe Berfabé : De-le Abifag
de Sunám por mulher a Adonias teu ir-
mão.
22 E refpondeo o Rei Salamao a
fua mãi, e lhe diffe : Porque pedes tu
Abifag de Sunám para Adonias ? Pede
logo também para elle o Reino : por-
que elle he meu irmão mais velho , e
tem por li ao Sacerdote Abiathar , e a
Joab filho de Sarvia.
23 {e) Jurou pois o Rei Salamao
pelo Senhor , e diíTe : Deos me trate
com todo o feu rigor , fenão he verda-
de,
( ^ ) pois O Rei Salamao , ó^c. Salamáo
perfuadiofe , que a petição d'Adon!as hia encami-
nhada a abrir- fe com o cafamenro d'Abifa2 huma
porta para fubir ao throno. Pereira.
Lrv. III. Cap. IL 19
dc , que Adonias por eik palavra fal-
loa contra a fua própria vida.
24 E agora juro pc!o Senhor que
me fegurou , e que me collocou no thro-
nj de David meu pai , e que eftabeic-
cco a miniia caía como tinha dito : ju-
ro, digo, que Adonias ferá hoje mor-
to.
25- E m.andou o Rei Salamão com
efta ordem a Banaias filho de Jojada ,
o qual o feno , e matou.
26 Díiro também o Rei ao Sacer-
dote Abiathar: (/) Vai para Anathoth ,
para o teu campo , que na verdade es
digno de morte; mas eu te não matarei
hoje , attendendo a que levafte a Arca
do Senhor Deos diante de meu pai Da-
vid , e r.companhafte a meu pai em to-
dos os trabalhos , que padeceo.
27 Defterrou pois Salamao a Abia-
thar , para nao exercitar mais as fun-
ções de Sacerdote do Senhor , e para
B ii fe
(/) y.ti j^ira Anmhoth. Cidade Sacerdotal na
Tnbn dc Benjamim. E nore-fc por eftc , e pelo
fcguinrc verio o grande Pvodcr que Salamao exer-
cita contra o Pontífice Abiathar, hu:na vez que o
achou réo dc Lda Magcftade. Pereira,
Reis.
fe cumprir a palavra que o Senhor ti-
nha proferido em Silo , acerca da cafa
d' Heli.
28 (^) E chegou eíla noticia a
Joab 5 o qual tinha feguido o partido
d' Adonias 5 e não o de Salamao: fugio
pois Joab para o Tabernáculo do Se-
nhor, e pcgou-fe ao corno do Altar.
29 E vierão dizer ao Rei Salamao,
que Joab tinha fugido para o Taberná-
culo do Senhor, e eílava ao pé do Al-
tar. E Salamao mandou a Banaias filho
de Jojada , e lhe diíTe : Vai , e mata-o.
30 Foi Banaias ao Tabernáculo do
Senhor, e diíle a Joab: O Rei manda,
que faias daqui. EJoab lhe refpondeo:
Não fahirei , mas morrerei neíle lugar.
Deo
(^) E chegou efla noticia a Joah, Ifto hc , a
noticia de ter íido morto Adonias , e deíterrado
Abiathar : para o qual fentido fc perceber , concordáo
todos os meus Interpretes , que aquelie qucd Joab
da Vulgata fc deve conftruir por qui. He lambem
d' advertir, que neíte verfo em lugar de éf^poftSa*
lomonem (que he a Lição dos Setenta , e de S. je-
ronymo ) traz o Hcbreo ó-* pojl Mfolonem, Mas
já obfervou Francifco Lucas , que cada huma def-
las Lições tomada per fi, he verificável peia Hif-,
toria* Fe^eika.
LiV. III. CaP. II. 21
Deo Banaias parte difto ao Rei , e lhe
diíTe : Eis-aqui a relpofta que me deo
Joab.
31 E o Rei lhe diffe : Faze , como
elle re diíTe : mata-o , e fcpulta-o : e
com ilto tolherás • que nem eu , nem a
cafa de meu pai fiquemos encarregados
no fangue innocente , que Joab derra-
mou.
32 E o Senhor fará que o ílingue
delle recaia fobre a fua cabeça, porque
aíTafíincu a dous homens jufios , que erao
melhores do que elle , e que elle ma-
tou á efpada , fem que meu pai David
o foubefle : quaes foráo Abner filho de
Ner, General do Exercito d'Ifrael, c
Amafa filho dejether. General do exer-
cito de Juda.
33 E o feu Tangue recahirá para
fempre fobrc a cabeça de Joab , e fobre
a fua pofteridade. Mas a David , e á
fua defcendencia , á fua cafa, e ao fcu
throno dê o Senhor paz para fempre.
34 Parrio pois Banaias filho de Jo-
jada ; e arrcm et tendo a Joab , o matou :
e elle foi fepukado em fua cafa no dc-
ferto. En-
2tx Rei s.
35* Então cm lugar de Joab tonftl-
tuk) o Rei a Banaias filho de Jojada
por General do exercito: e em lugar d'
Abiathar poz por Sacerdote (/^) a Sa-
doc.
36 Mandou o Rei também chamar
a Semei , e lhe diíTe : Faze para ti caía
em Jerufalem , e deixa-te eílar ahi , e
não laias andando d' huma parte para a
outra.
37 Mas tem entendido , que em
qualquer dia que daqui fahires , (i) e
que paíTares a torrente de Cedron , nel-
Ic mefrao feras morto , e o teu fangue
recahirá fobre a tua cabeça.
38 E diífe Semei ao Rei : Jufta or-
dem he ella : como o dilíc o Rei meu
Senhor y aíEm o executará o leu fervo.
Mo-
(/;') Jl Sadoc, Que já o tinha fido em tempo
dc David. ( II. Reg. víii, 17. ) Pereira.
{í) E cjue pãjfãres a torrente de Cedron, Para ir
de Jcrufaicm a Gcth , como foi Semei pelo verío
40 , náo era neccíTario paíTar a torrente de Cedron :
porciue a torrente ficava ao Oriente da C\òzát , c
Geth ficava aoOccidentc. Mas para ir aB.ahurim,
onde Semei tinha os leus campos , era iílo neccf"
fíirio. Me NO (2 u 10.
Liv. III. Cap. 11. 25
Morou pois Semei em Jcrufalem largo
tempo.
39 Mas paíTados trcs annos^ acon-
teceo oue os efcravos ce Semei fum-
rão para Aquis filho de Mar. ca Rei dc
Geth: e vierão dizer a Semei , que os
feus efcravos tinhao ido para Geth.
40 Levantou fe pois Semei , e fi-
lhou o feu jumento , e foi ter com Aquis
a Geth em buíca dos feus efcravos , e
tornou-os a trazer de Geth.
41 E deo-íe avifo a Salamao , que
Semei tinha ido de Jerufalem a Geth,
e voltado de Geth para Jerufalem.
42 E mandando-o chamar, lhe dif-
fe : Não te conjurei cu pelo Senhor , e
te avifei ant^s , dizendo) : Tem enten-
dido, que em qualquer dia que fahires
a huma, ou outra parte morrerás Etu
me refpondefte : Jufta ordem he eíla,
que acabo de ouvir.
43 Porque nao guardafte tu logo o
juramento , que fizelte ao Senhor , e a
ordem que eu te tinha dado?
44 E o Rei dilTe a Semei : Tu fa-
bes todo o mal , que a tua confciencia
te
^4 Reis.
te accufa teres feiro a David meu pai:
o Senhor fez recahir a tua inalicia fo-
bre a tua cabeça.
45 E o Rei Salamão fera abençoa-
do, e o throno de David ferá para fem-
pre eftavel diante do Senhor.
46 Deo pois o Rei ordem aBanaias
filho de Jojada , o qual tendo fahido a
executal-Ia, ferio aSemei, e o matou.
CAPITULO III.
Salamão fe defpofa com a filha de Faraó*
Pede a Deos fabedoria, Deos lha dá fo-
ire as riquezas ^ e a gloria. Juizo que
elle fez entre duas mulheres,
hnwh ^ ^ I ^Endo-feaflim confirmado o Rei-
ant. dc JL no na mão de Salamão , efte fe
Chr. aparentou com Faraó Rei do Égypto,
(a) porque cafou com huma fua filha,
a
(/í) Porqae cafou ^ ^c. Sendo Faraó hum Rei
Gentio , parece que náo tomaria Salamáo por mu-
lher a fua filha , f e a náo vilTe determinada a abra-
çar o culto do verdadeiro Deos, profeíTando a Re-
ligião dos Hcbreos : no qual cafo permittia a Lei
caiar com mulheres cftrangeiras. (Deut. xxi. 10.
IX, 12.) Pofque ao depois tomou Salamáo muitas.
Liv. IIL Cap. III. 25-
a qual levou para a cidade de David,
até que acabaffe de edificar a lua cafa,
e a caía do Senhor, e o muro que fe fa-
zia á roda de Jerufalem.
2 Entretanto o Povo (h) immolava
fobrc os Altos : porque até aquelle dia
fe não tinha edificado Templo ao No-
me do Senhor.
3 Mas Salamão amava o Senhor, e
fe conduzia fegundo os preceitos de
David feu pai, (c) excepto que facrifi-
cava , e queimava incenfo nos Altos.
Foi
que não eráo defta clafTe , por iíTo o reprchcnc?e a
Efcr-tura adiante, Capiíulo XI. vcrro i. e 2. Pe-
JREIKA.
(b) Immolava [obre os Altos. Em Altares fcm
dúvida confagrados ao verdadeiro Deos , quacs eráo
os cm que o Povo, e o mefmo Samuel tinháo fa-
crificado cm Carithiarim cm Galgala , em Masfaíh ,
em Ramatha , e noutras partes, como fc dilíc, 1.
Reg. vn. Pereira.
(f) Ex:epto íjue f verificava , e queimava iticer.fo
710S Altos. Coftume que a Efcrirura parece ter da-
do por licito cm quanto náo houve Templo , não
íó aqui no verfo 2. , mas também , i. Reg. ix. e 12.
c X. 8. Por iíTo no juizo de Mariana, e d' outros
Modernos a excepção aqui náo he taxctiva do
que fazia Salamáo j mas fórncnte íignificativa do
ícu diveríg modo de proceder. Todavia ou ir os com
/
lá R E I 5.
4 Foi Salamao pois a Gabaon para
lá facrificar: porque efte era (d) ornais
confideravel entre todos os Altos: e of-
fereceo mil hoftias em holocauíto fobre
o Altar que havia em Gabaoii.
5 Então appareceo o Sénlior a Sa-
lamao em fonhos de noite, e lhe diíTe:
Pede-me o que queres que eu te dê.
6 ESalamão lhe refpondeo: Tu ufaf-
te de grande miícricordia com meu pai
David , teu fervo , fegundo foi a verda-
de , e juftiça com que elle andou na tua
prefença , e fegundo a reftidão de co-
ração com que elle viveo diante de teus
olhos. Tu lhe guardaíte a tua grande
mifericordia 5 c tu lhe défte hum filho,
que fcaíTenraíTe fobre o leu throno, co-
mo hoje o eílá.
Ago-
Manoel de Sá querem que a excepção fcja aqui re-
prehcnfiva , lenáo decoufa gravemente peccamino-
fa (que ifto rodos vem que náo pôde citar com
aquelle Dilexit atitem Salomon Domtnum) ao me-
nos d' hum modo de obrar menos perf-eico , c me-
nos agradável a Oeos. Pekeira.
(J) O mais confideraveL Ifto hc , o de maior
religião, por caufa de exiftir ainda nelle o Taber-
náculo , e o Altar dos holocauftos , que fizera Moy-
fés, ( I. Par. XXI. 19. ) Pereira.
Liv. III. Cap. III. 27
7 Agora pois , ó Senhor Deos , tu
me fizeíle reinar a mim teu fervo em
lugar de David meu pai : mas eu fou
(e) hum menino pequenino , que não
lei por onde hei de lahir, nem por on-
de hei de entrar:
8 e o teu fervo fe acha no meio d'
hum Povo, que tu efcolhefte, que nao
jíode contar-fe, nem reduzir-fe a nume-
ro pela {lu muIridaD.
9 Tu pois darás a teu fervo hum
coração dí)cil, para poder julgar o teu
Povo 5 edifcernir entre o bem, e o mal.
Porque quem poderá julgar a efte Po-
vo 5 a cfte teu Povo tão vafto ?
10 Agradou pois ao Senhor cfta
oração de Salamáo, viíto ter lido tal o
feu aífumpto.
11 E o Senhor difle a Salamao:
Pois que efta foi a petição que me fi-
zefte , e nao pedifte para ti nem muitos
dias , nem riquezas , nem a morte de
teus inimigos : mas o que me pedifte
foi
(e) Hum mnino pequenino. Conforme S. Jero-
nyiTiO n.^o paliava Salamâo a eíte tempo dc doze
annos. Pekeira»
28
R. 5 I s.
foi a fabedoria , para difcernires o que
he jufto :
12 fabe que já te fiz o que me pe-
difte , e te dei hum covàçio (/) tão cheio
de fabedoria 5 e de intelligencia , (g)
que nenhum antes de ti te foi femelhaii-
te, nem fe levantará tal depois de ti.
13 Mas demais a mais eu te dei
também o que tu me não pedifte : a fa-
ber 5 riquezas , e gloria era tal gráo,
que não fe achará hum femelhantc a ti
entre os Reis dos feculos paíTados.
14 Se tu porém andares nos meus
caminhos ^ e guardares os meus precei-
tos, e os meus mandamentos, como teu
pai os guardou , cu te darei também
huma vida larga.
15- Então defpertouSalamão, e en-
ten-
(/) Tao cheio âe fahedoria , e de intelligencia ^
tb'C. Efta fabcdoria , conforme notáo os Interpre-
tes, confiftia principalmente num profundo conhe-
cimento de todos os deveres da vida politica , e
civil , no de todos os fegredos da natureza , e no
de todas as Sciencias, e Artes , tanto Liberaes , co-
mo Fabriz. Saci.
(j^) Qjf^ nenhum antes de ti, &c. Entende- fe,
ttenhuin dos Reis d' Ifrael : como explicáo Lyra ,
Caetano, Vatablo, e Manoel de Sá : e ifto para
Liv. IIL Cap. IIL 29
tendeo qual era o fonho : e tendo vin-
do a Jerufalem , fe poz diante da Arca
do concerto do Senhor , oíFereceo ho-
locauftos, e viítimas pacificas^ e deo a
todos os fcus criados hum grande ban-
quete.
16 Nefta occafiâo vierao ter com o
Rei (h) duas mulheres proftitutas , e
fe puzerão diante delle,
17 hunia das quaes lhe diíTe : Pe-
ço-te, meu Senhor, que me faças jufti-
ça : eu, e efta mulher habitávamos nu-
ma meíma cafa , eeu pari namefma ca-
mará em que ella eftava.
18 E tres dias depois de eu ter pa-
rido, pario ella também: e nós eftava-
roos juntas : e não havia na cafa outra
alguma peíToa , fenao nós ambas.
1 9 E huma noite morreo o filho def-
ta mulher, porque cila dormindo o af-
fopou, cahindo-lhe em lima.
^ E
nos não vermos precifados a rcconíicccr a Salamão
por mais fabio , até do que fora Adáo. Pereira.
(/?) Duas mulheres projiitutas. O que a Vulgata
aqui, e cm Joíué, n. i. feguindo os Setenta ver-
te projiitutas pretendem alguns que no Hebreo íl-
gniíiquc fimplcsmcnte eJiaUjadeiras, Pereira.
jo Rei s.
20 E levantando-fe no mais profun-
do filencio da noite , a tempo que eu
tua efcrava dormia, me tirou do lado a
meu filho , e o poz junto a fi : e poz
junto a mim a fcu filho , que eílava
morto.
21 E tendo-me eu levantado pela
ipanhã para dar de mamar a meu filho,
pareceo-me que elle eftava morto : e
olhando para elle com mais attcnçao já
dia claro, achei que elle não era o meu,
que eu tinha gerado.
22 E a outra mulher refpondeo : Nao
he affim como tu dizes : mas o teu fi-
lho morreo , e o meu he o que eftá vi-
vo. A primeira pelo contrario replica-
va: Mentes : porque o meu filho he o
que eftá vivo, e o teu o que morreo. E
dcfte modo contendiao diante do Rei,
23 Então diíTe o Rei: Efta diz: O
meu filho eftá vivo ; e o teu eftá mor-
to. E a outra refponde: Nao : Mas o
teu filho he o que morreo , e o meu o
que eftá vivo.
24 E continuou o Rei : Trazei-me
cá huma efpada. E como fofle trazida
hu-
Liv. III. Cap. III. 31
huma efpada diante do Rei , profeguio
elle:
25- (i) Dividi em duas partes o in-
fante queeliá vivo, edai ametade a hu-
ma, e ametade a outra.
26 Então a mulher, cujo filho efta-
va vivo, diíTe para o Rei; (porque as
fuas entranhas fe lhe commovêrao de
ternura por fcu filho) Senhor, peço-te
que lhe dês o infante vivo , e nao o
mates. A outra pelo contrario dizia :
Não feja nem para mim, nem para ti,
mas divida-fe.
27 Rcfpondeo o Rei , e dilTe : Dai
a efta o infante vivo , e não fe mate :
porque elta he a que he fua mai.
28 Tendo pois ouvido todo o If-
rael, de que modo o Rei havia fenten-
ciado efte negocio, tcmêrao-no , e re-
fpeitárão-no , vendo que eftava nellc a
fabedoria de Deos para fazer juftiça.
CA-
(/) Dividi m duas partes o infante, <ò'C. Efta
ordem , diz Santo Ambrofio , náo podia fer fcnáo
fingida , porque feria huma acçáo contra a juftiça
fazer matar hum innocenie para deícobiir hum íe-
grcdo. Pereira.
3^
Reis.
CAPITULO IV.
Principaes Minijlros de Salamao, Exten"
são dos feus domínios. Paz durante a
Jeu Reinado, Sabedoria dejie Principe.
I /^R3 o Rei Salamáo reinava fo-
bre todo o Ifrael.
2 E eftes erao os principaes Mi-
niílros que tinha: Azarias (^a) filho do
Pontifice Sadoc ,
3 Elihoref 5 e Ahia filhos de Sifa,
erão Secretários d'Eftado. Jofafat filho
d'Ahiub era {b) Chanceller Mor.
4 Banaias filho de Jojada era Ge-
ne-
( ^ ) Filho do Pontífice Sadoc. Filho por neto ,
em frafe Hebraica já noutras partes oblervada por
nós. Porque como fe diz , i. Parai. vi. 8. e 9. , Sa-
doc gérou a Aquimaas : Aquimaas gerou a Azarias.
Além difto como náo fe referindo o nome fcribãe
também para Azarias , ficava efte fem i'c lhe decla-
rar o emprego : adverte com razáo Menoquio , que
Azarias fe deve ajuntar com Eiihoref, eAhia, pa-
ra de todos tres fe entender , que foráo Secretários
d' Eftado. Pereira.
{b) Chanceller Mor. Outros por a commentmis
entendem Chronifta Mór, Pereira,
Lrv. III. Cap. IV. 33
ncral do exercito, (r) Sadoc, e Abia-
thar erão Pontiííces.
5* Azarias filho de Nathan tinha a
intendência fobreos que aíliftião dc con-
tínuo ao Rei : Zahud Sacerdote , filho
de Nathan, era Privado do Rei.
6 Ahizar era Mordomo Mor : c
Adonirão filho de Abda , Superinten-
dente Geral dos Tributos.
7 ESalamao tinha eftabelecido do-
ze Governadores fobre todo o Ifrael y
que tinhao a fcu cargo prover a mcza
do Rei, e de toda a fua cafa : porque
cada hum feu mez no anno fubníiniílra-
va o neccfllirio.
8 E eftes sao os feus nomes. Be-
nhur no monte d' Efraim.
9 Bendecar em Macces, Salcbira,
Bcthfames Elon, c Bethanan.
Tom. VI. G Be-
(f) Sadoc ^ e AbUtbar. Eftc fcgundo logo c!cj
do principio do Reinado dc Salamáo tinha fido por
ellc depoílo do Pontificado , edcftcruJo para Ana-
thot, III. Reg. if. 26. c 27. Chama-fc comtudo ain«
da Summo Sacerdote , porque o tinha fido em tcni-
po dc David : ou talvez porcjuc depois dc dcpolto
foi adniiiildo por Salamáo a fazer ;tl^umas ínnyócs
Ponciãcâcs. Pek&iea.
34 R £ I s.
10 Benhefed em Aruboth : e ao nief*
nio pertencia Socco , e toda a terra d*
Efer.
11 Benabinadab, que tinha na fua
repartição todo o paiz de Nefathdor,
cafudo com Tafeth filha de Salamão.
12 Bana filho d'Ahilud era Gover-
nador de Thanac, de Mageddo, e de
todo o paiz de Bethfan , que he vizi-
nho da Sarthana debaixo de Jezrael,
defde Bethfan até Abelmehula , defron-
te de Jecmaan.
13 Bengaber em Ramoth Galaad:
e efte tinha as Aldeãs de Jair filho de
ManaíTes , que são em Galaad. Eíte
melmo governava em todo o paiz d'Ar-
gob 5 que he em BaAin , feflenta Cida-
des grandes, e muradas, quetinhão fe-
chaduras de bronze.
14 Abinadab filho d'Addo era Go-
vernador em Mannim.
15- Aquimaas em Neftali : e efte
também tmha por mulher sl Bafemath
filha de Salamão.
16 Baana filho d'HuíI em Afer , e
em Baloth.
Liv. IIL Cap. ly. 3?
17 Jofafat filho de Farue em IlTa-
car. ' -
18 Semei filho d'E]a em Benjamiin.
19 Gaber filho d' Uri na Província
de Galaad , no paiz d'Sehon t\ei dos
Amorrheos 5 e d'Og Rei de Bafan, lo-
bre quanto havia neíla terra.
20 Juda , e Ifrae! erao pela fiia mul-
tidão hum Povo innum.eravel , como a
arêa domar: e elles vivião na abundân-
cia 5 e na alegria.
21 E tinha Salamâo d<^aixo do feu
domínio todos os Reinos (^d) dcs do
rio do paíz dosFiliftheos até á frontei-
ra doEgvpto. E clles lhe offerecião prc-
fentes , e lhe eftí verão íuj eitos por to»
dos os dias da fua vida.
C ii Os
(íf) Des do rio do paíz dos Fill^lheos , ò-c. Nef-
te mcfmo pado diz a Vuii^aia aí!im ,11. Parai. tx.
i6. , a jiiiminc Euphrare , ufque ad tenam PIAiiflbi'
norum : des do rio Euiriiies are o pa^z dos Filif-
theoj. Em ambos os q-mcs lugares querem rruitos
com Mariana , que fria eílc o verdadeiro fentido :
Dcs do Eufc?.tes antonoTjafticamcnte cliamado o
rio, e des do pniz dos Fililthcos até á fromcíra do.
tsyptc: c \Í\o para que o paiz dos Filiftheos nao
pareça excluído dos dominioj de jaunúo > iwaS
fim incluído nellcs. Pekkira. .-..".-.. j
3^ Rei s.
2 2 Os viveres para a meza de Sa*
lamâo erão cada dia (e) trinta coros de
flor de farinha , e feíTenta de farinha or-
dinária :
23 dez bois gordos, vinte bois dos
que andavão a paliar , cem carneiros ,
além das carnes de caça, veados, cor-
ças , bois montezes , e toda a caíta d*
aves cevadas.
24 Porque el!e dominava fobre to-
do o paiz , que eftava da banda de cá
do rio , defde Thapfa até Gaza : e to-
dos os Reis deílas Províncias lhe erao
íujeitos : e de toda a parte tinha paz
com todos os vizinhos.
2^ Todo o homem de Juda , c d*
Ifrael viveo na fua terra fem temor al-
gum , cada qual debaixo da fua parrei-
ra , e debaixo da fua figueira , des dc
Dan
f ( e ) Trinta coros , ò^c, O coro era huma medi*
da dos Hcbreos , que , fecundo Santo Ifitloro no
Livro XVI. das Origens, Cap. XXVI. , num. 24. ,
levava trinta modios , cada modio quarenta c qua-
tro libras , cada libra doze onças. O que reduzido
ás vazilhas , e pezos d' hoje diz Saci , que hum có«»
ro de géneros feccos continha oitocentas libras Ro-
manas: humcóro de géneros liqu idos continha quaíi
duzentas e oitcjitã canadas. Pek&ua.
Liv. IIL Cap. IV, 37
Dan até Beríabée , por todo o tempo que
Salamão reinou.
26 E tinha Salamao quarenta mil
mangedouras dc cavallos que puxavão
por carroças , c doze mil cavallos de
montar.
27 E a todos fuftentavão os fobre-
ditos Officiaes do Rei , os quaes tam-
bém nos tempos competentes provião
com fummo cuidado tudo o que era ne-
ccflario para a meza do Rei Salamão.
28 Levavão também paraolitio em
que eftava o Rei cevada , e palha para
os cavallos^ e beftas de carga, confor-
me a ordem que tinhao recebido.
29 Demais deoDeos a Salamão hu-
ma fabedoria , e prudência fobremanei-
ra grande , e huma capacidade d'efpi-
rito 5 como a arca que ha na praia do
mar.
30 E a fabedoria de Salamão exce-
dia a fabedoria de todos os Orientaes,
c de todos os Egypcios.
31 Elfe era mais fabio do que tra-
dos os homens; mais fabio (f) do que
Ethan
(/) ^0 quç Etim Ezrahita. Pelo nome , e pa-
38 Reis.
Ethan Ezrahita , do que Heman , c Cal-
co, e Dorda, íiihos de Mahoi : e a fua
nomeada íe eftendia por todas as na-
ções vizinhas.
32 Propoz também Salamão (g ) tres
mil parábolas , e forâo os feus cânticos
(h) mil e finco.
33 Outrofi tratou de todas as ar-
vores, des do cedro que ha no Líbano,
até o hyfopo que fahe da parede : e tra-
tou
triâ parece a alguns fcr efte hum mefmo , com o
que, I. Parai. 11. e6,, fe diz filho de Zara, e com
o que no S Jterio íc dá por Author do Salmo
i.xxxvi\t. Afijericordjas Domim, E náo falta quem
diga 5 que todos os quatro aqui nomeados Ethan ,
Emaan , Calcol , c Dorda crão todos irmãos , fi»
lhos do mefniO pai , náo tl íbnte dar a Efcritura
nos Paralipomenos nomes diverfos ao pai , c aos
dous últimos. Pereira.
Çg) Tres mil parábolas. Ifto he , fentcnças ef-
curas , ou Provérbios. Manoel de Sa.
Mil e finco. Pelo que a Vulgata aqui diz
com o Hcbreo , inille é^• quinque , mil e íinco , po-
Zctío os Setenta quinque miiiia , fmco mil. E aflim
veítem aqui Saci , e dc Carrieres ; e o que mais
he , Santes Pagnino , e Caíliodoro de Ia Reina ,
«[uc fizcrao cambem as fuas Versões fobre o Hc-
breo : c iílo porque em lugur de mille quinque
querem que fclêa invcrfamemc, c fcm conjunção ^
Liv. III. Cap. IV. 39
tou igualmente dos animaes da terra,
das aves, dos reptiz, e dos peixes.
34 E de todos os paizes vinha gente
a ouvir a fabedoria deSalamao: etod js
os Reis da terra mandavao a Salamao
feus meíTageiros , para ferem inílruidos
pela fua fabedoria.
CAPITULO V.
Alliança entre Hirão , e Salama o. Rirão
lhe manda as madeiras necejjdrias para
a confirucção do Templo. Salama o ejbo-"
lhe entre os filhos d"Ifrael os que ha-
vião de trabalhar nejle edtficio,
I TJT Iião Rei deTyro tambcm en- Anno
X X viou feus fervos a Salan.ao , do M.
depois queouvio queelle tinha fido un- ^í^^--
gido Rei em lugar de fcu pai : porque j"^
Hiráo femprc fora amigo de David. lo/z.
2 E Salamao mandou dizer a Hi-
rão:
3 Tu fabes qual foi o dcfejo de Da-
vid , e que lhe náo foi poíFivel cdiííc..r
huma cafa ao Nome do Senhor fcu Ocos ,
cm razão das guerras que eftava neccí-
fi-
4^ Pv E I S.
fitado a fuftcntar dc todas as partes , em
quanto o Senhor lhe não mctteffe de-
baixo dos pés os fcus inimigos.
4 Porém agora o Senhor meu Deos
mc concedco dcícanço por toda a par-
te ; e não ha contrario , nem máo en-
contro algum.
y Pelo que trago no fentido edifi-
car hum Templo ao Nome do Senhor
meu Dcos , conforme o que o Senhor
ordenou a David meu pai, quando lhe
diíTe: Teu filho, que eu farei aíTentar em
teu lugar fobrc o teu throno , efte ferá
o que edifique hum Templo ao meu
Nome.
6 Dá ordem pois a teus fervos , que
me cortem cedros doLihano: c os meus
fervos eftarão com os teus , e eu darei
a teus fervos qualquer paga que tu me
peças: porque tu fabes que no meu Po-
vo não ha ninguém que faiba cortar ma-
deira como os Sidonios.
7 Hirão como ouviífe as palavras
de Salamão, alegrou-fe em extremo, e
diíTe : Bemdito feja hoje o Senhor ,
que deo a David hum iílho fapientiífi-
Liv. IIL Cat. V. 41
mo, para governar hum tão grande Po-
vo.
8 E mandou dizer a Salamao : Eu
ouvi tudo o que memandafte dizer: eu
executarei tudo o que defejas acercadas
madeiras de cedro, e de faia.
9 Os meus fervos aslevaráo do Lí-
bano até o mar: e eu as farei embarcar
em canoas até o lugar que tu me deíi-
gnares, no qual as farei abordar, e tu
terás cuidado de mandar quem as rece-
ba. E dar-me-has por iíTo tudo o que
for ncceíTario (a) para a fullentação dc
minha cafa.
10 Deo pois Hirâo a Salamão dc
madeiras de cedro, e de faia tudo quan-
to clle defejava.
11 E Salamão dava a Hirão para
fuftento de fua cafa vinte mil coros de
trigo , (è) c vinte coros de puriíTimo
azeite. Eftes erão os provimentos, que
Salamão dava a Hirão todos os annos.
Deo
(a) Para fuJlema^So de minha cafa. Segundo a
commum intciligcncia dos Interpretes , o que aqui
pedia Hiráo náo era que Salamáo lhe fiiftcntaíTc a
fua própria meza , mas fim que correíTe por fua
conca a defpcza que no comer , e beber íizeííem
O
4^ Rei s.
12 Deo o Senhor também a fabc-
doria aSalamao conforme lho tinha pro-
mettido. E havia paz entre Hirão , c
Sahmíío, e ambos lízerão alhança hum
com outro.
13 E efcolheo o Rei Salamão obrei-
ros
os ofHciacs que elíe HIrão mandaíTc trabalhar no
Líbano. Menoqaio c Saci. Pereira,
(^h) E vinte coros de purijjimo azeite, Táo pe-
quena quantia d' azeite parece que náo tem propor-
ção com tamanha de trigo. Os Setenta repetindo
m:llia do período antecedente , dizem aqui : eb- vi-
ginti millia batbos olei : e vinte mil bathos d' azei-
te. Por tanto ncftc lugar traduz aílim o Padre dc
Carrieres: vin^t millc medres d' huille tres pure,
E ufar de Carrieres do nome geral mcfures , foi
porque quando a Vulgata aqui nos Reis fe explica
por cotos^ e os Setenta por bdfhos a mefma Vul-
gata nos Pjralipomenos 5 Livro II. Cap. II. , fal-
lando do mcfmo , fe explica por fatos ; fendo que
entre eftcs tres géneros de medidas ha huma gran-
de diíferença de mais para menos , como fe pódc
ver do já aííima citado lugar dc Santo líidoro , Li-
vro XVI. das Origens, Cap. XXVI. , Num. 16. c
17. e 24. Ainda que porém pelos Texros ha pou-
co allegados fe náo polia decidir , qual foíTe a qua-
lidade da medida do trigo , e do azeite , que Sala-
mso dava a Hiráo : fempre com tudo da versão Gre-
ga cos Reis , e da Vulgata Latina dos Paralípo-
nienos fe conclue , que de ambos os géneros era
a quantidade dc vinte mil, Perbira.
Liv. III. Cap. y. 43
ros em todo o Ifrael : e a ordem que
intimou foi que foíTem trinta mil homens.
14 E elle os mandava ao Libano
por íeu turno, dez mil cada mez , de
ícrte que ficavão dous mezes em fuas
cafas: e Adonias tinha a intendência de
toda efta gente.
15- E teve Salamão fetenta mil que
acarretavão o que havia que trazer : e
oirenra mil, que cortavão as pedras no
monte,
16 afora os Sobreftantcs dc cada
obra, (c) que erao em numero de ires
mil c trezentos , que davão as ordens
ao Povo, e aos que trabalhavao.
17 E o Rei lhes mandou que tiraf-
fem pedras grandes , pedras de preço
para os alicerfes do Templo , e que as
quadraíTcm.
18 E lavrárao-nas os canteiros de
Salamão, e os canteiros deHirão: (^)
os
( c ) Que erâo em numero de tres mil e trezentos.
O Segundo dos Paralipomenos 11. 18. póe tres mil
c fciscentos : porque talvez aos tres mil e trezentos
piendiáo outros trezentos. Pereira.
{(i) Os dç Gitlos porém , &c. Os modernos tem
44 Rei
os de Giblos porém apparelhárâo as ma-
deiras , e as pedras para fe edificar a
cafa.
para íi , qucQiblos hc a mcfma que Biblos na Fe-
nícia. PftKStRA.
CAPITULO VI.
Época ^ e Defcripção do Templo de Sa-
lama o.
I Tj^ Oi aíiirn pois , (^) que aos qua-
A troccntos e oitenta annos da fa-
hida dos filhos d'Ifrael do Egypto, no
quar-
(/i) Que aos quatrocentos e oitenta annos , ^'C,
Nefta Época concordão com a Vulgata Latina to-
dos os Exemplares Hebraicos , Caldaicos , Syria-
cos , Arábicos , e Gregos : excepto que algumai
Edições dos Setenta , á faber: a Aldina de íjíH. ,
c a Romana de 1587. em lugar de quatrocentos e
citenta trazem quatrocentos e quarenta. Por donde
geralmente he rejeitada de Amigos e Modernos a
opinião de Severo Sulpicio , que no Livro L da
fua Hiftoria Sacra , Num. 7. atttibuio a erro dos
Copiftas o efe rever quatrocentos e oitenta , onde ,
fcgundo os fcus cálculos , fe devia ler aos quinhen^
tos € oitenta e oito annos. O fundamento díe Seve-
ro Sulpicio para accrefcentar fobrc o numero da
Vulgata mais cento c oito annos cra parccer-lhc.
Liv. III. Caf. VI. 4?
quarto anno do Reinado dc Salamão,
no mez deZio, {b) que he o fegundo
mez, fe eomeçou a edificar a cafa para
o Senhor.
2 A cafa porém que Salamão edifi-
cou em honra do Senhor, tinha feíTenta
covados de comprido, e vinte covados
de largo, c trinta covados de alto.
3 E havia hum Pórtico diante do
Templo de vinte covados dc compri-
do , conforme a medida da largura do
Templo: e tinha dez covados de largo
ante a face do Templo.
E
que dos annos que a Efcritura no Livro dos Juizci
aíligna a cada Juizado refultava nccclTariameme hu-
ma fomma total , que cxcedeffe em cento c oito
annos á que trazia a Vulgata. Porem fobre como
fe pôde conciliar a Época dos quatrocentos c oi-
tenta annos com os que a Efcritura dá de duração
a cada Juiz ; ( que he o em que efta toda a diíH-
culdadc entre os Chronologos) vejáo os Leitores
a DiíTertaçáo do Abbadc Vences , que nas ultimas
Edições da Bíblia do Padre de Carrieres anda an-
lepofta ao Livro dos Juizes com efte Titulo , /o^r^
4 Terceira^ Idad^ do Mundo. Pereira.
(^) Que he ofegando mez, O fegundo anno fan-
to , que coincidia com o noíío Abril : c náo o fe-
gundo do anno civil, que corrcfpondia aoQOÍIo Sc*
lembro. F&RsiKA. . .
4^ Rei s.
4 E fez no Templo (c) janellas obli^
quas.
5 E edificou fobre a parede do Tem-
plo diverfos andares ao redor (d) nas
paredes da cafa pelo contorno do Tem-
plo y e do Oráculo : e fez vários quar-
tos {e) i roda.
6 O andar debaixo (f) tinha finco
covados de largo, o andar do meio leis
covados de largo, o terceiro andar fete
covados de largo. E poz vigas ao redor
da cafa pela parte de fora , para que
não
(f) Janellas obliquas, Ifto he, largas por den-
tro , e cíheitas por fóra. Os Setenta dizem janellas
çom gelo fias. Pereira.
(d) Nas paredes da cafa. Depois de dizer no
fingular fobre a parede (o que Manoel de Sá conx
Caliiodoro de la Reina expõem ao pé da parede )
accrcfcenta agora ms paredes da cafa i porque de
cada lado eráo duas as paredes que cingiáo o Tem-
plo. Pereira.
C f ) Vários quartos. Para ufo dos Sacerdotes , e
guarda dos Tagrados paramentos. Em lugar de quar-
tos põem outros aqui parapeitos. Pereira.
(j ) Tinha finco covados de largo. Onde as parc^
des eráo mais groíTas , ahi tinha o fobrado menos
largura ; aonde íe eftrcitaváo mais as paredes , ahi
era mais largo o fobrado. Efta he a razão , por
que o andar debaixo tinha finco covados , o dd
meio íeis, o terceiro fete. Perefra.
Cap. III. Liv. VI. 47
não (^) eílribaflem nas paredes do Tem-
plo.
7 E quando a cafa fc edificava fa-
zião-na (h) de pedras lavradas ^ e per-
feitas: (i) c não feouviomartéllo, nem
machado , nem inftrumento algum dc
ferro, em quanto ella fe edificava.
8 A porta do lado do meio efl-ava
na parte direita da cafa : e fubião por
hum caracol ao andar do meio , e deite
ao terceiro.
9 E edificou a cafa , e a acabou :
cobrio também a cafa de pranchóes dc
cedro.
10 E fez por fima de toda a cafa
(k) hum madeiramento de finco cova-
dos
(^) Para que tiaoeflribajfem nas paredes do Tem»
pio. Quer dizer , que para as paredes náo ficarem
esburacadas , náo cftribaváo as pontas das vigas nos
váo$ das paredes , mas fim nos hombros que as pa»
redes deitaváo para fóra. Perk ra.
{h) De pedras lavradas , e perfeitas. Que tra«
ziáo de todo preparadas , c ajuílaJas da pedreira.
Pereira.
( I ) E não fe ouvia martéllo , ^f. Grande do-
cumento do filencio , quietação , e refpeito que fc
deve guardar nas Igrejas do Senhor. Pereira.
( ^) Hum madeiramento , Por eltc entendo
48 Reis.
dos d' altura, e cobrio acafa de madei-
ra dc cedro.
I I Então fallou o Senhor a Sala-
mão, e lhe diíTe :
12 (/) Efta cafa que tu edificas, fc
tu andares nos^ meus preceitos , e exe-
cutares as minhas ordenanças , e guar-
dares todos os meus mandamentos , ca-
minhando por elles , eu verificarei na
tua peflba as palavras que dilTe a Da-
vid teu pai ,
1 5 e habitarei no meio dos filhos
d'irrael, e não defampararei o meu Po-
vo d*Ifrael.
1 4 Salamâo pois edificou a cafa , e
a acabou.
E
cu ( não fei fc mc engano ) o tcélo do Templo
feito a modo dc abobada , que fobrefahia finco co-
vados á altura das paredes. Outros mais divcifa-
mentc traduzem aflim todo o vcrfo : E fez habita-'
jocí por toda a cafa de fnico covados d' altura , c
cobrio d cafa de madeiras de cedro »^ Pereira.
. (/) Ejta cafa que tu edificas^ <b^c. Para o fcn-
tido deíla primeira parte náo ficar fufpcnfo , c im«
perfeito , he neceííario fupprir dc fóra aiguma clau-
iula , como por exemplo efta que apontáo Saci, c
de Carricrcs : Eu vi com prazer elta cafa , que t\i
cdííiMfie. PfiR£fRA.
Liv. III. Cap. VI. 49
1 j E guarnecco as paredes da cafa
pelo interior de taboas de cedro des do
pavimento da cafa até o mais alto das
paredes, e até os pranchões : elle as vef-
tio por dentro dc madeira de cedro , e
cobrio o pavimento da cafa de taboas
de faia.
16 Fez também huma divisão de
madeiras de cedro d'altura de vinte co-
vados no fundo do Templo , des do pa-
vimento até o mais alto ; e deftinou o
lugar do fundo do Oráculo para Santo
dos Santos.
17 O Templo porém des da porta
do Oráculo tinha quarenta covados.
18 E toda a cafa pelo interior ef-
tava forrada de cedro, {m) tendo fuas
entalhaduras , e junturas feitas com gran-
de arte, e feus entalhes de relevo. Tu-
do ellava coberto de taboas de cedro,
c não fe defcobria coufa alguma de pe-
dra na parede.
Tom. VI. D Fez
(wj) Tendo fuas entalhaduras ^ é'C. O Hebrco
declara cm que coníiftiáo clbs galanterias da arte,
dizendo , entalhaduras de cabaças jilvcjlres , e de
hotoes de flores. Aílim o traduzio Caíiiodoro de U
Reina. í^ersiKa.
Rei s.
19 Fez aíTim mefmo o Oráculo no
meio do Templo na parte mais interior ,
para pôr nelle a Arca do concerto do
Senhor.
20 O Oráculo porém tinha vinte co*
vados de comprido , vinte covados de
largo, e vinte covados de alto: e elle
o cobrio , e veftio de purillimo ouro :
(n) e também o Altar o cobrio de ce-
dro.
21 Cobrio outrofi de puriílíma ou-
ro a parte do Templo, que ficava dian-
te do Oráculo , e pregou as chapas com
pregos d' ouro.
22 E não havia nada no Templo,
que nao foffe coberto d' ouro. Cobrio
também d' ouro todo o Altar, que efta-
va diante do Oráculo.
E
(n) E também o Altdr o cobrio de cedro, A Vul-
gata dizendo , jed f^* Altare vefiivít cedro , parece
dar a entender , que o de que Salamáo cobrio eftc
Altar 5 foi fó de cedro. Mas pelo Hebreo fe colhe ,
que fobre o cedro de que era feito , era efte Altar
também dourado. E eftc Altar deve-fe diftinguit
dooutro, de que fcfaz mençáo noverfo 22. Por-
que o Altar do verfo 20. era o fobre que poufava
a Arca : o Altar^porém do verfo 22. era o dos per«
fumes. Galmst. ^ -
Lrv. IIL Cap. VI.
13 E poz no Oráculo dous Queru-
bins de páo d' oliveira, que tinhão dez
covados d' altura.
24 Huma das azas d' hum Queru-
bim tinha íinco covados , e a outra tam-
bém finco covados: aflim elle tinha dez
covados des da extremidade d'huma das
azas até á extremidade da outra.
25 O fegundo QLicrubim tinha tam-
bém dez covados com as mefmas di-
mensões: e a obra d' ambos era a mef-
ma :
26 ifto he j que o primeiro Queru-
bim tinha dez covados d'alcura, e o fe-
gundo da mefma forte dez.
27 E cile poz os Querubins no meio
do Templo interior, li os Querubins
tinhão as fuas azas eílendidas. E huma
das azas do primeiro Qiierubim tocava
hiinvà das paredes , e a aza do fegundo
Querubim tocava na outra parede: e as
fegundas azas vinhão ajuntar-fe nomeio
do Templo.
28 Cobrio também d' ouro os Que-
rubins.
iQ E ornou todas as paredes do
D u Tem-
^2 Reis.
Templo cm roda de molduras , e rele-
vos j onde fc vião Querubins , e pal-
mas , e diverfas figuras , que pareciao fal-
tar, e fahir da parede.
30 Cobrio da mefma forte d' ouro
o pavimento do Templo (o) por den-
tro, e por fora.
31 E fez á entrada do Oráculo hu-
mas pequenas portas de páo d' olivei-
ra, e os feus pofles de finco efquinas.
32 Fez eftas duas portas de páo d*
oliveira : e entalhou nellas figuras de
Querubins, e palmas, e relevos mui fa-
hidos fora ; e cobrio d' ouro aflím os
Querubins , como as palmas , e o de-
mais.
33 E poz á entrada do Templo os
poftes de páo de madeira quadrangula-
res ;
34 e duas portas de páo de faía^
huma d'hum lado, outra d^outro: e am-
bas as portas erao de duas folhas, e fc
abrirão, tendo-fe huma á outra.
E
( o ) Por dentro , e por fora, Ifto he , o pa-
vimento exterior do Santa, e o interior dg Samua-j
fio, CaLM£T.
Liv. III. Cap. VL sz
35' E entalhou Querubins , e pal-
mas 5 e relevos mui lacados fora : e co-
brio tudo de chapas d' ouro , ajuftado
tudo á régua , e á efquadria.
36 Edificou também o átrio interior
de tres ordens de pedras polidas , e d'
huma ordem de páos de cedro.
37 Lançarão- fe os fundamentos da
cafa do Senhor {p ) no quarto anno no
mez de Zio.
38 E no anno undécimo no mez de
Bui 5 que he o oitavo mez, foi ella in-
teiramente acabada , aOTim em todas as
partes , como em tudo o que nella ha-
via de fervir. ESalamão a edificou (2)
em fete annos.
CA-
(p) No quarto anno. Do Reinado de Salamão,
como Te diífe no principio do Capitulo. Pereira.
(^) Em fete atinas. Com mais fcis mezcs, que
por poucos omitce a Eícriiura fcgundo o feu cof-
tume. Pereira.
54 Rei s.
CAPITULO VIL
Defcripção do Palacio de Salama o, Di*
verfas obras para o Templo,
doM ^ Tj^DificouSalamâo o feu Palacio ,
^'^QQ* JD^ e o acabou dentro do efpaço
ant. de de treze annos.
J. Chr. 2 Edificou também (^) a cafa cha^
mada do Bofque do Libano, que tinha
cem covados de comprido , e fincoenta
covados de largo , e trinta covados d'
alto 5 e havia nella quatro galerias en-
tre humas columnas de cedro : porque
paraeftas columnas tinha elle mandado
cortar deftes páos.
3 E forrou de madeira de cedro to-
do o tefto , que fe tinha em quarenta
c finco columnas. E cada ordem tinha
quinze columnas ,
4 que eftavâo poílas humas defron-
te das outras,
e
(^a) A cafa do Bofque do Líbano, Chamada af-
fim ou por caufa da prodigiofa quantidade dc ce-
dros , que fe trouxeráo do Libano para a fua fábri-
ca ; ou porque nella havia fcus borques , e fom-:
bras, como no Libano. Psreira.
Liv. III. Càp. vil
5' e f e olhavão reciprocamente pof-
tas em igual diftancia. E fobre as co-
lumnas havia humas vigas quadradas em
tudo iguaes.
6 E fez hum Pórtico de columnas,
que tinha fincoenta covados de compri-
do, e trinta de largo: e outro Pórtico
defronte do maior com columnas ^ e
com arquitraves fobre as columnas.
7 Fez também o Pórtico do thro-
no 5 onde eftava o tribunal : e forrou-o
de madeiras de cedro des do pavimen-
to até o alto.
8 E no meio do Pórtico havia hu-
ma cafinha 5 (b) onde elle fc aíTentava
para dar audiência , feita pelo mefmo
eftilo. Fez Salamão outrofi para a fi-
lha de P^araó , com a qual fe casara,
hum Palacio da mefma arquiteftura , que
eíle Pórtico.
To-
C^) Onde elle fe ajfemava para dar aodiencia,
D acjui fe vê , que o lugar do throno , cm que Sa-
lamáo dava audicncia , era fechado por íima , e
pelos lados , fazendo hunia efpcce de nicho , ou
guarita: e iílo fem dúvida para mais fcgurança da
peíToa do Rei , que metiido nefte throno eftava
mais livre de traições. Pefeira.
^6 Reis.
9 Todos eftes edifícios des dos fun-
damentos até o limo das paredes 5 e por
fora até o Átrio maior , erao conftrui-
dos de finas pedras , que d' ambas as
bandas 5 tanto interior, como exterior,
tinhão fido ferradas d'huma mefma for-
ma, e d'huma mefma medida.
10 Os fundamentos também eráo
de pedras finas muito grandes , humas
de dez covados, outras d' oito.
11 E dalli para fima havia pedras
belliílimas cortadas a igual medida , co-
bertas também de cedro.
12 O Átrio maior era redondo , e
tinha tres ordens de pedras cortadas , e
huma ordem de traves de cedro, poli-
das : o que também fe obíervava no
Átrio interior da cafa do Senhor, e no
Pórtico do Templo.
13 Fez também o Kei Salamão vir
de Tyro a Hirão ,
14 que era filho d'huma mulher viu-
va (í") da Tribu de Nefthali , e cujo
pai
(f) Tribu de Neft/iVt. Nos Paralipomcnos ,
Livro II., Cap. II., verfo 14. fc diz que era das
Filhas de Dan ; o que commummente íe interpre-
Liv. líl. Cap. vil 5-7
pai era de Tyro. Elie trabalhava em
bronze 5 e eftava cheio de íabedoria , d'
inrelligencia 5 e de fciencia , para fazer
todo o género d' obras de bronze. Hi-
rao pois tendo vindo para o Rei Sala-
mao 5 fez todas as obras que elle lhe
ordenou.
15' Fez duas columnas de bronze ^
cada huma das quaes tinha dezoito co-
vados de altura: e a ambas as columnas
dava voltas (^) huma linha de dez ce-
vados.
16 Fez também dous capiteis de
bronze , que fundio para pôr lebre o
alto de cada colunina. Hum capitel ti-
nha llnco covados u'altura; e outro ti-
nha da mcfma íorte a mefma altura de
finco covados.
17 E aqui Te via huma efpecc de
re-
ta defta Tribu. Como fe diz lo^o aqui nos Reis,
que era da Tnbu- de Ncfíali : Refponde rvi.^.riana
com S. Jcronymo , que eíte da Tribu de Néftali
nro fe deve referir para a mái , mas para o íilho :
de forre que o pai íe dii;a de Tyro y porque fendo
da Tribu de Nefraii ( conx> expreíTamente o ciz
aqui o Hcbreo) tinha habitado cm Tyro. Peref-
{d) Huma linha y é-ç. Ou como diz oHebrca,
58 Reis.
rede , e de cadeias entrelaçadas huma?
nas outras com admirável artificio. Ca-
da capitel deitas columnas era fundido.
Havia fete ordens de malhas num ca-
pitel , e outras tantas no outro.
18 E para complemento das colu-
mnas fez duas ordens de romans ao re-
dor de cada huma das malhas, para co-
brir os capiteis que eftavao no alto : e
o mefmo fez também com o fegundo
capitel.
19 Os capiteis que eftavao no alto
das columnas no Pórtico, erão fabrica-
dos em forma d' açucena, e tinhão qua-
tro covados.
20 E além difto no alto das colu-
mnas fobre as malhas outros capiteis
proporcionados á medida da columna.
21 E poz eftas duas columnas no
Pórtico do Tem.plo : e tendo levantado
^columna direita, (e) chamou-a por no-
me
hum fio : o que por iíTo traduzem outros hum cot-
dão. Pereira.
(e) ChamoU',iJaqum. Ifto hc, confirme^ fuben-
tendendo Deos , como fe diíTera: Deos faça efta
caía cftdvel , e perpetua. Booz quer dizer /br-
taiéZ^y ou p^ígor. Manoel de Sa.
1
Liv. líl. Cap. vil ^9
me Jaquim : levantou do mefino modo
(/) a ícgunda columna ^ e chamou-a
por nome Booz.
22 E por fima das columnas poz
hum lavor a modo de açucena ^ e aca-
bou-íe a obra das columnas.
23 Fez também (g) hum mar de
fundição de dez covados d'huma bor-
da á outra, redondo ao redor: a fua al-
tura era de finco covados : e cingia-o
hum cordão de trinta covados.
24 Por baixo da borda (b) corriao
huns ornatos de talha (/) por dez co-
vados , que rodeavao o mar ; duas or-
dens detalha firzcndo canacs, tudo era
fundido.
Ef.
( f ) fecunda coítmma. Quer dizer , a efqucr-
da. A?AN'OEL DE Sa.
Hum mar dc fwidi:40» Era huma como ba-
cia , ou concha dc bronze , «.]uc pela fua s^randcza ,
c v.iftidáo íc chama vur : e fervia para as abluçócs
nos f.^crificio»:. Pereira.
(/;) Corriâo huns oníatos de talha ^ ^c. O que
a Vulgata por hum termo geral ch?ma fcuiptura y
nós huns ornatos dç talha ^ vcrrèrro do Hebrco Caf-
íiodoro de la Reina , humas lolis ctv.io cábac^asi
Pagnino , hum/is pequenas esferas, Pereika.
( i ) Por dez çovados^ lílo He , como peio Hcr
6o Rei s.
25' Efte mar firmava fobre doze bois»,
tres dos quaes olhavão para o Seten-
trTao, tres para o Occidente, tres para
o Meiodia , e tres para o Oriente : e
o mar eílava em fima deftes bois , cu-
jas partes pofteriores todas ficavao ef-
condidas debaixo do mar.
26 (k) A bacia tinha tres pollega
das de groíTura : e a fua borda era co
mo aborda d'hum copo, e como abor-
da d'huma açucena aberta : (/) e ell
levava dous mil batos.
Fez
breo explica Mariana , dez deftes ornatos em cada
covado. Pereira.
( ^ ) ^ bacia , O que nos verfos preceden-
tes chamara mar , chama agora bacia pelo feitio,
c pelo ufo a cjue era deftinada : pela qual razáo
tncfma vertem aqui outros O lavatório.. Pereiua.
(/) E ella Icvdva dous mil batos, Efta quantidar
de d" agua deve-fe entender da que por inftituiçáo
do Rei fe devia lançar na bacia , ou concha char
mada mar : porque fallando da quantidade d' agua
que o vafo era capaz de levar , era efta huma ter-
ça parte maior. Com efta differença de quantida-
des conciliâo os melhores Interpretes a apparentc
difcrcpancia defte Texto do Terceiro dos Reis com
o outro do Segundo dos Paralipomenos, Cap. IV. ^
verfo 5. 5 onde fe diz que a bacia levava tres mil
batos, O bato Hebreo porém , conforme Mariana ,
Liv. III. Cap. vil 6t
17 Fez aííimmefmo (m) dez bafes
de bronze, cada huma das quaes tinha
quatro covados de comprido, e quatro
covados de largo , e tres covados d'
âlto.
E a obra mefma das bafes era
de varias peças: e havia fuas talhas en-
tre as junturas.
*- 29 E entre as coroas , e laçadas ha-
v-ia leões, e bois, e Querubins, e tam-
bém nas junturas: e debaixo dos Icócs,
e dos bois, como pendentes , humas ré-
deas de cobre.
' 30 Cada bafe tinha quatro rodas
com feus eixos , e nos quatro cantos ha-
via huns como hombrinhos fundidos,
que foílinhão a bacia, e fe olhavão huns
aos outros.
31 Havia também dentro no alto
da
levava cada hum tres modfos, ifto hc, quarenta e
oito fextarios Romanos. PERtiRA.
(m) Dez bafes de bronze. Para foílcrem outras*
tantas bacias menores , que cftaváo á roda da gran-
de chamada mar , e eráo as de que Te falia adiante
no verfo ^8. A grande fervia para fe lavarem os
Sacerdotes , as dez menores para fe lavarem as car-
nes das viólimas , antes que fe puzeíTem fobre o
Altar. Per£ira. ...
6i Rei s.
da bafe huma cavidade, em que encai-
xava a bacia : e o que fe via fóra, era
d' hum covado tudo redondo , e tudo
junto tinha covado c melo : e nos can-
tos das columnas havia vários abertos:
e o que fe via entre as columnas não
era redondo , mas quadrado.
3z As quatro rodas que havia nos
quatro cantOLí da bafe , correfpondiao-fe
humas ás outras por baixo da bafe , e
cada roda tinha covado e meio d' al-
tura.
3 3 E as rodas erão como as que cof-
tumão fazer-fe para huma carroça : e os
feus eixos, raios, caibas, e cubos tudo
era de fundição.
34 Porque até os quatro hombri-
nhos, que eítavão nos quatro cantos de
cada bafe, tinhão lido fundidos, e fa-
zião huma fó peça com a mefma bafe.
3^ No alto da bafe porém havia hu-
ma redondeza de meio covado , feita de
tal modo , que fe podia pôr em fima a
bacia : e tinha fuas talhas , e variedade
de relevos , que fahião delia mefma.
La-
(i;) Naquelles taholeiros, que, óc Por cftcg
Liv, m. Cap. VII. ^3
3^ Lavrou também («) naquelles
taboleiros , que erao de bronze , e nos
cantos, Querubins, c leões, e palmas
com tal arte , que aquclles reprefenta-
vão ao vivo hum homem em pé , eftes
não parecião gravados, (o) mas poftos
de vulto ao redor.
37 Defíe modo fez dez bafes fun-
didas todas pelo mefmo eftilo, e d'hu-
ma mefma medida, e entalhadura.
38 Fez também dez bacias de bron-
ze , cada huma das quaes continha qua-
renta batos, eera de quarenta covados:
e poz cada bacia fobre cada huma das
dez bafes.
39 Das dez bafes poz finco (p) à
par-
tahoíeiros entende Mariana toda a planura , ou cf-
paço plano. Caíliodoro de la Reina verte : Hizo
(n les tahlas de las tnolduras , (â/^c. E á margem em
fórma d' explicação : Enlos cojtados dela gran ba*
fa. Pereira.
( O ) Mas pojlos de vulto ao redor, Táo facadas
fóra , c táo relevadas cráo cilas figuras. ^Ieno-
( p ) A parte direita do Templo, O mar , e as
bacias náo eítaváo no Templo , mas no Átrio dos
Sacerdotes : diz-fe com tudo que cftaváo á direita ,
< á efqucrda do Templo, em quanto olhaváo par
64 Reis.
parte direita do Templo, e finco á eC*
querda : e poz o mar ádireitá doTeai-
plo, entre o Oriente, e o Meiodia.
40 Aílim meímo fez Hirao caldei-
rões, epanellas, (^q) ehamulas, e aca-
bou toda a obra que o Rei Salarnão
quiz que le fizeíTe no Templo do Se-
nhor.
41 As duas columnas , e os dous
cordoes dos capiteis íobre os capiteis
das columnas , e as duas redes para co-
brir os dous cordoes, que eílavão fobrc
os capiteis das columnas:
: e
os feus lados direito, ou efquerdo. Menoouio. E
cjuando íe diz, que o mar, ou bacia grande íervii
para nella fe lavarem Os Sacerdotes , e as dez pc-
cjuenas para fe lavarem as carnes das viélimas : náo
le deve por iíTo entender , que os Sacerdotes im-
niediatameníe fe lavafíem no mar , ou bacia gran-
de , e da mefma forte í*s carnes das viólimas im-
mediaiamente nas bacias pequenas. Porque fegun-
do fe colhe d^is Antiguidades Judaicas dejofé, Li-
vro VIIÍ. , Cap. IIÍ. 5 o que na realidade fe palia-
va era que todas eíks aguas vinháo ás máos dos
fagrados Miniílros por canos fubterraneos , e dos
canos a vários ciguichos. Malvenda.
(</.) E hamulas: Huns o lomáo por hãcias , ou-
tros por púcaros , que fervi áo para as libações dd
vinho nos facrificios , chamados aílim mefmo ha*,
mulas pelos Italianos. Pereira.
Liv. III. Cap. VII. 6s
41 e quatrocentas romans nas duas
redes; a faber: duas ordens de romans
em cada rede , com que ficavão cober-
tos os cordões dos capiteis ^ que efta-
vão no alto das columnas :
43 e dez bafes, e dez bacias fobre
as bafes :
44 ehum mar 5 edoze bois porbai- j
xo defte mar :
45* e caldeirões, e panellas, e ha-
mulas. Todos os vafos, que Hirao fez
por ordem de Sahmão para a cafa do
Senlior, erão de latão fino.
46 O Rei os fez fundir nos cam-
pos do Jordão 5 numa terra de muita gre-
da , entre Socoth , e Sarthan.
47 E todos eftcs vafos poz Salamâo :
e pelo feu exceíFivo numero não fe po-
dia faber o pezo do metal.
48 Fez também Salamão tudo o mais
que devia tazer na cafa do Senhor : (r)
o Altar d' ouro 5 e a Meza d' ouro, fo-
bre a qual fe pozeíTem os pães da Pro-
pofição :
Tom. VI. E os
(r) O Altar d' ouro, Ifto hc , coberto d' ouro
porfòra: por^jue no interior era de cedro. Pekeijia,
66 Reis.
49 os Candieiros d' ouro , finco á
direita ^ e finco á efquerda diante do
Oráculo de fino ouro , em fima dos quaes
havia humas como flores d' açucenas, e
alampadas d' ouro: as tanazes d'ouro5
5'o as quartas para agua , os garfos ,
os copos, os graes, e os thuribulos d'
ouro purifiimo. As couceiras das portas
da cafa interior do Santo dos Santos,
e as das portas da caía do Templo erao
também d' ouro.
51 Defte modo acabou de fazer Sa-
lamão tudo o que tinha emprendido na
cala do Senhor : e metteo dentro delia
a prata, o ouro, e os vafos, que Da-
vid leu pai tinha confagrado a Deos , e
depofitou tudo nos thefouros da cala
do Senhor.
Livro III. 67
CAPITULO VIII.
Dedicação do Templo Oração de Salamão
a Deos, Numero das vicHmas ininio-
ladas nefta folemnidade,
I Ntão fe congregarão todos os Anno
Xl^ Anciãos d'Iírael com os Prin-^^^^^^-
cipes das Tribus , e todos os CheFes ^^j"^
das familias dos filhos d^lfrael junto ao], C.
Rei Saiamíio em Jerufalem , para tras- ^^^5-
ladarem a Arca do concerto do Senhor
da Cidade de David, ifto he , de Siilo.
2 Todo lírael pois concorreo ao Rei
Salamão num folemne dia do mez de
Ethanim , que he o fctimo mez.
3 Tendo vindo todos os Anciãos d*
líVael , tomarão os Sacerdotes a Arca.
4 E levarão a Arca do Senhor , (^)
E ii e
(^) Q^^ ofetimo mez. O fctimo doarno Tan-
to, no í.jual fe razia a Fcíla dos Tabernáculos. Pe-
reira.
(/;) E O T.ibsrnaciilo do concerto. Dnvida-fc
fe cito T.ibern.icuio era o mcfino que Moyiés ii-
zera , oa ouíro que fizera D^\ià. O .Abulcní;; e
Viilaipando , kj^uinro a joié Heureo, tem 'tD pe-
lo mcfíT.o dc Moyiés, que aiégora exiftia cuiGa»
68 R a I s.
e o Tabernáculo do concerto , e todos
osvafos do Santuário , que havia no Ta-
bernáculo : e os Sacerdotes , e Levitas
os levavao.
$ O Rei Salamão porém , e todo
o Povo 5 que tinha concorrido a elle,
hião adiante da Arca ^ c immolavao ove-
lhas 5 e bois 5 que fe não podião avaliar ,
nem contar.
6 E os Sacerdotes poderão a Arca
do concerto do Senhor no lugar ^ que
lhe eftava deftinado , no Oráculo do
Templo, no Santo dos Santos, debai-
xo das azas dos Querubins.
7 Porque os Querubins tinhâo eften-
didas as azas fobre o lugar da Arca, e
cobrião a Arca , e os feus varaes.
8 (^) E como os varaes fobrefahif-
fem , e as fuas pontas apparcceíTem fo-
ra
baon. Saliano , e Manoel dc Sá por outro , que Da-
vid tinha erigido. I. Parai. XVI. I. Pereira.
( f ) E como os varaes fobrefahíjjem, O Hebrco
aqui , e a Vulgata no Segundo dos Paralipome-
nos , Capitulo V. , verfo 9. , dáo a caufa de fobre-
íahirem os varaes, dizendo: ^uia paululum longio»
res eram : porque crão hum canto mais compridos.
P£R£IRA.
Liv. III. Cap. VIII. 6^
ra do Santuário diante do Oráculo (J)
já não apparecião mais por fora , e af-
ligi ficarão alli {e) até o prefente dia.
9 (/) Na Arca porém náo havia fe-
não
(íí) Jâ não apparecião mais por fora. Texto ef-
curiílimo , e difíicillimo (i'enrender: ao qual por
iíTo chama Calmct a Cruz dos Interpretes. Mas el-
le mefmo nos fug^erc huma interpretação, da qual
diz, que fendo admittida , tira toda a dúvida: náo
fendo admiitida , deixa proceder incoherente todo
o verfo. ]ulga pois que efte apparecer, e náo ap-
parecer das pontas dos varacs , fc deve entender poc
rcfpeito a diverfos tempos , c lugares : o apparecer ,
do tempo que a Arca cftivcra no Tabernáculo de
Moyfés , onde por fer mui curto o Santuário , fa-
hiáo fóra delle os varacs , e como que cn^purra-
váo o véo , que eitava diante. O náo apparecer,
do tempo que a mcíma Arca foi agora trasladada
para o Templo de Salamáo , onde por fer o San-
tuário dous tantos maior, já a ponta dos varaes fc
náo viáo de íóra. Pereira.
( e ) Até o prefente dia. Defta claufula infere Cal-
met , que quem primeiro a efcreveo , vivia antes
da irrupção dos Caldeos, e dcílrniçáo do Templo.
PeREI RA.
(f) Na Arca porém nao havia ^ 'à-c. Fftc Tex-
to parece oppor-fe ao que depois cícrrvco S. Par.-
lo na Epiítola aos Hebrcos , ix. 4. , onde diz que na
Arca fe guardaváo também a urna do manná , c a
vara d Aráo. Rcfponde-fe. Primeiro. Que S. Pau-
lo falia do tempo , que decorrco defde que Moy-
fcs coliocou a Arca no Tabernáculo , até o em que
7Ò Reis.
não as duas taJboas depcdrn , que Moy-
lés tinha mcttido nella em Horeb , quan-
do o Senhor fez alh'ança com os íilhps
dMlrnel logo depois da fua fahida do
Egypro.
10 Aconieceo porém , que logo que
os Sacerdotes fahírão do Santuário , hu-
ma névoa encheo a cafa do Senhor;
11 e os Sacerdotes não podiao ter-
fe em pé , nem fazer as funções do feu
miniílerio por cauía da névoa : porque
a
Salamão a HepoGrou no Templo. Antes da funda-
ção do Tcmpío gu.-írd.iváo-íc m. Arca a urna do
inanná , e a vara d Aráo, juntamente com as duas
Taboas de pedru. Depois da fundação do Tcnrplo
ficáráo dentro da Arca as duas Taboas de pedra ,
e mettêráo fe no Er.irio, ou Thcíouro do Templo
a urna , e a vara. Rclponde-fe. Segundo. Que tal-
vez náo tendo eftado dentro da Arca nem cm tem-
po de MoyTes, nem em tempo de Salamão fcnão
as duas Taboas da Lei : depois nos últimos tem-
pos da Republica Judaica fc tcrião também met-
tido na Arca a urna, c a vara. RerpondeTc. Ter-
ceiro. Que em a urna , e a vara íe pondo junto
da Arca , ainda que fòra delia , iíTo bailava para
S. Paulo em bom fentido dizer , que com as Ta-
boas da Lei fe confervavão também na Arca a ur-
na do manná, e a vara d Arão: na Arca, ifto he,
ao pc da Arca. Pereira,
Liv. lil. Cap. VIII. 71
a gloria do Senhor tinha enchido a ca-
fa do Senhor.
12 Então diíTe Salamão : (g) O Se-
nhor dilTe, que elle habitaria ^luma né-
voa.
13 Eu edifiquei efta cafa paratefer-
vir de morada , e para o teu throno fe
eílabelecer nella para fempre.
14 E o Rei voltando-fe para todo
o a juntamento d' Ifrael , o abençoou :
porque todo o Ifrael eílava alli congre-
gado.
15- E Salamão diíTe : Bemdito feja
o Senhor Deos d' Ifrael , que fallou pe-
la fua boca a meu pai David, eque (b)
pelo ieu poder executou a fua palavra,
dizendo :
1 6 Des do dia que eu tirei do Egy-
pto
(^) O Senhor diffe , ^â^c. Oncíe , ou quando dif-
fc o ^Senhor , (jue clle habitaria numa nevo^ ? Dif-
fc-D náo de palavra, mas por obra, qucr.do repe-
tidas vezes fe rinha dado a perceber encoberto nu-
ma nuvem , ou numa névoa no dcícrto , como re-
petidas vezes fc !c no E>:odo. Cai.met.
(/;) Pelo [cu poder ^ é^c. Segui a .Saci, e a de
Carricrcs, que allin^ vertem aquclle in vianitus
ejuj pcrfecit : quando outros traduzem , por fuas
mios y ou com Jua mau. Pereira.
72 Reis.
pto o meu Povo d'Ifrael , não efcolhi
Cidade alguma de todas as Tribus d'
Ifrael , para fe me edificar nelb huma
cala 5 e para neíTa cafa fe eftabelecer o
meu Nome : mas efcolhi a David para
fer Chefe do meu Povo d' Ifrael.
17 Meu pai tinha querido edificar
huma cafa ao Nome do Senhor Deos d'
Ifrael.
18 Mas o Senhor diíTe a David meu
pai : Qiiando tu no teu coração conce-
befte o projcfto de edificar huma cafa
ao meu Nome, fizefie bem, formando
dentro de ti mefmo efta refolução.
19 Todavia não feras tu o que me
edifiques huma cafa : mas teu filho, que
nafcerá dos teus rins , eíTe ferá o que
edifique huma cafa ao meu Nome.
20 Verificou o Senhor a fua pala-
vra: e eu me aflentei fobre o throno d'
Ifrael , bem como o Senhor tinha orde-
nado : e edifiquei huma cafa ao Nome
do Senhor Deos d' Ifrael :
21 e alli conftitui o lugar da Arca,
cm que eftá o concerto que o Senhor
fez com noíTos pais, quando f;ihír3o do
Egypto. De-
Cap. III. Liv. VIII. 73
^^ Depois poz-fe Salamão diante
do Altar do Senhor á vifta de todo o
Ajuntamento d'Ilrael; e eftendendo as
fuas mãos para o Ceo , diíFe :
23 Senhor Deos d^Ifrael , não ha
Deos que feja femelhante a ti , nem no
mais alto do Ceo , nem febre a terra,
Tu es o que confervas opa(íl:Oj e a mi-
fericordia que fizefte com os teus fer-
vos, que caminhão diante de ti de to-
do O feu coração.
24 Tu oqueguardafte a David meu
pai teu fervo tudo o que lhe tinhas pro-
mettido : tu lho tinhas predito da tua
boca , e as tuas mãos o comprírao , do
que he prova efte dia.
25- Agora pois 5 Senhor Deos d'íf-
rael , conferva a meu pai David teu fer-
vo o que lhe promettefte , dizendo :
Não te faltarão defcendentes , que fe
aíTentem diante de mim fobre o throno
d'Ifrael : com tanto todavia que teus fi-
lhos guardem os teus caminhos , andan-
do em minha prefença , como tu andaf-
te diante de mim.
26 Agora pois, Senhor Deos d'If-
rael ,
74 Reis.
rael, cumprac-fe as palavras qne diíTef-
te a David meu pai , e teu fervo.
27 He pois crivei que Deos habite
verdadeiramente fobre a terra ? Porque
fe o Ceo 5 e os Ceos dos Ccos te não
podem comprehender , quanto menos
efta cafa que eu edifiquei.
28 Mas arrende 5 Senhor Deos meu ,
á oração do teu fervo: ouve oHymno,
e a oração , que teu fervo te offcrece
hoje;
29 para os teus olhos eftarem aber-
tos de dia , e de noite fobre cila cafa :
fobre efta cafa, da qual tu diíTeíle : O
meu Nome eftará nella , para ouvires a
oração que teu fervo te ofFerece nefte
lugar.
30 Para ouvires, digo, a depreca-
çâo de teu fervo , e todas as que o teu
Povo d'ífrael te ofFerecer nefte mefmo
lugar: para as ouvires do lugar da tua
morada no Ceo : e para que tendo-as
ouvido, lhe fejas propicio.
3 1 Quando algum homem tiver pec-
cado contra feu próximo , não tendo
guardado o juramento com que feligaf-
Liv. III. Cap. VIíI. 75^
fe, c vier á tua cafa , e diante do tea
Altar, para fn/er juramento ,
32'' tu ouvirás do Ceo, e farás juf-
tiça a refpeito de teus fcrvos : conde-
mnarás o ímpio , fazendo recaliir a fua
perfídia fobre a fua cabeça : e juítifica-
rás o jujfto 5 rctribuindo-lhe conforme a
fua jaftiça.
33 Qiiando o teu Povo d'lfrael ti-
ver fugido diante dos feus inimigos,
(porque algum dia peccará elle contra
ti ) e fazendo penitencia, e dando glo-
ria ao teu Nome, vierem elles fazer-te
oração , e implorarem a tua mifericor-
dia ncfta cafa :
3 4 ouve-os do Ceo , c perdoa o pec-
cado do teu Povo d' Ifrael , e torna-os
a levar á terra, que déíle a feus pais.
35* Quando o Ceo fe tiver fecha-
do, e não cahir chuva alguma por cau-
fa dos feus peccados : e elles orando
nelle lugar fizerem penitencia em honra
do teu Nome , c le converterem dos
feus peccados por caufa da afflicçao em
que fe virem :
36 ouve-os do Ceo ^ e perdoa os
pec-
*j6 Reis,
peccados de teus fervos , e do teu Po-
vo d'Ifrael: moftra-lhes o caminho di-
reito por onde andem , e derrama chu-
va fobre a tua terra , que tu défte ao
teu Povo para a poíTuirem.
37 Quando vier fobre aterra ou fo-
me, ou pefte, ou corrupção do ar: ou
quando a ferrugem , ou gafanhoto , ou
qualquer malino humor deftruir os paes :
ou quando o teu Povo fe vir apertado
por algum inimigo , que fc ache ás fuas
portas , e o cerque : ou ferido de qual-
quer açoute j ou de qualquer enfermida-
de que feja :
38 no cafo que algum homem da
teu Povo d' Ifrael 5 feja elle quem quer
que for 5 te offereça os feus votos , e as
preces , e conhecendo a chaga do feu
coração eftenda as fuas mãos para ti
nefta cafa:
39 tu o ouvirás do Ceo , deíTe lu-
gar de tua morada ; tu te moftrarás
outra vez propicio a elle, eufarás com
elle, fegundo vires que he a difpofição
do feu coração , dando a cada hum con-
forme todas as fuas obras , e defejos:
(por-
Liv. III. Cav. VIIL 77
( porque tu fó es o que conheces o in-
t-eriòr dos corações de todos os filhos
dos homens. )
40 A fim de que elles temao por
todo o tempo, que viverem fobre a fa-
ce da terra , que tu défte a nofibs pais.
41 Outrofi quando aigum eftrangei-
ro , que não he do teu Povo d' Ifrael ,
vier d'a!gum paiz remoto , attrahido do
teu Nome , porque em toda a parte fe
farão conhecer a grandeza do teu No-
me 5 a força da tua mâo , c o poder do
t^u braço:
42 Quando algum eftrangeiro, di-
go, vier fazer oração nefte lugar;
43 tu o ouvirás do Ceo , do firma-
mento da tua morada , e farás tudo o
que o eftrangeiro te pedir que faças:
para que todos os Povos da terra ápren-
dão a temer o teu Nome , como faz o
teu Povo d' Ifracl ; e para que experi-
mentem j que o teu Nome foi invocada
fobre cfta cafa , que eu edifiquei.
44 Quando o teu Povo tiver fahi-
do á guerra contra os feus inimigos,
indo pelo caminho por que tu o tiveres
man-
7» Reis.
mandado ir , fe ellcs te dirigirem as
fuas preces , olhando para a banda da
Cidade , que tu cfcolheíle , e para a ban-
da defti caía , que eu edifiquei ao teu
Nome :
45* tu ouvirás do Ceo as fuas ora-
ções , e as íuas preces , e lhes farás juf-
tiça.
46 Se o teu Povo peccar contra ti ,
(porque não ha homem que não peque),
e tu irado contra elle o entregares nas
mãos de feus inimigos , e elles forem le-
vados cativos ou perto, ou longe , pa-
ra alguma terra inimiga :
47 fe fizerem penitencia do íntimo
do feu coração no lugar do íeu cativei-
ro, e cdnvertendo-fe a ti no feu cativei-
ro diíTerem: Nós peccámos, nós com-
mettemos a iniquidade , nós fizemos ac-
ções ímpias :
48 fe elles fe voltarem para ti de
todo o feu coração , e de toda a fua al-
ma na terra de feus inimigos, para on-
de forão levados cativos; e orarem vol-
tados para a terra , que tu déíie a feus
pais , e para a Cidade que tu efcolhef-
te,
Liv. III. Cap. VIII. 79
te, e para o Templo, que eu edifiquei
ao teu Nome :
49 tu ouvirás do Ceo , e delTa ef-
tavel morada , onde eílá o teu throno , as
fuas orações , e as luas preces : tu toma-
rás fobre ti a defenfa da fua caufa :
50 tu te moftrarás propicio ao teu
Povo 5 que pcceou contra ti ; tu lhe per-
doarás todas as iniquidades com que el-
les violarão a tua Lei 5 e tu infpirarás
ternura por elles aos que os levarão ca-
tivos, para delles terem compaixão.
ji Porque elles são o teu Povo , e
a tua herança , e tu fofte o que os riraf-
te da terra do Egvpto, do meio d'ha-
ma fornalha de ferro.
52 Os teus olhos eftejão abertos ás
deprecações do teu fervo, e do teu Po-
vo d'Iírael , para que tu os ouças em
todas as petições, que elles te fizerem.
S 3 Porque tu es , ó Senhor Deos ,
o que os feparaítc de todos os Povos
da terra , para delles fazeres a tua he-
rança, como tu odeclarafte por teu fer-
vo Moyfés , quando tiraíle a noífos pais
do Egypto.
Ten-
8o Reis.
^4 Tendo Salamão acabado de fa-
zer eíla oração ^ e efta rogativa , le-
vantou-fe de diante do Altar do Senhor :
porque elle tinha pofto ambos os joe-
lhos cm terra, e tinha as mãos eílendi-
das para o Ceo.
55r Pofto logo em pé , abençoou a
todo o ajuntamento d'Itrael , dizendo
em alta voz :
56 Bcmdito feja o Senhor, quedeo
dcfcanço ao feu Povo d'Ifrael, confor-
me todas as promeíTas que tinha feito:
todos os bens que elle nos tinha pro-
mettido por feu fervo Moylés, nos luc-
cedêrão , fem que cahilTe alguma das
fuas palavras.
57 O Senhor noífo Deos feja com-
nofco 5 bem como foi com noíTos pais ;
elle nos não defampare , nem nos lance
defi:
58 mas elle incline os noíFos cora-
ções a fi , para andarmos em todos os
feus caminhos , e para guardarmos os
feus mandamentos , as fuas ceremonias ,
e todas as ordenações que elle prefcre-
veo a noflbs pais.
As
Liv. III. Cap. VIII. 8i
5*9 E as palavras defta oração que fiz
diante do Senhor , fejáo preíenres de
dia, e de noite ao Senhor noíTo Deos,
para que cada dia faça elle juítiça ao
leu fervo, e ao feu Povo d'Ilrael:
60 de forte que todos os Povos da
terra faibao que elle he o Senhor , que
he o Dcos , e que nao ha outro fóra
elle.
61 Seja tamfaem o noíTo coração
perfeito com o Senhor nofíb Deos , pa-
ra andarmos nos fcus decretos, c guar-
darmos os feus mandamentos, como fa-
zemos hoje.
62 O Rei pois , c todo o Ifrael
com elle immolárao viftimas diante do
Senhor.
i 63 E Salamão por hoftias pacificas
dcí^oliou, eimmolou ao Senhor vinte e
dous mil bois , e cem mil ovelhas : e
o Rei com os filhos d'llrael dedicárao
o Templo do Senhor.
64 Naqucllc dia conH^grou o Rei
o meio do átrio , que citava diante da
cafi do Senhor, offercccndo alli holo-
cauílos , facrificios, e as banhas d^s hof-
Tom. Vi. F tias
82 Rei s.
tias pacificas : porque o Altar de bron-
ze , que eftava diante do Senhor , era
pequeno , e não havia nelle lugar para
os holocauftos , facrificios , e banhas das
hoftias pacificas.
65* Fez Salamão pois então huma
Fefta muito célebre , e todo o Ifrael com
elle y tendo concorrido em grandes en-
xames des da entrada d'Emath até o
rio do Egypto , e tendo-fe confervado
diante do Senhor nolTo Deos por fete
dias 5 e depois por outros fete , ifto
Jie, por quatorze dias.
66 Ao dia oitavo defpedio elle os
Povos, osquaes abençoando o Rei vol-
tarão para fuas cafas cheios d' alegria,
e mui contentes no feu coração por to-
dos os bens , que o Senhor tinha feito
a David feu fervo , e ao feu Povo de
Ifrael.
CA-
Livro III.
83
CAPITULO IX.
Apparece o Senhor fegunda vez a Sala-
mão. r.Jle Príncipe dd vinte Cidades ao
Rei de Tyro, Edifica outras de novo ^
e fujeita vários Povos, Manda huma
frota ao paiz d^ Ojfír,
I ^T^Endo Salamão acabado d'edl-
JL ficar a cafa do Senhor , e o pa-
lácio do Rei , e tudo o que tinha defe-
jado, e querido fazer:
2 lhe appareceo o Senhor fegunda
vez , como lhe tinha apparecido em Ga-
baon , e lhe difle :
3 Eu ouvi a tua oração , e a fiippli-
ca que mefizeíle : eu lantifiquei efta ca-
fa que me edificafte, para nclla cftabe-
leccr para fempre o meu Nome : e nei-
la eftarão fempre os incus olhos , e o
meu coração.
4 Se tu andares na minha prefença ,
como andou teu pai , em fimplicidade
de coração, e em equidade: fe fizeres
tudo o que te tenho mandado, c guar-
dares as minhas leis , e as minhas or-
denações :
F ii eu
§4 Reis.
$ cu eftabelecerei o teu throno, e
o teu reino febre Ifrael para fempre já
mais y como eu o prometei a David teu
pai , dizendo-Ilie : Tu terás fempre fuc-
ceíTores da tua linhagem , que eftejão af-
fentados fobre o throno d' Ifrael.
6 Mas fe vós vos defviardes de
mim 5 vós 5 e voíTos filhos : fe me não
feguirdeSj nem guardardes os meus pre-
ceitos, e as ceremonias que eu vospref-
crevi ; mas fordes fervir , e adorar os
deoíes eílrangciros :
7 eu exterminarei Ifrael da fuperfi-
ce da terra , que lhes dei : lançarei lon-
ge de mim o Templo , que confagrei
ao meu Nome : Ifrael virá a fer o pro-
vérbio 5 e a fabula de todos os Povos :
8 e efta cafa virá a fervir d' exem-
plo : e todo o que paíTar por diànie del-
ia ficará pafmado, e a infultará, dizen-
do : Porque fe houve o Senhor alfm com
efta terra, e com efta cafa?
9 E refponder-lhe-hão : Porciue ef-
tes Povos deixárão o Senhor feuDeos,
que tinha tirado doEgypto afeuspais;
c porque elles feguírão deofes eftrangei-
ros *
\
Liv. III. Cap. IX. 85^
ros , c os adorarão , e fervírao : por iflb
o Senhor defcarregou fobre elles todos
eíles niveles.
10 Vinte annos andados , depois Ann^
que Salamão edificara as duas cafas , if- ^012/
to he 5 a cafa do Senhor , e a cafa do am. de
Rei , chr.
11 ( mandando-lhe Hirao Rei de^^^*
Tyro toda a madeira de cedro , e de
faia , e o ouro que havia mifter ) deo
Salamão a Hirao vinte Cidades nopaiz^
de Galiléa.
12 E fahio Hirao de Tyro a ver
ellas Cidades , que Salamão lhe tinha
dado; mas não lhe agradarão,
13 edilTc: Sãoeftas, irmão, as Ci-
dades que tu medcíle? E chamou a ef-
ta Comarca (a) a Terra dc Cabul , co-
mo ella fc chama ainda hoje.
14 Tinha Hirao também mandado
ao Rei Salamão (b) cento e vinte ta-
lentos d' ouro.
Ef.
(^) J terra dc Cahul. Jofé Hcbreo diz , que
Cabul em Jingua Fenícia fignifica o que n?,o agra-
da. Duhamel , e de Carrieres vertem Cabul a terra
d' arca. Pereira.
C^) Cmto e vinte talmos a ouro. Pelos cálcu-
26
Reis.
(c) Eíla he a fomma das def-
pezas que fez Salamao na fábrica da
cafa do Senhor, e da fua cafa , (d) q
na
los de Calmet , que já expozemos noutras partes ,
hum talento d' ouro avaliava-fe cm íeíTenta e nove
mil c quinhentas e trinta e huma libras Francczas ,
ifto he 5 cm vinte e fete mil cruzados, e trezentos
e noventa e quatro mil e novecentos c feííenta mil
reis da noíTa moeda. AHim os cento e vinte talen-
tos im.portaváo da moeda Pcriugueza tres milhões,
c trezentos e trinta e fete mil cruzados , e cento c
noventa e finco mil e duzentos reis. Pereira.
(f ) Efta hc a fomma das defpezas , ó^c. Pois
que ? Náo chegou a mais do que a cento e vinte
talentos o que Salamão gaftou cm tantas obras ?
Sem dúvida nenhuma chegou a muito mais. Logo
o prefente verío náo íe deve entender dos cento e
vinte talentos, que proximamente íe mencionarão :
( porque eítes fe fuppóem que foráo dados por Hi-
ráo, e não enipreftados ) mas tomar-fe como hum
epilogo de tudo o que atégora fe contára dos gaf-
tos de Salamáo nos ícus edifícios. Calmet. To-
davia Saci , c de Carrieres, porque a liçáo da Vul-
gata lhes pareceo aqui menos exaóla, e clara , rc-
folvêráo rubftituir-lhe a do Hebreo , que nós tam-
bém adoptáranios na primeira Impfcrsão, e diz af-
ílm : E a razão que teve Salamão para por hum
tributo ao feu Povo , foi a grande defpcza que fe v/o
Obligado a fazer nà fundação da Cafa do Senhor y
na da fua cafa ^ e na de Mello ^ <ò'C. Pereira.
( ) E na dc Mello, Por outros lugares dos Li-
vros dos Reis , e dos Paralipomenos confta , que
Liv. III. Cap. IX. 87
na de Mello , e dos muros de Jerufa-
lem , e na de Hefer ^ e Mageddo , e
Gazer.
1 6 Faraó Rei do Egypto tinha vin-
do tomar Gazer , e a tinha queimado ,
e tinha desfeito os Cananeos que habi-
tavão na Cidade 5 e a tinha dado cm
dote a fua filha ^ e mulher de Salamao.
17 Salamao pois reedificou Gazer,
e Bethoron a Baixa ,
1 8 Balaath j (e) c Palmyra , na ter-
ra do deíerto.
19 Fortificou também todas as al-
deãs que lhe pertencião , e que nao ti-
nhão muros; as Cidades dos coches, e
as Cidades da gente de cavallo; e tu-
do o que a eile lhe approve edificar em
Afello era hum Palácio entre o monte Siao , c a
Jcrufalcm Baixa. E adiante Capitnlo XI. , verío
27. do prcfcnte Livro vè-fe que ao fundar efte Pa-
hcio poz Salamão hum grande tributo ao Povo,
çue depois deo occafiáo a queixumes , e rebclliôes.
Pereira.
(e) E Palmyra. Segundo Jofé nas Antiguida-
des, Palmyra era o nome Gre^o da Cidade , que
o Hcbrco aqui chama Tbaudamon , vizinha do Eu-
tates. Della foi natural Odcnato marido dc Zenoi
'aia. DuHAJíEL,
n Reis.
Jerufalem, (/) no Libano, e em toda
a extensão do feu reino.
20 Quanto ao que tinha ficado do
Povo dos Amorrheos , dos Hctheos,
dos Fec^zeos, dos Hev^eos, e dos Je-
bufcos , que não erao dos filhos d'If-
rael :
21' fez Salamão tributários os filhos
dellcs 5 que tinhao ficado no paiz ^ e
que os filhos d'irrael não rinhão podi-
do extinguir : aflím ficarão tributários
até hoje.
- ' 22 Elie não quiz que algum dos fi-
lhos d'lfrael íerviíTe d'eícravo: mas fez
delles os feus homens de guerra , os
feus Miniftros , os ícus primeiros Oín-
ciaeSj e os Chefes dos leus exércitos:
e ellcs commandavão os coches 5 e a
cavaliaria. .
23 Havia quinhentos efincoenta ho-
mens eftabelecidos íobre todas asobrís
de Salâmão, aos quaes todo o Povo ef-
tava fujeito^ e que tinhão a fuperinten-
den-
(f) No Líbano, Ifto he, no Palacio chamade
JBofquc cio Líbano , fegundo íe colhe do Capitulí
X. verfo 17. e 21. Pereira.
Liv. III. Cap. IX. 89
dencia de todas as obras ^ que elle ha-
via emprendido.
24 Depois difto veio a filha dc Fa-
raó da Cidade de David para a íua ca-
fa j que Salamao lhe tinha edificado í
então foi que o Rei edificou Mello.
25: Ofierecia também Salamao tres
vezes no anno holccauftos , e viílimas
pacificas fobre o Altar que tinha levan-
tado ao Senhor ; e queimava pcríumes
diante do Senhor ^ depois que o Tem-
plo foi acabado.
26 Outrofi efquipou o Rei Salamao
huma frota cmAfiongaber, que hc per-
to d'Elath na praia do mar vermelho ^
em terra d'Idumea.
27 E Hirao mandou ncfta frota al-
guns dos feus fervos , bons marinhei-
ros 5 e que entcndiao bem da náutica y
que fe ajuntavão com os fervos de Sala-
mao.
2a (g) Os quacs tendo chegado a
Of-
Çg) E tendo checado a Ojjir , é-c. Hc tão céle-
bre na Hiftoria de Salamáo a terra d Oítir, como
incerto entre os Interpretes o fcu fitio. Até os prin-
cípios do prcfente fcculo cráo duas as opiniões,
que íendo entre fi oppoftas , corriáo todavia com
90 Rei s.
OlEr y (Z?) tomarão alli quatrocentos c
vin-
igual applaufo. Huma a dos que punhão a Ofíir
naquella parte da índia Oriental , que comprehcn-
de a Peninfuía de Malaca , ou a Ilha de Sumatra ,
ou o Reino de Pegú , ou todos juntos. Efta he a
que feguio o nolTo Gafpar Barreiros na fua DHfer-
tação De Regione Ophirina, como vinda já dos an-
tigos Éxpofi rore s da Efcritura Jofé Hcbreo , S. je-
ronymo , Thcodoreto , e Procopio de Gaza. Outra
a dos que punháo a Oííir naquella parte da CoPcn
d Africa Oriental , que comprehendc o ReiriO de
Sofala. Efta he a porque , depois de Manoel de
Sá , e de Joáo Mariana , fe declarou o famofo Bif-
po d' Avranches. Daniel Huecio na Tua DiíTerta-
çáo De Navigationibiis Salomonis. Por ultimo em
noíTos dias Calmer , não fc contentando de nenhu-
ma deftas hypothercs , tanto no Commentario do
verfo 29. do Capitulo X. doGencfis, como em Dif-
fertaçáo feparada febre o Paiz d' Ojfr , foi bufcar
OfRr áquella pane da Afia , que fica entre a Col-
quída , e a Media , crendo fer efta a terra pov;oada
pelos defcendentcs d'Ofíir, filho dc Jeòlan , donde
cila romou o nome. Pereira.
(/;) Quatrocentos e vinte talemos d' ouro. Que
pelos cálculos ailima eráo danoiTa moeda onze mi-
lhões, e feiiícentos c oitenta e hum mil cruzados, e
oito mil e trezentos e vinte reis. Mas no Livro II.
dos Paralipomenos , vm. i8. , em lugar de quatro-
centos e vinte talentos , Icm-íe qu.-ítrocentos e fin-
coenta. O que Mr, Huet attribue a equivocaçáo
dos Copittas , occafionada de que no Hebreo fe
parecem muito huma com outra as letras Caph c
Nun, Pereira.
Liv. m. Cap. IX. 91
vinte talentos d'ouro , que trouxerão ao
Rei Salmão.
CAPITULO X.
A Rainha de Sahá lem b-ufcar Salamão,
Sabedoria , e ri^íuzas dtjle Príncipe,
Dejcripção do throno , que elle mandou
fazer.
I {a) A Rainha mefma de Saba,
ou-
(^) A Rxinhi mejma àc Sahd ^ 'ò^c. Comnrjm-
mentc fc fuppõe que Sxhd era nome da Rainha,
fendo que íò o era da Kegiáo, como com Caííio-
doro de Ia Reina reconhecem todos os meus Tra-
dudlores Francezcs. A dúvida toda he , queRcgiáo
era efta de Saba. Jofé Hebreo efcreve , que cfta
Rainha fc chamava Nicaule , e reinava no E2;y-
pto, e na Ethiopia , tendo por Corte a Cidade dc
Meroe , que antes que CambyTcs conquiflalTe o
Egypto fe denominava Sabi, Induzido da authori-
dade dc Jofé , deo Grocio por certo nefíe lu^ar,
que a Rainha de Sabá era a Rainha da Ethiopia;
e fundados na tradição dos Póvos Abexins , ou
dos Póvos do Prefte ]oáo , dão os nollos Efcriio-
rcs ifto mefmo por certo com Joáo de Barros: ac-
crefcentando 5 que efta Rainha depois de fe aviftar
com Salamáo na Judca , tivera delle hum filho,
em cuja pciToa , c dcfcendcncia fc continuou a fuc-
cefsáo do Reino da Ethiopia. Porém Bochart no
Livro II. do Faleg. Capitulo XXVI. moftra que a
Reis.
(h) ouvida afama de SalamaonoNome
do Senhor , veio fazer experiência nei-
le por enigmas.
2 E tendo entrado em Jerufalem
com grande comitiva , e rica equipa-
gem,
narração ãe Jofé eftá cheia de falfidades , de forte
que defcobre nella doze erros. E Calmet tem por
huma fabula a tradição dos Abexins , com que os
noíTos Te enganarão. Convém lo^o ambos com os
melhores Commentadores da Efcritura , que Sabá
era aquelia Região da Arábia Feliz , cujos Póvos
fe chamaváo Sabcos, e donde vinha grande cópia
de preciofos aromas , como confta até dos Efcriio-
res profanos. Nem deve fazer dúvida o que Chriíío,
diíTe 5 Luc. xi. ^i., que eíla Rainha viera ouvir a
Salamão dos tins da terra : porque , como nora Du-
hamel , por fins da terra coítuma a Efcritura ex-
primir os lugares mui remotos , e principalmente
os que fe termináo pelo mar. Pereira.
Çb) Ouvida a fama de SaUmao no Nome do Se^
tjbor. Ifto hc 5 conforme parafrafeão Saci , c de
Carrieres , ouvida a fama que corria , de tudo o
(juc Salamão tinha feito em horira do Nome do
Senhor, Outros atão aquelle no Nome do Senhor
com o verbo veio , e cxplicáo aííim : ouvida a fa-
ma de Salamão , veio no Nome do Senhor : iíto
he , veio infpirada pelo Senhor , ou abrazada em
defejos de o conhecer por meio de Salamão. An-
tes S. Paulino , e Theodoreto a coníiderão nefta
vinda já convertida ao verdadeiro Deos , c illuílra-
da com o conhecimento fobrenatural dellc. Perei-
Liv. Iir. Cap. X. 93
gem, com cnmelGS que traziao aromas,
e infinita quantidade d' ouro, e de pe-
dras preciofas, fe aprefentou diante do
Rei Saiamão , e lhe defcobrio quanto
trazia no peito.
3 E Saiamão a inílruio em todas as
coufas, que ella lhe tinha propofto, e-
não houve nenhuma que o Rei ignoraf-
fe 5 e fobre a qual elle a não fatisfizeíTe
com as fuas reípoftas.
4 Ora a Rainha de Saba vendo to-
da a fabedoria de Saiamão; a caía que
elle tinha feito ;
5: os manjares da fua meza ; os quar-
tos dos feus Officiaes ; as diverfas claf-
fes dos que o fervião; os feus veftidos;
os feus copeiros; e os holocauftos que
elle oífcrecia na cafa do Senhor : efta-
va toda fora de íí ,
é e diífe ao Rei: O que fe me con-
tou no meu reino ,
7 da tua convcrfação , e da tua fa-
bedoria , he verdadeiriílimo: e com tu-
do eu não dava credito ao que fe me
dizia , até que cu mefma vieífe , e o
viffe com meus próprios olhos: c tenho
re-
94 Reis.
reconhecido que fe me nao dizia ame-
tade do que era. A tua fabedoria , e
as tuas obras excedem tudo quanto a
fama me tinhão dito de ti.
8 Bemaventurados os teus homens,
e bemaventurados os teus fervos , que
gozão fempre da tua prefença , e que
ouvem a tua fabedoria.
9 Bemdito feja o Senhor teuDeos,
aquém agradafte , eque tecollocou fo-
bre o throno d'lfrael , porque elle amou
a Ifrael para fempre , e te conftituio
Rei 5 para governares com equidade , e
fazeres juftiça.
10 Depois deo a Rainha de Saba
ao Rei cento e vinte talentos d' ouro,
e huma infinidade d' aromas , e pedras
preciofas. D' então para cá nao le trou-
xerao a Jerufalem tantos aromas , como
os que a Rainha de Sabá deo ao Rei
Salamâo.
1 1 A frota d* Hirao que trazia o
ouro d'OíHr , trouxe também ao mef-
mo tempo (c) huma prodigiofa quanti-
da-
(c) Huma prodigiofa íjuaiitídade de páos odori"
fros , ó'€. O Hcbrco aqui chama-lhes Almugim ,
Liv. IIL Cap. X. 95:
dade de páos odoríferos , e pedras pre-
ciofas.
12 E o Rei mandou fazer deftas
preciofas madeiras os balauftes da cafa
do Senhor, e da caía do Rei , cytha-
ras, e violas para os muficos. Nao tor-
nou a vir, nem fe vio mais defta caíta
de madeira até o prefente dia.
13 O Rei Salamão da fua parte deo
á Rainha de Sabá tudo o que ella de-
fejou, e lhe pedio, afora os prefentes,
que elle meímo lhe fez com real ma-
gnificência. E a Rainha voltou , e fe
foi para o feu reino com os feus fervos.
14 O pezo d' ouro, que fe trazia a
Salamão cada anno , (d) era de feis-
cen-
nos Parai ipomcnos invertidas as letras, Al^umim: 6
que CaíHodoro de la Reina verte cm Caftelhano
madeira de Brazil. A Vulgata, feguindo os Seten-
ta 5 chama cftes páos cm Grego ligna íhyina , ad-
jcótivo formado do nome thyax , ou ií^ya , que
Plinio no Livro XIII. , Capitulo XVI. contunde
com a<quc os Latinos chamaváo citrus , arvore odo-
rífera que vinha da Mauritânia , c da qual cm tem-
po d* Augufto começarão os Romanos a tazcr as
mais preciofas , e mais eftimadas mezas , que en-
lio fe conhcciáo. Pekeira.
{d) Era de [ámnto^ e fejfenta e [eis talentos
I
9^ Reis.
centos e feílenta e feis talentos d^ou-
15' afóra o que lhe traziao os que
tinhao a intendência da arrecadação dos
tributos, os negociantes , os que ven-
dião quinquclharias , e todos os Reis
da Arábia, e os Governadores da terra.
16 Fez outroíi o Rei Salamao du-
zentos efcudos d'ouro puriíliino, dando
para as chapas de cada efcudo {e) íeis-
centos íiclos d' ouro.
17 Fez também feiscentos broqueis
de ouro de Lei , fendo cada broquel re-
veftido de trezentas minas d' ouro, e o
Rei os poz na cafa do Bolque do Lí-
bano.
18 Fez mais o Rei Salamao hum
grande throno de marfim , que guarne-
ceo d' hum curo mui hrzente.
19 Eíte throno tinha feis degráos:
e
ouro, lílo he, de moeda Portugueza dezoito mi-
lhões , e quinhentos e vinte e tres mil cruzados ,
c vinte e tres mil e trezentos e ícíTcnra reis. Pe-
reira.
( e ) Seiscentos fidos d' ouro. Ifto he , de moeda
Portugueza hum conto e cento e vinte mil reis*
Pereira.
Liv. III. Cap. X. 97
c o alto era redondo por detrás: (/) e
duas mSos huma d'huma parte , outra
d'outra foftinhão oaíTcnto; e havia deus
leões ao pé de cada mão.
20 E doze leÕeslinhos fobre os feis
degráos , feis d' huma parte , e leis de
outra. Em todos os reinos do mundo
fe não fez nunca obra tão prima.
21 Todos os vâfos por onde bebia
o Rei Salamao crão d' ouro : e toda a
baixella da cafa do Bolque do Libano
era d'ouro puriílímo. Nenhum deftes va-
fos era de prata , nem fe fazia cafo del-
ia no reinado de Salamao.
22 (g) Porque a frota doRei Sala-
mao hia por mar com a frota d'Hirão
huma vez cada tres annos a Tharfis ^ a
trazer dalli ouro, e prata, e dentes d*
elefantes, e bogios, c pavões.
23 Excedeo logo o Rei Salamao
todos os Reis do mundo em riquezas,
e fabcdoria.
Tom. VI. G E
(/) E duas vúos, lílo hc, dous cfpeques , ou
cfteioà. Pereira.
(^) Porque 4 frota do Rei Salmão , &c. A
mefma fcm dúvida , que aquella dc que íe falia
no Capitulo IX. , verfo 26 , 27 c 28, c no Cíi-
98 Reis.
24 -E toda a terra defcjava conhe-
cer de viíla a Salomão para ouvir a fa-
bedoria , que Deos tinha depolitado no
feu coração.
25- E cada hum lhe mandava todos
os annos íeus prelentes : vafos dc pra-
ta, c d^ouro, veílidos, armas, cheiros,
cavailos , e machos.
26 E ajuntou Salamao hum grande
numero de coches , e de cavalleiros : e
teve mil e quatrocentos coches, edoze
mil homens de cavai lo : e ellc os dif-
tribuio pelas Cidades fortificadas, dei-
xando ficar parte dclles cm Jerufalem ,
para andarem junto da peíToa dclle Fvei.
27 Elie fez que a prata fofie em Je-
rufalem tão commum , como as pedras ;
e^ue foílem tão óbvios os cedros, co-
mo os íycómoros que nafcem nos cam-
pos.
28 Sacavão-fe também doEgypto,
e de Cóa cavailos para Salamao. Por-
que
pitulo X., verfo 11. Ma.*: o^de era Thars , e ain-
da fe Tharfis era ou náo era divería d' Ojjir , cou-
fas são que fc náo podem refolver pelo fagrado
contexto , c febre cjue os Expofitores náo propõem
íenáo nicras conjc61uras. Pereira.
Liv. III. C A p. X. 99
que os Feitores do Rei os compravão
em Cóa, e ihos traziao por hum certo
preço.
29 Saliia-lhe porém do Egypto hum
tiro de quatro cavallos (h) por feis-
ccntos ficios de prata , e hum cavallo
por cento ccincoenta. E aíTim lhe ven-
dião caviiUos todos os Reis dos Hctheos^
e da Syria,
( ^ ) Por ftiscentos fidos de prata. Ifto hc , por
novecentas e feicnca e du?.s libr -.s de França , (]uc
fazem da moeria Poriugueza cento e cincocnta c
cinco mil e (quinhentos c vinte íeis. PiRaiRA.
CAPITULO XI.
Salamão fe deixa arrajlar do amor das
mulheres. Elias o faztm cahir na Ido-
latria. Adierjarios que Deos lhe jí^jci"
ta, O Profeta Abias promette a Jero-
hoão o reino das dez Lrihus. Morte de
òlalamíio, Roíwão lhe [ucccde,
I Ntretanto oReiSalamao amou
JLli apaixonadamente amuicas mu-
lheres eítrangeiras^ {a) tan bem á íilha
G ii djuí
(4) Também d filha de Fardo. JSc^undo u A.al-
100
Reis.
de Faraó ; a mulheres Moabitas , Ara-
monitas , Sidonias , c Hetheas :
2 ifto he 5 daquellas nações , (b)
dc
gata , he aqui rcprchcndido Salamáo por ter ama-
do com ourras mulheres gentias a filha de Faraó.
Como ifto fe náo pôde entender do tempo que Sa-
lamáo cafou com efta Princeza , como fe retcre no
Capitulo III. defte Livro, vcrío i. (porque deite
meímo tempo aHirma a Efcritura no mefmo Ca-
pitulo vcrío ^.5 que Saldmao amava ao Senhor)
luípeiíáo agora muitos Interpretes , que efta filha
de Faraó , que no principio íe tinha moftrado con-
vertida á Religião Judaica, (no qual cafo permit-
tia Dcos que os Ifraclitas cafaíTcm com mulheres
eftran^eiras) depois tornára a fazer-fe idólatra : c
que o continuar Salamáo a viver maritalmente com
cila aííim pervertida, he o que nefte lugar fenota
em wSalamáo, Aííim o Ahulenfe , Pinèda , Salia-
no , Menoquio , c Tirino. Pelo contrario outros
advertindo que na Efcritura não ha fundamento pa-
ra ella fufptita da recahida daquella Princeza: cm
lugar dcftas palavras da Vulgata, etiam jiliam Pha-
raonis , tem aliim oHebreo, prt er filiam Pharao-
nis 5 ifto he , além da filha de Faraó. E entáo to-
da a rcprehcnsáo eftá em que Saiam ão depois de
Itgi timamcnre cafado com numa mulher Catholi-
ca » pof nos explicar-nos aííim , lhe ajuntou por
ultimo outras muitas gentiar,. Aííim Saci , e dc
Carrieres com o Padre Houbii^ant. Pereira.
(^b) De que o Senhor tinha dito , ó c. A faber ,
Exod. XXXIV. 16. e Deut. vn. ^. Da qual prohi-
biçáo todavia (como aflima notámos) era expref-
Liv. IIL Cap. XI. lor
de que o Senhor tinha dito aos filhos
d'Iírael : Não tomeis mulheres deíTe
paiz , nem volTas filhas cafem com taes
homens : porque ellas ccrtiííimamcnte
vos perverterão os corações , para vos
fazerem adorar os feus idolos. A ellas
pois fe unioSalamão com hum amor ar-
dentiíEmo.
3 E e!le teve fctecentas mulheres,
quecrão comoRamhas, e trezentas que
crao concubinas. E as mulheres Iheper-
vcrtêrao o coração.
4 Elie era já velho, quando as mu-
lheres lhe depravarão o coração para o
fazerem feguir deofes alheios : nem o
feu coração era perfeito diante do Se-
nhor feu Deos , (c) como o tinha fido
o coração de David feu pai.
j Mas Salamão dava culto a Aftar-
te
famcnte exceptuado o cafo , que a mulher gentia
fc tivcíTc feito Profelyta da Religião Judaica. (Oeu-
icr. XXI, 10. II. 12.) Do que temos exemplos cm
Raab de Can.^an cafada com Salmon : em Ruth
de Moab cafada com Booz : em Maáca de Geííu-
ri cafada com David. Pereira.
( c ) Como o tinha fido o coração de David. Da-
vid umbem tinha pcccado , c pcccado con* mulher
I02 Pv E I S.
te Deofa dos Sidonios , e a Moloch
Deos dos Aaimonicas.
6 E fez Salamão o que não era agra-
dável ao Senhor , e não feguio o Se-
nhor perfeitamente , como o feguíra feu
pai David.
7 Nefte mefmo tempo edificou Sa-
lamão hum Templo a Camos idolo dos
Moabitas , no monte fronteiro a Jerufa-
lem , e a Moloch, idoio dos filhos d'
Ammon.
8 E o mefmo fez elle por tod-as as
fuas mulheres efírangeiras, que queima-
vão incenfo , e facrificaváo a feus deo-
fes.
9 O Senhor pois fe irou contra Sa-
lamão, por fe ter o feu efpirito aparta-
do do Senhor Deos d' Ifrael , que lhe
tinha apparecido fegunda vez,
10 e lhe tiuha prohibido exprcíTa-
mente, que não feguilTe a deofes eftran-
geiros ; c por elle nao ter guardado o
que o Senhor lhe mandara.
Dif-
fes : mas o feu peccado não foi permanente , co-
D o o de Salamão , a quem o melhor da fua vidi
ílominou oappcdtc libidinofo. Santo Agostikmo.
Liv. III. Cap. XI. loj
11 DiíTe pois o Senhor a Salamão:
Pois que tu affim re pcrrafte , e não guar-
dafte o meu pacto , nem os mandamen-
tos que eu te tinha poílo ; eu ruígarei ,
c dividirei o teu reino , e eu o Gurci a
hum dos teus fervos.
12 Não o farei com tudo cm tua
vida , por attençao a David teu pai :
mas eu o dividirei em tempo de teu fi-
llio.
13 Eu lhe não tirarei todavia o rei-
no todo : mas darei dclle a teu filho hu-
ma Tnbu em artcnçao a teu pai Da-
vid , e a Jeruíalem que eu efcollii.
14 Ora o Senhor fuícitou por ini-
migo de Salamão a Adad Idumco dc
Sangue Real, que vivia em Edom.
15: Porque qu.mdo David eftava em
Idumea , veio Joab General dofeu exer-
cito a fepultar os que tinhao fido mor-
tos, e a matar em Idumea todos os ma-
chos.
16 E feis mezes fe demorou Jonb
cm Idumea com todo o exercito d'lf-'
rael , em quanto matava os machos d'
Idumea.
Adad
ib4 Reis.
17 Adad porém fugio de la com
os Idumeos ferves de íeu pai para fc
retirar ao Egypto : o qual Adad era en-
tão muito criança.
18 E eftes homens pafsárão de Ma-
dian a Faran ; e tendo levado daqui
comfigo alguma gente , entrárao no Egy-
pto , e fe aprcfentárão a Faraó Rei do
Egypto 5 que deo a Adad huma cala ,
confignou-Ihe donde podia comer , c
lhe deo terras.
19 E tanto cahio Adad em graça
a Faraó j que cíle o caiou com a pró-
pria irmã da Rainha Tafnes fua mu-
lher.
20 Dcfta irmã de Tafnes teve Adad
hum filho chamado Genubach, a quem
Tafnes criou na cafa de Faraó , e Ge-
nubach habitava no Palacio de Faraó
com os filhos do Rei.
2 1 E Adad tendo ouvido no Egy-
pto 5 que David adormecera com feus
pais , e que Joab General do feu exer-
cito era morto ^ diíTe a Faraó : Deixa-
me ir para a minha terra.
E Faraó lhe diíTe : Pois que hc
o
Liv. III. C ap. XI. lo^
o que te falta em minha cafa, para cui-
dares em voltar para a tua terra r E Adad
lhe reípondeo : Nao me falta nada: mas
fupplico-te que me deixes ir.
23 Suícitou-lhe Deos também por
inimJgo a Razon filho d' Eliada , que
tinha fugido d'Adarezer Rei de Soba
feu Senhor:
24 eque ajuntando gente contra ef-
te Principe, eílava feito Capitão de la-
droes, quando David lhes fazia guerra.
Eftcs ladroes tendo ido para Damafco
fizerão alli aflcnto, e oconllituírão Rei
cm Damafco.
25- Efte foi inimigo d'lfrael todo o
tempo que reinou Salamao. Eis-aqui a
origem dos males , que Adad caufou
aos filhos d'Ifrael , e do odio que tinha
contra elles: c elle reinou na Syria.
26 Jeroboão filho de Nabat, Efra-
teu de Sareda ^ fervo de Salamao , cuja
mãi era huma mulher viuva por nome Sar-
via , também fc fublevou contra Salamao.
27 E o motivo que teve para fc rc-
bellar contra cite Principe , (^d) foi por-
que .
(á) Foi porqaç Salamao tinha edificado Aídlo.^
io6 Reis.
que Salamao tinha edificado Mello , c
enchido hunia grande , e profunda aber-
tura ^ que havia na cidade de David feu
pai.
2 8 He de faber que Jeroboão era hum
homem valente, e poderofo : e Salamao
vendo neíle moço mtclligencia , e ca-
pacidade para manejar negócios , lhe ti-
nha dado a intendência dos tributos,
que lhe devia pagar toda a caia de
Jofé.
29 Nefte mefmo tempo acontecco,
que Jeroboão fahio dejerufalem, e que
Ahias de Silo Profeta , levando fobre
oshombros huma capa nova, encontrou
a Jeroboão no caminho. E eftavao íós
os dous no campo.
30 EAhias tomando a capa nova de
que vinha coberto , a rafgou em doze
partes , e diíTe para Jeroboão :
31 Toma parati dez retalhos: por*
que eis-aqui o que diffe o Senhor Deos
d' Ifrael : Eu rafgarei o reino das mãos
de
Tendo carregado para iíTo de tributos , não fó os
eftrangciros , como tambpm os mefmos Ifraclitas,
De Carri ekes.
Liv. III. Cap. XI. T07
deSalamão, e dar-te-hei delle dezTri-
bus.
32 (f) A clle porém ficar-lhe-ha
hurna Tribu em attençao a meu fervo
David 5 e á cidade de Jeruíaiem , que
eu efcolhi d' entre todas as Tribus d'íf-
rael :
33 porque Salamao mc deixou , e
adorou a Aftarte Deofa dos Sidonios,
a Camos Deos de Moab , e a Moloch
Deos dos filhos d'Ammon , c nao andou
pelos meus caminhos para fazer o que
era jufto diante de mim, e para obfer-
var os meus preceitos , e as minhas or-
denações, como David feu pai.
34 Eu lhe nao tirarei com tudo o
reino das fuas maos: mas deixar-lhe-hei
governar todo o refto da fua vida por
caufa de David meu fervo , que guar-
dou as minhas ordenações , e os meus
preceitos.
35 Tirarei porém o reino das máos
de
( e ) el!e porém ficar-lhe-ha huma Trihu. A Tri-
bu dc Benjamim reputava-fc huma mefma com a
dc ]uda , que he a que perfevcrou na obediência
dc Roboão j e ficou confticuindo com a de Benja-
mim o Reino de ]uda. Pereira.
io8 Reis.
de feu filho , c dar-tc-hei a ti dez Tri-
bus ;
36 e darei humaTribu a feu filho,
para que íempre fique a meu fervo Da-
vid huma alampada 5 que luza diante de
mim na cidade de Jerufalem , que eu
efcolhi 5 a fim de ler nella honrado o
meu Nofne.
37 Mas quanto a ti, cU te tomarei,
e tu reinarás fobre tudo o que a tua al-
ma defeja , e feras Rei em Ifrael.
38 Se tu pois ouvires tudo o que
cu te ordenar ; fe andares pelos meus
caminhos ; e fe fizeres o que he jufto,
e refto diante dos meus olhos , guar-
dando as minhas ordenações, e os meus
preceitos , como fez David meu fervo :
Eu ferei comtigo , eu te edificarei hu-
ma cafa que feja eftavel , e fiel , como
a que fiz a meu fervo David ; e eu tc
entregarei Ifrael ,
39 e affligirei nefte ponto a def-
cendencia de David , mas não para fem-
pre.
. 40 Quiz pois Salamão matar a Je-
roboão : mas eftc fugio para o Egypto ,
aco-
LiY. IIT. Cap. XL 109
acolhendo-fe a Sefac Rei do Egypto,
c lá fe deixou ficar até á morte de Sa-
lamáo.
41 Tudo o mais das acções de Sa-
lainão, tudo o que elle fez , c tudo o
que diz refpeito á fua fabedoria , (f)
eftá efcrito no Livro que contém a Hif-
toria do reinado de Salamão.
42 O tempo que elle reinou emje-
ruíalem fobre todo o Ifraei , forão qua-
renta annos.
43 (á") E Salamão adormeceo com Anmo
feus í^o^í-
(/) Eftd efcrko m Livro , é^c. Hum dos Ef-
critores deite Livro , confta pelo Segundo dos Pa-
ralipomcnos, ix. 29., que foi o Profeta Ahias de
Silo aJíima referido. Periira. ^75*
(^^ ) E Salamão adormceo com fcus pais , <ò'c,
Aqu; era o lugar de decidir o grande Problema , it
5alamáo íe íaivou , ou íe fe perdco. Mas onde os
maiores homens fulpenderáo o leu juizo , que po-
derei eu fentencear d ahfoluto Tem temeridade?
Por huma parte he certo pelo prelcntc lugar
da Eícritura , que Salamáo peccou graviílimamcn-
te , caiando com mulheres gentias , contra o ex-
prelTo mandamento de Deos no Êxodo , e Deutero-
noniio, e muito mnis gravemente dando comellas
culto aos falfos dcoles. Por outra parte náo coníta
nem da Efcriíura , nem da Tradição, que Salamáo
fizcíTe penitencia deíh?'^ graviflimos pcccados. Mns
porque náo conita ao certo , «juc Salamáo fizeíTc
líO
Reis.
feus pais, e foi enterrado na cidade de
íeu
penitencia , poder-fe-ha concluir daqui em boa Ló-
gica, cjne cíie a aáo fez^ Nâo : e iílo hc o que
faz o Prob letra iníoluvel a todos os que nas fuas
refoluçôes querem proceder com fegurança.
He verdade que S. jcronymo , feguindo aSáo
Gregorio Thauraaturgo , e a commum tradição dos
Doutores Hebreos , teve para fi , que o Livro do
Eccleíiaôes fora fruto da penitencia de Salamáo
pela coníiísáo que cUe faz ncfte Livro do feu erro,
c defengano que dá do que sáo mulheres. ( EccL
II. 2. e VII. 27. ) He também verdade, que oroer»
mo S. ]eronymo com S. Cyrillo de Jcrufaiem deo
por cerra a penitencia de Saiamáo , fundado em
que no Livro dos Provérbios , xxiv. ^2. trazia a
Versão dos Setenta eitas palavras : Depois dijlo fiz
Penitencia.
Mas pelo contrario Santo Agottinho , tanio nos
Livros contra Fautto , como nos da Doutrina Chri-
ílá , e da Cidade dc Deos , nenhuma dúvida teve
^e contar a Salamáo entre os réprobos, ainda quan-
do o conlldcra Author daquelles divmos Livros: c
ifto ou porque julgava que o Livro do Ecclefiaftes
fora efctiío por Salamáo antes da fua queda , ou
porque crendo-o eícrito depois da queda, náo acha-
va nelie provas decifivas da fua penitencia final. £
Calmec nota , que o fer o Livro do Ecclefiaftes
fruto de penitencia de Salamáo , he hum ponto muiro
incerto , e muito controverfo entre os Interpretes.
Quanto ao Texto dos Provérbios , obferva o
mefmo Calmet , que elíc poderia decidir a quef-
Ú.O , fe o que os Setenta verrêráo , fc achaíTe con-
forme com o Heb^eo: mas que o Hebieo traz ou-
Liv. III. Cap. XI. III
feu pai David , e Roboao feu filho rei-
nou em leu lugar.
^ CA-
tra coufa ir.uito diíFcrente , qual hc a Quc exprime
a Vulgata defíc n^odo : Qiicd cum vidijfem , pofui
in coràe imo , exemplo dtáici difciplinam. llto
he: o c|ue tendo eu viUo, fiz reflexão, c me inf-
irui. E que vcítigio ha aqui de penitencia ? Quan-
to mais , que o ter fido elcrito o Livro dos Pro-
vérbios por Saiam.áo depois da íua ruina , he igual-
mente incerto , que o do tcclefiaftes.
No feculo XII. Fiiippe , Abbadc da Boa Ef-
perança, da Ordem Premonftratenle , entre muitos
Tratados que efcreveo , e publicou com univerfal ap-
plaufo, foi hum o que tem por titulo De Damna»
tkne Salomonis , da Condemnaçáo de Salamáo.
Dos Modernos bafte citar pela mcíma fcnrcnça a
Guilnerme Eíiio , commentando o prefente Texto
dos Reis j c a Roberto Bellarmino no Livro I.
De Verbo Dei ^ Capitulo V.
Por ultimo te advirto , Leitor meu , que íc
lendo a Pineda De Rcbus Salomonis , achares entre
os tcítcmunhos da falvaçáo de Salamáo , citadas
como Monumentos antigos as Laminas de Grana-
da , eftejas de fobre avilo, que citas Laminas def-
cobertas no anno de i5í>5. junto áquella Cidade
noíitio que chamáo Falparaizo ^ moíhou depois o
tempo , que eráo obra d^ máo moderna , e de máo
impoftora : e que os Papas ínnocencio X. , c In-
no.cncio XI. as condemnáráo como apocryías , fin-
idas , e cheas de crr.bufte? , c impiedades , como
oje he notório a iodos os Eruditos d'Herpdnha
pelos Efcritos de D. Nico'áo Antonio, de D. Joáo
dc Ferreras, e de Fr. Jacinto Segura. Pkreika.
112
Reis.
CAPITULO XII.
Rohoãõ dd lugar dfeparação das dez Tri'
bus , que elegem a Jerobeão por Jèu Rei.
Roboào fe prepara para fazer guerra
a [jerohoão. O P roje ta Semeias lho pro»
híhe. Culto Ímpio dos Bezerros d^ ouro
eftabelecido por Jeroboão.
' I I Nrão veio Roboao a Siquem :
jL> porque todo o Ifrael le tinha
alli ajuntado para o conftituir Rei,
2 Porém Jeroboão filho de Nabat,
que ainda fe achava no Egypto , para
onde fe tinha refugiado por medo de
Salamão, fabendo que elte era morto,
voltou daquclle reino,
3 donde lhe tinhao mandado dizer
que fe recolheíTe. Veio pois Jeroboão
com todo o Povo d' Ifrael a Roboao ,
e lhe diílerão :
4 Teu pai nos tinha pofto ás coftas
hum jugo duriííimo : tu pois agora di-
minue alguma coufa da dureza do go-
verno de teu pai 5 e daquelle pezadiífi-
mojugo, qucelle tinha pofto fobrenós,
e nós te ferviremos. Ro-
L I y. IIL C A p. XII. 1 1 55
5: Roboão lhes rcfpondeo : Ide- vos ,
c ao terceiro dia tornai a vir. Tcndo-fc
retirado o Povo ^
6 teve o Rei Roboão confelho com
os velhos, que fazião Corte a Salamão
fcu pai , quando efte ainda vivia , e lhes
diíTc: Que refpofta me aconfelhais vós
que eu dê a efte Povo?
7 EUes lhe refpondêrâo : Se tu ago-
ra obedeceres a efte Povo, e lhe cede-
res , condefcendendo com a fua peti-
ção, c fallando-lhe com brandura, cl-
Ics fe entregaráo ao teu ferviço.
8 Porém Roboão não approvando
o confelho, que lhe tinhão dado os ve-
lhos, quiz confultar os moços (a) que
tinhão lido criados com elle, eque lhe
aíTiftião, e lhes dilFe:
Tom. VI. H Que
(4) Que tinhão fido criados com el!e. Era efte
hum coftume dos Príncipes Oricntaes , que ainda
hoje fc pratica nas Cortes da Europa , fazerem edu-
car feus filhos com 05 Moços Fidalgos da mefma
idade. Aílim foi criado no Egypto Sefoftris por tcf-
temunho de Diodoro de Sicilia. Aflim os Prínci-
pes da Perfia , fegundo lemos cm Xenofonte. Af-
fim Alexandre Magno em Macedónia , como he
expreíío no principio da Hiftoria dos Macabcos,
114 Reis.
9 Qlic refpofta me aconfelhais vós
que eu dê a elte Povo, que veio dizer-
me: Adoça hum pouco o jugo, que teu
pai poz fobre nós ?
10 E os moços j que tinhão fido cria-
dos com elle , lhe refpondcrao : Eis-
aqui a refpofta que tu deves dar a cftc
Povo, que te veio dizer: Teu pai fez
o noíTo jugo pezadiíEmo ; nós te pedi-
mos que nos alivieis : o meu dedo mé-
minho he mais groflb do quer o coftado
de meu pai.
1 1 Agora pois refpondendo ao que
vós dizeis , meu pai impoz-vos hum ju-
go ; e eu ainda lhe accrefccntarei o pe^
zo. Meu pai açourou-vos com correias ;
e eu açoutar-vos-hei (^) com efcor-
pióes.
íz Jeroboáo pois com todo o Po-
vo voltou a Roboao no terceiro dia,
conforme o que Roboao lhes tinha di-
to : Tornai a vir ter comigo ao terceiro
dia.
R
(^) Com efcorpíôes. Ifto he, com varas de fer-
ro , que ferem , e rafgáo com as fuas pontas , co-
mo o cfcorpiáo , ou lacráo com â fua cauda. F£-
Liy. líl. Cáp. XIL US
Í3 E o Rei refpondeo dafártience
aòPovo; c deixando o confelhd que os
velhos lhe tinhão dado ,
14 lhes fallou conforme ò que lhe
tinhão aconfelhado os moços , e lhes
diíTe: Meu pai impoz-vos hum jugo pe-
zado ; e eu ainda lhe accrefcentarei a
pezo : meu pai açoutou-vos com cor-
reias ; e eu açoutar-vos-hei com varas
de ferro.
ij E riãodeo o Rei ouvidos ao Po-
vo , porque o Senhor tinha apartada
delle a fua face j para verificar a pala*
vra que havia dito a Jeroboão filho dc
Nabat, pelo Profeta Ahias de Silo.
16 Yeiído logo o Povo que o Rei
ò não queria ouvir 5 refpondeo, dizendo í
Qlic parte temos nós com David , ou
que herança no filho d' Ifai ? Vai-tc
pois para as tuas tendas ^ ó Ifrael ; e
tu, ó David , tratíi agora da tua cafa.
E Ifrael fe retirou para as fuas ten«
das.
17 E reinou Roboão fobre todos 08
filhos d^Ifrac^ que habitavao nas cida-
des de Juda.
H ii En-
Reis.
18 (c) Enviou pois o Rei a Adu-
rão j que tinha a fuperintendencia dos
tributos : mas todo o Ifrael o apedre-
jou , e elle morreo. E o Rei Roboão
a toda a preíTa montou no feu coche , e
fugio para Jerufalcm.
19 (^) E Ifrael fe feparou da cafa
de David até o dia d' hoje.
20 E foi aílím que quando todo o
Ifrael ouvio que Joroboao tinha volta-
do y congregados todos em Cortes o
mandarão chamar , e o acclamárão Rei
fobre todo o Ifrael : c não houve alguém
que
• (f ) Ênviou pois o Rei a A durão, &c. Náo de-
clara a Efcritura a que o mandou. Dc Carrieres,
feguindo a Sanches , julga que foi a cobrar do po-
vo os tributos coftumados. Calmet , que a apazi-
guar o povo rebellado. Mas talvez que o fim prin-
cipal do Rei náo foíTe outro , que o de tentar co-
mo o Povo recebia a Aduráo , para pela fortuna
que o Miniftro correíTe , conjedurar qaal feria a
fua. Pereira.
{d) E Ifrael fe feparou da cafa de David , é-c.
O duro governo de Roboão deo caufa á rebelliáo
das dez Tribus. Peccou Roboáo vexando com tri-
butos o Povo : mas o Povo náo deixou de pcccar ,
rcbellando-fe do feu legitimo Rei por caufa dos
tributos. Períira.
Liv. III. Cap. XII. 117
que fcguifle a cafa de David , (e) fe-
não fomente a Tribu de Juda.
21 Veio pois Roboão a Jcrufalem , Anno
e fez ajuntar toda a cafa de Juda , e a^^^-
Tribu de Benjamim, (/) cento e oitenta l^^^^
mil homens efcolhidos de guerra , para chr.
pelejar contra a cafa d'Ifrael , e redu- í^74-
zir o Reino á obediência de Roboão,
filho de Salamão.
22 Então dirigio o Senhor a fua pa-
lavra a Semeias homem dcDeos, c lhe
diílc :
23 Falia a Roboâo filho de Sala-
mão, Rei de Juda , e a toda a cafa dc
Juda , c á Tribu dc Benjamim , c a to-
do o refto do Povo , e dize-lhes :
24 Eis-aqui o que diz o Senhor:
Não vos ponhais em campanha , nem
façais guerra aos filhos d'lfrael , que
são
(e) Senão fmente a Tribu de Juda, Pelo verfo
fcgundo confta que também a Tribu dc Benjamim
ficou na obediência de Roboáo. Mas cila Tribu
comprehcndc-íe na dc Juda , como parte no todo ,
como acceíTorio no principal : porque a Tribu dc
Juda era mais célebre entre todas , c a que domi-
nava o reino, c depois toda a naçáo. PEnEiiiA.
(/) Cmo eoiuntd milíiomcns efcolhidos. Os Se-
tenta dizem cmo ç vinte mil homens, Duhamel.
ti8 Rei s.
vsão voíTos irmãos : cada hum torne par^
fua cala : porque cu he que fiz ifto. Ou-
virão elles a palavra do Senhor, e fe re-
tirarão da fua jornada , conforme o Se-
nhor lhes havia mandado.
25- Ora Jcroboão reedificou a Si-
quem fobre o monte d' Efraim , e alli
eÍLabeleceo a fua morada: depois tendo
fahido daqui 5 reedificou a Fanuel.
^6 Entretanto diíTeJeroboao lá com-
iigo : Agora tornara o reino para a caf^
dc David 5
27 fceftePovo for ajeruf^lem, pa-
ra lá oíFerecer facrificios na cafa do Se-
nhor : o coração defte Povo tornará en^
tão para Roboão Rei de Juda ; c elles
me matarão , e fe voltarão para elle.
28 E depois de ter bem confidera-
ído a coufa , {g) fez dous bezerros d'
ouro, ediíTe ao Povo: Não torneis mais
a ir a Jerufalem : {h) Eis-aqui , ó Ifc
rael ,
(^) Fez ãous bezerros d' ouro ^ é'C. Como ho-
mem 5 que havia pouco rinha vindo do Egypto,
onde a deosApis era íidoradp na figura d' hum no?
VilHo, DuHAMEL.
(/;) Eis-aqui ^ o Jfracl , os teus deofes, &c. As
íiiermas palavras fe dilTeráo huns a outros os lí?
Liv. III. Cap. XII. 119
rael, os teus deofes, que te tirarão do
Egypro.
29 (O ^ poz hum em Bethel, ou-
tro em Dan:
30 o que foi huma occafiao de pec-
cado : porque cfte Povo hia até Dan ,
para lá adorar o bezerro.
31 Levantou outrofi Templos nos
Altos, e cftabeleceo para Sacerdotes os
Ínfimos do Povo , que nao erao filhos de
Levi.
32 Ordenou também hum dia dc
Fcíla no oitavo mez y no dia decimo
quinto do mèz , á fcmellunça da fole-
mnidade, (k) que fe celebrava em Ju-
da. E fubindo ao Altar , o mefmo fez
em Bethel , offereccndo facrificios aos
bezerros, que tinha fabricado : e efta-
be-
faelitas, quando Aráo no dcferro lhe fez o primei-
ro bezerro d' ouro, á imitação do que adoraváo os
E^ypcios. Exod. xxxn. 4. Pereira.
( i ) £ poz hum m Bcthcl , outro cm Dan. Cada
hum em íua extremidade do reino. De Carri e-
RES.
(^) Qj^í* fe celebrava em 'Juda. No fetlmo mez
a Fefta dos Tabernáculos. Levit. xxiii. 24. DeCar-
ILIEKES,
lao R K I s.
bcleceo cm Bethcl Sacerdotes dos Al-
tos que edificara.
33 Ao decimo quinto dia do oita-
vo mez, que elle tinha feito folemnc á
fua fantazia, fubio Jeroboao ao Altar,
que tinha conftruido em Bethel , e fez
fazer huma folemne feita aos filhos d*
Ifrael ; e fubio ao Altar para oíFerccer
o incenfo.
CAPITULO XIIL
Hum Profeta prediz diante de Jerohoa»
o merecimento de Jofias , e a dejiruição
dos Altos, EJic mefmo Profeta he mor-
to for hum leão , por ter defobedecido
ao mandamento de Deos. Jeroboao per*
Jijle na fua impiedade,
I A O mefmo tempo que Jeroboao
jLJLeílava fobre o Altar, e lança-
va o incenfo, {a) eis-quc hum homem
de
Eis- que hum homem de Deos veio de Juda^
fb^c, joíé Hcbreo nas fuas Antiguidades , chama-
Ihe ^addon : TertuUiano no Livro dos Jejuns , Se*
tneiíts : S. Jcronymo fobre os Paralipomcnos , Jad-
do: o Cardeal Hugo, Mdo. O Author do Livro
Lir. III. Cap. XIIL 121
de Dcos veio de Juda a Bethel por or-
dem do Senhor,
2 e exclamou contra o Altar , di-
zendo aíllm da parte do Senhor: Altar,
Altar , eis-aqui o que diz o Senhor:
{b) Na cafa de David nafcerá hum fi-
lho, que fe chamará Jofias , e elle de-
goUará fobre ti os facerdotes dos Al-
tos, que agora queimao fobre ti incen-
fos , e queimará fobre ti oflbs d' ho-
mens.
3 E cm prova do que predizia , ajun-
tou : Eis-aqui o final por onde fe co-
nhecerá, que o Senhor he quem fallou:
o Altar fe partirá , c a cinza que eftá
por fima fe efpalhará.
4 E o Rei tendo ouvido cftas pa-
lavras , que o homem de Deos proferia
cm alta voz contra o Altar que citava
cm Bethel , eftendeo a fua mão des do
Altar, dizendo: Prendci-o. E no mcf-
mo
I>A Morte dos Profetas , que corre cm nome dt
Santo Epifânio, João, Menoquio.
Na cafa de David nafcevâ bum filho , <5^r.
O complemento deftc vaticínio íobre o que havia
de fazer Jofias, vio-fe dahi a trezentos c fincoenu
arnios. iv.Reg. xxiii. 15. Fsrsiha.
111
Reis.
mo tempo a mão , que elle eftendcra
contra o homem de Deos , fe feccou,
€ elle a não podia trazer a fi.
f O Altar também logo fc partio
em dous , e a cinza que eftava cm lima
fe efpalhou conforme o final que o ho-
mem de Deos tinha dado em Nome do
Senhor.
6 Então difle o Rei ao homem de
Deos : Faze oração ao Senhor teu Deos ,
e roga-lhe por mim , que me reílitua a
minha mão. E o homem de Deos fez
oração ao Senhor , e o Rei trouxe a
íl a fua mão , e ella ficou como antes
era.
7 DiíTe mais o Rei ao homem de
Deos: Vem jantar comigo a minha ca-
fa 5 e eu te farei meus prefentes.
8 E o homem de Deos refpondeo
ao Rei: Ainda quando tu me houveíTes
de dar ametade da tua cafa , cu não irei
comtigo 5 nem comerei pao , nem be-
berei agua nefte lugar:
9 porque affim me foi mandado da
parte do Senhor , que me deo efta or-
dem : Tu não comerás pão , nem bebe-
rás
Liv. III. Cap. XIII. 123
rãs agua , nem voltarás pelo caminho
por onde viefte.
10 Elie pois fe foi por outro cami-
nho, e não voltou pelomeímo, porque
tinha ido a Bethel.
11 Ora em Bethel (c) morava hum
velho Profeta , ao qual feus filhos vie-
rão dizer todas as obras , que o hom.em
de
(f) Morava hum velho Profeta. Sobre que caf-
la de Profeta era eíte , ha grande difcrepancia dc
pareceres. O Auihor da Hiltoria Eícolaltica , e o
da Gloza Ordinária tem para íi , que era hum Adi-
vinho, ou Profeta fingido. No que elles íe^uíráo
ao Parafraftes Caldco , que diz aííim : Frcpheta
mendax unus fitiex: accrefcentando que fe chamava
Mkâl , ou como outros trazem , Micjueas, To(ta-
do , Sanches, e Corneho A Lapide crera, que era
verdadeiro Profeta do Senhor, mas ímpio, emáo,
como o fora Balaão em tempo de Mcyfés , e co-
mo outros do numero daquelics , que no dia do
Juízo háo dizer ao Senhor : ( Matth. vn. 22. ) Non*
tic in noimne tua prophetavimus ? E o Senhor !hc ha
de refponder : Qida nunquam íiovi vos, Thcodorcro
o defculpa com dizer que era hum homem rude ,
e fimplcs , que ouvindo dizer que aquelle homem
de Deos viera a Roboáo , quiz ir vello, e com o
convite que lhe fez , merecer a fua benção : por-
que cuidou que a prohibiçáo de náo comer cm
Bethel, que o Senhor lhe intimara, era ló dc náo
comer em cafa de Jeroboáo ^ ou na d' algum l'os
feus apaniguados : c com o mcfmo cnganp íc per*
it4 Reis.
de Deos tinha feito aqucllc dia em Bc-
thcl ; e contarão a feu pai as palavras ,
que ellc tinha dito ao Rei.
12 E o pai IhesdiíTe: Porque cami-
nho fe foi ellc ? E os filhos lhe moítrá-
rao o caminho por onde voltara o ho-
mem de Deos, que tinha vindo de Ju-
da.
13 Eelle diíTc afeus filhos: Appa-
rclhai-me o meu burro. E como o ti-
veíTem apparclhado , montou nelle ,
14 e foi apôs o homem de Deos,
ao qual achou aíTentado debaixo d'huni
terebyntho , e lhe diíTe : Tu es o ho-
mem de Deos, que viefte dejuda? El-
lc lhe refpondeo : Sou o mcfmo.
15' E elle lhe diíTe : Vem comigo
a cafa a comer pão.
16 O homem de Deos lhe refpon-
deo: Não poíTo voltar , nem ir comti-
go : nem eu comerei pão , nem beberei
agua neftc lugar:
. 17 porque o Senhor com palavras
ver-
fuadio , que lhe era lícito ufar d' alguma mentira
oíHciofa , a íim dc trazer o homem dc Deos a íua
tl caía. PfiREiRA,
Liv. III. Cap. XIIL 125-
verdadeiramente fuas me mandou , di-
zendo: Nâo comerás pão, nem beberás
agua neíTe lugar, nem voltarás pelo ca-
minho, porque tiveres ido.
18 Aquclle homem lhe refpondeo:
Eu também fou Profeta como tu; ehum
Anjo me veio dizer da parte do Senhor:
Leva-o comtigo a tua cafa , para que
elle coma pão, e beba agua. (d) En-
ganou-o ,
19 e Icvou-o comfigo. O homem
de Deos pois comeo pão cm fua cafa,
e bebeo agua.
20 E quando clles ellavâo ámeza,
fez o Senhor ouvir a fua palavra ao Pro-
feta, que o tinha feito voltar,
21 c exclamou , e diíTe ao homem
de Deos, que tinha vindo de Juda : Eis-
àqui o que diz o Senhor : Porque tu não
obc-
(íí) Enganou-o, Para naofer enganado, dcvêra
advertir o homem de Deos , que tcndo-Ihe o Se-
nhor prohibido táo expreíTamente que náo voltaf-
fe , nem entraíTc a comer , ou beber em cafa dc
ninguém , Te náo devia fazer cafo nem do dito d'
hum Anjo , conforme o que depois cfcreveo Sáo
Paulo aos Gálatas : Se hum Anjo do Ceo vos evan*
gelizar o contrario do que eu vos evangelizd , ten»
de-o por hum exçommungado, Pkreira.
it6 Rei
obedecefte á palavra do Senhor, e naa
guardafte o mandamento, que o Senhor
teu Deos te tinha pofto ;
2z e voltafte , e comefte pão , e
bebeíte agua no lugar em que te man-
dou , que não comeíTes pão , nem be-
beíTes agua : o teu corpo morto (e)
não ferá levado ao fepulcro de teus
pais.
23 E logo que ò homem de Deos
comeo, e bebeo, mandou o velho Pro-
feta apparelhar o feu burro para o Pro-
feta , a quem tinha feito voltar.
24 E quando o homem de Deos hia
no caminho , hum leão fahindo-lhe ao
encontro (f) o matou, e o feu cadáver
fi-
(e) Não fera levado ao Jepnkro de teu pai. Era
efte hum grande caftigo para hum Hebrco , cm
cuja Naçáo procuraváo todos os pais de família ter
feus jazigos próprios, em que fe enrerraíTem elles ,
c feus defcendentes , como hc notório pelos fepul-
cros dos Tantos Patriarcas , que fe referem no Ge-
nefis. Pereira.
(/) O matou» Por efte caftigo tão grande pode-
fá alguém perfuadir fe qae opeccado defte homem
de Deos fora mortal ; mas as circumftanclas cm
que elle defobedeceo ao divino preceito , fazem que o'
sommum dos Padres 3 c Thcologos reputem efte pee*
Liv. III. Gap. XIII. 117
ficou eftendido no caminho. E o burro
eftavâ parado jurito a elle ; c o leão fi-
cou ao pé do cadáver.
25* Eis-que pairando por alli certos
homens, virão o cadáver eftirado no ca-
minho , e o leão pofto ao pé do cadá-
ver: e forão, e o publicarão na Cida-
de , onde morava o velho Profeta.
a 6 Tendo ifto ouvido o Profeta , que
o tinha feito voltar do caminho , dilte:
He o homem deDeos, que foi defobe-
diente á palavra do Senhor, e o Senhor
o entregou a hum leão , que o defpe-
daçou, e o matou, conforme a palavra
que o meímo Senhor lhe tinha dito.
27 E diíTe a feus filhos : Apparelhai-
me o burro. O que tendo elles feito,
28 fe partio dalli , e foi achar o ca-
dáver eftendido no caminho , e o bur-
ro,
cado fó por venial , para não deixar dc morrer juf-
to, e em ^raça de Deos. Allim Santo Agoftinbo
no Livro DcCura Gerenda pro Mortuis y Cap. Vil,
Num, 9. , o Abbade Sereno , alienado por Caflia-
no na Collaçáo VII. , Cap. XXVI, (c náo na
Collaçáo IV., Cap. XXIV. como falfamente o ci-
tou Menoquio ) e S. Gregorio Magno no Livro IV»
dos Diálogos , Cap. XXIV. Pereira,
128
Reis.
ro , e o leão poftos ao pé do cadáver:
náo tinha o leão comido do cadáver,
ncni feito mal ao burro.
29 E pegou pois o Profeta do ca-
dáver do homem de Deos , e o poz cm
lima do feu burro , e o levou á cidade
delle velho Profeta para o chorar.
30 E mctteo o cadáver no feu fe-
pulcro, e elles o choravão.
31 E depois de o terem pranteado ,
diiTe ellc a feus filhos : Quando cu mor-
rer 5 fepulcai-me no fepulcro , cm que
foi enterrado o homem de Deos : pon-
de os meus oflbs ao pé dos oflbs dclle.
32 Porque o que elle prcdifle da
parte do Senhor contra o Altar, que ef-
tá em Bethcl , e contra todos os Tem-
plos dos Altos y (g) que cxiftem nas
ci-
(^) Q.^^ exijlem nas cidades de Samaria. Sc o
velho de Bethei fe fervio dcftas mefmiflimas pala-
vras , náo fc pôde negar que era verdadeiro Profe-
ta que fallava infpirado por Deos. Porque a cftc
tempo ainda o Reino das dez Tribus fe náo cha-
mava Reino de Samaria : vifto que efte nome o te-
ve elle da cidade de Samaria , que Amri Rei d lf-
rael fundou dahi a íincoenta annos. m. Reg. xvi»
24. Mas os que feguem que efte velho de Bethei
era hum mero Adivinho, ou Profeta fingido, rc»
Liv. III. Caf. XIIL Í2^
cidades de Samaria , certiffimamente af-
fim ha de vir a ler.
33 (/;) Depois deftas cõufas não fe
convcrteo Jeroboão da fua peíEma vida :
antes ao contrario dos Ínfimos do Povo
fez Sacerdotes dos Altos. Todo o que
queria, (i) enchia a fua mão, ecra fei-
to Sacerdote dos Altos.
34 Eíle foi o peccado da cafa de
Jeroboão , é o porque ella foi deílrúi-
da^ e extiníla da face da terrai
Tom. VI. r CA-
fpondem que clle não nomeara Samaria ; màs que
cfte riome lho poz na boca o Sagrado Eícritor def»
te Livro , artendendo ao que paliava já no feu tcm^
pO. Pereira.
Depois ciejlas coufas , &c. Depois de tan-
tos prodigios obrados por Deos á vifta dos fcús
olhos, náo fc mudou Jeroboáo nada do feu peílí-
mo procedimento : para daqui entendermos que pa-
ra o peccador náo ter dcículpa das fuás impieda-
des , baftáo Os milagres que Deos obra na íua pre-
fença; ma» que para elle fe converter, hc ncceíTa-
ria de mais a mais a graça interior, que o loque^
C mova. Pereira.
(/) Enchia a fua mao, Ifto he, vinha reveftído
das Veftes Sacerdoraes , trazendo namáo humah&Ç*
<iaj copio oífetta. Pereira*
130
Reis*
CAPITULO XÍV.
Envia Jcroboão fua mulher a confultar ó
Profeta Abias fobre a doe?: ca de feu
filho. Morte de Jeroboão, Succede-lhe
Nadab. Sefac Rei do Egypto defpoja o
Templo de Jerufalenu Morre íioboãoi
fuccede-lhe Abião,
I l\Tx\quc!le tempo cahio doente
JL^ Abia filho de Jeroboão.
2 E Jeroboão dlífe a faa mulher:
Levanta-te, muda de trajo, para fe não
conhecer que es mulher de Jeroboão, e
vai a Silo, onde eftá o Profeta Ahias,
que me prediue que eu reinaria fobre
efte Povo.
3 Leva comtigo dez pães , e huma
torta , e huma botija cheia de mel , e
vai ter com c!le : porque elle temoftra-
rá, que he o que tem d'acontecer a efte
menino.
4 Fez a mulher de Jeroboão o que
cUe lhe tinha dito: partio logo para Si-
lo , e foi a cafa d'Ahias. Mas Ahias
não podia ver , porque os ollios fe lhe
ti-*
Liv. líf. Cap. Xlt. Í3t
tinhão efcurecidò porcaufa da fua mui-
ta idade.
5- O Senhor porém dilTe a Ahias:
Eis-ahi vem a mulher dejeroboao con-
íultar-té fobre feu filho, que eílá doen-
te. Tu lhe dirás iílo eifto. Como a mu-
lher de Jeroboáo entraíTe diíEmulando
quem era j
6 Ahias ao entrar ella ouvio o ef-
trondo dos feus pés, e lhe difíe : En-
tra 5 mulher de Jeroboão : porque finges
tu feres outra ? mas eu fui enviado para
dar-te huma dura nova.
7 Vai, e dize a Jeroboáo: Eis-aqui
o que diz o Senhor Deos d' Ifrael ; Eu
te elevei do meio dos Ifraelitas , e eu
te conftitui Chefe do meu Povo d'If-
rael ,
8 e dividi o reino da cafa de Da-
vid, eto dei a ti: etu depois difto não
fofte como meu fervo David, que guar-
dou os meus mandamentos , e que me
feguio de todo o feu coração ^ fazendo
o que me era agradável :
9 mas obrafte maiores males do que
todos quantos tem havido antes de ti j
I Ú 6
rja R È I s.
e forjafte para ti deofcs eílrangeiros ,. ô
fundidos, para mc provocares a ira , c
a miíTi lançafíe-me para trás das coitas.
10 Por líio cu i.nduzirei tí)da a caf^
ta de males íbbre a cafa de Jcroboao ,
e farei morrer da cafa de Jeroboão (<í )
até o que ounna á parede; (i?) e até o
encerrado , (í*) e até o ultimo era IP*
rael : e varrerei os refiduos da cafa de
Jcroboao ^ como fe eofcuma varrer o ef-
terço até nao ficar raftro.
1 1 Os da cafa de Jeroboão , que mor^
rercm na cidade , ferao comidos dos
cães ; e os que morrerem no campo , fe-
rao comidos das aves do Ceo , porqua
o Senhor he quem fallou.
12 Vai-te pois , e torna para tua
cafa ; e ao mefmo tempo que pozeres
os pés na Cidade y morrerá o- naenino ,
e
Até o queowina a parede, lílo hc, aréhum
cão, animal de quem hc propríó ourinar á pareJe.
Qb) E até o encenado. Tfto he, o mais precio
fo , c como tal mais rcrcatado. Pereira.
(f ) E até o ultimo em IfraeL Ifto hc, o mai?
vil 5 e baixo da cafa de Roboso , quê íe achíir eíA
Ifiael. Pehsira.
Liv. IH. Cap. XIV. 133
13 c todo o Ifrael o chorará , c o
ícpultará: porque íó efte da cafa deje-
roboão fera mettido no fepulcro , (d)
vifto que nelle entre os da cafa de Je-
roboão achou o Senhor Dcos d'lfrael
huma coufa boa.
14 Mas o Senhor conílituio para fi
hum Rei fobre Ifrael , que arruinara a
cafa dcjeroboao nefte dia, enefte tcnir
po.
15" E o Senhor Deos ferirá a Ifrael
como huaia cana coíluma fcr apitada
nas aguas ; e elle arrancará a lírael dcf-
ta excellente terra , que dco a feus pais ,
e o facudirá para além do rio : porque
c!!es ccnf^igrárao áfua impiedade gran-
des bofques ^ para inc iri irarem con-
tra fi.
E
{d) Fiílo que nelíe dcbou o Senhor , e^T. Náo
declara aEícriciira que coufi hoa íoi cíb qiic Dcos
achou ncfl-e Príncipe. Sutpeiíáo os Inrcrprercs , que
tal vez feria ellc dotado de íingular piedc.dc , em
conrrapoíiçáo dos grandes rncrilegios que Jeroboáo
fcu pai obrava. O Auihor da Vulgnra exprime á
k-fra o Hebreo. Ao que Saci, e de Carriercs dáo
por equiv;i!cnte : Por quanto o Ser.hcr clhou parX
tUe cem cibos favoravsís na cafa de Jerohoão,
Í34 Rei s.
j6 E o Senhor enrrcgará Ifrael por
cauía dos peccados de Jeroboao , que
peccou, e fez peccar a Ifrael.
17 A mulher pois de Jeroboão fe
foi 5 (e) e vçio para Therfa : e quando
elia punha o pé na entrada da porta ,
morreo o menino.
18 Depois foi elle fepultado , e to-
do o Ifrael o chorou , conforme o Se-
nhor tinha predito pelo Profeta Ahias
leu fervo.
19 Ornais das acções de Jeroboão ,
as fuas guerras , e o modo de reinar,
eílao cfcritas no Livro dos Annaes dos
Rejsd'irraeL
20 O tempo porém que reinou Je-
roboão, forão vinte edous annos : c el-
le adormeceo com feus pais, e em fcu
lugar reinou feu filho Nadab.
21 Entretanto RoboSo filho deSa-
lamao reinou em Juda. Elle tinha qua-
renta e hum annos , quando começou a
rei-
C? ) E veio parã Thcrfa, Efta cm no principiq
a Corte do Reino d' I Iraci ; e efta o continuou a
fer até que o Rei Amn fundou a Cidade de Sama-
ffia , como veremos adiante , Cap. XYI« 24. Fç-?
Liv. líL Cap. XVI. i35r
reinar: c elle reinou dezefete annos na
cidade de Jerufalem ^ que o Senhor ti-
nha cfcolhido d' entre todas as Tribus
d'Ifrael , para eílabelecer nella o feu
Nome. Sua mãi chamava-fe Naama ^ e
era do paiz dos Ammoniras.
22 E Juda fez o mal diante do Se-
nhor, e com os peccados que commet-
terao o irritarão clles mais , do que o
tinhão irritado ícus pais com os feus
.crimes.
23 Porque cllcs mefmos levantarão
também para fi Altares, e fizerão eíta-
tuas . e bofques em fima de todas as
eminências , e debaixo de todas as ar-
vores frondofas.
24 E até houve também na terra (/)
cíTeminados ; e commettêrão todas as
xibominaçoes das gentes, que o Senhor
ti-
(/) Ejfaninados, lílo hc , homens que profli-
-tuiáo o íeu corpo a outros , fervindo-Ihes de mu-'
lhere.?. Aííim pelos que a Vulgata chama cfae-
lintiatos , poz Varablo m fna Ver áo Sccrta'^via'
fcida.^ Os amigos diriáo Qnacdos, Vicio que íen-
do táo abominável , como contra rasuram , paf-
fou dos Póvos Cananeos a fer entre os Hebrcos
táo defcaradamcnte recebido , e praticado , que atç
13^ Reis.
tinha deftruido á vifta dos filhos d*If-
rael.
Anno ^5* Mas no quinto anno do reinado.
doM. deRoboão veio a Jerufalem Sefac Rei
dcj C ^ levou dalli os thefouros da ca-
<^7i, *fa do Senhor , e os thcíouros do Rei^
e roubou tudo : levou tanribem os efcu-
dos d' ouro que Salamão fizera,
27 em lugar dos quaes fez o Rei
Roboão outros de bronze , e os entre-
gou nas mãos dos Capitães da Guarda,
e dos que faziao fentinella diante da>
porta da cafa do Rei.
2 o E quando o Rei entrava na ca-
fa do Senhor , os que tinhão o oíEcio,
de ir adiante delle , levaváo eftes efcu-
dos , e depois os tornavao a por na ca-
fa das armas,
29 O refto das acções de Roboão 5^
e tudo o que el!e fez , acha-fe efcrito
no Livro dosAnnaes dos Reis de Juda.
E ^
lib Templo de Jerufalem fe lhes confentio por mui-
íos annos ter fuas cellas , ou cubículos , que dur^-i
íáo até o tempo de Joftas. iv. Rcg. xxin. 7»
Liv. IIL Cap. XIV. 137
go E por todo o tempo houve guer-
ra entre Roboao , e Jeroboão.
31 E Roboão adormeceo com feus
pais , e foi fepultado com elles na ci-
dade de David. O nome de fua mai foi
Naama , que era Ammonita.
CAPITULO XV.
Ahião imita a impiedade de Roboão, Mor-^
re : e Aja feu filho lhe jtic cede, Efleimi»
ta a piedade de Dã'vid. Succede-lhe Jeu
filho Jojafat. Nadal? Rei d' Ijrael he
morto por Baafa , que reina em feu lu-
I O decimo oitavo anno do rei-^nno.
JL^ nado de Jeroboão filho deNa-'^^
bat (^) remou Abião fobre Juda. anrí^a
if Elie reinou trcs annos çm Jerufa- chr.
lem: (Z^) fua mai fe chamava Maáca, e^sS.
era filha d^AbeíTalao.
E
(ií) Rúmii Ahlao. Nofcgundo cios Paralípome-
fíos, xni. I., chama-fe Abia. No Evangelho dc
S. Matthcus, K7. , Ahm. Pereira.
Su^ tmi fe chamava Maáca , é>f. No Se-
gundo Livro dos Paralipomenos , xm. 2., íe cha-
ma a mái d'Abiáo Miçaia , e fc di? filha d' l/rid
138 Reis.
3 E o mefmo andou em toios os pee-
eados , que fea pai tialia commettido
antes delle : nem o feu coraçito era per-
feito diante do Senhor Teu Deos, como
o fora o coração dc feu pai David.
4 Mas o Senhor íeu Deos em at-
tenção a David (c) lhedeo huma alam-
pada em Jeru falem , fufcitando a feu fi-
lho depois delle para reíiabelccer a Je-
rufalem :
5' porque David tinha feito o que
.era refto, e jafto aos olhos do Senhor:
e em todos os dias da fua vida fe não
tinha aíFaftado de nada do que elle lhe
mandava, (d) excepto o que fe paíTou
a refpeico d' LJrias Hetheo.
1 o-
Ae Gábía : por-jac talvez huma merma mulher ti-
nha doas nom^s , como também feu pai. Pereí-
HA.
(c) Lhcdej hiimi almpa.U emJeruCalm. Dan-,
do-lSe hum íiiho Rei , cuja dignidade com razáo
fe chama ãla nptda , paio refplandor que lança , e
parque 03 R:is devem fcr para 03 valfailos á ma-
neira Je luz. N^Iariana.
(íí) Excepto o (]ue pajou comUrias Hetheo. Mui-,
íos ouiros peccados commectco David , fòra o do
adultério com Biírfibé , e morre confecutiva
XJr;a:. Goaia quaido veio a caía de Nabal com
Liv. Iir. Cap. XV. 139
é (e) Todavia entre Roboao, eje?
roboao houve guerra todo o tempo que
Roboão reinou.
7 O refto porém das acções d^Abiao ^
e tudo o que elle fez , cllá efcrito no
Livro dos Annaes dos Reis de Juda,
(/) E houve huma batalha entre Abião,
c Teroboão,
propofíto de pafíar todos a cutelo, (i. Reg. xxv,
7,^\.) E oufindo n andou faztr ieienha de iodo o
Povo por mera cur olldade, e v?.nporia, e iem 3
fórma prefcnia por Dcos na Lei: dando com ifto
caufa a c]ue o Senhor irritado contra elle fizeíTe
morrer num dia fctcntamil vaíiallos. ( ir. Kcg. xxiv.
10. 15.) Sendo ifto aílim, pcrgunta-íe; Como lo*
go fó no que ppiííou com Urias coníidcra a hfcri-
lura aqui por culpado a David ? Rcfpondem todos
os Interpretes : Que ifto he , porque fallando hu-
manamente , todos os outros pcccados corrparado3
com cftc parecem dcfculpaveis , e de pouca cnti?
dade. Pereira.
(e) Todavia entre Bcloão , e Jeroloao , <è^c.
Os Serenta cm lugar de RchoRo non.eáo aqui lAbiao.
E efta lição parece a mais natural. Prlo menos af-
íim fe lè também no Segundo dos Paialij omenos ,
xm. 2. PereíPvA.
(f) E hcuvc hinva batalha entre Ahi?o ^ cJcrO'
l^oão. Que foi huma das m,ais ían?uinoIcnt?s que
fe lem nas Hiftorias ; porque Abiáo cem cuairo-
^cnios mil homens desbaratou imeiramicnie a ]ero*
I40 Reis.
8 Depois difto adormeceo Abião
com feus pais , e o fepultárao na cidar
de de David : c feu filho Aia reinou
cm feu lugar,
^^^^l 9 ^^^^ vigeíimo pois de Jero-
^5049/ ^' i''^^^'- começou a reinar
anc. dc Aia Kci dc Juia.
^^r. IO tlllc reinou quarenta e hum anr
P^^' no em Jerufalem : (g) fua mai fe eha-
mava Miaca , e era filha d'Abeíndão.
1 1 E Afa fez o qjje era reclo e
jufto aos olhos do Senhor, como tinh^
feito David feu pai.
12 E tirou da terra os eíFeminados ,
ç a alimpou de todas as immundicias
(Jos Ídolos , que feus pais tinhão fabrir
icado.
E
hoÍQ , qac trazia oitocentos mil , dos quaes forao
morcos , ou feridos quinhentos mil. Defcreye-a o
Author do Segundo Livro dos Paralipomcnos , xiu.
2. e Te^g. Pehsira.
(,^) Sua mii fe chamava Aíadcd , é^c, He o
^nel no nom^ que aíKtna fe deo á mái d' Abiáo ,
pai dMfa. Djnde inferem graves Interpretes, com-
ino Sá , Mariana , Malvenda , e Gordon , que por
f\m fe deve aqui entender a /ivo : bem como no
verfo feguinte hc David chamado p4í do mcfmo
Aia, fendo feu trefavô. Fèreira.
Liv. IIL C ap. XV. 141
13 E além dillo (è) removeo a fuã
mãi , para que não folTc (i) Princeza
(k) nos lacrificios dePriápo, e no bof-
que que lhe tinha confagrado , e arrui-
nou a fua gruta ; e fez pedaços eílc
idolo torpiCimo, e queimado lançou as
íuas cinzas no ribeiro de Cedron.
14 (/) Mas não tirou os A!to5.
Ain-
(^) Removeo a fua mai. Ifío , privou-a da
authoridade de Rainha , como declara o mefmo
Auihor do Segundo Livro dos Paralipomenos , xv»
16. MãtvLm QX augUjíO dcpofuit império. Pereira.
(í) Princeza. líio hc, ^upcriniendcnte , ou Sa-
círdorilla. Pereira.
(/j ) Nos jiicrificios de Priápo. Era o Dcos que
preíidia aos Jardins , onde por iíTo còílumaváo 0$
Gregos , e Romanos collocar a fua imagem. Hc
de mais a mais para notar , que o que S. Jeiory-
mo verteo PriÁpo , Toa no Hebreo Miphletfeih ^
que quer áizer Terror , ou Efpmtalho, Nome que
o Doutor jMaximo com razão entcndeo dePiiápo,
porque fabia que entre os Gentios era tido Priápo
por deos dos medos , conforme cllc mefm.o de íi
confeiía por boca d" Horácio , Livro \. , Saiyra 8.^
Indc ego fw um aviumque Máxima formido. Toda-
via na Versáo do Hebraico do Padre Houbiganc
não appi^recc rifquicio difto. PEREtnA.
(/) Mas não tirou os Altos, Ifto he , os Alfa-
ies ereélos cm certas eminências. Eftes erso de
deus géneros: huns dedicados «o verdadeirçDcos^
14^ Reis.
Ainda aílim o coração de Afa (;;;) foi
perfeito com o Senhor toda a lua vida.
IS Metteo também na cafa do Se-
nhor o CjUe ieu pai tinha coníagrado, e
votado dar: prata, e ouro, e vafos.
ló Por todo o tempo porém que
ambos viverão , houve guerra entre Aia ^
e Baára Rei d'ífrael.
E
antes que houveíTe Templo : e eftes são os que Afa-
não tirou 5 talvez porque náopode, ou porque jul-
gou que 03 podia permittir. No que S. Jcronyma
no Dialo'^o contra os PeLií^ianos diz , qu^ crrára
ACa, Outros dedicados a falfos deoíes. E deftes le-
mos, ii. Parai. xiv. 2., que Aia os deftruíra. Pe-
reira.
(f?/) Foi perfeito como Senhor. ]á aííima no ver-
fo II. o\j\imo'^ : E j4fa fez o que era reão , e juf-
to aos olhos do penhor. Huma, e outra coufa po-
rém parece enconirar-fe com varias faltas graves,
de que Afa he notado , ir. Parai. xvi. , e com o
que efcrcveo o Author do Livro do Eccleíiaftico 5
Cap. XLIX. , vcrfo 5. Praeter David , é' Eze^
chiam, ó''Jofíam omries peccatwncommijemnt. Ma©
lefponde fe, que os elogios que nefte Terceiro Li-
vro dos Reis fe dáo a Afa , refpeitáo principalmente
a fua adhesáo ao cuito do verdadeiro Deos , e o
feu zelo contra a idolatria. Com o que pôde eftar ^
que Afa peccaíTe noutras matérias , como também"
peccou David , e que depois apagalíe citas íaita»
com a penitencia. Pereira»
Liv. líL Cap. XV. 143
17 E Baáfa Rei d'Iírael veio a Ju- Anno
da , e edificou Rama , para que ninguém
pudelTe ílihir, nem entrar nos eítados ^^i^ic
Afa Rei de Juda. Chr.
18 Então Afa tomando toda a pra- 940*
ta 5 e o ouro que tinha ficado nos the-
Iburos da cafa do Senhor , e nos the-
Iburos do Palacio do Rei , os poz nas
mãos dos fcus fcrvos , e os enviou a
Benadad filho de Tabrcmcn , filho d*
Hezion Rei da Syria , que habitava em
Damafco, e lhe mandou dizer:
19 Entre ti, e mim ha alliança co-
mo a houve entre meu pai , e o teu. Por
iiTo te mandei eíTes prefentes d' ouro,
e prata : e lupplico-te que venhas , c
que desfaças a alliança que tens com
Baáfa Rei d'Ifraei, para que elle fe re-
tire das minhas terras.
20 Benadad condefcendcndo com
os rogos do Rei Afa , mandou os Ge-
neraes do feu exercito contra as cida-
des d'lfrael : e tomarão a Ahion , a Dan ,
a Abel cafa deMaáca, c a todo o dif-
trifto de Gcneroth , iíto he , todas as
terras de Ncfthali,
O
i44 R E I
21 o que tendo ouvido Baáfa,' iú-^
terrompeo a obra dc Rama , e voltou
para Therfa.
2 2 Entáo defpachou o Rei Afa va-
rios correios por toda a Judea com efta
ordem : Ninguém fe efcufe. E tendo eU
les trazido todas as pedras, e todas aâ
ínadciras , que Baáfa havia empregada
em edificar a Rama , delias fundou o
Rei Afa a Gabaa de Benjamim , e a
Masíii.
23 O reflo das acções d'Ara , e' to-
das as emprezas , em que elle aflígna-
lou o feu valor, todos os feus feitos, c
que cidades edificou : tudo ifto eftá eC*
crito no Livro dos xinnaes dos Reis de
Juda. Todavia no tempo da fua velhi-^
ce padecco dos pés.
24 E adormeceo com feus pais , e'
foi fepultado com elles na cidade de feu
pai David. E Jofafat feu filho reinou
em feu lugar.
Anno 2^ No fegundo anno porém d'Afa
do M. jR^ei de Juda começou Nadab filho de
an/^e J^^oboao a reinar fofare Ifrael , e reinou
CKr. fobre Ifrael dous annos.
954- Et*
Liv. IIL Cap. XV. Í4J'
16 E elle fez o mal diante do Se-
hhor, e andou no caminho de feu pai^
e nospeccados que elle tinha feito com-
mettcr a Ifrael,
27 Mas Baáfa fiího d^Ahias, da ca-
ía dlíTacar, armou huma traição contra
a fua peífoa, e o matou junto aGebbé-
thon 5 que he huma Cidade dos Filif-
theos , a que Nadab , e todo o Ifrael
então litiavão»
28 Baáfa pois matou a Nadab , e -Anhò
reinou em lugar delle, no terceiro an-^^?^'
no d'Afa Rei de Juda. am^ de
29 E tanto que fe vio Rei, matou]. C
a todos da cafa de Jeroboão : não dei-í^5^
xou com vida nem fequer hum da fua
linhagem , ate acabar inteiramente com
ella, conforme a palavra que o Senhor
tinha dito por boca de feu fervo Ahias
de Silo :
30 e ifto por caufa dos peccados
que Jeroboão commettêra , c fizera com-
ínetter a Ifrael ; c por caufa do delito
com que tinha irritado ao Senhor Deos
d' Ifrael.
3 1 O refto das acções de Nadab ,
Tom, VL K c
I
Reis,
e tudo o que ellc fez , eílá cfcrlto na
Livro dos Annaes dos Reis d'Iírael.
32 E houve guerra entre Afa , e
Baáfa Rei d' Ifrael , todo o tempo que
elles vivêrSo.
33 No terceiro anno d'Afa Rei de
Juda reinou Baáfa filho d^Ahias íobre
todo o Ifrael emTherfa, e o feu reina-
do foi de vinte annos.
34 Elie fez o mal diante do Se-
nhor , e andvou no caminho de Jeroboão ^
e nos pcccados , que elle tinha feito
commetter a Ifrael.
CAPITULO XVL
Jehu prediz a Baáfa a ruina da fua fa»
milia. Morte de Baáfa. Sue cede -lhe Ela*
Zamhri mata aEla^ e fe faz Rei d"^ If-
rael, Amri he eleito Kei feio Povo. Zam-
■ hri fe queima no feu palácio* Morte d^
Amri, Succede4he Acab. Efe cafa com
JezabeL
I Ríi o Senhor dirigio a fua pa-
\^J^ lavra a Jehu filho d' Hanani
contra Baáfa y dizendo :
Eu
Lrv. IIÍ. Cap. XVI. 14^
2 (a) Eu tc levantei do pó , e te
conftitui Chefe fobre o meu Povo d'If-
rael: c tu andafte no caminho de Jero-
boão , e fizefte peccar o meu Povo d*
Ifrael , para me irritares com os feus
peccados.
3 Eis-ahi fegarei eu a pofteridade
de Baáfa , e a pofteridade da fua cafa ,
e farei da tua caía o que fiz da cafa de
Jeroboao filho de Nabat.
4 Aquelle da linhagem de Baáfa,
que morrer na Cidade , comello-hao os
cães : e o que delle morrer no campo ,
comello-hâo as aves do Ceo.
$ O refto das acções de Baáfa , e
todos os feus feitos , e batalhas , eftao
efcritos no Livro dos Annaes dos Reis
d'lfracl.
6 Adormcceo pois Baáfa com feus
pais 5 e foi enterrado cmTherfaj e rei-
liou por elle feu filho Ela.
K ii Mas
Ça) Eu te levantei do po\ é^c. Antes deftas pa-
lavras , que sáo já dirigidas por Dcos a Baáfa , dc-
vem-fe entender ditas pe'o Senhor a Jehu cftou-
iras : fali ar ds affim da mitiha parte a Badja : as
qoaei talvez foráo omiitidas por dcfeuido dos pri-
meiros CopiítaSi PfiREIRAé
148 Reis.
7 Mas tendo o Profeta Jchu fiího^
d'Hanani deGlar;ido a Badia o que o
Senhor pronunciara contra elle , e con-
tra a fua caía , pela razão de todos os
males , que elle tinha feito aos olhos
do Senhor, para o irrirar com as obras
das fuas niaos , e para o Senhor tratar
a fua cafa como adejeroboão: porefta
razão o matou elle, (è) ifto he, a Jé-
hu Profeta filho d'Hanani.
Anno *^ No anno vigefimo fexto d'Afa
do M. R-ei- de Juda reinou Ela filho de Baáfa
^074. iQ^j-e í-frael em Therfa dous annos.
dcl.C 9 Porque Zambr-i íeu fervo, qúego-
(j{q. vernava anietadc da fua cavallaria , fe
rebellou contra elle, e a tempo que Ela
bebia em Therfa , e eftava bêbado cm
caía d'Afa Governador de Therfa,
10 Zambri cahindo fobre elle o fe-
rio ,
Çb) Ijio he ^ a '^ehit Profeta y à^c. Efta cia u fu-
la por fi mcfma fe cílá dando a conhecer por hu-
ma addiçáo do Interprete Latino : porque nem o
Hebreo , nem o Grego dos Setenta a trazem : an-
tes- os Hebreos referem o pronome eum para Na-
dab fubentendido. Sobre eíla,- e outras difficulda-
dcs contra a lição da Vulgata , veja-fe Galmet : e fo-
bre o que fe pôde dizer a favor delU , veja-fe Gaí-
par Sanches. Pereira^
Liv. IIÍ. Cap. XVI.
rio , e marou no anno vigefimo fetimo
d'Afa Rei de Juda , e reinou em feu
lugar.
II E quando elle fe vioPvei, e fu-
bio ao feu throno, e^tinguio toda a ca-
ía de Baáfa fem deixar nella refto al-
gum , e fem perdoar a algum de feus
parentes , e amigos.
12, AíTim deltruio Zambri toda aca-
fa de Baáfa 5 conforme a palavra que o
Senhor tinha feito dizer a Baáfii pelo ^
Profeta Jchu ,
13 por caufa de todos os pcccados
de Baáfa , e de feu fiUio Ela , que ti-
nhão peccado, e feito peccar a Ifrael,
irritando o Senhor Deos d' Ifrael (c)
com as fuas vaidades.
14 O mais das acções d'E]a , e tu-
do o que elle fez eltá cfcnto no Li-
vro dos Annaes dos Reis d' Ifrael.
15' No anno vinte c fete d'Afa Rei Anno
de Juda reinou Zambri em Therfa fete ^•
r^-^- am. dc
(f) Com as fiiis vaidades. Iflo hc , com o
to, que daváo aos idolos dos falíos dcoícs , con-
forme aquillo de S.Paulo: Scimus quia idolumuibil
ejl iti mundo, Pebeira.
lyo Reis.
dias: porque o exercito , que então fi^
tiava sí Gebbéthon cidade dos Filif-
theos 5
16 tendo ouvido que Zarribri fe ti-
nha rebellado , e havia morto o Rei,
todo olfrael conftituio feu Rei aAmri,
General do Exercito d'Ifracl5 que efia-
va então em campanha.
17 Amri pois deixando a Gebbé-
thon marchou com o exercito d' líracl ,
e veio finar a Therfa.
18 E Zambri vendo que a cidade
eftava a ponto de fer tomada , entrou
no Palacio 5 (d) q fe queimou a fi mef-
mo juntamente com a Cala Real, {ç)
e morrco
nos
(d) Éfe queimou a ft mefmo , é-c, Aííim rc- ^
fere Juílino , que lambem íe matára a fi o famofo.
Sardanapálo. Tiríno.
( <? ) £ morreo nos peccndos que tinha comniettido ,
ó-'C. Se Zambri náo reinou íenáo feíc dias, coma
podia elle moftrar-fc ião máo , como aqui fc def-
creve? Reíponde-fe que ncfíe pouco tempo pudera
Zambri mottrjr fe táo empenhado cm confirmar a
idolatria cftabelccida por Jeroboso, que merccefrc
muito bem a acre cenfura com que o irara a Ef-
critura. Ou attendeo a Efcritura não fó para os fete
dias que reinou Zambri , mas tambçm pata o mais
Liv. III. Cap. XVI. iji
19 nospeccados que tinha commet-
tido, obrando o mal diante do Senhor,
€ andando pelo caminho de Jcrohoão,
€ no peccado com que el!e tinha feito
peccar a Ilrael.
20 O mais das acções de Zambri ,
da fua conjuração , e da fua tyrannia ,
eílá ef^TÍto no Livro dos Annaes dos
Reis d' Ilrael.
21 Então fe dividio o Povo d'If-
rael em dous partidos. Ametade do Po-
vo feguia aThebnifilho deGinerh, pa-
ra o conílituu' Rei : e a outra ametade
feguia a Amri.
22 Mas o Povo queeftava com Am-
ri prevaleceo contra o Povo que cllava
com Thebni filho de Gincth^ e moirco
Thebni , e reinou Amri.
23 Noanno trinta chum d'Afa Rei Anno
de Juda (/) reinou Amri fobre liracl ^'^
anr. de
tempo, que acclamado Amri começou, c continuou •*
a guerra entre os dous. Calmet.
(/) Jxetnou Jmri fobre Ifniel dcze mncs. Eíles
doze annos devem ccmeçar-fe a conczr des do an-
no vinte c fcte d Afa , Rei de Juda , conforme o
verfo 16, , cacabáo no anno irinra e oito do mef-
mo Afa, conforme o vcrío 2^;. O alli^ar porém ^
1$% Reis.
doze annos, dos quaes reinou elle feis
cm Therfa.
24 Elie comprou o monte de Sama-
ria a Somer por dous talentos dc prata,
ç fundou nelle huma Cidade (^) a que
chamou Samaria do nome de Somer,
cujo fora o monte.
25- Amri porém fez o mal diante
do Senhor 5 e os crimes que elle com-
metteo amda excederão os de todos
ps feus predeceiTores.
2Ó E elle andou em todo o caminho
dejeroboão filho deNabat, e nospec-
cados com que elle tinha feito peccar
a Ifrael , para irritar o Senhor Deos d'
Ifrael com as fuas vaidades.
27 Oreíio das acções d'Amri, com
as
pfcritura neíle verfo 2:5. a Época <3'Amri ao anno
trinta e hum ci'Afa Rei de Juda, foi porque neftc
anno trinta e hum d'x\ra he que Amri começou a
reinar fó lobre rodo o Ifrael , por morte de The-
bni , fegundo o que fc refere no verfo 22. Pe-»
{g^ A que chamcu Samaria^ ^'c, A qual Cida-
de dchi por diante começou a fcr a Corte ordiná-
ria dos Reis d'ífracl , que no principio tinháo re-
fidido em Therfa, como já afíima advertimos. Pe-
Liv. III. Cap. XVI. 15-5
as batalhas que elle deo, acha-fe efcri-
to no Livro dos Annaes dos Reis d'If-
rael.
28 E Amri dormio com feus pais,
e foi fepultado em Samaria : e em feu
lugar reinou feu filho Acab.
29 Noanno pois trinta e oito d'Afa Antio
Rei de Juda reinou Acab filho d' Amri ^°g^^'
fobrelfrael. E reinou Acab filho d'Amri gnt. dc
fobre Ifrael em Samaria vinte e dous ]. Chr,
annos. S^^^-
30 E Acab filho d'Amri fez o mal
diante do Senhor, e excedeo na impie-
dade todos os que tinha havido anteçi
dellc.
31 Elle não fe contentou com an-
dar nos peccados de Jeroboão filho de
Nabat : mas fobre ifíb tomou por mu-
lher ajezabel filha dcEthbaal Rei dos
Sidonios ; e palTou a fervir a Baal , c o
adorou.
32 Poz o Altar dc Baal no Tem-
plo de Baal , que elle tinha edificado
cm Samaria ,
3 3 (^0 ^ plantou hum Bofque : c
ac-
EpUntou Ims Bofque s ^ <ò'C» Plantou-o cm
i5'4 Reis.
accumulando crime fòbre crime, irritou
o Senhor Deos d'lfrael mais do que to-
dos os Reis d'Ifrael , que o tinháo pre-
cedido.
34 Durando o feu reinado, fundou
Hiel de Bethel a Jericó. Elie perdeo a
Abirão feu primogénito , quando lhe
lançou os aUceíTes ; e perdeo a Segub
o ultimo de feus filhos, quando lhe poz
as portas , ( i ) conforme o que o Se-
nhor tinha predito por boca de Jofué
filho de Nun.
CA-
honra deftc falfo Deos dos Cananeos. De Car-
( / ) Confonm o que o Senhor tinha, predito por
hoct dc Jofué filho de Nun. No Livro dc Jofué,
VI. 26. temos eíta imprecação , que Jofuc com
efpirito profético havia quinhentos e trinta c tantos
annos lançou contra o que lornaíTe a edificar Jeri-
có. Maldito fej^ diante do Senhor arjuelle homem ,
que levantaf , e reed ficar a cidade de Jericó. O feu
primogénito morra , quando elle lhe lanhar os funda-
mentos ^ e elle perca o ultimo de feus filhos ^ quando
lhe pozer 4t portas. A qual imprecação vemos aqui
agora cumprida á rifca na peíToa d' Hiel. Perei-
ra,
Livro IIL
CAPITULO XVIL
Elias declara a Acah , que não choveria
até que Deos o não declarajfe feia fua
boca, Efte Profeta Jujlentado pelos cor-
'VOS. Vai a Sarepta a cafa d'huma viu-
va , a quem elle multiplica o azeite , e
a farinha. O filho dejia viuva morre.
Elias o refu feita.
I IVT Aquelle tempo Elias de Thes- Anno
JL^ ba, que era hum doshabitan- cio M.
tes de Galaad , diíTe a Acab : Viva o ^^^^^
Senhor Deos d' Ifrael , em cuja prefen- j. chfo
ça eftou 5 que neíles annos não cahirá í>i2,
nem orvalho , nem chuva , fcnao con-
forme as palavras da minha boca.
2 Depois dirigio o Senhor a fua pa-
lavra a Elias 5 e lhe diíTe:
3 Retira-te daqui , e vai para a ban-
da do Oriente , e efconde-te ôo pé da
torrente deCarith, que he defronte da
Jordão.
4 Tu beberás lá da agua da torren-
te; e eu mandei aos corvos , que te fuf-
teiuem alli mefmo.
Par-
JS6 Reis.
$ Partio pois Elias em conforrnida-
de da ordem do Senhor , e foi morar
ao pé da torrente de Caritli , que
defronte do Jordão.
6 E os corvos lhe traziâo pela ma-
nhã pão, e carne, e de tarde também
pao , e carne ; e elle bebia da torrente.
Anno y Algum tempo depois feccou-fe a
20^* torrente, porque não tinha chovido fo-
ant! dc bre a terra. ^
J. Chr. 8 E então lhe fallou o Senhor por
P^^' eftes termos:
9 Vai para Sarepta dos Sidonios ,
e alli eftarás : porque eu ordenei ahuma
niulher viuva , que te fuftente.
10 Foi elle logo para Sarepta. E
quando ellc tinha chegado á porta da
Cidade , lhe appareceo huma mulher
viuva apanhando lenha : e elle a cha-
mou , e lhe diffe : Dá-me num vafo hu-
ma pouca d' agua para beber.
11 E quando ella lho hia bufcar,
gritou Elias apôs ella , dizendo : Tra-
ze-me também , te peço , hum bocado
de pão na tua mão.
J.Z Ella lhe refpondeo: Viva o Se-
nhor
Cap. IIL Liv. XVIÍ. IJ7
nhor teu Deos , que eu não tenho pão :
tenho fomente obra d'hum punhado de
farinha numa panella ^ e hum pouco d'
azeite na almotolia. Eis-aqui ando eu
ajuntando huns cavacos para ir prepa-
rallo para mim , e para meu filho , pa-
ra comermos, e depois morrer.
13 EHas lhe diíle: Não temas, vai
fazer como m,e diíTefte : mas faze pri-
meiro para mim deíTa pouca de farinha
hum pãofinho cozido debaixo dorefcal-
do, e traze-mo: e depois fallo-has pa-
ra ti, e para teu filho.
14 Porque eis-aqui o que diz o Se-
nhor Deos d'Ifrael: A farinha que eftá
neíTa panella não faltará, e o azeite que
eftá ncffa almotolia não fe diminuirá,
até o dia que o Senhor faça cahir chu-
va fobre a terra.
15 Fui pois a mulher, e fez o que
Elias lhe tinha dito : e comeo elle , e
comco ella também com toda a fua ca-
fa. E des daquelle dia
16 não faltou a farinha da panella,
nem fe diminuio o azeite da almotolia,
conforme o que o Senhor tinha predita
por Elias. De-
15^8 Rei s.
17 Depois acontcceo, que o filhd
delia viuva mai de familia cahio mal
d' huma doença tão forte , que já não
refpirava.
1 8 DiíTe ella pois a Elias : Que te
fiz eu 5 ó homem deDeos? Acafo vief-
te tu a minha cafa para excitares eiri
mim a memoria de meus peccados , e
me matares meu filho ?
19 E Elias lhe diílc : Dá-me cá o
teu filho. E tendo-o tomado d'entre os
feus braços ^ o levou á camará onde el-
le mefmo aíEítia , e o poz em fima do
ícu leito.
20 Depois clamou ao Senhor , e
lhe diíTe: Senhor meu Dcos, que até a
huma viuva ^ que me fuftenta como pô-
de 5 affligifte 5 matando-lhe feu filho ^
21 Depois fe eílendeo, e fe médio
tres vezes fobre o menino , e gritou ao
Senhor , e lhe difle : Senhor meu Deos ^
faze 5 te rogo , que a alma deíle meni-
no torne a entrar no feu corpo.
22 E o Senhor ouvio a voz d^Elias:
e a alma do menino tornou a entrar nel-
le, e ellc recobrou a vida.
E
Liv. III. Cap. XVII. 1^9
23 E Elias tendo tomado o meni-
no, defceo da fua camará á cafa debai-
xo, e o entregou a fua mãi , e lhe dif-
fe : Eis-ahi tens vivo a teu filho.
24 E a mulher refpondeo a Elias:
Agora nefta acção conheço eu que tu es
hum homem dc Deos, e que a palavra
do Senhor he verdadeira na tua boca.
CAPITULO XVIIL
Manda o Senhor a "Elias , que fe apprefen-^
te diante d\^cab, Elias perfuade a Ab"
dias que z'd annunciar a Acah a fua
vinda, Ej2tre vijia d''Acab^ e d^ Elias.
Elias faz defcer o fogo fobre o feu fa^
crificio , e mata os falfos Profetas de
BaaL Promette chuva ^ e ella cabe,
I \/í Uito tempo depois dirigio oAnno
XtJL Senhor a fua palavra aElias ,<ioM^^
{a) no terceiro anno, e lhe diífe: Vai- 5^^^^*^
te apprefentar diante d'Acab, {h) pa-]"chr«
ra eu dar chuva fobre a terra. 5^08,
Par-
(ji) iVb Urcúro ãmo^ (b-c. No rcrcçiro anno,
depois que clíe tinha deixado aterra deCariih. De
Carrieres.
(ih) Fau eu áár çhuva fobn a ma, Lucas ^
i6o Reis.
2 Partio pois Elias para fe moftrar
a Acab : entretanto era extrema a fome
cm Samaria.
3 E Acab mandou chamar Abdias
Mordomo da fua caía. Era efte hum
homem , que temia muito o Senhor.
4 Porque quando Jezabel matava os
Profetas do Senhor , elle Abdias tomou
cem 5 e os efcondeo n'umas cavernas,
íincoenta numa , e lincoenta noutra , e
os fuftentou de pão, e agua.
5 Difle pois Acab a Abdias : Vai
por eftas terras a todas as fontes , e a
todos os Valles a ver fe podemos achar
herva para falvarmos os cavallos , e os
machos , e não pereção todas as bef-
tas.
6 EUes pois repartirão entre 11 as
terras para difcorrerem por todas as par-
tes. Acab hia por hum caminho , Ab-
dias feparadamente hia por outro.
7 E quando Abdias eílava em ca-
minho encontrou-fe Elias com elle. Ab-
dias tendo-o conhecido feproítrou com
o
c Sant-Iago notão , que cfta fecca durán tres ati-
nos e meio. Luc. i v. 25. Jaçob. y. 17. Pêrçira^-
Liv. III. Cap. XVIIt. iSr
ò roftó ertí terra , e lhe dlíFe : Es tu
Elias meu Senhor?
8 E elle lhe refpondeo : Eu fou.
■ Vai 5 e dize a teu amo : Eis-aqui eílá
Elias.
9 Qye p^ccado commetti eu, dilFe
Abdias 5 para tu me entregares nas mãos
d'Acab5 a mim que fou teu fervo, pa-
ra elle me matar?
10 Viva o Senhor Deos , que nSo
ha Nação nem Reino, onde meu amò
te não tenha mandado bufcar: e dizen-
do-lhe todos, que tu não appareces, e
vendo que te nío achao ^ {c) tem elle
conjurado todos os Reis e Povos.
11 E agora me dizes tu : Vai , è
dize a teu amo: Eis-aqui eílá Elias.
12 E que depois que eu me tiver
apartado de ti , te tranfporte o Efpiri-
to do Senhor para algum lugar que eu
não faiba ; e quando eu for dar parte a
Acab-, elle te não ache, eme mate. En*
tretanto teu fervo temco o Senhor des
da fua infância.
Tom. VI. L Aca-
( f ) Tem elle conjuraio todos os Reis , e Povm:
Çl^Q lhe dcfcubrão 3 onde tu eítás. DfiCAiMMSKEn
t62 R s I s.
13 Acafo não fe te diíTe a ti meu
Senhor , o que eu fiz , quando Jezabel
matava os Profetas do Senhor? que ef-
condi cem deftes Profetas n'umas caver-
nas , fincoenta n'uma , e fincoenta nou-
tra, e os fuftentei de pão e agua ?
14 E depois difto me dizes tu : Vai y
e dize a teu amo : Eis-aqui eftá Elias y
para elle me matar.
ij E Elias lhe diíTe: Viva o Senhor
dos Exércitos , em cuja prefença eftou ,
que eu me apprefentarei hoje diante
delle.
1 6 Foi pois Abdias ter com Acab ,
e lhe contou o que fe paíTava. E Acab
fahio logo a enconrrar-fe com Elias.
17 E vendo-o , lhe dilTe : Acafo es tu
aquelle , que trazes perturbado a Ifrael ?
18 E Elias lhe refpondeo: Não fou
eu o que perturbei a Ifrael, mas es tu,
e a cafa de teu pai, por terdes deixado
os mandamentos do Senhor, e feguido
a BaaL
19 O que não obftante , manda ta
agora meíTageiros, e faze ajuntar toda
O Povo d* Ifrael no monte Carmelo, e
Liv. III. Gap. XVm. 163
Ds quatrocentos e fincoenta Profetas de
Baal 5 com os quatrocentos dos Boíques ^
que Jezabel fullenta á fua meza.
20 Mandou pois Aeab bufcar todos
os filhos d'lfrael , e ajuntou os Profe*
tas no monte Carmelo»
21 E Elias chegando-le a todo o
Povo^ diíTe: Até quando coxeareis vóâ
d' ambas as partes ? Se o Senhor he o
Deos 5 feguio-o ; e fe o he Baal , fe-
guio-o. E o Povo lhe não refpondeo nem
huma fó palavra^
22 E tornou a dizer Elias ao Povo t
Eu fou o único que fiquei dos Profetas
do Senhor , ao mefmo tempo que os Pro*
fetas de Baal chegáo a quatrocentos c
ficoenta homens.
23 Dem-fe-nos dous bois, elles ef-
colhão para fi hum; ctendo-o feito em
quartos , o ponhão fobre a lenha , fem
lhe metter fogo por baixo: e eu toma-
rei o outro boi ; e pondo-o também fo-
bre a lenha , não lhe metterei fogo por
baixo.
24 Invocai vós os nomes dos voíTos
deofes, e cu invocarei o Nome do meu
L ii Deos:
164 K t i s.
Deos : e o Deos que pelo fogo dech^
rar que elle he Deos , eíTe leja reconhe-
cido por Deos. Todo o Povo refpon-
deo: A propofiçao he juftiílima.
25- DiíFe pois Elias aos Profetas de
Baal: Efcolhei para vós hum boi, e co-
meçai vós primeiro , porque fois em
maior numero : e invocai os nomes dos
voífos deofes y íem metterdes fogo á le-
nha.
26 Elles pois 5 tendo tomado o boi ,
que lhes foi dado , prepararão o feu ía-
crificio , e invocavao o nome de Baal
des da manhã até o meio dia, dizendo:
Baal 5 ouve-nos. Mas não fe percebia
voz , nem havia quem refpondeífe , em
quanto elles paíTavao d'huma parte pa-
ra a outra do Altar que tinhao feito.
27 Eira já meio dia , e Elias come-
çou a fítotejallos , dizendo : Gritai mais
alto : poFque o volTo deos Baal eu ef-
tá talvez fallando a alguém no cami-
nho , ou rfalguma eftalagem , ou tal-
vez dorme , e necelíita que o acor-
dem.
28 Elles pois fe pozerâo a gritãí
ain-
Liv. IIL Cap. XVIII.
ainda mais de rijo ^ (d) q fazlâo nos
feus corpos varias incisões , fegundo o
fcucoftume, com canivetes , e lancetas,
até fe cobrirem do feu fangue.
29 PaíTado o meio dia , e chegado
o tempo, em que era coftume cfferecer
o facrificio , gritavão os Profetas , e in-
vocavão o feu deos Baal : mas elle ef-
tava furdo , e nao havia ninguém que
refpondeíTe , nem que ouviíTe os feus ro-
gos.
30 Então diíTe Elias a todo o Po-
vo : Vinde comigo. E tendo-fe o Povo
chegado a elle, refez Elias o Altar do
Senhor, que tinha fido deftruido.
3 1 E tomou doze pedras , ccMiforme
o numero das Tribus dos filhos de Ja-
cob , a quem o Senhor tinha dirigido
a fua palavra, dizcndo-lhe : Ifrael fera
O teu nome.
E
(íí) Efazião nosfm corpos varias incisões , <ô-c»
Coftume bárbaro , e gentilico , que dos Canancos
fe communicou a outros Póvos do Oriente , como
dos Perfas affirma Herodoro no Livro VIL, Cap.
CXCI. dos Sacerdotes de Cybeles Tibullo , dos
Sacerdotes^ de Bellona Marcial. E os Itinerários
laaodctnos nos certiíicáo , que ainda hoje praticáo
l66 Reis.
32 E deftas pedras edificou hum Al-
tar em Nome do Senhor: e fez hum re-
gueiro 5 como de dous pequenos regos
ao redor do Altar:
33 e concertou a lenha : e cortou o
boi em pedaços , e o poz íobre a lenha ,
c difle :
34 (e) Enchei d' agua quatro ta-
lhas, e cntornai-as fobre o holocaufto,
e fobre a lenha. Eprofeguio: Fazei ifto
mefmo ainda outra vez. Etendo-o elles
feito fegunda vez , diíTe : Fazei ainda
terceira vez o mefmo. E elles ofizerão
terceira vez,
35 de forte que as aguas corrião
ao redor do Altar , e o regueiro ficou
cheiò.
36 Chegado o tempo d' oíFerecer o
holocauílo, o Profeta Elias fe chegou,
e
QS Turcos 5 Ferias , e índios eíla fuperftição. Pe-
BEIRA.
(c) Enchei d' agua quatro talhas , <zb-f. Todas
cftas precauções do regueiro feito ao redor do Al-?
tar 5 e da agua entornada repetidas vezes fobre o
holocaufto 5 e fobre a lenha , hiáo encaminhadas ^
remover dos ânimos dos circumftantes toda a fuí-
peita , de que ou havia dolo , ou a coufa fucce4i^
fqnx miia^re^ Pereuu.
Liv. III. Cap. XVIIL 167
e diíTe : Senhor Deos d' Abrahão , d'
Ifaac , e dlfrael , faze ver hoje , que tú
es o Deos d'lírael , e que eu fou teu
fervo, e que por tua ordem he que eu
fiz todas eftas coufas.
37 Ouve-me , Senhor , ouve-me ,
Senhor , para que efte Povo aprenda ,
que tu es o Senhor Deos, eque tu con-
verteíle novamente os feus corações.
38 Ao mefmo tempo cahio o fogo
do Senhor , e devorou o holocaufto , a
lenha, e as pedras , lambendo o mefmo
pó, e a agua que eftava no regueiro.
39 O que tendo vifto todo o Povo,
proítrou-fe com o rofto em terra, edif-
ie : O Senhor he que he Deos , o Se-
nhor he que he Deos.
40 Então lhes diíFe Elias : Apanhai
os Profetas de Baal , e nao efcape nem
hum fó. E tendo-os o Povo agarrado,
Elias os levou á torrente de Ciíon , e
alli os matou.
41 Depois diíTe Elias aAcab: Vai,
come , e bebe , porque eu ouço o ruído
d'huma grande chuva.
42 Acab fe retirou para comer , e
be-
1Ó8 Reis.
heber; e Elias fubio ao alto doCarme-^
Io , e inclinado por terra metteo o. feu
roílo entre os feus joelhos,
43 e dilTe ao feu criado : Vai , c
olha para a banda do mar. Tendo ido.
o criado, a olhar , voltou , e difle-lhe:
Não ha nada. Elias lhe fegundou, di-
zendo: (/) Torna a ir fete vezes.
44 E á fetima vez eis-que appare-.
ceo. huma pequena nuvem , que íe le-
vantava do mar, como huma pégada d^
homem. EdiíIeFUias ao feu criado: Vai
dizer a Acab : Faze metter os cavallos
po teu coche , e corre , não te apanhe
a chuva.
45- E quando elle fe voltava ora para
huma , ora para outra parte , eis-que de
repente fe çobrio o Ceo de trévas , ví-
rão-le nuvens , levantou-fe o vento, e
çahio huma grande chuva. Acab pois,
fubindo ao coche foi para Jezrael.
(/) Torna a ir fete vezes. De Carrieres verte :
Elus lhe diííe ainda : Torva a ir ^ e lho repete fct(r>
vezes. Eu fcguí a outros, que referem o fete vezes,
para o Torna a ir , e náo para o lhe àijfe ainda. É
â pontuação ordinacik nos Exemplares da Vulgar^
aíiim o pede. Pereirao
Liv. IIL Cap. XVIII. 169
46 E ao mefmo tempo foi a mão
do Senhor fobre Elias , e tendoJe cinr
gido os rins , corria adiante d'Acah , até
chegar a Jezrael.
CAPITULO XIX.
yezabel quer matar a Elias. O Profeta
fe retira ao monte Horeb. O Senhor lhe
manda que vd ungir a Hazael Rei da
Syria , e a Jehu Rei IJrael. Elifea
recebe o ejpirito de Profecia , e fe ag^
grega a Èlias^
I ^nr^ Endo Acab referido a Jezabel
JL tudo o que Elias havia feito ,
c como elle matara á efpada todos os
Profetas ,
2 Enviou Jezabel hum meíTageira
a Elias para lhe dizer : Os Deoíes me
tratem com toda a fua feveridade , fe
çu á manhã a eíla meíma hora te não
fizer perder a vida ^ como tu a fizefte
perder a cada hum delles..
3 {a) Elias pois teve medo, e au- doM^
fen- S^í^T-
ant. dc
(^) Elidi pois teve medo , é^c, O que não tive- ]. Chr.
ra medo d'Acab , tem agora medo de Jezabel : poj- c^oy.
-íjo Reis.
fentou-fe para onde quer que o feu de-
lejo o levava : e como tiveíTe chegada
aBerfabée em Juda, defpedio alli o feu
criado.
4 E andou pelo deferto o caminho
d' hum dia : e tendo chegado onde ef-
tava hum junipero, fe aíTentou debaixi
delle : e defejando a morte, diffe : Baf-
ta-me devida, Senhor: tira a minha al-
ma do meu corpo , porque eu não fou
melhor do que meus pais.
5- E lançou-fe em terra , e dormio
á fombra do junipero : e eis-que hum
Anjo do Senhor o tocou , e lhe diffe :
Levanta-te , e come.
6 Olhou elle , e vio junto á fua ca-
beça hum pão cozido debaixo da cin-
za, e hum vafo d' agua. Comeo pois,
e bebeo , e tornou a dormir.
7 Vindo outra vez o Anjo do Se-
nhor, o tocou, e lhe diffe: Levanta-te,
e come : porque te refta que fazer hum
grande caminho.
que Deos o largou á fua própria fraqueza para o
confervac na humildade. Theodokexo 3 e Ra.»
BANO.
Liv. III. Cap. XIX. 171
8 Tendo-fe levantado , comeo , e
bebeo: e com o vigor que lhe deoaquel-
la comida, caminhou quarenta dias, c
quarenta noites até o monte de Deos,
Horeb.
9 Chegado alli ficou numa caver-
na: e cís-que o Senhor Ihedirigio a fua
palavra , dizendo-lhe : Que fazes aqui ,
Elias ?
10 A que elle refpondeo : Eu me
confumo de zelo por ti , Senhor Deos
dos Exércitos : porque os filhos d'Ifrael
deixarão o teu pado, deftruírão os teus
Altares, matarão os teus Profetas á ef-
pada; e tendo eu ficado fó, elles ainda
me procurão tirar a vida.
11 E diffe-lhe : Sahe , e tem-te no
monte diante do Senhor. E eis-ahi paf-
fa o Senhor , e diante do Senhor hum
vento impetuofo, e lijo, que tranftorna
os montes , e quebra as pedras diante
do Senhor. O Senhor não eftará no ven-
to. Depois do vento haverá tremor : e
o Senhor não eftará no tremor.
12 Depois do tremor, accender-fe-
ha hum fogo : e o Senhor não eftará no
f72' Reis.
fogo. Depois do fogo (è) ouvir- fe-ha
o alTopro d' huma branda viração.
13 Elia-s tendo ouvido ifto, (r) co-
brio o feu rofto com a capa ; e tendo
fahido , poz-fe á entrada da caverna : e
ao mefmo tempo fe lhe d-eo a perceber
huma voz , que lhe dizia : Que fazes
aqai 5 Elias ? E elle refpondeo :
14 Eu mc confumo de zelo por ti.
Senhor Deos dos Exércitos ; porque os
filhos d'Ifrael deixárão o teu pafto , def-
truírão os teus Altares , matarão os teus
Profetas áefpada; e tendo eu ficado fó,
.elles ainda procuráo tirar-me a vida.
E o Senhor lhe diífe : Vai , e
torna pelo caminho por onde viefte a®
iongo do deferto paraDamafco; e quan-
do lá tiveres chegado , ungirás a Hazaei
-em Rei da Syria :
e
(^b) Ouvir-fc-h.t o ajfjpro d' huma branda vira^ie.
Pepois dúiàs palavras traz o Manuícrito Aiexan-
drÍ!io da versão dos Setenta eltoutras que De Car-
rieres ajunioa : e a^ui ejl.ird o Senhor: palavras que
acabáo de dcfenvoiver o fencido das anceeedemei.
Pereira.
(c) Cobrio o feu rojlo com a capi. Sinal de de-
cência , e de obfequio entre os Hcbreos , coma eri'
aós o tirar o cbapéo. Ca-l!£et«
Liv. IIL Cap. XIX. 173
16 e a Jehu filho de Namfi ungirás
cm Rei fobre Ifraei : ( ^ ) e a Elifeo fi-
lho de Saffatj que he de Abelmeula , o
ungirás Profera em teu lugar.
17 E acontecerá , que todo o que
tiver efcapado á efpada d' Hazael, ferá
morto por Jehu : e todo o que tiver ef-
capado á efpada de Jehu , ferá morto
por Eliieo.
18 E eu rne refervarei para mim em
Ifrael fete mil homens , que não dobra-
rão os joelhos diante deBaal, e não le-
varão a mão á boca para o adorar.
19 Tendo-fe pois Elias partido dal-
li, achou aElifeo filho deSaíFat lavran-
do com doze juntas de bois , e cllc mcf-
mo conduzia hum dos arados das doze
juntas de bois. E chegado Elias a Eli-
feo, poz a fua capa íobre elle.
20 Logo Elifeo, deixados os bois,
correo apôs Elias, e lhe diíTe : Permit-
te-me, te rogo , que eu vá beijar meu
pai,
{à) E a Elifto filho de Saffat, Efte he o úni-
co lugar , donde os Padres , c os Expofitores co-
lhem , que entre os Hebrcos náo fó fc ungião 03
Sacerdotes , e 0$ Reis , mas também os Profetas,
Pereira»
l74 Reis.
pai, e minha mãi: e aílim feguif-te-heL
E Elias lhe reípondeo : Vai , c volta :
porque eu fiz por ti o que era da minha
parte.
2 1 EElIfeo, depois deter deixado
á Elias , tomou huma junta de bois , e
os matou 5 e com a lenha que fez do ara-
do dos bois cozeo as fuas carnes , a^as
deo ao Povo, o qual comeo delias. E
partiologo, efe foi em alcance d'Elias^
e o fervia.
CAPITULO XX.
Cerco de Samaria por Benadad. Derrota
do feu exercito. Outra derrota doexer^
cito dos Syros. Acab faz alliança com
Benadad. He por ijfo reprehendido por
hum Profeta,
Anno X Ra Beiiadad Rei de Syrla ,
do M. tendo ajuntado todo o feu exer-
aiít^dè ^^^^•> ^ cavallaria, e as fuas carro-
J. Ghr. Ç^s , e com elle trinta e dous Reis,
5>oi. marchou a atacar a Samaria , e a II-
tiou.
2 E ao mefmo tempo enviou á Ci-
da-
Liv. III. Ca p. XX. 175-
dade Embaixadores a Acab Rei d'If-
rael , dizendo-lhe :
3 Eis-aqui o que diz Benadad : A
tua prata , e o teu ouro são meus : as
tuas mulheres 5 e os teus filhos mais bem
feitos são meus.
4 E o Rei d^Ifrael lhe refpondeo:
O' Rei meu Senhor, eu fou teu, como
tu dizes , e todas as minhas coufas são
tuas.
5* Tornarão a vir os Embaixadores,
e diíTerão: Eis-aqui o que diz Benadad,
que nos enviou a ti: Tu me has de dar
a tua prata , e o teu ouro , e as tuas mu-
lheres , e os teus filhos.
6 A' manhã pois a efta mefma hora
irão os meus fervos a ti , efquadrinha-
ráõ a tua cafa , e a cafa dos teus fervos:
e elles tomarão com as fuas mãos tudo
o de que goftarem , e o levarão.
7 Então fez vir o Rei d'Ifrael to-
dos os anciãos do povo , e lhes diíTe:
Confiderai, e vede, que elle nos arma
algum laço , porque elle me mandou a
pedir minhas mulheres , meus filhos , mi-
nha prata, e o meu ouro : e eu não lhe
dilTe que não. E
tfè R E I á.
o E todos os anciãos 5 e todo o Pò-
Vo lhe rcfpondêrâo: Não lhe dês ouvi-
dos , nem te accomodes com o que eltó
defeja;
9 Refpondeó pois Acab aos Em-
baixadores de Benadad : Dizei ao Rei
nieu Senhor : Eu farei todas as coufas
que tu meenviafte a pedir no principio,
como fervo que fou teu : {a) mas eíta
ultima coufa não a poíFo fazer.
10 Tendo voltado os Embaixado*
res 5 referirão efta refpofta a Benadad ^
o qual os tornou a enviar para que dif-
feifem a Acab : Os deofes me tratem
com a fua ultima feveridade, fe todo o
pó de Samaria baftar para cada hum dos
que me feguem poder encher hum pu-
nhado.
11 E o Rei d'Ifrael lhe replicou:
Dizei a voífo amo: Não he quando fe
tomão as armas , que hum fe deve glo-
riar; mas fim quando as larga.
1 2 Recebco Benadad efta refpofta ^
quando elle bebia na fua tenda com os
ou-
(a) Mas ejia ultima eoufá^ &c, Afabcr, a dé
entregar os bens dos vaíTallos. Peixeira*
\
L iv. IIL Gai^. XX. iii
outros Reis : e diíTe logo aos feus fer-
ros : Cercai a Cidade. E elles a cer-
cárãoi.
í3 Ao mefmo tempo chegando-fe
hum Profeta a Acab Rei d*Ifrael, lhe
diíTe : Eis-aqui o que diz o Senhor : Vif-
te toda eílainnumeravel multidão? Pois
eu te declaro que hoje ta entregarei nas
mãos 5 para que tu íaibas que eu fou o
Senhor.
14 E Acab lhe perguntou : Por
quem? E elle lhe refpondeo : Eis-aqui
o que diz o Senhor : Pelos criados dtí
pé dos Príncipes das Provincias. Ac-
crefcentou Acab : Quem começará a pe-
lejar? Serás tu, lhe diíTc o Profeta.
ly Fez Acab pois revifta dos cria-
dos de pé dosPrincipes das Provincias,
e achou que erão duzentos e trinta t
dous. Depois fez revifta do Povo dos
filhos d'irrael5 e achou que erão fcte mil.
ló E fahírão da Cidade ao meio
dia. Bcnadad porém já bêbado eftava
bebendo na fua tenda , e com elle os
trinta e dous Reis , que tinhão vindo
em feu foccorro.
Tom. VI. M 0%
178 Reis.
17 Os criados pois dos Príncipes
das Provincias marchavão na frente do
exercito. E Benadad mandou reconhe-
cer efta gente. E vierão-lhe dizer: He
gente que fahio de Samaria.
18 E diíTe-lhes Benadad: Ou clles
venhão tratar de paz, ou venhão a pe-
lejar, apanhaimos vivos.
19 Avançárão-fe pois os criados de
pé dos Príncipes das Províncias , e o
reíto do exercito depois delles.
ao E cada hum delles matou os que
fe lhe pozerão diante : e logo os Syros
fugirão, e o exercito d'Ifrael os perfe-
guio. Benadad Rei de Syria também
fugio a Cavallo com os cavalleiros que
o acompanhavão.
21 E o Rei d'Ifrael tendo fahido
de Samaria matou os cavallos, deftruio
as carroças , e ferio a Syria com hum
grande cftrago.
22 Então veio ter hum Profeta coni^
o Rei d'Ifrael, e lhe diíTe: Vai, forti-
fica-te, evê bem o que tens para fazer:
porque o Rei de Syria virá o anno fe-
£:uinte a dar-tc batalha,
^ Os
Liv. m. Ca?. XX. 179
23 Os fervos do Rti de Syria po-
tém lhe diíTerão : Os feus Deofes sao
Deofes desmontes, e por líTo elles nos
vencerão. He melhor que pelejemos com
clles em campo rafo ^ e vedcel-los-he-
mos.
24 Eis-aqui pois o que tu deves fa-
zer : Aparta do teu exercito todos os
Reis, e poe em feu lugar os teus pri-
meiros Officiaes.
25- Reftabelece as tuas tropas , met-
tendo nellas tanto de foldados , quan-
tos os que delias forâo mortos : tanto
de cavallos ^ quantos erão os do teu
exercito : e tanto dc carroças , quantas
erão as que tinhas antes: e nós peleja*
remos contra elles em campo rafo j e
tu verás que os desbaratamos. Crep el-
le no confelho que lhe tinhao dado , e
aílim o fez.
26 Hum anno depois fez Benadad Anno
revifta dos Syros , e veio a Afec para ào M;
combater contra Ifrael. anr°dc
27 Fizerão também os filhos d'If-j^Cj^j^
rael revifta das fuas tropas ; e tendo-fe s^oo^
provido de viveres , marchárão contr^
M ii os
i8o Réis.
os Syros , e fe acamparão defronte dei-
les. Elles não parecião fenão dous pe-*
quenos rebanhos de cabras , ao mef-
mo tempo que os Syros cobriao toda a
terra.
28 Então veio ter com o Rei d'If*
rael hum homem de Deos , e lhe dilTe :
Eis-aqui o que diz o Senhor : Porque
os Syros diílerão: O Senhor he o Deos
dos montes , mas não o hc dos valles :
eu te entregarei nas mãos toda efta gran-
de multidão 5 e tu faberás que çu he
que fou o Senhor.
29 Efti verão os dous exércitos or-
denados em batalha fete dias: e ao fe-
timo dia fc deo a batalha : e os filhos d'
Ifrael matarão n'um dia cem mil homens
de pé dos Syros.
30 Os que efcapárão , fugirão para
a Cidade d' Afec : e cahio o muro fo-
bre vinte e fete mil homens , que tinhão
reftado. E Benadad fugindo entrou na
Cidade , e retirou-fe ao lugar mais fe-
creto d'huma camará.
31 Então lhe diíTerao os feus fer-
ros : Nos temos ouvido dizer que os
Reis
Liv. IIL Cap. XX. i8i
Reis da cafa d'Ifrael são clementes:
{b) ponhamos poisfaccos fobre osnof-
fos rins, (r) e cordas á roda das nolTas
cabeças , e vamos bufcar o Rei d'If-
rael ; talvez que elle nos dê a vida.
32 Pelo que elles fepuzerão faccos
fobre os rins , e cordas á roda das ca-
beças: e vierão ter com o Rei d'lfrael,
e lhe diíTcrão : O teu fervo Benadad tc
manda fazer efta fúpplica : Concede-me
ávida. Elle lhe refpondeo : Se elle ain-
da vive, elle he meu irmão.
33 Daqui tirarão os Syros humbortl
prefagio : e tomando logo efta palavra
da fua boca , lhe dilferao: Teu irmão
Bc-
Pcnhamcs pois faccos fobre os iiojjbs rins,
Sacco ncftc lugar, como noutros muitos da Efcri-
lura , fignifica hum veílido groíTeiro , e lúgubre,
próprio dos que vão íupplicar a algucm , que te-
nha dellcs mifericordia. Pereira.
( c ) E cordas d roda das nojfas cabeças. Náo
fci porque razáo , dizendo a Vulgata láo expreíTa-
mente e^^ funiculos in c<ifnibus nofiris , traduzirão
ranto Saci , como De Carricrcs , des ccrdes a tiotre
COu. Porque ainda que as cordas ao pefcoço con-
venháo bem aos rcos , com tudo afhrmando aqui
aEícritura que os Syros as pozeráo á rcda das Tuas
cabeças , náo he traduélor fiel o que por cabeças
ycnc o pcfcoço. Principaloicntç quando até aHifr
l2^ Reis,
Benadad. Eelle lhesrefpppdeo: Ide, e
trazei-mo. Veio pois Benndad aprefen-
tar-fe a Acab , e efcc o fez montar fo-
bré á fua carroça.
34 E Benadad lhe diffe: Eu te en-
tregarei as Cidades , que meu pai to-
mou a teu pai . e faze para ti praças
públicas em Damaíco , como meu pai
as tinha feito para 11 em Samaria : e
quando nós tivermos feito efta alliança ,
eu mê retirarei. Acab pois fez ella ai-
Jiança , e o deixou ir.
35r Então hum dos filhos dos Pro-
fetas dilTe da parte do Senhor a hum
dos feus companheiros : Dá em mim.
E como elle lhe não quizcíTe dar, pro-
feguio , dizendo :
36 Porque tu não quizefte ouvir a
voz do Senhor , fabe que em te apar-
tando de mim te matará hum leão. E
tendo-fe elle apartado hum pouco del-
le, hum leão o achou, e o matou.
Ten-
tõría profana rsos fubminiílra outros exemplos c!c
cabeças coroadns com cordas , corr-o fe pódc ver
cm Heródoto Livro I., Cap. CXCÍX. , e em Ef-»
irabâo Livfo XVI. , pag. 1081. da Edição dc We(*
Liv. III. Cap. XX. 185
37 Tendo encontrado outro ho-
mem , lhe diiTe : Dá em mim. Deo o
homem nelle, e o ferio.
38 Ao fahir dalli pois o Profeta en-
controu o Rei que hia de caminho ; e
para efle o não conhecer, cobrio de pó
o feu rofto , e os feus olhos.
39 E tendo paíTado o Rei , gritou
após elle, e lhe difle : O teu fervo fa-
hio a pelejar com os inimigos de per-
to : e como fugilTe hum delles , outro
mo trouxe, e mediíFe: Guarda-me bem
efte homem ; e fe elle fe efcapulir , a
tua vida ficará refponfavel pela dellc,
ou tu pagarás hum talento de prata.
40 E quando eu todo turbado an-
dava ás voltas d'huma parte para a ou-
tra 5 eis-que de repente defappareceo
efte homem. E o Rei d'lfrael lhe diíTe :
Tu mefmo pronunciaíle a tua fentença,
41 Logo alimpou elle o pó do feu
rofto , e o Rei dMlrael conhecco que
elle era do numero dos Profetas.
42 E elle lhe diíTe : Eis-aqui o
que diz o Senhor : Porque tu deixafte
eicapar^ das tuas mãos hum homem di-
i?4 Reis.
gno de morte , a tua vida refponderá
pela delle, e o teu Povo pelo feu.
43 O Rei d'lírael porém tornou |
para fua cafa , não fazendo cafo do que
o Profeta lhe tinha diro , e cheio dç
furor entrou em Samana,
CAPITULO XXI.
I^ahoth recuja vender a fua vinha a Acah.
Jezabel faz conãemnar Nabotb a Jer
apedrejada. Elias faz terriveis amea^
ças a Acab. Efte Principe fe humilha ,
e defuia de fima de fi os males de qus
ejlai^a ameaçado,
4lnno \ 1 A Epois deftes fucceíTõs yio-fe
doM. naquelle mefmo tempo outro^,
^^^^^^^Naboth de Jezrael tinha em Jezrael
Íg. "niefmo huma vinha ao pé dopalaçio d*'
^99* Acab Rei de Samaria.
a {a) E Açab lhe diCe: Dá me a
tua
(4) E Acab lhe di{fe: Dá-we a tua vinha, &Ci
pctts lu^ar iníerc Eího , que o que Samuel diííe-
ra tallando do direito que o Kei d' Ifrael havia de
exercitar íobre os vaíTallo'? : Elie tomará os vcffos
campos , c vinhas . e os melhores olivaes , e os dara
içsjeui fervo i , (i.Rc^. vui. 14.) fe náo devia er\n
Liv. III. Cap. XXL i8f
tua vinha para eu poder fazer huma hor-
ta, viftoeftar ella vizinha derninha ca-
fa : e eu te darei por ella outra vinha
melhor : ou fe ifto te faz mais conta ,
eu ta pagarei a dinheiro pelo preço que
ella vale.
3 Naboth lhe refpondeo \ {h) Deos
me guarde , que eu te dê a herança de
meus pais.
4 Veio poisAcab para fua cafa to-
do agaftado , e encolerizado por caufa
defta palavra , que Nabcth Jezraelit^
lhe diíTera : Eu te não darei a herança
de meus pais. E deitando-íe na fua ca-'
ma , voltou o rofto para a parede , e
não comeo.
E
tender d' hum império legitimo , mas d' hum direi-
to arrogado 5 c ulurpado. Porque d outra forte não
poderia fazer mal a Naboth , para que lhe vendelie
a fua vinha ; mas tirar-lha-hia , ou cUc quizcíTc,
ou não quizeíTe. Pereira.
( ) DcGs me guarde , c^ue cu te dê a herança de
vwus pais, A qual a Lei prohibia alienar para iem-
prc , Levit. XXV. 2:5. Terra non vcndetur in pape-
tuum quia mea eft, Ai\\m Santo Ambrcíio conCde-
ra a reípofta , e acçáo de Naboth por huma pro-
va da fua probidade : e a efte aíTumpto dedicou
hum Livto 3 que intitulou Dq Naboth, Pereiua.
i86 Reis.
5 E J^zabel fua mulher vindô ter
com elle, lhe diíTc : Pois que he ifto?
Donde te vem efta trifteza ? E porque
não comes ?
6 Elie refpondeo: Fallei a Naboth
de Jezrael , e lhe diíTe . Dá-me a tuâ
vinha, e cu ta pagarei a dmheiro; ou
fe aíTim te faz mais conta , dar-te-heí
porella outra melhor. EcUe me refpon-
deo : Eu te não darei a minha vinha.
7 Então lhe diiTe Jezabel fua mu-
lher : Grande authoridade he a tua , e
bem governas tu liVael : Levanta-te,
come , e focega o teu efpinto. Eu te
darei a vinha de Naboth de Jezrael.
8 Logo efcrev^eo elia huma carta
em nome d'Acab , a qual fellou com o
fello do Rei , e enviou aos velhos , e
aos primeiros da Cidade de Naboth,
que habitavão com elle.
9 E o theor da carta era efte : (c)
Publicai hum jejum , e fazei aíFentar
Naboth entre os primeiros do Povo ;
10 e ganhai contra elle dous filhos
(f ) Publicai hum jejum , f^c. Como para vos
íiifpordes a íenienccac hum grande ne^owio , fç-
Liv. IIL Cap. XXL 187
de Baal , que profirão hum falfo tefte-
munho, dizendo: (d) Naboth blosfe-
mou contra Deos , e contra o Rei. E
trazei-o fora da Cidade , e apedrejai-o ,
e morra Naboth.
11 Os velhos 5 e os primeiros da
Cidade de Naboth, que vivião com el-
le , fizerão o que Jezabel lhes havia
mandado , e o que continha a carta ,
que ella lhes enviara.
12 Publicarão hum jejum , efizerao
aflentar Naboth entre os primeiros do
Povo.
13 (^) E tendo feito vir dous ho-
mens filhos do diabo , os fizerao aífen-
tar defronte delle. E cftcs dous como ho-
mens diabólicos derao teftemunho con-
tra Naboth diante da alTcmblea , dizen-
do :
gundo era coftume cnrrc os Hebreos nos cafos ex-
iraordinarios. Pereira.
Çd) Naboth blasfemou contra JDccs ^ e contra Q
Rd. Náo he fò aqui que o verbo bencdkere íc [ õc
na íi^nificaçáo de métledicere , ao uío da lingua lan-
la. O mcrn-.Q lemos em Job, i. 5. e n. Perki-
(^e) E tendo feito vir deus hmcns filhos do dia*
ho , é-c, líto he 5 dous pcíiimos homens. Perh-
i83 Reis.
do: Naboth blasfemou contra Deos, e
contra o Rei. E em confequencia defte
teftemunho , elles o fizerão levar fóra
da Cidade , e o matarão ás pedradas.
14 E mandarão logo dizer a Jeza»
bel: Naboth foi apedrejado, e morreo.
i^y EJezabel tendoouvido que Na-
both fora apedrejado , e morrera , foi
dizer a Acab : Vai , (/) c faze-te fe-
nhor da vinha de Naboth de Jezrael ,
que te mo quiz fazer a vontade , nem
dar-ta pelo que ella valia : porque Na-
both já não vive, mas he morto.
16 Acab tendo ouvido que Naboth
era morto, hia para a vinha de Naboth
de Jezrael para fe apoíTar delia.
17 A efte tempo dirigio o Senhor
a fua palavra a Elias Thesbita , e lhe
diífc :
1 8 Vai encontrar-te com Acab Rei
d*ífrael, que eílá em Samaria: porque
eis-ahi vai elle á vinha de Naboth para
fe fazer fenhor delia.
E
(/) E f izc-te fenhor da vinha de Naho'h,^ Co"
fÇiO d' huma fazenda , que por fer d' hum réo de
lefa migcftade recahio no FifçQ , c te pertence.
Liv. m. Cap. XXI. 189
19 E tu lhe fallarás neltes termos:
Eis-aqui o que diz o Senhor : Tu o ma-
tafíe 5 e em fima te fenhoreafte do que
era feu. E depois accrefcentarás : Eis*
aqui o que diz o Senhor: Nefte mefmo
lugar, em que os cães lamberão o fan*
gue de Naboth , (g) lamberáõ elles
também o teu fangue.
20 E Acab diíTe a Elias : Em que
achaftc tu que eu fofle teu inimigo?
Elias lhe refpondeo : Eu o achei cm tu
feres vendido para fazeres o mal aos
olhos do Senhor.
21 Eis-ahi farei eu cahir o mal fo-
bre ti ; eu te arrancarei a ti , e á tua pof-
teridade de fima da terra ; e eu matarei
da cafa d' Acab até o que ourina á pa-
rede 5 e des do primeiro até o ultimo
dMfraeh
22 E eu darei a tua cafa , como a
ca-
(^) Lamberão elles também o teu fatigue. Efte
vaticínio quanto ao lugar nâo fe verificou napefíba
d'Acab , que como adiante veremos no Cap. XXII.
verfo ^S, os cáes lhe lambêráo o fangue na pifci-
na de Samaria : mas verificou-fc á rika na pcíToa
de fcu filho Joráo , cujo fangue lambêráo os cáes
no campo de Naboth. iv.Rcg, ix. 25. Pereira.
ipo Reis,
cafa de Jeroboão filho deNabat, c co-
mo a cafa de Baáfa filho d'Ahia: por-
que as tuas acções me provocarão a ira ,
e porque fizefte peccar a Ifrael.
23 Também dejezabel pronunciou
o Senhor efta fentença : Os cães come-
rão a Jezabel no campo de Jezrael.
24 Se Acab morrer na Cidade, co-
meí-lo-hão os cães : c íe morrer no cam-
po j comeUo-hão as aves do Ceo.
25 Acab pois não teve femelhante
em maldade , como quem fora vendido
para fazer o mal aos olhos do Senhor:
porque Jezabel fua mulher o incitou.
26 E elle fe tornou tão abominá-
vel , que feguia os idolos dos Amor-
rheos, que o Senhor tinha exterminada
á entrada dos filhos d' Ifrael.
27 Acab tendo ouvido eftas pala-
vras, ralgou os feus veftidos, cobrio a
fua carne d' hum cilicio, jejuou, edor-
mio com o facco , e andou de cabeça
baixa.
28 Então dirigio o Senhor a fua pa-
lavra a Elias Thesbita, e lhe diíTe:
Não viíte a Acab humilhada
. dian-
Liv. ITI. Cap. XXI. 191
diante de mim ? (h) Porque elle pois
fe humilhou por minha eaufa , não fa-
rei eu cahir o mal , em quanto elle vi-
ver ; mas em tempo de leu filho falio-
hei cahir fobre a íua cafa.
(/;) Porque elle pois fe humilhou , <ò*c. Quanto
agradará ao Senhor nos feus efcolhidos a iriftcza
da penitencia, que teme perder aDeos, fe até lhe
agradou a penitencia d' hum réprobo , que temia
perder o feculo preíente ! S. Gregorio Hom. X. fo-
bre Ezequiel.
CAPITULO XXII.
j^Cí^b , e Jofciftít fe Ugão contra os Syros,
Os faljos Profetas Acab, predizem a
'vtí\oria, Miqueas lhe prediz a fua mor-
te, Acah morre, Ocozias lhe juccede.
Morre também Jofafat , e fuccede-lh^
Jorão.
I Epoisdiftopafsárao-fe tres an- Anno
JL^ nos fem haver guerra alguma
entre a Syria , e Ifrael. H^Jf
2 Mas ao terceiro anno veiojofafat deJ.C.
Rei de Juda ter com o Rei d'Ilrael. ^^7-
^3 Porque o Rei d' Ifrael tinha já
dito aos feus fervos. : Ignorais vós que
i;)^ Reis.
íi Cidade deRamoth dcGalaad hertof-
fa ? E entretanto nós não curamos de a
recobrar das mãos do Rei da Syria.
4 E o Rei d'Ifrael diíFe a Jofafat:
Quererás tu vir comigo a guerra para
tomar Ramoth de Gilaad?
5* Jofafat refpondeo ao Rei d'If-
rael: 'Va podes difpôr de mim, como
de ti mefmo: o meu Povo, e o teu Po-
vo são hum mefmo : e a minha cavalla-
ria he tua cavallaria. E accrefcentou
fallando com o Rei d'Ifrael: Gonfulta
hoje , te peço , qual he a vontade do
Senhor.
6 O Rei d'Ifrael pois ajuntou os
feus Profetas , que erão perto de qua-
trocentos ) e lhes difle : Devo eu ir á
guerra para tomar Ramoth de Galaad,
ou deixar-me eftar quieto? EUes Ihcre-*
fpondêrão : Vai , e o Senhor entregará
a Cidade nas mãos do Rei.
7 Jofafat lhe diíTe : Não ha aqui
nenhum Profeta do Senhor para nós a
confultarmos por elle ?
8 E o Rei d'lfrael refpondeo a Jo-
fafat : Ficou hum homem ^ por quem
nós
Liv. III. Càp. XXII. 193
nós podemos confultar o Senhor : mas
eu o aborreço 5 porque elle me não pro-
fetiza o bem , mas o mal. Efte he Mi-
queas filho de Jcmla. Jofafat lhe diíTc:
O' Rei , não í^lles aílim.
9 Chamou pois o Rei d'Ifrael hum
eunuco, e IhediíTe: Traze-me aqui de-
preíTa a Miqueas filho de Jcmla.
10 E o Rei d'Ifraelj ejofafat Rei
de Juda eftavão n'uma eira junto á por-
ta de Samaria , aíTentados cada hum no
feu throno, veftidos com huma magni-
ficência real , e todos os Profetas pro^
fetárão diante delles.
1 1 Sedecias filho de Canaana fe ti-
nha também feito huns cornos de ferro,
e difle : Eis-aqui o que diz o Senhor:
Com eftes cornos baterás tu , e agita-
rás a Syria até a deftruires de todo.
12 E todos os Profetas profetaváo
omefmo, e diziao: Vai contra Ramoth
de Galaad , e marcha felizmente ; e o
Senhor a entregará nas mãos do Rei.
13 Aquelle porém , que tinha fido
enviado a chamar Miqueas , lhe difle :
Eis-ahi todos os Profetas , que nas fuas
Tom. VL N re-
194 R E í s,
refpoftas todos a huma voz predizem a
fucceíTo ao Rei : fejão pois as tuas pa-
lavras femelhantes ás delles , e a tua
predicção favorável.
14 Miqueas lhe refpondeo : Viva o
Senhor , que eu nao direi fenão o que
o Senhor me diíTer.
Apprefentou-fe pois Miqueas
diante do Rei 5 e o Rei lhe diffe: Mi-
queas, devemos nós ir á guerra para to-
mar Ramoth de Galaad , ou deixarmos
eftar quedos ? Miqueas lhe refpondeo :
(a) Vai, e marcha felizmente; e o Se-
nhor a entregará nas mãos do Rei.
16 Accrefcentou o Rei: Eu te con-
juro huma , e outra vez em Nome do Se-
nhor 5 que me não falíes fenão a verdade,
17 E Miqueas lhe diíTe : Eu vi todo
o Ifrael difperfa pelos montes , como
ovelhas que nao tem paftor: e o Senhor
difle : Elles não tem Conduftor : torne
cada hum em paz para fua cafa.
Dif-
(^) Fai, e marcha felhmstite i ò'C, Pelo modo
de falhr, e pelo geíto de Miqueas, entcndeo logo
Acab , que o feu dito era irónico : por iíTo o con"
jurou, que lhe diíTeíTe a verdade pura, e clara, Fe-,
Liv. III. Cap. XXII. ipy
18 DiíTe então o Rei d^Ifrael para
Jofafat : Não te diíTe eu, que eíle ho-
mem nunca me profetiza o bem , mas
fempre o mal ?
19 Miqueas porém accrefcentou :
Por ilTo ouve a palavra do Senhor : Eu
vi o Senhor aíTentado fobre o feu thro-
no, e todo o exercito doCeo ao redor
delle á direita , e á efquerda :
20 e o Senhor diíTe : Qtiem enga-
nará aAcab Rei d^IíVael, para que el-
le marche contra Ramoth de Galaad,
c pereça ? E hum diíTe huma coufa^ c
outro outra.
21 Mas o efpirito malino fe adian-
tou ; e apprefentando-fe diante do Se-
nhor, lhe diíTe: Eu ferei o que engane
a Acab. E o Senhor lhe diíle : De que
modo ?
22 E elle refpondco: Eu irei, e eu
ferei hum efpirito mentirofo na boca de
todos es fcus Profetas. E o Senhor lhe
diíFe: Tu o enganarás, e tu prevalece-
rás: {b) fahe, e faze-o aílim.
N ii eis-
( ^ ) Sabe , € faze-o ajftm. Nem fempre o modo
Miiperativo na Eícritura íignifica império , ou ina*í
1^6 Reis.
a 3 Eis-aqui pois agora poz o Se-
nhor hum efpirito de nientira na boca
de todos os teus Profetas , que aqui ef-
tão j e o Senhor pronunciou a tua fen^
tença.
24 Ao mefmo tempo fe chegou Se-
decias filho de Canaana a Miqueas , e
lhe deo huma bofetada na maça do rof-
to , e IhediíTe: Logo a mim largou-me
o Efpirito do Senhor, e fó a ti he que
elle fallou?
25* E Miqueas IhediíTe: Tu o verás
no dia que andares de camará em ca-
mará, para te efconderes.
26 Então difle o Rei d'Ifrael: To-
mai
do de quem quer, ou approva a coufa fignificada.
Muitas vezes pelo modo imperativo íefignifica hu-
ma mera permifsáo da coula, ou huma predicçáo
do futuro. Aflim fucccde aqui , onde pcrmitte Deos
que Acab feja enganado em pena das fuas idola-
trias. Porque, como diz Santo Agoftinho , era juf-
to que Acab , que não tinha crido no Deos verda-
deiro, foíTe enganado pelo falfo. Ou como efcre-
Ve S.Gregorio Papa, merecia Acab , que já que
tantas vezes por querer tinha peccado , foíTe agora
enganado fem querer. Nefte fcntido diíTc também
Deos porifaias, vi. 10. Obféca o coraç^xo dejie Po^
vo , e faze aue as fuas crelhas fe lhe tornm pezít-
daSf e fqha-íhe os olhos. Pereira»
Liv. III. Cap. XXII. 197
fnai â Miqueas , e levai-o a cafa de Amon
Governador da Cidade , e a cafa dejoás
filho d'Ame!cch :
27 e dizei-Ihes : Eis-aqui o que o
Rei ordena : Mettei cfte homem na ca-
deia , e elle fe fuftente do pão da dor ,
e da agua da tribulação , até que eu
volte em paz.
a 8 E Miqueas lhe diíTe : Se tu vol-
tares em paz , não fallou o Senhor por
mim. E continuou : Ouvi , Povos to-
dos.
29 Marcha'rão pois o Rei d^Ifrael,
e Jofafat Rei de Juda contra Ramoth
de Galaad.
30 Entretanto o Rei d'Ifrael dilTe
a Jofafat: Toma as tuas armas, e entra
no combate com os teus veftidos. (c)
Mas o Rei d'Ifrael mudou de trajo,
antes de dar a batalha.
31 Ora o Rei de Syria tinha dado
ef-
(r) Mas o Rei d' Ifrael mudou de trajo , ebr.
Efta prevenção d Acab dá motivo dcdifcorrcr, que
ellc foubcra da ordem , que o Rei da Syria tinha
dado aos Capitães das luas carroças , e que fe re-
fere no feguintc verfo : a qual ordem talvez tinha
ciado Benadad em púbhco aos fcus. Pereira,
Reis.
efta ordem aos trinta e dous Capitães
das fuas carroças : Nao pelejeis contra
efte nem aquelle : mas atacai fomente
o Rei d'Ifrael.
32 Os Capitães das carroças pois
tendo vifto a Jofafat , imaginarão que
clie era o Rei d'irrael ; e tendo cabi-
do fobre elle, o aperta vão. (d) Então
clamou Jofafat :
33 e os Capitães das carroças co-
nhecerão que aquelle não era o Rei
Ifrael , e cefsárão de o atacar.
34 Entretanto aconteceo que hum
homem tendo embebido nofeu arcohu-
ma fetta 5 atirou com ella á ventura, e
a fetta foi dar no Rei d^ífraei, e oatra-
veíTou (e) entre o bofe, e o eftomago,
E
(d) Então clamou 'Jofafat , 'àc. O Segundo
dos Paralipomenos , xviii. nos certifica , que
JoíaFat nelte aperto clamou ao Senhor que o li-
vraíTe , como com effeiro livrou. Clãmavit nd Do-
minum, <ò' auxiliaius ejl ci , atque avenh cos ah il"
lo. PexE(Ríí.
(e) Entre o tofe, ó^c. Neftc lugar alguns ver-
tem doHebreo, entre a ccxa, e a coiraçã. No Li-
vro II. dos Paralipomenos Cap. X\'ílí. , verío ^^<.
as mefmas palavras do Hebrco fe traduzem aílimj
Entre a cerviz^ e as cofias. Pereira.
Liv. III. Cap. XXII. 199
E élle diíTe para o feu cocheiro : Toma
a volta 5 e tira-me do exercito , porque
eftou gravemente ferido.
35' Durou a batalha todo o dia, e
o Rei d' Ifrael ficou na fua carroça com
o rofto voltado para os Syros. Corria-
ihe o fangue fobre toda a carroça da fe-
rida , e el!e morreo de tarde.
36 E antes que fe pozeíTe o Sol,
tocou hum pregoeiro a trombeta por to-
do o exercito, e diíTe: Cada hum vol-
te para a fua Cidade , e para a fua
terra.
37 Morto pois o Rei , fei levado
a Samaria, e alli o enterrarão.
30 Lavarão as fuas carroças , e as
rcdeas na pifcina de Samaria, e os cães
lamberão o feu fangue , conforme a
palavra que o Senhor tinha pronuncia-
do.
39 O refto das acções d' Acab , e
tudo o que elle fez , a cafa de marfim
que fabricou , e todas as Cidades que
fundou , eftão cfcritas no Livro dos An-
nacs dos Reis d' Ifrael.
40 Dormio pois Acab com fcus pais ,
lÔO R E I s\
Anno e reinou em feu lugar Ocozias feu fi-
do M. lho. ^
ant^dc 41 E Jofafat filho d'Afa tinha co-
Chr. meçado a reinar fobre Juda no quarto
anno d'Acab Pvei dMírael.
42 Elie tinha trinta e hum annos,
quando começou a reinar; e reinou vin^
te e finco annos em Jerufalein. Sua mal
chamava-fe Azuba , e era filha de Sa-
lai.
43 Eelle andou em todos os cami^
nhos d'Afa feu pai, efez o que era re-r
Cio j e jufto diante do Senhor.
44 (/) Não deilruio eom tudo os
Altos: porque ainda o Povo facrificava ,
e queimava incenfo nos Altos.
E
(/) Não dejiruio comtodo os Altos* No Segundo
dos Paralipomenos 5 xvii. 6. e xix. ^. fe diz, que
Joíafai deftruio os Altos. Pelo que Grocio , e Cap-
pel fufpeitáo , que nos Paralipomenos ha erro dos
Copiftas. Mas outros conciliáo o Segundo dos Para-
lipomenos com o Terceiro dos Reis , dizendo: que
Jofafat deftruio os AIros, que eráo confagrados aos
Ídolos; mas não dfftniio 03 outros Alros, que eráo
confagrados ao Dcos dosHebreos. Affim Theodore-
XO. Ou náo deftruio Jorafat os Altos nos principio^
do feu reinado : mas ucftruio-os no fim dclle. He
inncgflvel com tudo, que os Alros ainda pcríervcra'
vão em tempo d' Ezequias ^ e de Jofias. Pereira^
Liv. III. Cap. XXII. 201
45- E Jofafat teve paz com o Rei
d'lfrael.
4Ó Ornais das acções de Jofafat,
todos os feus feitos , e todas as fuas
guerras 5 eílao efcritas no Livro dos An-
naes dos Reis de Juda.
47 Extirpou também da terra os
reftos dos eíFeminados , que tinhão fi-
cado do tempo de feu pai Afa.
48 (g) E então não havia Rei conf-
tituido cm Edom.
49 E o Rei Jofafat tinha prepara-
do huma frota para a pôr no mar , a ^^^g'
fim de fe fazer á véla para Offir porcau- ames'
fa do ouro : mas nao poderão lá ir os de J.C*
navios 5 porque fe deílroçárao emAlion-
gaber.
yo (b) Então diíFe Ocozias filho
d'
(g) E então tiao havia Rei co)ijiituido cm Edom.
O Hebreo declara melhor o fentido , dizenrio : E
emão não havia Rei em Edom , mas hum Oficial
pojlo pelo Rei: ifto hc , pelo Rei de Juda, a cjuera
àcs do tempo de David eftava íujeita a Idumea,
Mas morto Jofafat , e em tempo de Joráo fcu fi-
lho, fe rebelláráo os Idumeos , e criárâo Rei pro-
pnO. IV. Rpg. VIU. 20. PeRE RA.
(h) Então dijfe Ocozias filho d Acab a Jofafat ,
énff. No Segundo dos Paralipomcnos , xx. ^6. , pa-
30i Reis.
d'Acab a Jofafat : Deixa ir os meus fer-
vos embarcados com os teus. Mas Jo-
fafat não quiz.
^^"^ 5"! E dormio Jofafat comfeus pais,
^jj^* e foi fepultado com eiles na Cidade de
ant. de David íeu pai : e Jorão feu filho reinou
]. Chr. em feu lugar.
5*2 Ocozias porém filho d'Acab co^
meçou a reinar fobrelfrael em Samaria,
Anno no anno dezefete de Jofafat Rei deju-
^^o^' da : e reinou fobre Ifrael dous annos.
Int de 5" 3 E ^'^^ obrou o mal diante do Se-
lo Chr. nhor, e andou no caminho de feu pai,
i^pB, e de fua mãi , e no caminho de Jero-
boão filho de Nabat , que tinha feito
peccar a Ifrael.
54 Scrvio também a Baal ^ e oado^
rou 5 e irritou o Senhor Dcos d' Ifrael
com todas , e com as meÍLTias coufas ,
- que leu pai tinha feito.
REIS.
íece dizer-fe o contrario. Porque fe refere , que a
frota era d" ambos , como feita de íociedade. Mas
póde-fe tudo concordar fe fuppozermos , que de-
pois por caftigo de Dcos íoráo deftruidos os navios
no porto d'Aíiong?iber , convidara Ocozias parahu-
ma nova fociedade a Jofafat , e que elie ent^o 3.
mo quizera. PeREiRAt
REIS.
LIVRO (QUARTO,
CHAMADO EM HEBRAICO
SEGUNDO LIVRO
MEL A(IU I N S.
CAPITULO!.
Moalf /acode o Jugo d^Ifrael, Oçozias maii-
da confultar a Beelzebií fobre a Jua doen^
ça, Elias lhe prediz que fnorrerã. EJle
Príncipe manda gerite , que lhe prenda
Elias, Morte d^ Ocozias, Succede-lhe
Jorão,
1 l^^pl Epois da morte d'Acab Anna
facudio Moab o jugo d'K-^^X
rael. ant.de
m
2 Siiccedeo também que Ocozias 3. Chr,
tendo cahido pelas grades d' hum quar-^^^'
to alto , que tinha em Samaria , ficou
dahi muito maltratado: e enviou meíTa-
geiros, dizendo-lhes : Ide, {a) conlbl-
rai
(^) Conjultai X BzQhéu^ e^í". Os Setenta, c
ao4 Reis.
tai a Beelzebú , {b) deos d'Accaron,
fe poderei eu convaleícer defta minha
moieítia.
3 Ao mefmo tempo o Anjo do Se-
nhor fallou a Elias de Thesbith , e lhe
dilTe : Vai fahir ao encontro aos meíTa-
geiros do Rei de Samaria, e dize-lhes :
Acafo não haJium Deos em Ifrael para
vós irdes aflim confultar a Beelzebú deos
d' Accaron ?
4 Por iíTo els-aqul o que diz o Se-
nhor : Tu te não levantarás da cama em
que jazes , mas cerriíTimamente morre-
rás. (^) E Elias partio.
j- Voltados que forao os que Oco-
zlas tinha enviado , elle lhes diíTe : Por-
cjue voltaftes vós ?
.0 E elles lhe refpondêrão : Hum
homem nos fahio ao encontro , e nos
dif-
Symmaco dizem : a Baal mofca : Porque Beelzebú
jcra rido pelo deos das mofcas. Peri: ira.
Deos d' u4 cear Ott. Accaron era huma Cida-
de da terra dos Filifthcos. Pkreira.
(c) E Elias par th. Partio a executar a ordem
do Anjo. E porque depois d" intimado por Elias o
recado, voltarão logo os me.Tageiros, deixando o
caminho d' Accaron , por iíTo como admirado lhes
perguntou OcQZiriS : Por^^ue vqU^Jí^s vós \ Pçíiçiba.
Liv. IV. Cap. I. 205:
diíTe: Ide, tornai para o voffo Rei, e
dizei-lhe: Eis-aqui o que diz o Senhor:
Acafo porque não ha hum Deos cm If-
rael he que tu mandas aíHm confultar a
Beelzebú deos d'Accaron? Pois por if-
fo te não levantarás tu da cama em que
jazes , mas certiffimamente morrerás.
7 E o Rei lhes diíTe : Que figura ,
e que habito he o deffe homem , que
fe vos fez encontradiço , e vos dilTe ef-
fas palavras ?
8 E elles lhe refpondêrão: (d) He
hum homem pelludo , e que anda cingi-
do Ibbre os rins com huma cinta de
couro. EíTe he Elias de Thesbith, dif-
fe elle.
9 E logo lhe enviou hum Capitão
de fincoenta homens , e os fincocnta Tol-
dados , que eftavão debaixo do feu man-
do. Foi eíle Capitão a Elias, que cita-
va allentado no cume d' hum monte, e
lhe
(íí) Me hum hotnem peitudo , &c. Pelludo ou
òc cabcUo , e barba , como entendeo S. JeronyTT.o
no Commcntario a Ezecjuiel ; ou pelludo , porque
vcftido pcllo 5 como tem o commum dos íntcr-
ptetes , e como do Evangelho confta que depois
andára S.Joáo Baptifta. Pereira.
2o6 R E I ^.
lhe diíTe: Homem de Deos, o Rei te
manda que venhas cá.
10 E Elias lhe refpondeo : (^) Se
eu fou homem de Deos ^ defça fogo do
Ceo, e te devore a ti com os teus íin-
coenta homens. No mefmo ponto def-
eco fogo do Ceo 5 e devorou o Capitão
com os fincoenta homens , que eftavão
com elle.
lí Enviou Ocozias fegundo Capi-
tão com os fcus fincoenta foldados ^ o
qual dilTc a Elias: Homem de Deos, o
Rei me mandou que te diffeíTe : Vem
cá depreífa.
12 Elias lhe refpondeo: Se eu fou
homem de Deos, defça fogo do Ceo,
e te devore a ti com os teus fincoenta
hom.ens. E logo defceo fogo do Ceo ,
e devorou o Capitão com os fincoenta
homens, que eftavão com elle.
1 3 Enviou Ocozias ainda terceiro
Ca-
(e) Se eu fou homem de Deos , def^^ fogo da
Ceo , <ò-c. Hum caíiigo láo rigorofo , e táo prom-
pio dá fundamento aos Interpretes para julgarem ,
que o chamarem o primeiro , e fegundo Capitão
Homem de Deos a Elias , foi zombando , e mofan-
do deile. Affim Eílio com outtos. Pereira.
Li V. IV. C AP. I. 207
Capitão , e os feus fincoenta homens
com elle. O qual tendo chegado ápre-
fença d'Elias5 fe poz de joelhos, e lhe
fez efta íijpplica : Homem de Deos^
(f) não deíprezes a minha alma , nem
as almas deftes teus fervos , que eflão
comigo.
14 Eis-ahi defceo o fogo do Ceo,
e devorou os dous primeiros Capitães,
e os fincoenta homens ^ que cada hum
commandava : mas agora eu te fuppli-
co que te comipadeças da minha alma.
Ao mefmo tempo fallou o Anjo
do Senhor a Elias , e lhe diíTe : Defce
com elle, e não temas. Elle pois fe le-
vantou 5 e defceo com efte Capitão a
buícar o Rei ,
16 ao qual fallou defta forte : Eis-
aqui o que diz o Senhor: Porque tu en-
viafte meflageiros , que confultaíTem a
Beelzebú dcos d'Accaron , como fe não
hou-
(/) Não dcfprezes a minha ahm^ ^ c, O He-
breo tem: Seja precioja aos teus olhos a mwha
wa , é'C. O que vai o mefmo que dizer ao noíTb
modo: Salva me a vida, e falva também as defles
teus fervos , como com efíeito vertem ncíle lugaí
Saci, c De Carrieres. Pereira,
ío8 R E í s.
houvclTe hum Deos em Ifrael , que tu
podeíTes confultar; tu te não levantarás
da cama em que jazes , mas certiífima-
mente morrerás.
17 Morreo pois Ocozias, conforme
a palavra que o Senhor tinha dito por
Ehas : e emfeu lugar reinou (á") Jo^^ão
feu irmão, (^h) no fegundo anno dejo-
rão
(j?) Jeu innao. Nem o Hebreo , nem o
Caldeo , nem o Arábico exprimem aqui a qualida-
de à' irmão. Mas exprimem-na com a Vulgata ó
Syriaco , e a m.aior parte dos Códices dos Setenta.
Pereira,
( ) No fegundo anno de Jorão f!ho de 'Jofafat ,
fbc. Adiante no Cap. III. verfo i. fe diz, que Jo-
ráo filho d' Acab começara a reinar em lírael no
anno decimo oitavo de Jofafat Rei dc Juda : c nó
Cap. VIII. verfo 16. , que Joráo filho de Jofafac
tomara poíTe do reino no anno quinto de Jorao Rei
íí' Ifrael. Como fe diz logo aqui , que joráo filho
d' Acab começou a reinar cm lugar d' Ocozias feii
irmáo no anno fegundo de Jorao filho de Jofafatl
Para foltarem efta difíiculdade , fuppõe Uffer com
outros Chronólogos , que Jofafat Rei de Juda de-
clarou por duas vezes em fua vida participante do
império a feu filho chamado também Joráo. Que
<la primeira aíTociaçáo ao império fe deve enten-
der o que fe diz no prefente verfo , que Joráo fii-
Iho d Acab começou a reinar no fegundo anno dc
Joráo filho de Jofãfât , o qual fegundo anno do
Liv. IV. Gap. 20^
tão filho de Jofafat Rei de Juda : por-
que OcDzias não tinha filho.
i8 O rcfto das acções d'Ocozias
cftá efcrito no Livro dos Annaes dos
Reis d'lfrael.
Tom. VI. O CA-
ího era o decimo oitavo do pai. Que da fegundâ
âííociaçáo ao império fc deve ciítendcr o que fc
diz no Cap. VIIÍ. verfo i6. , que Jorão filho dc
Jofafat começara a reinar no quinto anno de Joráo
filho d'Acab. De forte que nefta hypothefe come-
çou Joráo filho dc Jofafat a teinar pela primeira
vez hum anno antes que Joráo filho d' Acab : e
começou aquelle a reinar pela fégunda vez , quan-
do eftc eftava no feu quinto anno. A quem porém
náo agradar cfta foluçáo, pôde julgar comGrocio,
e Cappcl , que por defcuido dos Copiftas ha aqui
ctro dos números. PsKsiRAé
2ie
Reis.
C A P I T U L O IL
Arrebatamento cP Elias. EJle Profeta pro-^,
mette a Elifeo , que lhe communicará a
feu efpirito , e lhe deixa a fua capai
Elifeo fepara as aguas do Jordão , e
torna fadtas as aguas de Jericó, Qua-
renta e dous meninos são devorados por
dous Urfos por terem Jeito zombaria
dejie Profeta.
I Uando o Senhor quiz arreba-
tar Elias (^) aa Ceo por hum
remoinho, fuccedeo que Ehas y
e Elifeo vinhâo de Galgala.
2 E Elias diíTe a Elifeo: Deixa-te
ficar aqui, porque o Senhor me mandou
a Bethel. {b) Elifeo lhe refpondeo;
Viva o Senhor , e viva a minha ahna ,
que eu te não hei de deixar. Forao pois
àmbos para Bethel.
" 3 ( c ) Sahírão os filhos dos Profetas
que
(4) Ao Ceo ^ <ò*c, Ifto he, ao ar, Persira.
' (^b) Elifeo lhe refpondeo ^ Como quem pos
divina revelação fabia o que o Senhor eflava para
difpot d' Elias. Pereira. >
(c) Os filhos dos Profetas y Por filhpi
Liv. IV. Cap. IL 211
que eftavão em Bethel , a receber a Eli-
feo, e Ihediírerão: Acafo fabes tu que
o Senhor te hade levar hoje teu amo?
E Ehfeo lhes refpondeo : Eu também
o fei : calai-vos.
4 Tornou a dizer Elias a Ellfeo:
Deixa-te ficar aqui , porque o Senhor
me mandou a Jericó. E reípondeo-lhe
Elifeo: Viva o Senhor, e viva a minha
alma 5 que eu te não hei de deixar. De-
pois que elles chegarão a Jericó,
5' vierao os filhos dos Profetas, que
eftavão em Jericó, dÍ7cr a Elifeo: Aca-
fo fabes tu que o Senhor te hade levar
hoje teu amo ? E elle lhes refpondeo:
Eu também o fei : calai-vos.
6 Terceira vez diíFe Elias a Elifeo:
Deixa-te ficar aqui , porque o Senhor
me mandou ao Jordão. E Elifeo lhe re-
fpondeo: Viva o Senhor, e viva a mi-
nha alma , que eu te não hei de deixar.
Forão pois ambos juntos :
7 e fincoenta dos filhos dos Profe-
tas os feguírãoj osquaes parárão longe
O ii del-
dos Profetas fe entendem aqui os Teus Difcipuloií
Pereira,
21Z R E I
delles, ficando bem defronte: eosdous
fe pozerão á borda do Jordão.
8 Então tomou Elias a fua capa ; c
depois de a dobrar , ferio as aguas, as
quaes fe dividirão para as duas bandas^
e elles pafsárao ambos a pé enxuto.
9 E depois deterem paíTado, diíTe
Elias a Elifeo : Pede-me o que quize-
res para eu to alcançar , antes que me
arrebatem de ti. E Elifeo lhe refpon-
deo : Peço (d) que feja dobrado em
mim o teu efpirito.
Elias
(i) Que feja dobrado em mim o teu efpirito. Ef-
te he o lentido que Santo Ambrofio com oucros
Padres , e Expoíitores conceberão neftas palavras
da Efcritura : Obfecra , ut fixt in me duplex fpiritus
tuus : Peço , que feja dobrado em mim o teu
efpirito. O que conforme Caetano , Vatablo , e
Grocio foi o mefmo que dizer Elifeo : Peço ,
qm tenha eu duas partes do teu efpirito a faber :
pelo direito de primogénito leu. E ifto com allu-
são ao que mandou a Lei de Moyfcs , que os fi-
lhos mais velhos tiveíTem duas partes na herança.
Dabit ei deiis qu£ habuerit, cuncla duplicia. (Deur.
;kxi. íy. ) Contorme o mcfmo Santo Ambrofio fo4
pedir Elifeo , q^e tiveíTe elle dobrado efpirito ,
do que tinha Elias, ifto he , maior cópia de dons,
e graças. Elifaei haec prima laus efi , ut patrem vo
luerit gratia fupçrare.
Liv. IV. Cap. II. 213
10 Elias lhe diíTe : Difficultofa cou-
fa pedifte . todavia fe tu me vires , quan-
do me arrebatarem de ti , terás o que
pedifte : mas fe me nao vires j não o
terás.
1 1 Quando elles contlnuavao o feu
caminho , e caminhavao converfando,
(e) eis-qiie hum carro de fogo, e huns
cavallos de fogo os fcparárão de repen-
te hum do outro, (f) e Elias fubio ao
Ceo por meio d' hum remoinho.
E
Todavia outros com Santo Thomaz expõem
aílim as palavras cl'Elireo: Obfccro te, ut fiat inme
duplex fpiritus tuus : Rogo-ie que feja em mim o
teu dobrado efpirito : iíto he , o teu efpirito de pro-
fecia , e o de milagres. E eíh he a interpretação
que no prcfente lugar dcráo Saci , c Dc Carrieres ,
cjuando verterão : Âogo-te que o teu dobrado efpirito
rcpoufe [obre mim. Calmet reputa a primeira expo-
ílção por mais literal no fentido em que a tomarão
Gaetano, \'atablo , e Grocio. Psreuja.
(e) Ei -aqui hum cirro de fogo , e huns cavallos
de fogo , é-c. Ifto he, huma bnlhsnte nuvem for-
mada á femelhança dc carro, e de cavallos. Du-
HAMEL.
(/) E Elias fubio ao Ceo por vieio d' hum remoi'
nho. Involvido num remoinho foi Elias arrebata-
do ao ar , e depois trasladado , como fe crê , ao
Paraifo terreal , onde vivo efpcra os últimos tem-
pos do mundo , nos <]uaes virá com Enoch prégai
114 Reis.
12 EElifeo o via, e clamava: Meu
pai, meu pai, (g) Carro d' líraél , e
feu Conduftor. Depois difto elle o não
vio mais. E tomando os ftus vcftidos,
(/; ) os rafgou em dous.
13 Levantou do chão a capa que
Elias lhe tinha deixado cahir : e tendo
voltado para a borda do Jordão, parou
alli.
E
contra o Anti-chrifto. Mas fendo qúc a vinda d*
Elias 5 e d' Enoch antes do Juizo univerfal , tem
por íi a conftante tradição de todos os Padres da
Igreja , como de Santo H ppolyto , de S. Joáo Chry-
foíiomo, de S Jcronymo , de Santo Agoftinho; e
confeguintemente fe deve ter por cena , e indubi-
tável : o terem fido com tudo aquelles dous Profe-
tas depofitados no Paraifo terreal, náo paíía d hu-
ma conjeélura d" alguns delles : de forte que Santo
Agoftinho no Livro II. Do Peccado original, Cap.
XXIII., e com elle Theodoreto nas Queftòes fo-
brc o Geneíis, cenfurão d' atrevidos os que defini-
tivamente o aííirmao. Pereira.
(^) Carro d' Ifrael , e Jcu Conduãor. Sobenten-
de-fe por appotiçáo, que eras o Carro d'íírael, e
o feu Conduciilor: iflo he , que eras a íorça , e a
defensão d'ífrael: porque nas carroças, e nos ca-
vaUos panháo então os Reis a fua força principal.
Por líTb o Hebrea diz : Carro d' Jjrael , e fua ca*
vallaria. Pereira.
(/;) Os rafgou em dous. Em íinal da fua dor,
FÇKEIRA.
Liv. IV. Cap. IL 2i5r
-^14 E pegando na capa , que Elias
lhes tinha deixado cahir, ferio com el-
Ia as aguas , e ellas fe náo dividirão.
Então diíTe Elifeo : (i) Onde eftá ainda
agora o Deos d' Ehas ? E ferindo as
aguas, ellas fe dividirão d^huma, e d'
outra parte 5 e EHfeo paíTou.
15 O que vendo os filhos dos Pro-
fetas 5 que eftavão em Jericó bem de-
fronte, diíTerão: O efpirito d' Elias re-
poufou fobre Elifeo. E vindo fahir-lhe
ao encontro , fe proftrárão a feus pés
com hum profundo refpeito, e lhe dif-
ferão :
16 Sabe que entre os teus fervos
ha fincoenta homens fortes , que podem
ir em bufca de teu amo: porque talvez
que o Efpirito do Senhor o levaíTe , e
atiraíTe com elle para algum monte , ou
para algum valle. Elifeo lhes refpon-
deo: Nao os mandeis.
17 Porém elles o conftrangerão a
con-
CO Otide eftâ ainda agora o Deos d' Elias ^. Ifto
diíTe Elifeo , náo porque julgaíTe a Deo; aufente,
mas porque o queria prefenrc para o bcneiicio. Non
uod putavit abfentem , fid quia praefentiam ejuf in
mfiçiis requiràat, Sakto Ambrósio.
Reis.
condefcender , e a dizer : Pois man-
dai-os. Mandarão elles pois fincoentá
homens , que tendo-o bufcado tres dias ,
o não acharão.
18 Voltárão elles para Elifeo, que
cftava em Jericó, eelle lhes dilTe : Não
vos diíTe eu: Não os mandeis?
19 DiíTerão também aElifeo os ha-
bitantes defta Cidade : Senhor, a ha-
bitação delia Cidade he muito cómmo-
da 5 como tu mefmo vês ; mas as fuas
aguas são pellimas , e a terra efteril.
20 E Elifeo lhes refpondeo : (k)
Trazei-me hum vafo novo, e deitai-lhe
fal dentro. Como lho tiveÍTem trazido ,
2, 1 fahio elle á fonte ; e tendo dei-
tado o fal na agua , diíTe : Eis-aqui o
que diz o Senhor : Eu farei eftas aguas ,
e ellas não caufaráo mais nem morte,
pem efterilidade.
Tor.
( ^) Trazci-me hum vdfo novo , e dehai-lhe fã!
dentro. Mandou Eliíto vir hum vafo novo , para
que ninguém fufpeiraíTc que a virtude vinha do va-
fo : e lançou o fal na agua , para que os habitan-
tes j vendo as aguas tornadas dóceis , e goftofas 5
não attribuiíícm iílo a alguma coufa natural. Cai.-í
Liv. IV. Cap. II. Í17
12 Tornárâo-fc pois fádias eftas
aguas 5 como ainda hoje o são , conforme
a palavra que então diíTe Elifeo.
23 Dalli veio Elifeo para Bethel.
E quando elle hia pelo caminho , (/)
huns meninos pequenos, quetinhão fa-
hido da Cidade , zombavão delle , di-
zendo: {m) Sobe, calvo: fóbe, calvo,
24 Elifeo virando-fe paraelles, («)
os amaldiçoou em Nome do Senhor.
{o) Ao mefmo tempo fahírão dousUr-
íbs do bofque; e lançando-fe fobre efta
tro-
(/) Huns meninos pfpenos , é^c, S. Chryfofto-
rno difcorre , que clles não teriáo menos de dez
annos : idade baítante para conhecerem que Eliíeo
era hum Profeta , e hum Miniftro do Senhor, c
como tal digno de todo o refpeito. Pereira.
( m ) Sobe , calvo , eb'f. Chamaváo-lhe calvo ou
porque o era por defeito da natureza , ou porque
como Monge traria a cabeça rapada. Em todas as
Nações porém , e em todos os tempos íe teve por
injúria chamar aos homens calvos. Pereira.
(m) Os amaldiçoou em Nome do Senhor. IíIq
hc 5 invocado o Nome do Senhor para vingar na-
quclles meninos o defprezo , e vilipendio do Sa^
grado Miniíterio. Pereira.
(o) y^o mefmo tempo fahirâo dons Vrfos do Bof-
que , ó^c. Os Padres eníináo , que por meio dos
Urfos quiz Deos caftigar nos filhos a má creaçáo
que lhes tinhâo dado os pais. Pejieira.
ai8 Reis.
tropa de meninos , fizerão pedaços qua-
renta e dous.
25- Depois foi Elifeo para o mon-
te Carmelo , donde voltou para Sarna*
ria.
CAPITULO III.
O Rei de Mo ah recufa pagar o tributo
ao Rei IfraeL Marcha efte Frincipe
contra elle com o Rei de Juda ^ e o Rei
d"^ Edom. Elifeo livra o feu exercito dê
morrer de Jede, Os Moahitas são ven-
cidos,
I IVT O decimo anno deJofafatRei
de Juda reinou Jorão filho d*
Acab fobre Ifrael em Samaria: e o feu
reinado durou doze annos.
2 E elle obrou o mal diante do Se-
nhor 5 mas não tanto como feu pai , e
fua mãi : porque elle tirou as eftatuas
de Baal , que feu pai tinha mandado fa-
zer.
3 Perfeverou todavia fempre nos
peccados de Jeroboao filho de Nabar,
que fez peccar a Ifrael ^ e fe não apar-
tou delles.
Ora
Lir. IV. Cap. ITI. 2 1^
4 Ora Méfa Rei de Moab fuften-
tava grandes rebanhos , e pagava ao
Rei d'irrael cem mil cordeiros, e cem
mil carneiros com os feus vellos.
5: Porém depois da morte d'Acab
quebrou o ajufte que tinha feito com o
Rei d'Ifrael.
6 Por ilTo o Rei Jorão fahio então
de Samaria , fez revifta de todas as tro-
pas d' Ifrael ,
7 e mandou dizer a Jofafat Rei de
Juda : O Rei de Moab fe fublevou con-
tra mim : Vem tu comigo a atacarmo-
lo em batalha. Jofafat Jhe refpondeo:
Eu irei comtigo : o que he meu he teu :
o meu Povo he teu Povo ; e os meus
cavallos são teus cavallos.
8 E accrefcentou : Porque caminho
iremos nós ? E Jorão lhe refpondeo : Pe-
lo deferto da Idumen.
9 Marcharão pois com as fuas gen- Anno
tes o Rei d' Ifrael , e o Rei de Juda ,
(^) e o Rei d'Edom: e andárao ás vol-
^ ^ ' anc. de
tas j.chr.
Cgr
(a) E O Rei d Edom. Ifto he , o Rei da Idu-
mea , como tributário que era do mcímo Jofafat.
aio
Reis.
tas pelo caminho fete dias, e não havia
agua para o exercito , nem para as bef-
tas que o feguião.
10 Então diíTe o Rei d'Ifrael: Ai,
ai , ai ! O Senhor nos ajuntou aqui a tres
Reis , para nos entregar nas mãos dc
Moab.
11 A ifto perguntou Jofafat : Aqui
não ha nenhum Profeta do Senhor para
implorarmos por elle a mifericordia do
Senhor ? E hum dos fervos do Rei d'
Ifrael refpondeo : Aqui eítá Elifeo filho
de SaíFat , que dava agua ás mãos a
Elias.
12 E diíTe Jofafat : A palavra do
Senhor eítá neile. Então forão bufcar
Ehfeo o Rei d' Ifrael , e Jofafat Rei
de Juda, e o Rei d' Edom.
13 E Ehfeo diíTe ao Rei d' Ifrael:
Que correlação ha entre mim, eti? Vai
ter com os Profetas de teu pai , e de
tua mãi. E o Rei d'Ifrael lhe diíTe : Por-
que ajuntou o Senhor eites tres Reis
para os entregar nas mãos de Moab ?
14 E Elifeo lhe refpondeo: Viva o
Senhor dos Exércitos , em cuja prefen-
LiV. IV. Cap. III. 221
Ça eftou 5 que fe não foíTe por refpeitar
a peíToa de Jofafat Rei dejuda, eu te
não attenderia , nem poria em ti os olhos.
15" Mas agora (b) mandai-me cá
hum harpifta. E quando eíte homem
cantava ao fom da harpa , foi a mão do
Senhor fobre Elifeo, e elle diíTe:
16 Eis-aqui o que diz o Senhor:
Fazei varias poças (c) pela madre def-
ta torrente abaixo.
17 Porque eis-aqui o que diz o Se-
nhor: Vós não vereis vento, nem chu-
va : e ainda allim a madre delia torren-
te fe encherá d' agua : e bebereis vós,
e os voíTos fervos , e as voíTas bcftas.
1 8 E ifto não he ainda fenao huma
pequena parte do que o Senhor quer fii-
zer por vós : porque de mais a mais el-
le entregará Moab nas volTas mãos.
E
(^) Mandahine cd bum harfijld. Hum harpif-
ta, que cantando ao feu inftrumento, faça focegac
o meu erpirito dacommoção, em que opoz avif-
U de Joráo, Pereira.
( f ) Pela madre dcfia torrente abaixo. A torren-
íc eftava fccca : c as poças que Elifeo mandou fa-
zer , era para fc encherem da agua , que Deos ha-
vu de mandar. Peruka.
222 Reis.
19 E vós deftruireis todas as Cida-
des fortes , todas as praças as mais im-
portantes : e cortareis pelo pé todas as
arvores frutiferas : e entupireis todas
as fontes : e cobrireis de pedras todos
os campos os mais férteis.
20 Pela manhã á hora que fecoftu-
ma offerecer facrificio , eis-que de re-
pente defcêrão as aguas pelo caminho
d' Edom, e a terra foi cheia d' agua.
21 Os Moabitas porém tendo fabi-
do, que erao vindos eíles Reis para os
atacar, ajuntarão todos os que pegavaa
em armas, e vicrão efperallos nas fuas
fronteiras.
22 E tendo-fe levantado ao romper
da manhã , quando os raios do Sol já
brilhavao fobre as aguas , (d) ellas lhes
parecêrão vermelhas como fangue , c
elles diíTerão entre fi :
23 A efpada he que derramou tan-
to fangue : Os Reis pelejarão hum con-
tra
(í/) Elias lhes parecerão vermelhas como fangue^
Ou porque Deos as fez parecer vermelhas náo o
fendo ellas ou por fer defta mefma cor a terra
por onde corriáo , ou porque feridas obliquamente
pelos raios do Sol parcciáo aílim. Galmet.
LiV. IV. Cap. IIT. 22 j
tra o outro 5 e de parte a parte íe ma-
tarão: Marcha, ó Moab , á tua preza.
24 Vierão elles pois ao campo d'
Ifrael. Mas os Ifraelitas fahindo de re-
pente, baterão os Moabitas, os quaes
fugirão á fua vifta. Forão os vencedores
em íeu alcance ; cortarão , e matárãa
neiles ;
^$ deílruírão as fuas Cidades ; en-
cherão todos os campos os mais férteis
de pedras , que cada hum veio lançar
nelles; entupirão todas as fontes; dei-
tarão abaixo todas as arvores frutífe-
ras, (^) e não deixarão em pé fenão os
muros feitos de barro. A Cidade foi
também cercada pelos que atiravao com
funda ; e huma grande parte dos feus
muros abatida com as pedras , que fe
lançarão por máquinas.
26 O Rei de Moab vendo que não
po-
' (e) E não deixarão m pé fenâo os mftr os feitos
(íe barro. O Hebrco diz aqui : j^té nao deixarem
pedra febre pedra, fenão na Cidade chamada Xir-ha^
refethy iíto he, Muro dc ladrilhos, como também
a chamou 1 faias , xvi. 7, E era a que por oatro
nome fc chamava Ar , ou Aréopok , Capital dos
ai4 R E I
podia refiílir aos inimigos , tomou com-
íigo fetecentos homens de guerra , que
forçaíTem os quartéis do Rei d' Edom:
mas elles o não poderão confeguir.
27 Então pegando emfeu filho pri-»
mogenito , que havia de reinar depois
delle , o oíFereceo em holocaufto fobre
o muro. O que tendo vifto os Ifraeli-
tas , tiverão horror d'huma acção tão
barbara : e tendo-fe retirado logo das
terras de Moab , voltarão para o feu
paiz.
CAPITULO IV.
Elifeo multiplica o azeite d^huma pohre
'Viuva, Alcança de Deos hum filho a hu^
ma Sunamites : refujcita4he ejle meni"
no. Adoça a amargura d? algumas her-
das, farta a cem pejjoas com alguns
pães.
I "tp Ntão huma mulher , que o era
jQ/d^hum dos Profetas , veio gri-
tando a Elifeo, e lhe diíTe: Teu ferva
meu marido morreo : e tu fabes que teu
ferro era temente ao Senhor : e agora
eis-
Liv. IV. Cap. IV. 125^
eis vem o credor levar-me os meuá
dous filhos, (a) para ferem feus efcra-
vos.
2 Elifeo lhe diíTe : Que queres que
éu te faça? Dize-me , que tens tu em
tua cafa ? E ella refpondeo : Tua ferva
não tem em fua cafa fenão hum pouco
d' azeite (b) para me ungir.
3 DiíTe-lhe Elifeo: Vai, pede em-
preftados ás tuas vizinhas hum bom nu-
mero de vafos defpejados :
4 e depois que tiveres voltado pa-
ra cafa , fecha a porta fobre ti , e la
dentro com teus filhos vai deitando def-
Tom. VL P fe
(^) Para ferem feus cf cravos, "Níâo fe achi en-
tre os Hebreos Lei cxprelTa , que déíTe aos credo-
res ella faculdade. Maè do preíente lugar, e dou-
tro d'iraias, l. 1. fe colhe, que aílim era do cof-
tume. Calmet.
(^) Para me ungir* O ungir o corpo com
azeite era entáo enrre os Hebreos , e mais Orien-
taes , e foi depois entre os Romanos bum regalo
ordinário. Moyfés , Deut. xxviii. 40. , e Miqueas ,
VI. 15. ameaçaváo os Judeos , como hum grande
mal , que viria tempo que náo teriáo azeite comi
que fe ungir. E Plinio cfcrevia dos feus Romanos
no Livro XIII. , CapA.P^oluptas ejus a noftrís quo-
(jwi inter laudatijfvua , atque etiam honejliffima fita^
pQna admijfa ejt, Calmet.
226 Reis.
fe azeite que tens em todos efles va-
fos : e quando elles eítiyerem cheios,
tirallos-has.
$ Foi pois a mulher , e fechou a
porta fobre li , e fobre feus filhos : os
filhos lhe chegavão osvafos, eella hia
lançando dentro o azeite.
6 Cheios que forão todos osvafos^
diíTe ella a hum de feus filhos: Chega-
mecá ainda algum cutrovafo. Eelle lhe
refpondeo : Não o tenho. E o azeite
parou.
7 Foi aquella mulher dar conta de
tudo ao homem de Deos , o qual lhe
dilTe: Vai, vende eíTe azeite, e paga
dahi ao teu crédor : e tu , e teus filhos
vivei do que ficou.
8 Aconteceo também , que Elifeo
hum diapaíTava porSunám; ehuma Do-
na grave teve mão nelle para o obrigar
a comer : e elle que palTava frequente-
mente por alli , hia poufar em fua cafa
para lá tomar a fua refeição.
9 Então diíFe eíla mulher a fcu ma-
rido : Tenho obfervado que efte ho-
mem y que paífa tantas vezes por nofl!a
ca-
Liv. IV. Cap. IV. aif
cafa , he hum homem de Deos , e hum
fanto.
10 Mandemos-lhe pois fazer hum
pequeno quarto , e ponhamos nelle hu-
ma cama , huma meza y huma cadeira ,
e hum candieiro, para que quando nos
vier ver fe accommode alli.
1 1 Hum dia pois tendo vindo Eli-
feo^ foi alojar-fenaquelle quarto, edef-
cançou nelle.
12 Depois diíTe a Giezi feu cria-
do: Chama efta Sunamites; (^) e ten-
do-a Giezi chamado, e eílando ella cm
pé diante delle ,
13 diíTe elle ao feu criado : Dize-
Ihe da minha parte : Tu nos tens trata-
do com todo o defvelo : Que queres tu
que eu te faça ? Acafo tens algum ne-
gocio? E queres que falle ao Rei, ou
ao General dos feus exércitos ? Ella
P ii lhe
(c) Tmdo-a Giezi chamado, &c. O PaJre Dc
Carricres que feguindo a Saci traduzio o prefenic
período , como eu o puz no Corpo , adverte na
Nota , que elle fe podia verter , e diípòr de outra
forte por efte modo : GÍ€zi a fez vir , e ella çjlava
diante da porta. Ora Elifeo tinha dito ao Jeu criíh
dQ\ Dize-lhs da minha parte, &ç» Pekiira,
228 Reis.
lhe refpondeo : (^) Eu vivo aqui cm
paz no meio do meu Povo.
14 DiíTe Elifeo a Giezi: Que quer
ella pois que eu faça afeufavor.^ E Gie-
zi lhe refpondeo : He efcufado pefgun-
tar-lho ; porque ella não tem filhos , e
feu marido he já velho.
15" Mandou pois Elifeo a Giezi,
que chamaíTe efta mulher : e vmda que
ella foi 5 e fe pozelíe diante da porta ,
16 Elifeo lhe diífe: Dentro d' hum
anno nefte mefmo tempo , e nefta mef-
ma hora fe Deos te conferva com vida
terás tu hum filho no teu ventre. E ella
Iherefpondeo : Não , meu Senhor ; não,
homem de Deos; não enganes, te pe-
ço, a tua efcrava.
Anno 17 A mulher porém concebeo , e
^^^^^•pario hum filho na mefmo tempo , e á
antes' mefma hora que Elifeo lhe diílera.
deJ.C. 18 Grefceo o menino ; E tendo ido
SP4. hum
■ ( íí ) Eu vivo aqui em paz no meio do meu Povo:
Foi o mefmo que dizer: Como cu vivo be^- com
todos 5 e ninguém me inquieta , não neceííito de
quem me apadrinhe diante do Rei , OU diante dos
fcus Miniítros. Pereira,
Liv. IV. Caf. IV. 229
hum dia bufcar a feu pai , que eftava
com os feifciros, lhe diíTe:
19 Doe-me a cabeça, doe-me a ca-
beça. DiíTe o pai a hum dos feus fer-
vos: Toma eíle menino, e leva-o afua
mãi.
20 Pegou o fervo no menino , e o
levou a fua mai : e tendo-o ella pofto fo-
bre os feus joelhos até o meio dia, mor-
reo.
21 Subio a mãi ao quarto onde fe
hofpedava o homem de Deos , e poz o
menino em lima da fua cama : e tendo
fechado a porta , veio ter com feu ma-
rido, e lhe diíTe :
22 Manda comigo, te peço, hum
dos teus fervos , e eu m.ontada na bur-
ra irei correndo até o homem de Deos,
e voltarei.
23 O marido lhe dilTe : Porque vás
tu ter comelle? (e) Hoje não sao Ca-
lendas , nem Sabbado. Ella lhe refpon-
deo: Eu fempre irei.
E
(e) Hoje tiao são Calendas^ <b'C, Para que m
tc hajas de ;.proveitar das práticas , que elle faz
ao Povo neítcs dias. De Carri eres.
1L$9 Reis.
24 Efez apparelhar a burra, c dif-
fe ao feu fervo : Leva-me a toda a dili-
gencia, e não haja paradas no caminho;
e faze o que te ordeno.
25' Pofta pois a caminho , chegou
onde eftava o homem deDeos, que era
no monte Carmelo. E o homem de
Deos , tendo-a viílo vir para elle , diffe
para o feu criado Giezi : Eis-ahi vem
aquella Sunamites.
26 Vai pois a recebella , e dize-lhe :
Vai tudo bem em tua cafa ? Tu , e teu
marido , e teu filho pafsão bem ? Re^
ípondeo-lhe ella ; Muito bem.
27 E tendo vindo ter com o ho-
mem de Deos ao monte , fe deitou a
feus pés: e Giezi fe chegou para a re-
tirar. Mas o homem de Deos IhediíTe:
Deixa-a , que a fua alma eftá em amar-
gura , e o Senhor mo encobrio y e não
mo deo a conhecer.
28 Então lhe diífe a mulher: Aca-
fo pedi-te eu algum filho , meu Se-
nhor.^ Não te difle eu: Não me enga-
nes.
EElifeo difle a Giezi: Cinge os
teus
Lrv. IV. Cap. IV. 231
teus rins, e toma o meu bordão na mão ,
e parte. (/) Se encontrares alguém ,
não o faudes ; e fe alguém te laudar,
não lhe reípondas : e porás o meu bor-
dão fobre o rofto do menino.
30 Porém a mãi do menino diffe:
Viva o Senhor, e viva a tua alma, que
te não largarei. Partio elle pois , e a le-
guio.
3 1 Entretanto Giezi tinha ido adian-
te , e tinha pofto o bordão d'Elifeo fo-
bre o rofto do menino : (g) mas não
lhe
(/) Se encontrares alguém , não o faudes. Modo
de fallar hyperbolico , e proverbial com que fe de-
nota a preíTa , e a expedição com que fc deve ir.
Nefte íentido diíTe também Chrifto depois aos feus
Apoftolos: Nemiuem per viam falutaveritis. Luc. x.
4. Pereira.
(g) Mas não lhe tinha tornado mm falia, neni
fentimentos. Pergunta-fe : Porque náo quiz Deos
ue cfte menino refufcitaírc ao toque do bordão
'Elifeo? Reípondem huns , que por culpa de Gie-
zi , que talvez fe tinha jaótado de que hia a rc-
fufcitar hum morto. Outros , que por falta de fé
na mulher. Nada diílo foi , dizem muitos Santos
Padres : mas foi que o bordão dTJifco fymboliza-
va a Lei de Moyíés , c a prefença d^Elifco a vin*
da dc Chrifto. E quiz Deos molhar, que para fe
tomar á vida , náo baftaya a Lei , mas era neceíTa-
Reis.
lhe tinha tornado nem falia , nem fen-
timento. Voltou poisGiezi a enconcrar-
fe com feu amo , e diíTe-lhe : O meni-
no não refufcitou.
32 Depois entrou Elifco na cafa ,
e achou o menino morro , deitado em
lima da fua cama.
33 E tendo entrado , encerrou-fe
com o menino, e fez oração ao Senhor.
34 Depois fubio á cama, e dcitou-
fe fobre o menino, epoz a fua boca fo-
bre a boca delle , os feus olhos fobre
os olhos delle, e as fuas mãos fobre as
mãos delle ^ e incurvou-fe fobre o me-
nino. E a carne do menino aqueceo.
35- Depois defceo, e deo duas vol-
tas pela cafa : e tornou a fubir, e a ef-
tender-fe fobre elle : e o menino boce-
jou fete vezes , e abrio os olhos.
36 Depois chamou Elifeo aGiezi,
e lhe diíTe : Faze vir elTa Sunamites:
Yeio ella logo , e entrou na camará. E
Elifeo lhe difle : Toma o teu filho.
Che-
rio para iílo a graça do Salvador. AÍIim Santo
Agoftinho , S. Gregorio Magno , e S. Bernardo,
Pereira,
Liv. IV. Cap. IV. 235
37 Chegou-fe a mulher a elle , e
fe lançou a leus pés , e o adorou fobre
a terra: e tomando feu filho, fe foi.
38 E Elifeo voltou para Galgala.
Ora nefte paiz havia fome : e os filhos
dos Profetas vivião com Elifeo. Diífe
elle pois a huns dos feus criados : Pé-
ga n'uma panella bem grande , e faze
de comer para os filhos dos Profetas.
39 E hum delles tendo fahido fo-
ra a apanhar humas hervas do campo,
achou huma {h) como parra filveftre, c
colheo delia a fua capa cheia de colo-
quintidas bravas. E tendo voltado , as
cortou em pedaços , e as poz a cozer
na panella , porque não fabia o que era.
40 Deíla vianda pois he que poze-
rão na meza aos difcipulos d'Elifeo5 os
quaes o mefmo foi provarem-na , que
gritarem: Homem de Deos, a panella
tem alguma coufa mortífera. E vúo^o-.
dérão comer delia.
41 Então lhes diíTe Elifeo: Trazeis
me huma pouca de farinha. Elles lha
trou-
(/;) Como parra filvejire, He a planta que cha-
máo Ffl da tma. Calmet.
234 Reis.
trouxerâo : e elle a lançou na panella ,
e lhes dilTe: Deitai agora para todos,
para que cada hum coma. E não tor-
nou a haver mais amargor algum na pa-
nella.
42 Veio também hum homem de
Baalfalifa , que trazia ao homem de Deos
huns pães das primícias , vinte pães de
cevada j e trigo novo , no feu alforje.
E Elifeo diffe ao feu criado : Dá-os ao
Povo 5 para que coma.
43 O criado lhe refpondeo : Que
he ifto para eu o pôr diante a cem pef-
foas? RepUcou Elifeo : Dá-os ao Povo,
para que coma : porque eis-aqui o que
gíz o Senhor: Elles comerão, e ainda
ha de fobejar.
44 Elie pois lhos poz diante. Co-
merão os homens , e ainda ficarão fuas
febras , conforme a palavra do Senhor.
CA^
Livro IV. 235:
CAPITULO V.
ÍJàaman he curado de lepra for Elifeo.
Giezi he ferido do mefmo mal por ter
recebido pref entes de Naanian,
I T^/TAaman General do exercito
jl \ do Rei de Syria era hum ho-
mem poderofo, e tido em grande hon-
ra junto ao Rei feu amo : porque por
elle tinha o Senhor falvado a Syria : era
valente , e rico , mas leprofo.
2 Ora huns ladrões havendo fahi-
do da Syria , tinhao levado cativa do
paiz d' Ifrael huma rapariga pequena ,
que depois entrou no ferviço da mulher
de Naaman.
3 Ella rapariga diíTe a fua ama :
Prouvera a Deos que meu Senhor tive-
ra ido bufcar hum Profeta , que eílá em
Samaria : elle fcm dúvida o tivera cu-
rado da fua lepra.
4 Sobre ifto foi Naaman ter com
feu amo 5 e lhe diíTe : Huma rapariga
d' Ifrael diífe ifto, e ifto.
J E o Rei da Svria lhe refpondeo :
Vai,
Reis.
Vai , que eu efcreverei ao Rei d'lfrael.
Partio pois Naaman , levando comfigo
(a) dez talentos de prata, feis mil ef-
cudos d' ouro, e dez veftidos para mu-
dar:
6 e levou ao Rei d' Ifrael a carta
do Rei de Syria , a qual eftava conce-
bida neftes termos : Quando tu tiveres
recebido efta carta , faberás que eu te
enviei Naaman meu fervo para o cura-
res da fua lepra.
7 Tendo o Rei dlfrael lido efta car-
ta , rafgou os feus veftidos , e diíTe:
Acafo fou eu algum Deos para poder
tirar , e dar a vida } Como aílim enviar-
ine hum homem para eu o curar da fua
lepra ? Vós bem vedes que efte Prínci-
pe não anda fenao a bufcar occaliao de
romper comigo.
8 Elifeo homem de Deos , tendo
ouvido que o Rei d' Ifrael rafgára af-
íim os feus veftidos, mandou-lhc dizer:
Por-
(tf) Dez talemos de prata. Qae fazião perto de
fincocnta mil libras de França , c confequentcmen-
te perto de vime mil cruzados da noíTa moeda. Pe-
Liv. IV. Cap. V. 237
Porque rafgafte tu os teus veftidos ? Ve-
nha elTe homem ter comigo , e faiba
que ha hum Profeta em Ifrael.
9 Veio pois Naaman com os feus
cavallos , e os feus coches, e poz-fe á
porta da cafa d'Elifeo.
10 E Elifeo lhe enviou quem lhe
diireífe: Vai lavar-te fete vezes no Jor-
dão, e a tua carne fera curada , e fica-
rá limpa.
1 1 Naaman todo agaftado hia a re-
tirar-fe, dizendo: Eu cuidava que elle
me viria bufcar , e que poíto em pé in-
vocaria o Nome do Senhor feu Deos ;
que tocaria com a fua mão a minha le-
pra j e que ma curaria.
12 Acafo não temos nós em Damaf-
co (h) os rios Abana , e Farfar , que
são melhores do que todos os d' Ifrael
para eu lá me lavar , e ficar limpo?
Quan-
(h) Os rios Ahantí , e Farfar , é c. Segundo
Benjamim de Tudela no fcu Itinerário , o Abana
corre pelo meio da Cidade , e as fuas aguas fcdif-
tribuem por canaes pelas praças , e lugares públi-
cos , e pelas cafas da gente principal. O Farfar cor-
f c pelo pé da Cidade , c rega as hortas , e poma-
ícs vizinhos. Pereira.
238 Reis.
Quando elle pois tinha já voltado orof-
tOj e fe retirava todo enfadado,
13 chegárão-fe a elle os feus fer-
vos , e lhe dilTerao : Pai , quando o Pro-
feta te houveíTe ordenado huma coufa
muito diiíícil 5 deveras tu ainda aíTim fa-
zella : quanto mais lhe deves tu obede-
cer y dizendo-te elle : Vai-te lavar , e
ficarás limpo.
14 Foi elle pois , e lavou-fe fete
vezes no Jordão , conforme o homem
de Deos lhe ordenára : e a fua carne fe
tornou como a carne d'hu[Ti menino mui-
to tenro , e elle fe achou curado.
15' Depois difto voltou para ver a
homem de Deos com toda a fua comi-
tiva , e veio apprefentar-fe diante delle ,
e lhe diíTe: (í*) Eu fci certamente que
náo ha outro Deos em toda a terra , fe-
não o que ha em Ifrael : rogo-te pois
que recebas o que teu fervo te oíFere-
ce.
Mas
(c) Eu fei certamente que, ò*c. Aqui temos a
Naaman convertido da idolatria ao coniiecimcnto ,
e culto do verdadeiro Deos ; mas fem profeííar a
Religião Judaica , porque nem fe círcumcidou , nen%
lecebeo a fua Lei. Pekeiaa»
Liv. IV. Cap. V. 239
16 Mas Elifeo lhe refpondeo : Vi-
va o Senhor, ante cujo acatamento ef-
tou j que eu não receberei nada de ti.
E por mais que Naaman inílou , não
foi pollivel rendello.
17 Naaman pois IhedilTe: Seja co-
mo tu queres : mas eu te peço que
me permitias {d) levar dous machos
carregados da terra deite paiz: porque
o teu fervo não tornará mais a ofierecer
holocauftos 5 ou victimas aos deofes ef-
trangeiros ; mas não facrificará fenão ao
Deos d'Ifrael.
Hu-
( í/ ) Levar dous machos carregados da terra def^
te Paiz. Confiderou Naaman , (]ue o culto do ver-
dadeiro Deos 5 por Lei do mefmo Deos , de tal for-
te eftava alligado ao terreno dlfrael, que nenhuns
facrificios lhe podiáo fer agradáveis , fenáo os que
fe lhe oífereccifem naquellc terreno. E como fc não
achava com refoluçáo de deixar a pátria , os eíla-
dos, e o valimento do feu Rei, julgou que pode-
ria commodamente fcrvir a Deos naSyria, levan-
do para lá alguma porção da terra d lfrael. Com
femelhantc affeòto de devoção , mas não com o
mefmo fim , coftumaváo os Chriftâos levar para
os feus paizes alguma porção de rerra dos Tantos
Lugares de Jerufalcm , como do feu tempo attcf-
láo Santo Agoftinho no Livro XXIL Da Cidade
ie Deos, Cap. VIII., e S. Gregorio dc Tura no
140 Reis*
i8 (e) Huma fó coufa ha , pela
qual
Livro I. Da Gloria dos Martyres^ Cap. VII. Pe-
KEIRA.
(e) Huma fo coufa ha, pela qual eu te fupplico^
^'C, Feito proíelyto da verdadeira Religião , en-
trou Naaman em efcrupulo , fe a acçáo de fe in-
clinar no Templo de Remmon , quando fervilTc dc
Braceiro ao Rei idólatra , teria alguma coufa de
illicira , e peccaminofa , vifto que ao abaixar-fe o
Rei para adorar o ídolo , também elle Naaman fe
devia abaixar , como Braceiro do Rei* Elifeo lhe
refpondeo precifamente : Vai-te em paz. Mas eílc
xnefmo modo de lhe refponder parece que foi daí
por indifíerente , e por licita a acçáo de que falla-
va Naaman. Vai-te em paz, ifto he, diz aquiTof-
tado : Fai feguro nefie particular , que não peccards :
o\i Eu rogarei ao Senhor por ti , para que nao pc^
ques.
Com Toftado fuppõe o commum dos Inter-
pretes, que a acçáo de Naaman fe inclinar no Tem-
plo diante dc Remmon , quando dava o braço ao
Rei , nada tinha de iílicita , ou peccaminofa : por-
que da parte de Naaman era meramente huma ac-
çáo de cortejo civil, terminada náo aoidolo, maá
ao Rei, AHim todos commummente vertem o pre-
fente lugar , como eu o propuz no futuro , con-
forme o traz a Vulgata , fcguindo os Setenta : Quan^
do ingredietur domus meus templwn Remmon , ut
adoret , ilío inmtente fuper manum meam , fi ado^
ravero in templo Remmon , odorante eo in eodem lo^
CO , ut ignojcat mihi Dominus fervo tuo pro hac re,
Ifto he ; Que quando o Kci meu amo entrar
Liv. IV. Cá?. V. 241
qual eu te fupplico que rogues ao Se-
nhor pelo teu fervo : que he , que auan-
Tom. VL 'do
Templo deRemmon para adorar, fcgurando-fe no?
meu braço : Te eu adorar nó Templo de Remmoií
<]uando elle adorar , o Senhor me perdoe.
Pelo menos aííim o traduzem comido Caííio-
doro de la Reina, Saci, Le Gros, Houbigant, c
De Carrieres.
Ainda aííim o grande Calmet não fe podendo
por huma parte accommodar a que a acção d' en-
trar Naaman no Templo de Remmon com o feu
Rei, e a de fe inclinar com elle diante do idolo,
íofíe huma acçáo indiííerentc : c reconhecendo por
outra parte que a rcípofta d" Eiifeo era de quem
cftava pelo que Naaman lhe diíTera , recorreo com
Bocharc a entender do pretérito o qus os outros
vertêráo pelo futuro. Segue pois Calmet , que o
que Naaman pedia que Dcos lhe pcrdoaílc náo era
ohaver-fe elle d' inclinar no Templo deRemmon,
quando pelo ofhcio que tinha déiTe o braço ao Rei
íeu amo : mas fim o ter-fc elle n outro tempo in-
clinado diante de Remmon , adorando-o juntamen-
te com o feu Rei , quando lhe dava o braço: n u-
ma palavra , fegundo Calmet , pede Naaman per-
dão a Deos do que fizera antes da fua conversão,
c náo do que continuaria a fazer depois delia.
Para ifto obfcrva Calmet com Bochart , que
em lugar do que os Setenta , c S. Jeronymo , Au-
thor da Vulgata, pozeráo no futuro fi adoravcro ^
aaz o Hebrco no pretérito <ò' adoravi.
Mas já advertirão o Abbadc de Vçncc , c o'
Padre Houbigant , que na Lingua Santa a conjun-
242 Reis.
do o Rei meu amo entrar (/) noTcm«
pio de Remmon para adorar ^ feguran-
do-fe no meu braço ; (^) íe eu adorar
no Templo de Remmon , quando elle
adorar, o Senhor me perdoe.
19 Elifeo lhe reípondeo : Vai-te
em paz. E Naaman o deixou , e fe
foi. E quando elle tinha já andado
hum
ção et , que precede o verbo , ordinariamente faz
mudar o preícrito em futuro , e o futuro em pre-
tcriro. E que aíKm no génio do Hebreo o mefmo
he dizer et adoravi , que et adorabo : c pelo con-
trario, fegundo o génio do Hebreo, era neceííario
que o Texto diffelTe et adorabo , f e o fcntido de-
veíTe fer et adoravi. Pereira.
(/) No Templo de Remmon , <â^c, He efte o
unico lugar da Efcrirura , em que fc nomea Rem-
mon : nome que como nota Bochart na fua DiíTcr-
taçào , a Tapino , tanto em Hebreo , como em Ará-
bigo íignifica ora a rovtã , ora o que he elevado.
Pelo fignificado de romã fufpeitava Serario , que
efte idolo era Vénus , a qual fe adorava debaixo
da imagem de Deos , e de Deofa , c a ella efpe-
cialmente eráo confagrados os pomos de efpecial
fermofura. Pelo fignificaco de coufa alta fe incli-
na Calmet a ter para íi , que efte idolo era o Soí,
Pereira.
(<?) adorar no Templo de Remmon j &e,
Ifto he 3 fe eu mc inclinar , íc eu mc proftrar, Pé-
Liv. IV. Cap. V. 24^
{h) hutíi efpaço confideravel de cami-
nho,
20 Giczi que fervia ao homem de
Deos, diíTe lá comíigo: Meu amo per-
doou a efte Naaman Syro , e não quiz
receber nada do que elle lhe trouxera.
Viva o Senhor , que eu correrei atrás
delle , e receberei delle alguma coufa.
21 Foi Giezi pois em alcance de
Kaaman : e Naaman vendo-o vir cor-
rendo para elle, faltou logo do coche ^
e veio a recebello , e lhe diífe : Eftá tu-
do bom ?
22 Muito bom , refpondeo Giezí :
meu amo me enviou a dizer-te , que
a eíla hora lhe chegarão do monte d'
Efraim dous moços Profetas , e te pede
que lhe mandes hum talento de prata j
e dous veftidos.
Dif-
( Ã ) Hum efpaço confideravel de cdminho. Expli-
quei-me dcík modo , porque náo concordáo os In-
terpretes no que fixamente íigni fica oHebreo: ver-
tendo huns com Saci, huma légua y outros comCaf-
fiodoro dc la Reina , hUma milha , outros com Cal-
met , o comprimento de terra , que fe fazia lavrac
a huma junta de bois: o que ellc avalia emdu^n-
e (juarenta pés. Pereira,
244 Reis.
23 Difle-lhe Naaman : Melhor he
que eu te dê dous talentos: eobrigou-a
a acceitallos: e tendo mettido os dous
talentos de prata , e os dous veltidos
em dous faccos que atou , carregou com
elles dous dos feus fervos , que os le-
varão diante de Giezi.
24 Chegada a tarde, tomou-os el-
le das fuas mãos , e os guardou em fua
cafa, e defpedio os dous homens, que
logo fe forão.
25- Entrou depois Giezi , e veio
pôr-fe diante de feu amo. EElifeo lhe
diíTe: Donde vens, Giezi? Elie Ihere-
fpondeo : Teu fervo não foi a parte al-
guma.
26 Mas Elifeo lhe replicou : Pois
não te eftava prefente o meu efpirito,
quando aquelle homem defceo do co-
che para te fahir ao encontro ? Tu ago-
ra pois recebefte prata, e veftidos para
comprares olivaes , vinhas , ovelhas ,
bois , fervos , e fervas.
27 ( / ) Mas também a lepra de Naa-
man
C i ) Mas também a lepra de Naaman fe pegará
a tiy &ç. ]ufta pen^ da Simonia real, que Giezi
Liv. IV. Cap. V. 245-
man fe pegará a ti , e a toda a tua ra-
ça para fempre. E Giezi íe apartou de
íeu amo todo coberto d'huma lepra bran-
ca, como neve.
commetreo , vendendo a graça da cura , que feu
amo fizera a Naaman : pena da fua mentira em
matéria tão grave : e pena do feu furto cm levar
O que Elifeo náo quizcra acceitar. Pereira.
CAPITULO VI.
Elifeo faz vir affima agua o ferro cP
hum machado, Defcobre ao Rei cPIfrael
a embojcada , í]ííe lhe queria armar o
Rei de Syria. Efte manda foldados , que
prendão o Profeta, O Rei de Syria ccT'
ca a Samaria , e caufa nella huma fo-
me horrorofa.
I TLXUm dia dilTerão os filhos dos Anno
Xx Profetas a Elifeo : Tu bem '^^J^-
vcs que efte lugar , em que nós mora- ant!^dc
mos comrigo , he muito eftrcito para nós. ]. Chr^
2 Deixa-nos ir até o Jordão , para
que cada hum de nós corte madeira no
bofque , e faça com ella para fi habitação
iTiais ampla. Elifeo lhes refpondeo : Ide.
Reis.
3 E hum dellcs lhe diíTe : Pois vem
tu tnmbem com os teus fervos. Elie lhe
refpondeo : Eu irei.
4 E foi com cIIgs. Chegados elles
ao Jordão, começarão a cortar páos.
• 5* Acontecco porém que tendo hum
delles cortado a arvore , lhe cahio na
agua o ferro do machado. Gritou elle
logo, e diífe : Ai, ai, ai, meu Senhor!
Que eíle mefmo o tinha eu pedido em-
preitado.
6 E o homem de Deos lhe dilTe :
Onde cahio elle ? E elle lhe moftrou o
lugar. Cortou pois Elifeo (a) hum pe-
daço de páo, e o Linçou no mefmo lu-
gar , e o ferro veio aílima , e nadou fo-
bre a agua.
7 E Elifeo lhe diíTe : Tira-o. Ef-
tendeo elle a maO) e o tirou.
Ora
Hum pedalo de pdo. Ncfte madeiro , que
Eliíeo lançou na agua para fazer vir aílima o fer-
ro 5 contempla Terrulliano no Livro contra os Ju-
deos Cap. XIlí. huma figura da Cru2 de Chrifto ,
que pela viítude que diíFundio nas aguas do Baptif-
rno tirou , e fez fubir do profundo do rio , ifto ne ,
do abyfmo do erro , e da maldade , o ferro do ma-
lho, iíio he, os homens indurecidos, e eítupido^
- pela culpa. Pekeiua,
Liv. IV. Cap. VL 247
8 Ora o Rei deSyria pelejava con-
tra Ifrael ; e tendo confelho com os feus
Officiaes 5 lhes diíTe : He neceíTario que
armemos huma embolcada em tal 5 e
em tal lugar.
9 Mandou pois o homem de Deos
dizer ao Rei d'Ifrael : Acautelaste , não
paffes por acolá, porque os Syros eftao
para te fazer huma embofcada.
10 Em confequencia defte avifo,
mandou o Rei d' Ifrael ao lugar , que o
homem de Deos lhe diíTera, e tomou-o
d'ante-mão: e aflim fe guardou mais d'
huma, e de duas vezes.
1 1 Turbou-fe com efte accidente o
coração do Rei deSyria; e tendo ajun-
tado os feus fervos, lhes diíTe : Porque
me nao defcubris vós quem he o que
me faz traição junto ao Rei d' Ifrael?
12 E hum dos feus fervos lhe re-
fpondeo : Ifto não he , que alguém te
faça traição, ó Rei meu Senhor : mas
he que o Profeta Elifeo , que eftá em
Ifrael, defcobre ao Rei d'lírael tudo o
que tu dizes no teu gabinete.
13 E elle lhes dilfe : Ide , e vede
24§ Reis,
onde elle eftá para eu o mandar pren-
der. Vierão-lhe elles declarar , dizen-
do : Elifeo eftá em Dothan.
Amo 14 Mandou logo o Rei de Syria
-^16* cavailaria , coches , e as fuas melhores
ant. de ^^opas : e tendo ^lles chegado de noi-
J. Chr. te, cercarão a Cidade.
Porém tendo-fe levantado ao
amanhecer o criado do homem de Deos ,
fahio fora : e como viíTe o exercito tor-
neando a Cidade , a cavailaria , e os
coches, veio dar parte diflb afeuamo,
e lhe diíTe : Ai , ai , ai , meu Senhor !
Qiie havemos de fazer?
1 6 Mas Elifeo lhe refpondco : Nâo
temas : porque mais são os que eftão
comnofco , do que os que eftão com el-
les.
17 Aomefmo tempo, fazendo ora-
ção, diíTe Elifeo: Senhor, abre-lhe os
olhos , para que elle veja. Abrio o Se-
nhor os olhos a efte criado , e eis-que
vê Omonte cheio decavallos, e de car-
roças de fogo, que eftavão ao redor d*
Elifeo.
18 Entretanto defcêrao os inimigos
a
Liv. IV. Cap. VI. 249
a elle : e Elifeo fez a fua oração ao Se-
nhor, e lhe diíTe: Peço-te que firas ef-
ta gente de cegueira. E no mefmo pon-
to os ferio o Senhor de cegueira ^ con-
forme a palavra d' Elifeo.
19 Então lhes diíTe Elifeo : {b) Ef-
te não he o caminho , nem efta he a
Cidade: fegui-mc , e eu vos moílrarei
o homem , que vós bufcais. Elle pois
os levou a Samaria.
20 E tanto que elles entrarão em
Samaria , diífe Elifeo : Senhor , abre-lhes
os olhos 5 para que elles vejâo. Abrio-
Ihes o Senhor os olhos , e elles virão
que eftavão no meio de Samaria.
21 E o Rei d'Ifrael tendo-os vif-r-
to 5 diíFe a Ehfeo: Meu pai^ matallos^
hei?
22 Elifeo lhe refpondeo: Não, tu
os não matarás : porque tu os não to-
mafte com a tua efpada , nem com o
teu
(/;) Efle não he o caminho , nem ejfa he a Ci-
dade. Achando-le Elifeo, como devemos íuppor,
fóra de Samaria, náoconrinháo cilas fuas palavras ,
fcnáo a pura verdade. Aflim he efcufado recorrer,
a que pelo direito da guerra era licito a Eliíeo ciX"
ganar os inimigos. Pereira,
25'0 R K I S.
-teu arco para teres direito de os matar í
mas manda-Ihes pôr diante pão , e agua ,
para que comão ^ e bebão , e tornem
para feu amo.
23 O Rei d'Ifrael pois lhes man-
dou dar grande quantidade d'aIimentos.
E depois que comerão, e beberão, os
defpedio, eelles voltárão para feu amo.
E não tornarão mais os Syros a vir rou-
bar as terras d' Ifrael.
Anno 24 Algum tempo depois ajuntou
^jj^* Benadad Rei deSyria todas asfuas tro-
am, de pas 5 e veio íitiar Samaria.
J. G. 25' E foi em extremo grande a fo-
me, que a Cidade padeceo: em termos
que continuando fempre o affédio , foi
vendida a cabeça de hum burro (c) por
oitenta moedas de prata, (^) e a quar-
ta parte d' hu n cabo (e) d' efterco de
pombas , por finco moedas de prata.
E
(c) Por oitentí moedas de prata. Que importa-
yão oitenta libras de França , ifto he , da nofla
moeda doze mil e oitocentos reis. Pereira.
Çd) E a quarta parte d' hum cabo. Que era a
quarta parte d huma canada, e mais hum dedo cu-
bico. Calmet.
(e) J)' efierço de pombas, Bochart na fua grai^^
Liv. IV. Cap. VI. 25-1
26 E paíTando o Rei d'Ifrael ao
longo do muro , gritou huma mulher,
e lhe diíTe : Salva-me 5 ó Rei meu Se-
nhor.
27 E o Rei lhe refpondeo: O Se-
nhor te não falva : Donde tirarei eu com
que te poíTa falvar ? Da eira , ou do la-
gar? E accrefcentou o Rei : Que he o
que tu queres ? E ella lhe refpondeo :
28 Huma mulher me diíTe : Dá-me
o teu filho para o comermos hoje : E o
meu filho comello-hemos á manhã ,
^9 (/) cozemos pois o meu filho,
e
de obra Dos Animies da Sagrada Efcritura he de
parecer que por ejierco de pombas íe náo deve en-
tender aqui o lixo deftas aves j mas íim huma her»
va , que tinha efte mcímo nome entre os Hebreos ,
e a que os Árabes chamáo Cali , que he abftergcn-
tc , e deterfiva : o que Calmet julga fcr a folda de
cujas cinzas fc faz o vidro. A commum opinião
comtudo o entende do próprio efterco dss pom-?
bas , que naquelle aperto íe comprava tão caro ,
ou para comer , ou para falgar , ou para eftercai
terras. Pereira.
(/) Cozemos pois o meu filho. He a quanto po-
de chegar a raiva , e o furor da negra fome , que
por iíTo o Poeta lhe deo os epitheios de má confe-
íheira ^ dc torpe , e d obfcena. He comtudo certo
que náo foi efta a ultima ycz que os Hebrcos fc
Reis.
€ o comemos. Ao outro dia lhe diíTe
eu : Dá-me o teu filho para o comer-
mos. Mas ella efcondeo o feu filho.
30 O Rei tendo ifto ouvido , raf-
gou os feus veftidos , e hia paliando
pelo muro : e todo o Povo vio o cili-
cio 5 que elle trazia veftido , á raiz das
fuas carnes.
31 E o Rei diíTe : Deos me trate
çom todo o feu rigor fe a cabeça d'Eli-
feo filho de SaíFat lhe ficar hoje fobre
os hombros.
32 Entretanto Elifeo eftava aíTenta-
do em fua caía , e aíTentados com elle
huns velhos. Mandou pois o Rei hum
homem : e antes que efte homem che-
gaíTe, diíTe Elifeo para os velhos: Sa-
beis vós que efte filho d'hum homicida
mandou aqui hum homem para me cor-
tar a cabeça? Tende pois cuidado, que
quando elle chegar y fecheis a porta , e
não
virão conílrangidos pela fome a praticar efte ex-
tremo de deshumanidade , c de fcvicia. O mefmo
fe tornou a ver depois no cerco de Jerufalem poE
Nabuco DonoíTor. Jerem. Thr. n. 20. , e no ou-
tro pelos Romanos^ jofé Liv. VH. Cap. VUh
Liv. VL Cap. vi.
líâo o deixeis entrar, porque eis-ahi fin-
to eu o eftrondo dos pés do Senhor,
que vem apôs elle.
33 Quando Elifeo ainda eftava fal-
lando 5 eis-que appareceo aquelle ho-
mem , que vinha para elle. (g) E elle
lhe diffe : Bem vês a que extrema def-
graça nos leduzio o Senhor : Que mais
poíTo eu efperar do Senhor í
CA-
Çg) B elle IhediJTe, &c. Nãohe claro do Tex-
to 5 quem he eíte elle : fe o homem mandado pe-
lo Rei , fe o mefmo Rei , que veio nas fuas cof-
ias , para impedir a execução do mandado. Munf-
tcr, Pefcador , e Eftio são de parecer que fcja o
mefmo Rei. Outros querem que feja o hcmcm
que o Rei mandou : e aílim o cniendeo Saci. Po-
rém Joíc Hebrco , Theodorero , Nicoláo de Lyra ,
Caietano , c Vatablo querem que feja o mefmo
Rei: é aflim o cmendco Dc Carricres, Pereira,
Reis.
CAPITULO VII.
Elijeo prediz huma grande abundância de
viveres em Samaria, Os Syros fogem ,
^ e deixão todos os feus provimentos. Hum
Oficial do Rei , que não tinha crido na
predicção d' Elijeo ^ he morto ^ pizadoy
e abafado d porta da Cidade,
'Anno I TT^ Elifeo lhe refpondeo : Ouvi a
do M. .1 A palavra do Senhor : Eis-aqui o
am ^de ^ Senhor : A' manhã a efta ho-
J. Chr. ra'^ dar-le-ha hum alqueire de pura fari-
885. nha por hum ficlo á porta de Samaria ;
e por hum íiclo fe darão dous alqueires
de cevada.
2 Hum dos grandes da fua corte ^
a cujo braço eftava o Rei encoftado ,
refpondeo ao homem de Deos : Ainda
quando o Senhor faça chover viveres
do Ceo , poderá acafo fer o que tii
dizes ? Elifeo lhe diíTe : Tu o verás
com os teus olhos , e não comerás da-^
hi.
3 Ora junto á porta efta vão quatro
leprofos y que diíTerâo hum para o ou«
tro:
Liv. IV. Cap. vil 25-5^
tro : Para que eftamos nós aqui , onde
não podemos efperar fenao a morte.
4 Se quizermos entrar neíla Cida-
de 5 morreremos de fome : fe ficarm.os
aqui , nao podemos evitar a morte. Va-
mo-nos pois daqui para o campo dos
Syros 5 e entrcguemo-nos a elles : fe el-
]es íe compadecerem de nos , vivere-
mos: e fe nos quizerem matar, morre-
remos , como nos fuccederia aqui.
5' Partirão pois á tarde para darem
com-figo no campo dos Syros. E tendo
chegado á entrada do campo , não acha-
rão ninguém.
6 Porque o Senhor tinha feito ou-
vir no campo dos Syros hum grande ef-
trondo de carroças , de cavallos , e d'
hum exercito que não tinha cento. E
os Syros diíferao huns para os outros:
Sem dúvida que o Rei d'Ifrael fez vir
em feu foccorro contra nós os Reis dos
Hetheos, e dos Egypcios, e ei-los-ahi
vem íobre nós.
7 Abalarão pois, e fugirão de noi-
te , deixando no campo as fuas tendas ,
os íeus cavallos , e o:i feus burros , e
nãa
2^6 Reis.
não curando fenão de falvar as fuas vi-
das com a fuga.
8 Tendo pois chegado aquelles le-
profos á entrada do campo , enrrárãa
n'uma tenda , onde comerão , e bebe-
rão; e tendo tomado da prata , do ou-
ro, e dos veftidos que acharão , forão-
nos efconder : e tornando outra vez , en-
trarão noutra tenda , e levárão delia da
mefma forte diverfas coufas, queefcon-
dêrão.
9 Então difíerão hum para o outro:
Nós não fazemos bem : porque efte dia
he hum dia de boa nova. Se nós nos
calamos , e não damos avifo antes de
rnanhã , far-nos-hão dahi hum crime.
Vamos pois levar efta noticia á corte
do Rei.
10 Tendo chegado á porta da Ci-
dade 5 contarão , e diíTerão : Nós fomos
ao campo dos Syros , e não achámos lá
nem. hum ló homem , mas fómente os
cavalloSj e os burros prezos, e as fuas
tendas, que ainda eftão fixas.
11 Forão pois os guardas da porta^
ao palácio do Rei , e derão eAa nova.
aos de dentro. Ao
Liv. IV, Cap. VII. 1^7
12 Ao mefmo tempo fe levantou o
tlei , ainda que era noite , e diíTe aos feus
OfKciaes: Vede em que dérão osSyros
contra nós. Como elles fabem que a
fome nos aperta , fahíi ao do feu arraial ,
eeftão efcondidos em alguma parte pe-
los campos^ como dizendo: Elles hão
de fahir da Cidade, e então nós os to-
maremos vivos ^ e entraremos na Cida-
de fem culto.
13 Mas hum dos fervos do Rei lhe
refpondeo : Elie ainda ha finco cavai-
los 5 que são fós os que ficarão daquelle
grande numero que havia em Ifrael , de-
pois de comidos todos os outros : pe-
guemos nelles, c mandemos quem def-
cubra o que vai.
14 Tomárão pois dous cavallos , e
o Rei mandou quem foíTe ao campo
dos Syros , e lhes diíTe : Ide , e ve-
de.
15 Forão elles pois pelo rafto dos
Syros até o Jordão ^ e acharão que to-
dos os caminhos eftavão cheios de vef-
tidos , e de armas , que os Syros tinhão
arrojado com a turbação em que fevião:
Tom. VL R e
1
25*8 Reis.
e voltados os meflageiros , derâo diflb
conta ao Rei.
ló E tendo fahido o Povo , esbu-
lhou o campo dos Syros : e hum alquei-
re de pura farinha foi vendida por hum
ficlo ; e derâo-fe por hum ficlo dous al-
queires de cevada j conforme a palavra
do Senhor.
17 Ora o Rei tinha pofto á porta
aquelle Official , no braço do qual coftu-
mava elle fegurar-fe : e foi tão grande
o concurfo do Povo á entrada da por-
ta , que elle morreo pizado , e abafado ,
conforme lho tinha predico o homem
de Deos , quando o Rei o veio bufçar
a fua cafa.
18 AíCm fe cumprio o que o ho-
mem de Deos tinha predito , quando
dilTe ao Rei : A' manhã a efta mefma
hora darão á porta de Samaria por hum
íiclo dous alqueires de cevada , e hum
alqueire de pura farinha por hum íiclo.
19 E quando aquelle OíEcial tinha
dito ao homem de Deos : Ainda quan-
do o Senhor faça chover viveres do Ceo ,
poderá acafo fer o que tu dizes ? Elle
lhe
Liv. IV. Cap. VÍL 1/9
lhe refpondeo: Tu o verás com os teus
olhos, e não comerás dahi.
20 Como Elifeo lhe tinha predito,
allim lhe fuccedeo : e tendo-o o Povo
pizado aos pés 5 morreo á porta.
CAPITULO VIIL
A Sunamites torna a vir para Ifrael de-
pois dos fete annos da fome. Elifeo vai
a Damafco , e prediz a morte de Bena*
dad ^ e o reinado d^HazaeL Jerão filho
de Jofafat reina em Jtida, Revolta dos
Idumeos. Morte de Jorão, Succede-lhé
Ocozias,
I Ra Elifeo fallou áquella mu-
V^lher, cujo filho elle refufcitá-
ra 5 e lhe diíTe : Vai-te daqui tu , e a
tua família , e fahe do teu paiz a vivef
onde quer que poderes : porque o Se-
nhor chamou a fome, e ella virá fobre
a terra por fete annos.
2 Fez aquella mulher pois o que o
homem de Deos lhe tinha dito : foj-fe
com toda a fua família para fóra do feU
paiz , e morou largo tempo na terra dos
r iliftheoSé
R ii Paf.
2,6o Reis.
Anno 3 Paflados que forao os fete annos ,
do M. voltou eíla mulher do paiz dos Filif-
anr!% theos , e foi ter com o Rei a pedir-lhe
J. Chr. que a reftabeleceíTe na fua cafa , e nas
^^4. fuas fazendas.
4 Fallava então o Rei com Giezi
criado do homem de Deos , e lhe di-
zia: Conca-me todas as maravilhas que
Elifeo tem feito.
5 E quando Giezi eftava referindo
ao Rei 5 como Elifeo tinha refufcitado
hum morto, veio efta mulher, cujo fi-
lho elle tinha refufcitado, aprefentar-fe
ao Rei , conjurando-o que lhe mandaf-
fe reftitair a íua cafa, e as fuas fazen-
das. Então diífe Giezi : O' Rei meuSe-
/ nhor, eis-aqui a tal mulher, e eis-aqui
o filho, que Elifeo refufcitou.
6 E perguntou o Rei poriíTo á mu-
lher, e ella lho contou. Ao mefmo tem-
po o Rei lhe deo hum eunuco , ao qual
diíTe : Faze-lhe reftituir tudo o que he
fcu , e os reditos de todas as fuas fa-
zendas , des do dia que ella fahio do
feu paiz até o prefente.
7 Veio também Elifeo a Damafco
Liv. IV. Cap. Vlll. 261
Si tempo que Banadad Rei de Syria ef-
tava doenre. E os leus lhe diflcrão : O
homem de Deos he chegado aqui.
8 Sobre o que diíle o Rei a Ha-
zael: Toma alguns prelentes, e vai en-
contrar-te com o homem de Deos , e
confulta por tile o Senhor para faber
fe eu poderei efcapar delia doença.
9 Foi Hazael enccntrar-fe com o
homem de Deos, levando comligo qua-
renta cameh)S carregados de prefentes
de tudo o que havia de mais preciofo
em Damafco. E tcndo-fe aprelentado a
Ehfeo 5 lhe diíTe : Teu filho Benadad
Rei de Syria me enviou a ti para faber
fe poderá elle farar da fua doença.
10 E Elifeo lhe reípondeo : (a)
Vai j e dize-lhe : Sararás. Mas o Se-
nhor me moftrou que elle morrerá cer-
tamente.
E
(4) Fai, e dize-lhe: SavArã^, Mas o Senhor
me mojirou , ó-c. Quiz dizer o Profera. Sarai ãs:
ifto he , a doença nâo he mortal: e a ráo Ihcíuc-
ceder outra coufa , elle não morrerá. O Saihor vie
mojii ouy que elle morrerá certamente não da íua doen-
ça , mas d outro accidcnte. Eíle foi O que fc lê
no Ycrío 15. Pereiua.
ióx R E I s,
11 (b) E tendo o homem deDeos
eftado algum tempo com Hazael, ficou
turbado j e a turbação íe lhe vio até no
roílo, e elle chorou.
12 E Hazael lhe diíTe : Porque cho-
ra, meu Senhor? E Elifeo lhe refpon^
deo: (c) Porque fei quantos males vi-
rás tu a fazer aos filhos d'Ifrael. Quei-
rnarás as fuas Cidades fortes; farás paf-
far ao fio da efpada os feus mancebos ;
machoçarás as fuas crianças ; e fenderás
pelo meio o ventre das prenhadas.
13 E Hazael lhe diíTe : Quem fou
cu teu fervo 5 (d) eu que não valho mais
do que hum çao para fazer tão grandes
cou-
(^h) E tendo o homem deDeos efiado algum tem"
fo com Hazael , ^^c. Segundo hábeis Interpretes ,
p Hebreo parece affirmar efte eftado , e efta turba-
ção , náo d' Elifeo , mas d Hazael : como que cftc
íicaíTe fobrefaltado , e confufo com a reípofta dc
Elifeo. Pereira,
( c ) Porque Jci quantos males virás tu a fazer ,
C^T. O compendio deíTes males fe referirá adiante
no G^p.X. , verfo ^2. e t^^. Pereira.
(d) Eu que não valho mais do que hum cao , &€,
Aíiim todos os meus Francezes. Todavia Calfio-
(doro de la Reina conccbeo ouiro fcntido , verten-
do aífim ; Porque ? Es ta fiervo perro , para hazet
gran ccfa í Pereira.
Liv. IV. Cap. VIII. 263
coufas ? Elifeo lhe refpondeo : O Se-
nhor me moítrou que tu fcrás Rei de
Syria.
14 Hazael depois de deixar Elifeo,
voltou para feu amo , o qual lhe diíTe :
Qiie te diíTe Elifeo ? Elie lhe refpon-
deo : DilTe-me que recobrarás a faude.
15' Ao outro dia (e) pegou Hazael
n'um panno que molhou em agua , e o
eftendeo fobre o rofto do Rei : e mor-~
to o Rei , reinou Hazael em feu lu-
gar.
16 No anno quinto de Jorão filho
d'Acab Rei d'Ifrael, (/) e de Jofafat
Rei
(e) Pegou Hazael num panno , éc. Calmet
quer que o termo Hebreo que a Vulgata explicou
cm Latim pelo nome Jtragulum , fignitique propria-
mente hum trãvejjeiro : de forte que Banadad mor-
reíTe fuftocado com ellc , como depois morreo Ti-
bério, c Friderico II. Pereira.
(J)Ede Jofafat Rei de Juda , &c. Os annos
dc jofafat Rei de juda hiáo muito adiantados aos
de Joráo Rei d' Ifracl. Por iíío De Carrieres fup-
pre aqui: E vigefvno quinto de Jofafat Rei de Ju-
da. Outros: E em tempo de Jofafat Rei de Juda.
O mais defcmbaraçado he dizer , que citas pala-
vras , eb' Jojaphat regis Juda , fc introduzirão no
Texto por dcfcuido dos Copiftas. Para o que faz
muito o ver que nem o Interprete Árabe , nem o
Rei?,
Rei de Juda , reinou Juda Jorão fi^
lho de Jofafar.
17 Elie tinha trinta e dous anoos,
quando começou a reinar, e reinou oi-
to annos em Jeru falem.
18 Elie andou pelos caminhos dos
Reis d-Ifrael , como tinha andado a car
fa d'Acab 5 porque fua mulher era filha
d'Acab; e elle obrou mal diante do Se?
nhor. f
19 Mas o Senhor não quiz perder
inteiramente ajuda por caufa de David
feu fervo , conforme a promeíTa que el-
le lhe tinha feito de lhe confervar hu-
nia alampada luzente a elle , e a feus
filho3 em todo o tempo que fe feguiíTe,
Atino 20 Em tempo do leu reinado facur
do dio Edom o jugo dcjuda para lhe não
ant! Je ^^"^^ "^^^^ fujeito ^ e conftituio para fi
J. Chr. hum Rei próprio.
m Porém tendo Jorao vindo a Seir
com todas as fuas carroças , fahio de
noite contra os Idumeos, que o tinhão
cer-
Syrq , nem os Setenta da Versão d' Alcala trazei^
aqui taes palavras , as quaes também faltáo em mvii^
£DS £j{epiplarcs iatings. Peneira.
Liv. IV. Cap. VIII. 2^5-
cercado , e desbaratou-lhes o feu exer-
cito com morte dos que mandavão as
carroças : mas o Povo fugio para as fuas
tendas.
22 (g) Des daquelle tempo pois
le retirou Edom de Juda, não queren-
do mais eftar fujeito aelle, como ainda
hoje o não eftá. Nefte mefmo tempo
(è) fe rebellou também Lobna.
23 O refto das acções de Jorão , e
tudo o que elle fez , íe acha elcrito no
Livro dos Annaes dos Reis de Juda.
24 E Jorão adormeceo com feus
pais, e foi fepultado com elles na Ci-
dade de David : e em feu lugar reinou
feu filho Ocozias.
25' No anno duodécimo de Jorão
filho d' Acab Rei d' Ifracl , fubio ao.
thro-
Çg) Des daquelle tempo pois, ^c. Póde-fe per-
guntar , como fendo desbaratados , e poílos cm fu-
gida por Joráo de Juda os Idumeos , podéráo cllcs
ainda aíJim fuftentar a fua rebellião. Refponde-fe :
que Joráo náo foube aproveitar-fe da vidloria , mas
deo tempo aos Idumeos de fe fortificarem , e da
fe livrarem inteiramente da íua dominação. Pe-
reira.
(/í) Se rehelloa também Lobna. Cidade Sacçr»-.
(?Qtâl ao meio dia de Juda. De Carkieres.
i66 Reis.
Anno throno Ocozias filho de Torâo Rei de
ant. dc 2-6 Elie tinha vinte e dous annos ,
J.Chr. quando começou a reinar , e reinou hum
anno em Jerufaiem : fua mãi chamava-
fe Athalia, (i) c era filha d'Amri Rei
de Ifrael.
27 E elle andou nos ca^minhos da
cafa d' Acab , e obrou o mal diante do
Senhor , como a cafa d'Acab ^ (k) por-
Anno que era genro da cafa d' Acab.
do M. -^g Elle marchou também com Jo-
,am!^dc ^^^^ ^^^^ d' Acab, a pelejar contra Ha-
Ghr, zael Rei de Syria, em Ramoth deGa-
-^^4. laad : e Jorao foi ferido pelos Syros.
29 O qual voltou a Jezrahel para
fe curar da ferida que tinha recebido
em Ramoth , pelejando contra Hazael
Rei
(í) E era filha d Amri Rei Ifrael, Filha fe
toma aqui por neta , como noutras muitas partes
da Efcritura, Porque Athalia era immediata filha
d' Acab , como fe diíTc no verfo 18. Pereira.
(^) Porque era genro da cafa d'Jcab, Coftuma
a Efcritura attribuir aos filhos a qualidade dos pais.
Por i(To chama aqui genro o filho do genro , ifto
hc , genro da cafa d' Acab Ocozias Rei de Juda ,
quando o que tinha fido genro da cafa d' Acab fo-
ra Joráo feu pai pelo roeíaio vetfo 18. PeRsinA^ i
Liv. IV. Cap. VIIL 2 0/
Rei de Syria : e Ocozias filho de Jorão
Rei dejuda veio ajezrahel para ver a Jo-
rão filho d'Acab , porque eftava lá doente.
CAPITULO IX.
yehu he ungido em Rei Ifrael , e rece*
be ordem extinguir a cafa d^ Acab.
Mata a Jorão» Ocozias he morto pe-
los feus, Jezabel he precipitada da Jua
janella,
I T7^ Chamou o Profeta Elifeo hum
wrJ dos filhos dos Profetas , e lhe
diíTe : Cinge os teus rins , e toma na
mão efta redomafinha d'oleo , e vai a
Ramoth de Galaad.
2 E quando lá tiveres chegado , ve-
rás a Jehu filho de Namfi : e chcgan-
do-te a elle , lhe pedirás que faia da
roda de feus irmãos , e que entre para
hum apofento retirado.
3 Depois tomarás efta redomafinha'
d'oleo5 e derramar-lha-has fobre a ca-
beça , dizendo : Eis-aqui o que diz o
Senhor: Eu te ungi Rei d' Ifrael. Lo-
go abrirás a porta , e fugirás , fem la-
te demorar mais hum inftante.
O
aá8 R E I s.
4 O moço pois criado d'Elifeo par-
tio fem demora para Ramoth deGalaad.
$ E entrou no lugar onde os prin-
eipaes OiEciaes do exercito eftavão af-
fentados , e diíTe : O' Príncipe , eu te-
nho que te dar huma palavra. E Jehu
lhe diffe: A qual de nós queres tu fal-
lar? Elie refpondeo: A ti, Principe.
6 Jehu pois fc levantou , e entrou
para hum quarto : e o moço lhe derra-
mou oleo fobre a cabeça , e lhe diíTe:
Eis-aqui o que diz o Senhor Deos d'
lírael: Eu te ungi em Rei fobre Ifrael
Povo do Senhor.
7 Tu extinguirás a cafa d'Acab teu
amo: e eu vingarei affim damao deje-
zabel o fangue dos Profetas meus fer-
voSj e o fangue de todos os fervos do
, Senhor.
8 Eu perderei toda a cafa d'Acab ,
e matarei da cafa d'Acab até o que ou-
rina á parede , e des do primeiro até o
ultimo em Ifrael.
9 E tratarei a cafa d' Acab , como
tf atei a cafa de Jeroboão filho de Na-
M> ç a cafa de Baafa filho d'Ahia.
Liv. IV. Cap. IX. 269
10 Jezabel fera também comida dos
cães no campo de Jezrahel , e não fe
achará ninguém que a enterre. Depois
abrio elle a porta , e fugio.
1 1 Logo entrou Jehu onde eftavao
os Officiaes de feu amo , os quaes lhe
diíTerão: Vai tudo bem? Que he o que
te veio dizer efle louco ? Jehu lhes re-
fpondeo : Vós bem conheceis o ho-
mem 5 e o que elle me poderia di-
zer.
1 2 Replicarão elles : Não he aílim :
mas conta-no-lo antes. Jehu lhes diíTe :
Elle me declarou tal , e tal coufa , e
accrefcentou : Eis-aqui o que diz o Se-
nhor: Eu te ungi em Rei d'lfrael.
1 3 No mefmo ponto fc levantarão
elles , e tomando cada hum a fua capa
as pozerão debaixo dos pés de Jehu, e
fizerão delias huma efpecie de throno,
e tocando a trombeta gritarão , dizen-
do: Jehu he noffo Rci.
14 Jehu pois filho dejofafat, filho
de Namfi, fez huma conjuração contra
Jorão : porque Jorao tendo declarado
guerra a Hazael Rei da Syria , tinha
cer-
270 Reis.
cercado Ramoth de Galaad com todo
o exercito d' Ifrael.
15' E como foíTe ferido pelos Syros ^
quando pelejava contra Hazael Rei de
Syria , tinha ido para Jezrahel para fe
curar das fuas feridas. E diíTe Jehu:
Rogo-vos que deis ordem que ninguém
fuja para fora da Cidade, para que não
vá dar a nova difto a Jezrahel.
16 E elle partio logo , e marchou
contra Jezrahel , onde Jorâo eftava doen-
te: e Ocozias Rei dejuda tinha vindo
alli vilitar a Jorão.
17 A fentinella pois que eftava no
alto da torre de Jezrahel , vio a tropa
de Jehu que vinha , e deo parte , di-
zendo : Eu vejo huma tropa. E diíTe Jo-
râo a hum dos que lhe aíliftião : Toma
hum coche, e manda nelle quem vá re-
conhecellos , e lhes pergunte : Trazei»
paz ?
1 8 Foi o do coche encontrar-fe com
Jehu , e lhe diíTe : O Rei me envia a
íaber de ti fe temos paz. Jehu lhe re-
fpondeo : Que tens tu com a paz : paf-
fa, e fegue-me. Deo a fentinella logo j|
avi-
Liv. IV. Cap. IX. 271
avifo, e diíTe : O meflageiro chegou a
elles, mas elle não volta.
19 Mandou Jorâo fegundo coche:
e o que hia nelle tendo chegado a Je-
hu, lhe diíTe: O Rei me envia a faber
de ti fe ha paz. Que tens tu com a
paz ? refpondeo Jehu : PaíTa , e fegue-
me.
20 Tornou a fcntinella a dar avi-
fo, dizendo: Elie chegou a elles, mas
elle não volta: e ao que parece pelo an-
dar, quem vem he Jehu filho de Nam-
fi^ porque vem precipitadamente.
21 Então dilTe Jorão : Mettão-mc
oscavallos no meu coche. Mettidos que
forão os cavallos , marcharão Jorão Rei
d^lfrael , e Ocozias Rei de Juda , e
forão a cncontrar-fe com Jehu , e o
acharão no campo de Nabot de Jezra-
hel.
22 E Jorão tanto que vio a Jehu,
lhe difle : Temos paz ? Jehu lhe refpon-
deo : Que paz pode haver , quando as
fornicações de tua mãi , e os feus en-
cantamentos reinão ainda em tantas ma-
neiras í
Lq-
Reis.
23 (ã) Logo voltou Jorão as re-'
deas , e deitou a fugir , dizendo para
Ocozias: {b) Eítamos trahidos / Oco-
zias.
24 Ao mefmo tempo armou Jehu o
feu arco, e ferio a Jorão comhuma fré-
cha pelas efpaduas : e a frécha Ihefahio
pelo coração , e elle cahio logo morto
no feu coche.
25' DiíTe então Jehu ao Capitão Ba-
dacer: Pega nelle, e deita-o no campo
de Naboth de Jezrahel : porque eu me
lembro , que quando nós feguiamos a
Acab feu pai, indo ambos n'um mefmo
coche , pronunciou o Senhor etta profe-
cia contra elle , dizendo : Eu juro por
mim mefmo, diz o Senhor,
que
(a) Logo voltou Jorão as rédeas , (ò*c. Ou ellé
mefmo as voltou, ou diíTe ao cocheiro que asvol-
taíTe. Calmet.
Çb) Efiamos trahidos , Ocozias, Eftando o verba
Trahir introduzido na Lingua Portugueza já do
tempo de Duarte Nunes de Leáo , como confta
das íuas Liftas j e depois de Vieira , e Quental te-
rem ufado delle , e cíhr também adoptado do
mefmo Francez o nome Trairão , nenhum reparo
deve caufar , que cu ufaíle do participio Traijído,,
Fe RS IRA.
Liv. ív. Càp. i3c. ±7t
26 que eu derramarei o feu fanguè
heíle mefmo campo pelofangue deísTa-
both ^ que eU vi derramar honrem. Ago-
ra pois péga nelle ^ e deita-o no carrt-
po, em conformidade da palavra do Se-
nhor.
27 Ocozias Rei de Juda vendo if-
tOj fugio pelo caminho da cafa do jar-
dim , e Jehii foi atrás delle ^ e difle :
Matte-fe também efte no feu coche. El-
les pois o ferirão no lítio onde fe fóbe
para Gaver : e tendo fugido para Ma-
geddo, lá morreo.
28 E feus fervos tendo-o pofto fo-
bre o feu coche, olevárão ajerufalemí,
e o fepultárão com feus pais na Cidade
de Davidi
29 No anno undécimo de Jorão fi-
lho d' Acab reinou Ocozias fobre Ju-
da.
30 Ao depois veio Jehu a Jezraelj
e como Jezabel foube da fua chegada ^
(c) pintou os feus olhos com antimo-
Tom. VI. S nio,
(c) Pintou os feus olhos com atttmonio. Aílim á
letra a Vulgata : Pinxh óculos fuos fiihio. Táo anti-
go he nas mulheres o ufo das que cilas chamãa
^74 Reis.
nio, e adornou a fua cabeça, e olhoir
pela janella
3 1 para Jehu , que entrava na Ci-
dade, e lhe diffe: Que paz fepóde cf-
perar, de quem como Zambri matou a
feu amo ?
32 Jehu levantando o rofto para 3
janella, diíTe: Q^iem he efta ? E dous,
ou tres eunucos lhe fizerão huma profun-
da reverencia.
33 Mas Jehu lhes diffe : Precipi-
tai-a dahi abaixo. E elles a precipita-
rão , e a parede ficou falpicada do fcu
fangue , e ella foi pizada das patas dos
cavallos.
34 Depois que Jehu entrou para co-
mer, e beber, diffe elle : Ide ver o que
he feito daquella defgraçada , e fepul-
tai-a , porque he filha de Rei.
35- E tendo ido para a enterrar y
não achárão delia fenão a caveira , os
pés 5 e as extremidades das mãos.
E
Iwas ! E fervia o amimonío não fó para tingir
'àç negro , mas também para dilatar as pálpebras ,
c com ifto fazer os olhos grandes, Plínio Livro
:íCXXIIL Cap. VI. PsRiiRA,
Liv. IV. Cav, IX. 27 f
36 Evierão-no dizer aJehu, o qual
iiic dilTe : Ifto he o que o Senhor tinha
pronunciado por Elias Thesbita feu fer-
vo , quando difle : No carnpo de Jez-
rahel comeráo os cáes a carne de Je-
zabel:
37 e a carne de Jezabel fera no cam-
po dejezrahel, como o efterco fobre a
face da terra , de forte que os que paf-
farem, digão : Efta he aquella Jezabel?
CAPITULO X.
^ehu faz morrer os filhos d^Acab , e oí
irmãos cl^OcoziaSi Extingue os falfos
Profetas de Baal , deftroe o feu Tem*
pio , e queima a Jua ejlatua. Hazael
alcança grandes vantagens fobre Ifraeh
Morte de fehu. Sue cede- lhe Joaccdz,
I TITE defaber, que {a) Acab ti-
JL JL nha fetenta filhos em Sama-
ria: e Jehu efcreveo varias cartas, que
mandou aos principaes de Samaria , aos
S ii An-
(4) Acah tinha fetenta filhos m Samaria. AU
guns expõem , fetenta entre fiJhos , c netos. Mas
téado tido Acstb muius mulheres , ^uc incredibiii|;
27^ Reis.
Anciãos , e aos que criavão os filhos
Acab , nas quaes lhes mandava :
2 Tanto que vós tiverdes recebida
eftas cartas , vós que tendes em voíTo
poder os filhos do voíTo ama, coches ^
cavallos , Cidades fortes , e armas ;
3 efcolhei o mais conlideravel d'en-
tre os filhos do voíTo amo , e aquelle
que mais vos agradar ; (^) e* ponde-a
no throno de feu pai , e pelejai pela ca-
fa de voíTo amo.
4 Com ifto ficarão elles muito ate-
morizados, e diíTerão: Dous Reis nãa
podérão ter-fe contra elle : como pode*
remos nós logo refifilr-lhe ?
$ Pelo que os Meftres do Palacio
do Rei , os principaes OiEciaes da Ci-
dade 5 os Anciãos , e os que criavão os
Príncipes, mandarão dizer ajehu: Nós
fo-
dade ht que tiveíTe deflas fetenta filhos ? Aífim le-
mos que Gedeão tivera fetenta e hum : Abdon qua-
renta: Roboão trinta e oito. CALME-r.
(^b) E ponde-o na throno de feu pau Os Magna-
tes de Samaria logo conhecerão , que o dito de Jehií
era com ironia de quem os ameaçava , fenâo fe-
guiflem o feu partido, coino fe convence do vcrf(»
^, Pekeirí^.
1
Liv. IV. Cap. X. 277
fomos teus ferves : faremos tudo o que
íios ordenares : Nem nós elegeremos
Rei : mas tu faze tudo o que te agra-
dar.
6 Tornou-lhesjehuaefcrever, man-
dando-lhes dizer : Se vós fois meus , e
me quereis obedecer , cortai as cabeças
aos filhos do voíFo Rei , e vinde-mas
trazer á manha a eíta mefma hora a Jez-
rael. Ora os filhos do Rei erão fctén-
ta , e eftes fe eítavSo criando em cafa
dos primeiros Fidalgos da Corte.
7 Depois que elles receberão as car-
tas de Jehu, pegárão nos fetenta filhos
do Rei j e os matárão : e mettêrao as
fuas cabeças n'uns ceftos ^ e as mandá-
rão a Jezrahel.
8 Vierão pois os feus dar efta nova
a Jehu , dizendo-lhe : Elles trouxerão
as cabeças dos filhos do Rei. Ao que
elle refpondeo : Ponde-as cm dous mon-
tes á entrada da porta até á manha pe-
la manhã.
9 E tanto que amanheceo , fahio ; e
pofto em pé, dilTe a todo o Povo : Vós
Íbis joftos : fe eu confpirei contra meu
amo,
£78 Reis.
amo 5 c fe eu o matei , quem he o quQ
matou eítes?
I o Confiderai que não cahio em ter-
ra palavra alguma das que o Senhor ti^
nha proferido contra a cafa d' Acab ; e
que o Senhor cumprio tudo o que ti-^
nha predito pelo feu fervo Elias.
I I Ao depois fez morrer Jehu tudo
o que reftava da cafa d' Acab em Jez-
rahel : todos os Grandes da fua corte ,
os feus amigos , e os feus Sacerdotes,
fem ficar nada de parente , nem d'ad-
herente.
12 Feito ifto ) veio a Samaria ; c
quando elle eftava em caminho perto d*
huma cabana de paftores,
13 achou os irmãos d'Ocozias Rei
de Juda , e lhes diíTe : Quem fois vós ?
Elles lhes refpondcrão : Somos os ir-
mãos d'Ocozias y que viemos aqui a
cumprimentar os filhos do Rei, e os fi-
lhos da Rainha.
14 EJehu diíTe para os feus: Apa^
nhai-os vivos. E como os apanhaíTem
aflim, levárão-nos a huma ciííerna per-
to daquella cabana , e alli os degollá-
r|0 3.
Liv. IV. Cap. X.
rão j fem efcapar nenhum de quarenta e
dous que erao.
15- Partido dalli , achou a Jonadab
filho de Recab , que fe ihe fez encon-
tradiço : e Jehu o faudou , e lhe difle :
Porventura tens tu o coração refto, co-
mo o meu o hc a refpeito do teu ? Te-
nho , lhe rcfpondeo Jonadab. Se aílim
he , continuou Jehu , dá-me a tua mão.
Tendo-lha dado Jonadab , Jehu o fez
fubir ao feu coche , e lhe difle :
16 Vem comigo, e tu verás o meu
zelo pelo Senhor. E tendo-o feito af-
fentar no feu coche ,
17 o levou a Samaria. E matou a
todos os que reftavao da cafa d'Acab,
fem perdoar nem a hum fó , conforme
a fentença que o Senhor tinha pronun-
ciado por Elias.
it^ AoxTiefmo tempo fez Jehu ajun-
tar todo o Povo , e lhe difle : Acab tri-
butou algum culto a Baal ; mas eu lhe
quero tributar mais do que elle.
^ 19 Fazei-me pois vir agora todos
os Profetas de Baal , todos os feus Mi-
niílros , e todos os feus Sacerdotes : não
fal^
iSo Reis,
falte nenhum, que deixe devir: porque
quero fazer hum grande facrificio a Baal :
todo o que faltar, fera punido de mor-
te. Mas ifto em Jehu era artificio , que
hia encaminhado a dar cabo de todos
os adoradores de Baal.
20 E dilTe : Fazei huma Fefta fole-^
mne a Baal. E enviou
21 a chamallos por todos os terrnos
d'Ifrael ; e vierão todos os fervos de Baal :;
não ficou nem hum fó que não viefle^
E entrarão no Templo de Baal : e en-
cheo-fe a cafa de Baal des do prinçi^
pio até o fim.
22 Depois diffe aos que guardavaa
as veftimentas : Tirai veftimentas para,
todos osMiniftros de Baal. Eelles lhas
derão.
23 E Jehu tendo entrado no Tem-
plo deBaal com Jonadab filho de Rec-
cab, diíFe aos adoradores deBaal: Exa-
minai, e vede bem não efteja entre vós
algum dos Miniílros do Senhor ; mas
que eftejão fomente os adoradores de
Baal.
24 Entrarão elles pois para offçre-.
Liv. IV. Cap. X. 28r
cerem as fuas viftimas, e os feus holo-
cauftos. Jehu porém tinha dado ordem
a oitenta homens, que eftiveíTera prom-
ptos fora do Templo, e elle lhes tmha
dito : Se efcapar hum fó homem que
feja de todos os que eu vos entregar ás
mãos , a volTa vida me ferá refponfavel
pela lua.
2^ Eaconteceo que oiFerecido oho-
locaufto , deo Jehu a ordem aos feus fol-
dados , e aos feus Officia^s , e lhes dif-
fe : Entrai , e matai nelles , e não efca-
pe nenhum. Entrarão os OíEciaes com
os foldados, e pafsárão todos ao fio da
efpada , e os lançarão fora: (c) q de-
pois forão á Cidade do Templo de
Baal,
26 e tirarão do Templo a cfta-
tua de Baal , e quebrada a queima-
rão,
Def-
(c ) E depois forão á Cidade do Templo de Baal y
é c, Jíto hc , como explica Manoel de Sá , á Ci-
dade onde eftava o Templo de Baal. O que pa-
fece muito mais provável , do que dizer com CaU
met , á Cidade chamada T emplo de Baal, Ou com
De Carrieres : á Cidade otidç havia outro Tmploi
de Baal Pereira.
ntz Reis.
27 Deftmírão também o Templo de
Baal y c em lugar delle fizerao humas
latrinas, que ainda hoje períittem.
28 Deite modo aboliojehu dlfrael
a Baal.
29 Mas elle nao fe apartou dos pec-
cados de Jeroboao filho deNabat, que
fez peccar a Ifrael ; (d) e não tirou os
novilhos d' ouro , que eftavão em Be-
thei, e em Dan.
30 Diífe pois o Senhor a Jehu : Por-
que tu cumprifte cuidadofamente o que
era jufto , e o que era agradável aos
meus olhos : e executaite contra a cafa
d'Acab tudo o que eu tinha no cora-
ção: teus filhos eftarâo alTentados fobre
o rhrono d' Ifrael (e) até á quarta ge-
raça o.
En-
(íí) E não tirou os novilhos d' ouro , &c. Foi
«fta huma má politica de Jehu confcrvar os novi-
lhos d ouro que Jeroboáo pozera em Bcthel , e em
Dan , por temer que tirado d' Ifrael o fomento da
idolatria , começaíTc o Povo a ir fazer os fcus facri-
ficios a Jerufalcm , c por ultimo fe tornaíTe a in-
corporar no Reino de ]uda. Pereira.
(e) Até a íjuma geração. Com eíFeito depois
dejchu occapáráo o tlirono d lfracl quatra dcfcen-
Liv. IV. Cap. X, 2S3
31 (/) Entretanto Jehu não teve
cuidado d'andar na Lei do Senhor Deos
d'Ifrael, e não fe apartou dos peccados
de Jeroboão , que tinha feito peccar a
Ifrael.
32 Nefte tempo começou o Senhor
a enjoar-fe d'Ifrael : e Hazael fez gran-
des eflragos em todas as fuas frontei-
ras ,
33 des do Jordão para o Oriente,
Deftruírão todo o Povo dc Galaad , de
Gad, de Ruben, e de ManáíTes des de
Aroer , que he fobre a torrente d'Ar^
non, e Galaad, e Bafan.
34 O mais das acções de Jehu , to-
dos osfeus feitos, eofeu valor na guer-
ra, eftão efcritos no Livro dos Annaes
dos Reis d' Ifrael.
35' E adormeceo Jehu com feus pais,
e
dentes feus: Joaccás, ]oás, Jeroboáo II., Zaca-.
rias. Pereira,
(/) Entretanto Jehu nao teve o cuidado , é c^
De que lhe aproveitou pois , que por alguma obe-
diência que teve a Dcos , recebeo Jehu huma pa-
ga traníitoria do Reino temporal? Quid ne profuit^
quod pro nonmdla obedientta aliquantam mercedem
tr^nfitoriam Hgni temporalis accepid S^nt© Agos-
tinho.
284 R K I
€ foi fepultado em Samaria : e cm feu
lugar reinou feu filho Joaccaz.
36 E o tempo que Jehu reinou fo-
bre Ifrael , forão vinte e oito annos.
CAPITULO XL
Athalia faz matar toda a defcendencia
real , e ufurpa a coroa, Joás efcapa
dejla matança , e he depois acclamado
Rei. Athalia he entregue d morte.
i "]\/f As Athalia mai tf Ocozias ,
JlVX vendo morto feu filho, levan-
iou-fe contra todos os Principes da cafa
real, e os fez matar a todos.
2 Porém Jofabá filha doRei Jorão,
i^.a) e irmã d' Ocozias, pegou em Joás
£lho d' Ocozias, e era fua ama^ (^) ^
qual
( 4 ) E Irma, d' Ocozias, Por parte do mefmo
pai , mas náo da mefma mái , como dc Jofé He-
ííreo nota Calmet. E cfta mefma Jofabá era mu-
lher do Pontifice Jojada , corao fe lè no Segundo
dos Paralipomsnos xxii. ii. Onde ella fe nomea
Jofabeth. Pereira.
A quíl ella fez fahir da fud camari,
O Hcbreo tem d' outra forte : Pegou em Joás , e
cm fuci ama , e os fez píffar pira o quarto dos lei-
tos , iíto hc , para o quarto do Palacio em qup cl-
Liv. IV. Cap. XI. iSs-
qual ella fez fahir dafua camará, efur-
tou-o do meio dos filhos do Rei , quan-
do os eftavão matando , e lhe falvou a
vida tendo-o efcondido, fem queAtha-
lia o foubeífe.
3 E elle eftcve feis annos com fua
ama na cafa do Senhor , e Athalia en-
tretanto reinou fobre a terra.
4 No anno fetimo porém enviou Jo- Anno
jada a bufcar os centuriões, e osfolda-^o^.
dos : e mandou-os entrar no Templo, ^'j^^^
e fez com elles hum Tratado , e jura- j. c^r^
mentou-os na cafa do Senhor, moftran- 878.
do-lhes o filho do Rei.
5* Logo lhe deo a feguinte ordem,
dizendo : Eis-aqui o que haveis de fa-
zer.
6 Dividir-vos-heis em tres turmas.
A primeira entrará de femana , (^) e
fará guarda á cafa do Rei : a fegun-
da ficará á porta de Sur: e a terceira á
porta que eftá por detrás do quartel dos
Ef-
la Jofabá dormia , ou para o quarto do Templo,
cm que dormiáo os Sacerdotes. Pereira.
(c) E fará guarda â cafa do M, Ifto he, ao
quarto do Templo, onde o Rei eftá. Pereira.
a86 Rei s.
Efcudeirõs: e fareis a guarda á cafa de
MeíTa.
7 E duas partes de vós , todos os
quefahirem de femana, eftarão de centi*
nella em a cafa do Senhor perto do Rei*
8 E o guardareis , rodeando-o corri
as armas nas mãos. E fe alguém entrar
no recinto do Templo , feja logo mor-
to. E eftareis com o Rei, quando en-
trar, e quando fahir.
9 E executarão os centurioes tudo
o que o Pontífice Jojada lhes havia or-
denado : e tomando todos a fua gente
que entrava de femana , com os que fa-
hião delia , vierão ter com o Pontífice
Jojada ;
10 e efte lhes deo as lanças , e as
armas do Rei David , que cftavão na
cafa do Senhor.
11 Pozerão-fe pois todos com as ar-
mas na mão á roda do Rei , des da ban-
da direita do Templo até á banda ef-
querda do Altar, e do Templo.
12 E Jojada lhes aprefentou o filhcr
do Rei , (d) Q poz a efte fobre a ca-^
be-
(^d) E poza efie fohç a, çabs^a o diadim, ê ^
/
Liv. IV. Cap. XI. 287
beça o diadema , c o Livro da Lei : e
elles o conftituírão Rei , e elle o un-
Livro da Lei, lílo he o que foa a letra do Tex-
to: £c pofuít fuper emn diadema ^ <b* tejiinwniumi
de forte que o Pontifice puzeíTe na cabeça a Joás
náo fó o diadema, que náo era outra coufa mais
do que huma fiita cingida nas fomes , mas tam-
bém o Livro da Lei , itto he , hum exemplar dei-
la , conforme oqueDeos tinha ordenado porMoy-
íés , que fe fizeíle na coroação de iodos os Reií.
Deut. xviT. 18. Porém Saci, c de Carriercs ver-
tem : E lhe poz o diadema fobre a cabeia , e o Li-
vro da Lei na mao : fundados que nelte mefmo
paíTo diz allim o Author do fegundo Livro dos Pa-
fahpomenos, xxni. ii.: Et impofuerunt ei diade^
ina , tejiimoniiim , dcdenmt^ue in manu ejus íc-
netídam Icgem. Ao que refpondo : que concordanda
o Livro dos Paralipomcnos com o dos Reis cm
pôr por accufativo do verbo impono huma, e outra
coufa , o diadema , e o Livro da Lei ; o accrefccn-
tar-fe nos Paralipomenos que ellcs lhe pozeráo na
máo a Lei , he dar-nos a entender que lha poze-
ráo na máo, depois dc lha porem na cabeça , do
modo que tanto ames cfcrcvêra o Santo Job, xxxí.
^5. Quis mihi tribuat^ ut librum fcrihat ipfe qui jur
dicat , ut in humero meo portem illum , circundem
illum quafí coronam mihi í Quem me dera , que
aquelle mefmo que me julga , efcreva hum livro pa-
ra eu o trazer ao meu hombro , e o por á roda da
minha cabeça como coroa l AÚ\m mefpr.o enten-
dco , c expoz Calmct o prefente lugar dos Reis»
PiRElRA.
288 R È I s.
gio; e batendo com as mãos ^ gritarão ^
Viva o Rei.
13 Ouvio Athalia o clamor do Po-
vo que concorria; e entrando por entre
as turbas no Templo do Senhor, ^
14 vio o Rei aíTentado no feu thro-
no fegundo'o coftume , e ao pé delle
os Cantores , e os Trombetas , e todo o
Povo muito alegre, e tocando trombe^
tas. Então rafgou elk os feus veftidos j
e gritou: Traição, traição.
15' Aomefmo tempo deojojada ef-
ta ordem aos centuriões , que comman-
davão as tropas , e lhes diíTe : Levai-a
para fora do Templo ; e todo o que a:
leguir , morra á efpada. Porque tinha
dito o Pontífice : Não a matem dentra
do Templo.
1 6 Os Officiaes pois lhe lançarão as
mãos , e a levarão por força ao caminha
da porta , por onde paíTavão os cavai-
los, junto ao Palacio, e alli foi morta.
17 Jojada aomefmo tempo fez hu-^
ma alliança entre o Senhor , o Rei , e
o Povo, para que elle fofle o Povo dú
Senhor , e entre o Povo ^ e o Rei.
E
Liv. IV^ Gáp. XI.
18 E tendo entrado todo o Povo
!io Templo de Baal , deitárão abaixo
os feus Altares^ fizerao as fuas imagens
em mil pedaços , e matárão a Mathah
Sacerdote de Baal diante do Altar. E
o Pontífice poz guardas na cafa do Se-
nhor.
19 E tomou Gomfigo os centúrioes,
c as legiões d^Cereth, e de Feleth, e
todo o Povo, e conduzirão o Rei fora
da cafa do Senhor, e pafsárão pela por-
ta do quartel dos Efcudciros , por on-
de fe vai para o Palacio ; (^) e o Rei
íe alfentou no throno dos Reis.
20 E todo o Povo da terra fez gran-
de fefta , e a Cidade ficou em paz. Atha-
lia porém tinha fido paífada á efpada
jtia cafa do Rei.
21 E tinha Joás fete annos, quaii*
do começou a reinar.
Tom. VI. T CA-
(e) £ o i?e//e ajjentou no throno dos Reis, Na^
[uelle magnifico throno de marfim , que Salamac
izcra. PsKiiRA.
Reis.
CAPITULO XIL
^ods manda reparar o Templo. Hazael
vem fitiar 'Jeru falem. Morte àe Jods*
Succede-lhe Amafias.
1 O anno fetimo de Jehu co-
meçou a reinar Joás^ e reinou
quarenta annos em Jerufalem. E fua mai
chamava-fe Sebia , e era de Berfabé.
2 E reinou Joás juftamente diante
do Senhor todo o tempo que foi diri-
gido pelo Pontífice Jojada.
3 Elie todavia não tirou os Altos :
porque ainda o Povo lá facrificava y e lá
offerecia incenfo.
Anno 4 (a) Então d iíTe Joás aos Sacer-
doM. dotes : Todo o dinheiro confapradoy
^'47. ^ ciue
antes ^i"'^
de J.Co (a) Então diffe ^oás aos Sacerdotes , é-c. Os
856. que querem que as prerogativas do Pontífice Ro-
mano fe meçáo pelas do Pontífice dos Hebrcos :
era muito para defejar , que também pelos direitos
dos Reis Hcbreos mediíTem os dos Reis Catholi-
cos Romanos : convém a faber, para eílranharem
neftes certas influencias na admrniílraçáo , e applí-
cação dos Bens Ecclefiafticos , que a Efcritura não*'
íeprehende , antes louva em Joás , Ezequias , t.
JoíiaS. PfiRSIRAa
Liv. IV. Cap« XII. 191
que trouxerem ad Tertiplo do Senhor,
{b) ou os que pafsãoj ou os que oof-
terecem a Deos (r) por preço da fua
alma , ou os que de li mefmos fazem;
ao Templo donativos voluntários :
5- os Sacerdotes , cada hum na fua
ordem , tomem elle dinheiro , e fação
com elle os reparos na cafa do Senhor^
quando virem alguma coufa , que necef-
fita de concerto.
6 Mas até oanno vigefimo terceiro
do Rei Joás não tinhão os Sacerdotes
feito reparos alguns no Templo.
7 Fez pois o Rei vir á fua prefen- Anno
T ii ça do M.
^148
(^) Ou os que pafsao, <b'C, Saci fcguindo a Va- 2m, de
tablo , e De Carrieres feguindo a Saci , parafra- j, chr»
zeáo : ou os que paísáo de vinte annos , e que cf- y^^^
íáo obrigados a concorrer cada hum por fi para as
defpezas do Templo , fegundo a Lei de jMoyfcs ,
Exod. XXX. 12. Porém Grocio por cftes que paf-
èâo entende os palTageiros dos Gentios, que mui-
tas vezes vinháo a ]crufalem como de romaria vi-
fitar o Templo , e offereccr neile os feus dons,
como fe colhe da oração que fez Salamáo , quan-
do dedicou o mefmo Templo, ni. Re^. vm. 41»
Pereira.
(f ) Por preço àa fua alma, Iflo he , para fc
temirem depois de fe terem confagrado poralgunq
Voto« D£ Carri sRis,
Reis.
ça o Pontífice Jojada , e os Sacerdotes,'
e lhes diíTe : Porque nao fazeis vós os
reparos do Templo ? Não recebais lo-
go mais o dinheiro, fegundo a ordem
do voíTo minifterio ; mas reílitui o que
tendes recebido , para que elle fe em-
pregue nos reparos do Templo.
8 E ordenou que os Sacerdotes não
recebeíTem mais o dinheiro do Templo,
nem também foíTem encarregados dos
reparos da cafa.
9 Então pegou o Pontifica Jojada
n'um cofre , e fez-lhe abrir hum buraco
por fima, e pollo ao pé do Altar ámão
direita dos que entravão na cafa do Se-
nhor: e os Sacerdotes, que guardavão
as portas, deitavão nelle todo o dinhei-
ro, que íe trazia ao Templo do Senhor.
10 E quando elles viao que havia
muito dinheiro no cofre, vinha oefcri-
vão do Rei com o Pontífice , e tiravâo
para fóra, e contavão o dinheiro, que
íe tinha achado na cafa do Senhor ;
11 e o depofitavão por conta , e por
pezo nas mãos das peíToas , que prefi-
dião aos que trabalhavâo na fábrica do
Tem-
Liv. IV. Cap. XII. 293
Templo: e efte dinheiro fe empregava
nos carpinteiros , e pedreiros , que fa-
zião os reparos da cafíi do Senhor,
12 e nos que cortavão as pedras pa-
ra dahi fe comprar a madeira , e as pe-
dras, que fe haviao de polir; e nadef-
peza de tudo o mais que era neceífario
para os reparos , e concertos da cafa do
Senhor.
13 Não fefaziâo comtudo defte di-
nheiro que fe trazia ao Templo do Se-
nhor, nem as talhas do Templo do Se-
nhor, nem os garfos, nem os thuribii-
los, nem as trombetas , nem coufa al-
guma de vafos d^ouro, ou prata:
14 {d) fenao que fe dava aos que
tinhão a fcu cargo cuidar dos reparos
do Templo do Senhor :
15" e não fe tomava conta delle aos
que o recehiao , para o diílnbuir pelos
trabalhadores : mas ellcs o empregavão
com fidelidade.
16 Não mettião porém no Templo
do
Sey]ão que fe dava, &c. De Carrieres para
maior diífinçáo, e claicza expóe: Até alli dava-
[€ ejte dinheiro. Pereira.
'^94 Reis,
do Senhor o dinheiro pelo delito , e
o dinheiro pelos peccados, porque era
dos Sacerdotes.
'Anno 17 Então veio Hazael Rei de Sy-
ria pôr cerco diante de Geth , e a to-
anr. de j ^ ^^ft^ ^ marchar contra Je-
J. Chr. rufalem.
í^^^t 18 Deo ifto caufa a que Joás Rei
de Juda tomafle todo o dinheiro confa-
grado 5 que Jofafat 5 Jorão 5 e Ocozias
Rei de Juda, feus pais, e elle mefmo
tinhão oíFerecido no Templo, e tudo o
que fe pode achar de dmheiro nos the-
louros do Templo do Senhor, e no Pa-
lacio do Rei ; (^) e o mandou a Ha-
zael Rei de Syria , que com ifto defif-
tio de vir a Jerufalem.
19 O mais das acções de Joás , e
tudo o que elle fez, eltá efcrito no Li-
vro dos Annaes dos Reis de Juda.
Po-
(e) E o mandou a /4zaeí ^ <ò^c. Obrerve-fe, que
Jpás íc apro veita do dinheiro do Templo para remir
íiuma guerra de que fe via ameaçado , fem para
iíTo coaítar que pediííe alguma licença ao Pontífice
Jojada , nem que por iíTo o reprehenda a Efcriturao
Mas que muito he que aííim o fizeíTe Joás , que
ainda que até cerro tempo he louvado pela Efcritur^
Liv. IV. Cap. XII.
20 Porém os fcrvos de Joás (/) fi-
zerão huma confpiração entre íi , e fe
levantarão contra clle , e o matarão na
cafa de Mello na defcida dc Sella.
2 1 Porque Jofacar filho de Semaath ,
e Jozabad filho de Somer, feus fervos,
o matarão : e fendo morto (g) foi fe-
pultado com feus pais na Cidade de Da-
vid ; e em feu lugar reinou Amafias feu
filho.
CA-
de bom Rei , depois degenerou da fua reélidáo pri-
mitiva : fe aílim mefmo lemos que o praticou por
igual motivo Ezequias Rei fantiftimo , e como tal
elogiado nas fagradas Letras, iv. R^g. xviii. 5. e
Bccli. xLvm. 25. Pekeira.
(^) Fizerao hmm cotif pirarão entre fi^ ó c. A
cauía foi , que Joás depois da morte do Pontificc
Jojada fe entregou ao culto dos idolos , e com hu-
ma feia ingratidão mandou matar o Pontifice Za-
jcarias filho do mefmo Jojada (n.Paralip. xxiv. 17,
C25. ) Com eftes peccados fufcitou Joás contra fi
a divina vingança , e fe fez em extremo aborreci-
do dos vafíallos. Pereira.
) fepultado com feus pais na Cidade de Da--
vid. Mas nào no jazido dos Reis , dizem os Para-
lipomenos , n. Cap. XXIV. 2^, Sepeíierunt eum in
Civitate David y [?d non in fepulçhris regmn, Ff.^
Reis,
CAPITULO XIII.
yoaccdz Rei Ifrael be opprimião peh
Rei de Syria. Morre, Succede-lhe Jods»
Elifeo prediz a Jods , í^ue elle derro-
tará tres vezes o Rei de Syria. Morte
Elifeo, Hum morto lançado na fua
fepultura refufcita logo.
Anna i IVT O anno vinte e tres dejoás
Iri filho de Ocozias Rei de Ju-
ant. de r começou a reinar Joaccáz filho de
J. Chr. Jehu : e reinou fobre Ilrael na Samaria
dezefete annos.
2 Elle obrou o mal diante do Se-
nhor, e feguio ospeccados dejeroboao
filho de Nabat, que tinha feito peccar
a Ifrael, ç não fe apartou delles.
3 Então fe enfureceo o Senhor con-
tra Ifrael , c os entregou todo efte tem-
po nas mãos d' Hazael Rei de Syria,
c nas mãos de Benadad filho d' Ha-
zael.
4 Mas Joaccáz fe proftrou diante
da face do Senhor, e lhe fez afua ora-
ção : e o Senhor o ouvio y porque vio
■ a
Lrv. IV. Cap. XIII. 297
o aperto d'lírael , e a extremidade a
que o Rei de Syria o tinha reduzido.
5 (a) E o Senhor deo hum falva-
dor alírael, e elle foi Hvre da mão do
Rei de Syria : e os filhos d']frael ha-
bitarão nas fuas tendas como d'antes.
6 Elles todavia fe não apartarão dos
peccados da cafa de Jerobcão , que ti-
nha feito peccar a Ifrael : mas conti-
nuarão a andar nelles , e o Bofque per-
maneceo em Samaria.
7 Não tinhão ficado a Joaccáz de
todo o feu Povo , fenão fincoenta ca-
valleiros , dez coches , e dez mil ho-
mens de pé: porque o Rei de Syria os
tinha morto, e os tinha reduzido como
o pó da eira , onde fe debulha o pão.
S O reílo das acções de Joaccáz,
todos os feus feitos, e o feu valor, ef-
tão efcritos no Livro dos Annaes dos
Reis d' Ifrael.
9 Em fim Joaccáz adormeceo com Anna
feus pais , e foi fepultado em Sarna-
^^'^ • anr. dç
( ^ ) O Senhor deo hum Salvador a Ifrael , é>c. g* ^
Na peííoa dc Joás filho de Joaccáz, como le vcr^
pelo vcrfo 17. Fekeira.
R s I s.
ria : e Joás feu filho reinou cm feu lu-
gar.
Atino IO No anno trinta e fete de Joás
ílo M. R^ei de Juda reinou Joás filho de Joac-
antes* ^^'^ fobre Ifrael em Samaria por efpaço
deJ.C, de dezefeis annos.
:^4i. II E elle obrou o mal diante do
Senhor : e não fe apartou de peccado
nenhum de Jeroboáo filho de Nabat,
que tinha feito peccar a Ifrael ; mas nel-
les andou.
iz O refto das acções de Joás, tu-
do o que elle fez , o feu valor , e co-
mo pelejou contra Amafias Rei de Ju-
da, tudo ifto eftá efcrito no Livro dos
Annaes dos Reis d' Ifrael.
1 3 E Joás adormeceo com feus pais :
e Jeroboáo fubio ao throno , depois que
Joás foi fepultado em Samaria com os
Reis d' Ifrael.
'A^no 14 Ora Elifeo eftava doente da en-
'^16^* fermidade de que morreo , e Joás Rei
a nt. dc d' Ifrael o vei^ ver , e chorou diante
3. GKr. delle , dizendo : Meu pai , meu pai , tu
859.
es o Carro d' Ifrael , e feu Gonduftor.
15 E Elifeo lhe diífe: Traze-me cá
. . hum
Liv. IV. Cap. XIII. 299
hum arco , e frechas. E como o Rei d'
Ifrael lhe trouxefle hum arco , e fré-
chas ,
16 Elifeo lhe diíTe: Poe a tua mão
fobre o arco. E tendo elle pofto a mão
fobre o arco , Elifeo poz as fuas mãos
fobre as do Rei ,
17 e lhe diíTe : Abre ajanella, que
olha para o Oriente. Tendo-a aberto o
Rei, Elifeo lhe diíTe : Atira com huma
frecha. E atirou Joás. E Elifeo dilfe:
Efta he a frecha da falvação do Se-
nhor: efta he a frecha da falvação con-
'tra aSyria: tu ferirás a Syria emAífec,
até acabares de todo com ella.
18 DilTe mais Elifeo: Pega dasfré-^
chas. E tendo o Rei pegado delias,
Elifeo lhe diíTe : Fere a terra com ef-^
fas frechas. Ferio-a elle tres vezes , e
parou.
19 O homem dc Deos fe enfadou
com elle, e IhediíTe: Se tiveras ferido
a terra finco ou feis , ou fete vezes , te-
rias derrotada a Syria até a deftruires
de todo : mas agora não a derrotarás,
Jfenão tres vezes.
Mor^
30O Reis.
20 Morreo pois Elifeo , e foi en-
terrado. Nefte mefmo anno porém vie-
rão huns ladroes de Moab fobre a ter-
ra.
21 E aconteceo que enterrando cer-
tos homens a hum outro , vírão-no eftes
ladroes, {b) e lançárao o cadáver no fe-
pulcro d' Elifeo, eforão-fe. E tanto que
o cadáver tocou os oíTos d'Elifeo5 (c)
refufcitou efte homem , e fe levantou
fobre os pés.
'Anno 22 Quando porém Hazael Rei de
^- Syria tinha affligido a Ifrael por todo
ant de ^ R^ii^^do de Joaccáz ,
J. Chr! fe
^5^* (i^) E lançarão o cadáver no fepulcro d' Elijeo,
Os Sepulcros eráo como humas furnas , ou grutas ,
que fe coílumaváo tapar com huma pedra , a qual
facilmente fe podia tirar , e tornar-íe a por íem
ruina alguma do fepulcro. Calmet.
(c) Refufcitou efic homem. Alludindo a efte mi-
lagre, dilte depois o Author do Ecciefiaftico , que
ainda morto protetou o corpo d' Eiifeo. Mortuum
prophetavit corpus ejus. (Eccli. xlvui. 14.) Porque
íefu feirando a eíie morto , confirmou Elifeo todas
as profecias , que fizera em vida , e nos deo hum
penhor da futura Refurreição de todos os noíTos
córpos. Com efte mefmo lugar prova S. Jeronymo
contra Vigilancio ferem as Relíquias dos Santos di*
gnas d' honra, e refpeito. Pereira.
Liv. IV. Cap. XIII. 3GI
23 fecompadeceo o Senhor delles,
c tornou para elles por caufa do pafto
que tinha feito com Abrahão , Ifaac , e
Jacob; e não os quiz perder, nem re-
jeitar inteiramente até o prefente tem-
po.
24 Depois difto morreo Hazael Rei
de Syiia , e reinou por elle feu filho
Benadad.
2^ Mas Joás filho de Joaccáz reco-
brou das mãos de Benadad filho d'Ha-
zael 5 as Cidades que Hazael havia to-
mado a feu pai durante a guerra. Joás
o bateo por tres vezes , e elle reítituio
a Ifrael as fuas Cidades.
302 Reis.
CAPITULO XIV.
Amajias manda matar os matadores de
feu pau Bale os Idumeos, He zmcideí
por Jods Rei d^ Ijrae/, Morte de Jodsé
Succede-lhe Jeroboão, Amafias he mor~
td pelos Jeus, Azarias reina depois dei-
ie. Morte de Jeroboão. Em Jeu lugar
reina Zacarias.
Anno I O fegundo atino de Joás filho
doM. X.\ Je Joaccáz Rei d'lfrael5 co-
an/^^de "^^Ç^^^ ^ reinar Amafias filho de Joás
j. c. Rei de Juda.
2 Elie tinha vinte e finco annos,
quando começou a reinar , e reinou vin-
te e nove annos emjerufalem. Sua mai
era de Jerufalem , e fe chamava Joa-
daií.
3 E elle fez o que era jufto diante^
do Senhor , mas não como David feii
pai. Elle procedeo em tudo^ como feií
pai Joás o tinha feito j
4 (<(?) excepto que não tirou os Al-
tos,
(4) Excepto que mo tirou os Altos, Efte exceptú
mo he relativameme âo que fez o pai ^ do qual
Liv. IV. Cap. XIV. 303
tos 5 porque ainda o Povo lá immolava ^
c lá queimava incenfo.
5- E tanto que teve o reino feguro ,
fez matar aquelles de feus fervos, que
unhão morto a feu pai :
6 mas não fez morrer os filhos def-
tes matadores ^ {b) fegundo o que eftá
efcrito no Livro da Lei de Moyfés,
conforme o preceito do Senhor , que
diz : Não morrerão os pais pelos filhos ,
nem os filhos morrerão pelos pais ; mas
cada hum pelo feu peccado.
7 Efte mefmo foi o que bateo dez
mil Idumeos no valle das Salinas , e o
que tomou (r) aFortaleza que chamouant.de
Jeflehel ^ como ella ainda hoje fe cha- J. Chr,
ma,
En-
também fc diíTe no Cap. XII. verfo 7^, , que não
tinha tifado os Altos: mas he relativamente ao que
precedco no antecedente verfo : Elie fez o que em
jufio diante do Senhor, Pereira.
, ( ^ ) ^É'^w^7í/o o que efià efcrito na Lei de Mcym
fes. Na Lei do Deutcronomio , Cap. XXIV. verl©
16. Pereira.
( c ) A Fortaleza que chamou Jeãehel. Moftran-
do com efte nome que íignifica obediência, de Se»
rthor , que a fua viéioria era fruto da fua obediên-
cia a Deos. Dk Carri eres.
304 Reis.
Anno 8 Então enviou Amaíias Embaíxá-*
9178.* ^^^^^ a Joás filho de Joaccáz, filho de
ant.de Jehu R^i d'Ifrael , com efte recado:
3. Chr. (J) Vem, e vejamo-nos.
E Joás Rei d' Ifrael mandou a
Amafias Rei de Juda efta refpofta : (e)
O cardo do Libano mandou dizer ao
Cedro, que eftá no Libano: Dá tua fi-
lha por mulher a meu filho. Mas as fé-
ras do Bofque paflaráõ , e pizaráo aos
pés o cardo.
10 Tu huma vez que ficafte fupe-
rior em batalha aos Idumeos , e os ef-
calavraftes bem , fe elevou de foberba o
teu coração. Pois contenta-te com eíTa
tua gloria , e deixa-te eftar quieto errt
tua cafa. Para que he andares chaman-
do pelo teu infortúnio para pereceres
tu
(i) J^em , e vejmo-nos. Efte modo de fallar ,
vem, evejamo-nos , era huma formal declaração de
guerra. Pelo menos aflim o cntendeo Joás. Cal-
MET.
( e ) O cardo do Libano , é-c. Era muito da^»
quclles Orientaes explicarem os feus fentimcntos
cm engenhofos , e picantes Apologos : qual o com
que Joatháo filho de Gedeão lançou em rofto ao.%
Siquimitas , terem preferido para fcu Rei O baftar-
do ão legitimo. Jud. 1^. B. Calmet,
Liv. IV. Cai'. XIV. 30^
tu mefmo, e fazeres perecer comtigo a
Juda ?
1 1 Porém Amaíias não quiz ouvir
efta reprefentação , e Joás Rei d'Iírael
marchou contra elle. Elles pois fe vi-
rão, AmaíiasRei de Juda ^ ejoás* jun-
to a Beithfames, que he huma Cidade
de Juda.
12 E Juda foi desfeito por Ifrael;
e fugirão cada hum para as fuas ten-
das.
I 3 E Joás Rei d' Ifrael tomou em
Bethfames Amafias Rei de Juda , filho
de Joás, filho d'Ocozias, e o levou a
Jeruíalem. E fez no muro dejerufalem
huma brecha de quatrocentos covados
de comprido , des da porta d' Efraim
até á porta do angulo.
14 E tomou todo o ouro, e prata,
e todos os vafos , que fe achárão na ca-
fa do Senhor, e em todos os thefouros
do Rei , e os reféns , e voltou para Sa-
maria.
15' O refto das acções de Joás , e
o grande valor com que elle pelejou
contra Amafias Rei de Juda , eítá ef-
Tom. VI. V cri-
3oé Reis.
crito no Livro dos Annaes dos Reis d*
in-ael.
1 6 E Joás adormeceo com feus pais ,
efoi fepultado em Samaria com os Reis
d'Ifrael : e em feu lugar reinou feu fi-
lho Jeroboão.
1 7 Mas Amafias filho de Joás Rei
de Juda ainda reinou quinze annos de-
pois da morte de Joás filho dejoaccáz
Rei d'irrael.
1 8 O refto das acções d'Amafias ef-
tá efcrito no Livro dos Annaes dos Reis
de Juda.
Anno 19 E contra elle fe forjou em Je-
do M. rufaiem huma conjuração , que o obri-
InVdcg^^^ a fugir paraLaquis. Mas elles en-
]. Chr. viárão apôs elle aLaquis, e alli o ma-
^io. tárão,
20 e o tranfportárâo em fima d'huns
cavallos, e elle foi fepultado em Jeru-
falem com feus pais na Cidade de Da-
vid.
21 E todo o Povo de Juda tomou
a Azarias em idade de dezefeis annos;
e elles o conftituírão Rei em lugar de
feu pai Amafias.
Ef-
Liv. IV. Cap. XIV. 307
22 (f) Efte foi o que edificou Ela-
th, tendo-a reconquiftado parajuda de-
pois que o Rei adormeceo com feus
pais.
23 No decimo quinto anno de Ama- Anno
fias filho de Joás Rei de Juda , come- j^^-
çou a reinar em Samaria Jeroboão filho l^^^^ç
de Joás Rei de Ilrael , (g) e reinou ]. chr.
quarenta e hum annos. ^^5«
24 E elle obrou o mal diante do
Senhor. Não fe apartou de peccado ne-
nhum de Jeroboão filho deNabat, que
tinha feito peccar a Ifrael,
2^ (/;) Eíle mefmo reftabeleceo os
limites d' Ifrael, des da entrada d'Ema-
th até o mar do defcrto, em conformi-
V ii da-
(/) Efle foi o que reedificou Elatb , (b^c. Ci-
dade da Idumea íujeita á Tribii de Juda , que fc
linha rebellado. Pereira,
E reinou quarenta e hum annos. Do que
leremos no Cap. XV. , verfo 2^. , e vcrfo 27. de-
duzem alguns diligentes Chronólogos , que em lu-
gar dc quarenta c hum, fe deve aqui ler, fincoen".
ta e hum. Pereira.
(/;) Ejle mefmo reftabeleceo os limites Ifrael ^
^'f. Recuperando as Cidades , c terras , que os
Reis de Syria tinháo ufurpado , depois da fepara-
çáo das dez Tíibus. P^keira»
3o8 Reis.
dade da palavra que o Senhor Deos d'
Ifrael havia pronunciado (i) por feu fer-
vo o Profeta Jonas filho d'Amathi, que
era de Geth, em Opher.
26 Porque vio o Senhor a afflicçâo
d' Ifrael 5 que tinha chegado ao ultimo
extremo; e que havião fido confumidos
até os que fe achavao mettidos na pri-
zão 5 e até os derradeiros do Povo , fem
haver ninguém que foccorreflfe a Ifrael.
27 Nem quiz o Senhor apagar o
nome d' Ifrael de debaixo do Cco : mas
elle os falvou por mão de Jeroboão fi-
lho de Joás.
28 O mais das acções de Jeroboão,
tudo o que elle fez, e o valor com que
elle pelejou, (k) e comoreílituio aju-
da
(í) Por feu fervo o Profeta Jonas ^ <^c. Omef-
mo que foi a Ninive depois de ter fido engolido ,
e vomitado da Balêa. Mas efte feu vaticinio fobre
as viéiorias de Jeroboão II. não anda na Profecia
que temos delle ; prova de que os Profetas não ef-
creviáo fempre tudo j ou que nem tudo o que ef-
crcvêráo, nos chegou a nós. Pereira.
E como rejiituio a Juda , <b-c, Rcftiruio-as
a ]uda , dizem alguns, porque David, e Salamro ,
que foráo os primeiros que as occupáráo , tinháo
íido Reis de Juda , e as adquirirá© para fua própria
Liv. IV. Cap. XIV. 309
da em Ifrael Damafco , e Emath : tudo
ifto eftá efcriro no Livro dos Annaes
dos Reis d' Ifrael.
29 E adormeceojeroboão com feus
pais Reis d' Ifrael 5 e reinou em íeu lu-
gar feu filho Zacarias.
CA-
Triba 5 ainda que tlveíTem o mando de todas as
outras. E em Ifrãel , porque náo pagarão tributo
ao Rei de Juda, fcnáo a jeroboáo que reinava em
Ifrael , e que as conquiftou agora novamente dos
inimigos do Povo de Deos. Outros todavia com
Saci , e De Carrieres , achando duro , e impróprio
o dizer que fe rejiituio ajuda o que ficou em Ifrael ^
querem antes que fe verta : E como conquijiou de
novo para Ifrael Damafco , e Emath , que tinhao fi-
do denuda. E náo falta quem rufpciie, que aquel-
Ic Judae eftá aqui demais, e procedêra do defcui-
do dos Copiadores : porque tanto o Syro , como o
Árabe o omittem nas fuas Versões. Pereira.
3 IO Reis.
CAPITULO XV.
Azarias Rei de Juda he ferido de lepra.
Governa Joathão em feu lugar. Zaca-
rias Rei d^ ífrael he morto por Sellum ,
que reina depois delle. Manchem fucce^
de a Sellum^ e tem por fuccejjor a Fa-
ceia , e depois delle a Facée. Theglath^
falajar tranfporta para a Ajjyria hu-
ma grande parte dos Ifraelitas. Levan-
ta-je Ofée contra Facée , e occupa o que
lhe havia ficado em IfraeL Em Juda
morto Joathão lhe fuccede feu filho Accdz.
Anno 1 l^T O anno vinte e fete de Jero-
^^JJ^- 1>I boão Rei d'Ifrael {a) come-
snt. de çou a reinar Azdrias filho d'AmafiasRei
J. Chr. de Juda.
2 Elie tinha dezefeis annos, quan-
do começou a reinar, e reinou fincoen-
ta e dous annos em Jerufalem. Sua mãi
era de Jerufalem , e fe chamava Jeque-
lia.
E
(^) Começou a reinar J^arias , é^c, Efte mef-
mo fe nomca adiante Ozmí, verío 30. e ^í., que
he o nome que tambcm ihedáo osProíetas Amos,
c Ifaias. PeK£iRA.
Liv. IV. Cap. XV. 311
3 E elle fez o que era agradável
diante do Senhor, e procedeo em tudo
como Amafias feu pai.
4 Elle todavia não demolio os Al-
tos: e o Povo facrificava nelles, e nel-
les queimava incenfo.
5 {b) Mas o Senhor ferio efte Rei ,
eelle ficou leprofo até o dia da fua mor-
te, e vivia á parte n'uma cafa retirada.
Entretanto Joathão filho do Rei gover-
nava o Palacio 5 e julgava o Povo.
6 O refto das acções d' Azarias, e
tudo o que elle fez , eftá efcrito no Li-
vro dos Annaes dos Reis de Juda.
7 E Azarias adormeceo com feus Anno
pais , (r) e foi fepultado com os feus ^•
maiores na Cidade de David , e Joa-
thão feu filho reinou em Teu lugar. ]. chr.
No 758.
(^) Mas o Senhor ferio eJU Rei^ ò^c, A caufa
refere-fe no fegundo Livro dos Paralipomenos , Cap.
XXVI. 5 verfo i6, c íeg. E Foi que Azarias cmpre-
hcndeo exercer as funções do Sacerdócio. Perei-
ra.
(c) E foi fepultado com feus maiores^ <b*c, Náo
no jazigo dos Reis , mas no campo onde citava o
jazigo dos Reis, porque era leprofo. 11, Parai. xxvi.
2^, P&REIRA,
3ii Reis.
Anno 8 No anno trinta e oito d' Azarias
do M. j^^j jjjj^ reinou Zacarias filho de
ant! de J^^^t)^3o fobre Ifrael em Samaria leis
J. Chr. mezes.
77^' 9 E elle obrou o que era máo dian-
te do Senhor , como tinhao feito feus
pais : não fe apartou dos peccados de
Jeroboão filho deNabat, que tinha fei-
to peccar a Ifrael.
10 E contra elle fez Scllum filho
dejabés huma conjuração, e o atacou,
e matou publicamente , ç reinou em feu
lugar.
11 O refto das acções de Zacarias
eftá efcrito no Livro dos Annaes dos
Reis d' Ifrael.
12 Aílim fe cumprio o que o Se-
nhor tinha dito ajehu: Teus filhos ef-
tarão afl^entados fobre o throno d' Ifrael
até á quarta geração. E ifto he o que
fuccedeo,
Anno 13 No anno trinta enove d'Azarias'
do M. Rei de Juda começou a reinar Sellum
filho de Tabés , e reinou fó hum mez
ant. úe ^ ^. ^
]. Chr. oamaria.
771. 14 Porque Manahem filho de Gadi
veip
Liv. IV. Cap. XV. 313
veio de Therfa a Samaria : inveflio com
Sellum filho de Jabcs , e o matou na
mefma Cidade , e reinou em feu lugar.
15 O rello das acções de Sellum,
e a confpiração que elle fez para fur-
prender o Rei , eftao efcritas no Livro
dos Annaes dos Reis d'Ifrael.
1 6 Nefte mefmo tempo tomou Ma-
nahem aTapfa: matou tudo o que havia
dentro: e arruinou todo o feu território
até os confins de Therfa, porque oslra-
bitantes lhe nao tinhao querido abrir a
porta : matou todas as mulheres pre-
nhes, e as fendeo pelo ventre.
17 No anno trinta e nove d' Aza-
rias Rei de Juda começou a reinar fo-
bre Ifrael em Samaria Manahem filho
de Gadi, e reinou dez annos.
18 Eelle obrou oqueeramáo dian-
te do Senhor: não fe apartou dos pec-
cados de Jeroboao filho deNabat, que
tinha feito peccar a Ifrael , durante to-
do o feu reinado.
19 (d) Tendo vindo a efta terra
Fui
(d) Tendo vindo a efta terra Fui Rei dos Ajfy-^
rioSf <^f. EítcFul querUlTer cpc íoíic pai dci>ar-
'314 Reis.
Fui Rei dos AíTyrios , Manahem lhe
deo mil talentos de prata , para que
elle o foccorreíTe , e lhe firmaíTe o feu
reino.
20 E efte dinheiro ordenou Mana-
hem que fe cobraíTe de todas as peíToas
poderofas , e ricas para o dar ao Rei
dos AíTyrios ; e elle lhes taxou (e) a
ííncoentai ficlos de prata por cabeça. E
voltoú-fe o Rei dos AíTyrios, e não Te
demorou nefte paiz.
21 O refto das acções de Mana-
hem, e tudo o que elle Tez, eíiá efcri-
to no Livro dos Annaes dos Reis dlT-
rael.
22 E adormeceo Manahem com Teus
pais , e Faceia Teu filho reinou em Teu
lugar. J
Anno 23 No anno fincoenta d'Azarias ReiB
do M. de ^
i^f^u ulíimo dos Reis AíTyrios da primeira Dy-
J. Chr. nj^ftia q admitrido ncceíTariamente fe deve
7"^' confeílãr , que Fui he o mefmo que Eftrabáo, c
Arriano chamáo Anacyndaxares ; Etteváo de By-
zancio, Cyndaxares -, Eukbio^ Ocrazapes. Porque
eftes sáo os nomes , que os Authores profanos dáo
ao pai de Sardanapálo. Pereira.
(^e) A fincoçnta fidos dç prata por cabeia. Que
Liv. IV. Cap. XV. 3iy
de Juda começou a reinar Faceia filho
de Manahem fobre Ifrael em Samaria ,
e reinou dous annos.
24 Eelle obrou oqueeramáo dian-
te do Senhor: não le apartou dos pec-
cados de Jeroboão filho deNabat, que
tinha feito peccar a Ifrael.
25- Mas Facée filho de Romelia , e Anno
General das luas tropas , fez huma con-
juração contra elle : e o ferio em Sa- ant!d'c
maria na torre da cafa real , (/) ao pé ]. Chr.
d' 759-
daváo pouco mais de oitenta chuma libras da moe-
da de brança , que sáo da noíTa moeda treze mil
fcis. Pereira.
(/) Jo pé d Argoh , e ao péA Arié^ e a fmcoenta
homens, (ò^c, AíTim em termos formacs a Vulgata:
eb- percujfít eum in Samarii in turre domus 1 egiae ,
jujta Argcb , juxta Arie , cum co quinquagintA
viros de filiis Galaaditarum , ^-c. Mas que sâo c ftes
Argob , e Arié : A governarmo-nos pelo original
Hebrco, sáo nomes de dous homens, que acom-
panhaváo a Facée. E fegundo o mcfmo Original
os fincoenca homens Gala^iditas não foráo mortos
com Faceia , como o encendeo o Author da Vul-
gata ; mas foráo os que acompanháráo a Facée ,
quando cite ferio a Faceia. Eis-aqui pois com.o
Grocio verte todo efte lugar do Hebrco : Mas Fa-
cée filho de Romelia , e General das fuás tropas , o
ferio em Samaria na torre do Palacio real em com"
panbia d' Argob y e d' Arié ^ ç de fmçoma Galaadh
31 6 Reis.
d'Argob5 e ao pé d^Arié, e a fincoenta
homens dos Galaaditas j que com elle ef-
tavão, e o matou 5 e reinou em feu lugar.
26 O refto das acções de Faceia,
e tudo o que elle fez , eftá efcrito no
Livro dos Annaes dos Reis d^llrael.
27 No anno fincoenta edous d'Aza-
rias Rei de Juda reinou Facée filho de
Romelia fobre Krael em Samaria , c
reinou vinte annos.
28 Eelle obrou o que era máo dian-
te do Senhor: não fe apartou dos pec-
cados dejeroboão filho deNabat, que
tinha feito peccar a Ifrael.
29 Em tempo de Facée Rei d' If-
rael (g) veio Theglathfalafar Rei dos
Af-
tas, E afíim mefmo antes de Grocio o tinha ver-
tido Cafliodoro de la Reina , e depois o vcrteo Lc
Gros. Pereira.
(^) P'eio Theglathfalajar Rei dos J/Jyrios, é'C,
Por eíle Theglathfalafar entende o citado UlTcr a
Nino o moço , a quem Eliano chama Thilgamo ;
e que depois da derrota , e morte de feu pai Sar-
danapálo , fez reviver d' alguma forte o Império
dos Affyrios neíTas poucas reliquias que delle ficá-
ráo , depois que fobre as fuas ruinas fundáráo os
dous Generaes Arbaces , e Belefo os dous novos
Impérios de Médos , e Babylonigs. Pereira.
Liv. IV. Cap. XV. 317
AíTyrios ^ e tomou Aion , e Abel cafa
de Maáca , Janoé , Cedes , Afor, Ga-
laad, Galiléa, e todo o paiz de Nef-
thali 5 (Z?) e tranfportou todos os feus
habitantes para a AíTyria.
30 Mas Ofée filho d' Ella fez hu-
ma conlpiração contra Facée filho de
Romelia para o furprender : atacou-o,
e matou-o , e reinou em feu lugar no vi- Anno
gefimo anno de Joathão filho d' Ozias. JVI.
31 O refto das acções de Facée, e ^nf^^g
tudo o que elle fez, eftá efcrito no Li- J.chr.
vro dos Annaes dos Reis d'Ifrael. 7?P-
32 No anno fegundo de Facée fi- Anno
lho de Romelia Rei d'lfrael, começou do M,
a reinar Joathão filho d' Ozias Rei de
Tl ^ anr. dc
^ • DM • , ■ r J-Chr.
33 Lile tinha vmte e finco annos 758.
quando começou a reinar, e reinou dez-
efeis annos emjerufalem. Sua mai cha-
mava-fe Jerufa , e era filha de Sadoc.
34 E elle fez o que era agradável
ao
(^h) E tranfportou todos os feus habitantes para
a AJfyria. Talvez para povoar com eftes novos co-
lonos as Cidades, c Províncias da AíTyria , que Ar-
báccs , e Belefo com as guerras contra Sardanapá-
lo tinhÃo dcixadg mui faltas dc gente. Pekeira.
3x8 Reis.
ao Senhor , e procedeo em tudo como
tinha feito Ozias feu pai.
35 Elie todavia não deftruio os Al-
tos : porque ainda o Povo íacrificava
nos Altos 5 e queimava nelles incenfo.
Elie foi o que edificou a mais alta por-
ta da cafa do Senhor.
36 O refto das acções de Joathao,
e tudo o que elle fez , eftá efcrito no
Livro dos Annaes dos Reis de Juda.
37 Nefte mefmo tempo começou o
Senhor a enviar contra Juda a Rafin Rei
de Syria, e a Facée filho de Romelia,
38 E Joathao adormeceo com feus
pais, e foi fepultado com elles na Ci-
dade de David : e em feu lugar reinou
feu filho Accáz.
L I V K o IV. 319
CAPITULO XVI.
Accdz fe entrega ao culto dos idolos, He
cercada em Jerufalem por Raftn , e por
Facée, Chama em feu foc corro aThegla-
thfalafar. Manda lenjantar em Jerii^
falem hum Altar como o de Damafco*
Morre, Succede4he Ezequias.
I IVT Oanno decimo fetimo de Fa- Anno
1>1 cée filho d'Romelia , fubio ^^^5^-
ao throno Accáz filho de Joathão Rei ant.de
dejuda. J.Chr.
2 ( ) EUe tinha vinte annos , quan- 742*
do
( ^ ) Elie tinhd vinte annos , quando começou a
reinar, ó'c. Se Accáz tinha vinte annos, quando
começou a reinar , e não rciiiou fenáo dezcfeis ,
logo Accáz ao todo íó viveo trinta e feis annos.
Ora Ezequias filho , c fucceíTor d' Accáz começou
a reinar de vinte e finco annos. ( Cap. XVIII. verf.
I.) De trinta c feis tirando vinte e finco , ficáo
onze. Logo Accáz quando gérou a Ezequias , ape-
nas tinha entrado nos onze annos. Para elidirem
cfta dificuldade , excogitáráo huns , que Ezequias
náo era filho natural d" Accáz , mas adoptivo : ou-
tros, que entre a morte de Accáz, e o reinado dc
Ezequias houvera interregno d' alguns annos. Tu-
do hypothcfcs arbitrarias , e fcm fundamento : c
iíko porque náo fc advertio , que o gerar hum hor
310 Reis.
do começou a reinar , e reinou dezefeis
annos emjerufalem. Nao fez o que era
agradável na prefença do Senhor feu
Deos j como David feu pai :
3 mas andou pelo caminho dos Reis
d'Ifrael, e até confagrou feu filho, fa^
zendo-o paíTar pelo fogo, {b) fegundo
a idolatria das gentes , que o Senhor
tinha deftruido na entrada dos filhos d*
Ifrael.
4 Immolava também viflimas , e of-
fe-
mem cm idade dc onze annos a outro homem ,
tanto não excede as forças da natureza , que ante*
moftra a experiência ter fuccedido muitas vezes.
Os teftemonhos , ou exemplos diíTo podem-fc ver
em Bochart na DiíTertaçáo que febre o prefente
lugar dos Reis dirigio a Mr. Carboncllo , e que an-
da entre os fcus Opufculos no fim da grande obra
Fdleg : onde allega com S. Jeronymo na carta a
Viial : com o Canon , Quod intra , Caufa XX. ,
Qucftáo I. com Tiraquello , Navarro, Efcaligcro,
c outros muitos. Pereira.
Segundo a idolatria das gentes^ <ò*c. Segun-
do a idolatria dos Cananeos , que immolaváo feus
filhos ao Ídolo Moloch , fazendo-os paííar pelo fo-
go até ferem confumidos: barbaridade que da ter-
ra de Canaan introduzirão os Fenícios na Africa,
e que fe praticou em Carthago até o tempo de Ti-
bério , como aííirma Tertuliano no feu Apologéti-
co. PfREIRA.
Liv. IV, Cap. XVI. 321
fcrccia incenfo nos Altos , nos outei-
ros , e debaixo de toda a arvore fron-
dofa.
5: Então vierão RafinRei deSvria,
e Facée filho de Romelia Rei d' ífrael
pôr cerco a Jerufalem : e tendo cerca-
do a Accáz, não o pudéráo vencer.
ó Nefte melmo tempo Raíin Rei Anno
da Syria tornou a conquiftar a Aila da ào M.
Syria, e lançou fora de Aila os Judeos : ^^^^^^
e os Idumeos vierão para Aila^ e habi- j. chr.
tárão alli até o dia d' hoje. 741,
7 Mas Accáz mandou Embaixado- Atino
res aTheglathfalafar Rei dosAíTyrios, do M.
que lhe diílcíTem da fua parte : Eu fou j^^'^^^
teu fervo ^ e teu filho : vem falvar-me cj^^
da mão de Rafin Rei de Syria , e das 740.
mãos do Rei d' ífrael , que fe alliárao
contra mim.
8 E tendo ajuntado a prata , e ou-
ro 5 que fe pode achar na cafa do Se-
nhor 5 e nos thefouros do Rei , fez de
tudo prefente ao Rei dos AíTyrios.
9 E como efte condefcendeífe com
o que Accáz lhe pedia , veio fobre Da-
mafco, arrazou a Cidade , tranfporrou
Tom. VI. X os
Reis. /
os moradores para Cyrene , e matoa a
Rafin.
10 E fahio o Rei Accáz a encon-
trar-fe em Damafco com Theglarhfala-
far Rei dos AíTyrios ; e como vilTe o
Altar que havia em Damafco, mandou
ao Pontífice Urias hum modelo , que
reprefentava exaftamente toda a obra.
11 E o Pontífice Urias fez hum Al-
tar em tudo femelhante ao de Damaf-
co , conforme a ordem que lhe tinha
dado Accáz , efperando que efte Rei
voltaífe de Damafco.
12 E depois que veio de Damafco,
vio o Rei efte Altar , e o venerou , e
foi immolar nelle holoeauflos , e o feu
facrificio :
13 e fez oblações de licores 5 e der-
ramou o fangue das hoftias pacificas,
que tinha oíFerecido no Altar.
14 E o Altar de bronze, que efta-
va na prefença do Senhor , o tranfpor-
tou de diante do Templo , e do lugar
do Altar 5 e do lugar do Templo do Se-
nhor : e o poz ao lado do Altar para o
fetentrião.
Ou-
Liv. IV. Cap. XVÍ. 323
15' Outrofi dco o Rei Accáz efta
òrdem ao Pontífice Urias : Tu offerece-
rás fobre o Altar mor o holocaufto da
manhã , e o facrificio da tarde : o ho-
locaufto do Rei , e o feu facrificio : o
holocaufto de todo o Povo, os feus fa-
crificios 5 e as fuas libações : e derrama-
rás fobre efte Altar todo o ícingue dos
holocauftos , e todo o fangue das vifti-
rnas. E no tocante ao Altar de bron-
ze j refervo para mim difpôr delle á mi-
nha vontade.
16 Em tudo pois executou o Pontí-
fice Urias as ordens, que o Rei Accáz
lhe tinha dado.
17 Tirou também o Rei Accáz as
bafes entalhadas, c a bacia que eftava
em fima. E tirou o mar de fima dos bois
de bronze que o foftinhão, e poUo fo-
bre o pavimento do Templo , que çra
de pedra.
18 Tirou outrofi (c) a tribuna do
X ii Sab-
(c) Â tribuna do Sahbado , éc. Ifto hc , a jii-
buna donde os Reis coftumaváo aíliftir ás funçqcs
do Templo nos dias dc Sabbado. E Ke d' adver-
tir , que o nome Mufach , que o Author da Vttl-
gata confervou a^ui do Hebreo j Saci , c Pc Çw-
514 Reis.
Sabbado , que fe tinha mandado f^zer
tio Templo ; e em lugar do palTadiço
exterior por onde o Rei hia para o Tem-
plo , fez hum por dentro , (^) e ifto
por caufa do Rei dos Aííyrios.
19 O mais das acções d'Accáz eftá
efcrito no Livro dos Annaes dos Reis
de Juda.
20 E adormeceo Accáz com feus
pais, e foi fepultado com elles na Ci-
dade de David : e em feu lugar reinoií
feu filho Ezequias.
GA-
íieres feguindo a Vatablo , o expõe do toldo , que
defendia do Sol o lugar do arrio do Templo , on-
de ou o povo fe ajuntava , ôu os Sacerdotes dcf-
cançaváo. Eu fe^ui a Calmet , e a Le Gros , que
traduzem Mufach por tribuna , como antes o ti-
rihão já entendido outros hábeis Efcriturarios. É
nefta mefma accepçáo parece que tomáráo os Se-
tenta o nome de Àíafach , quando lhe fubftituíráo ,
fundamentam cathedrae ^ a bafe da cadeira. Pereí-
KA.
{dy E ifto por caufa do Rei dos AJfyrios. Ao
2 Uai elle temia defa gradar , adorando o Senhor,
>É Cakriekes»
Livro IV. 325:
CAPITULO XVII.
Cerco de Samaria por Salmanafar, He to-
mada a Cidade , e os Ifraelitas tranf
portados d AJJyria. Colónias mandadas
para Samaria em lugar dos IJraelitas.
I (^a) "l^T O anno duodécimo d'Ac- Anuo
cáz Rei de Juda reinou ^*
em Samaria fobre Ifrael Ofée filho d' l^^^ç
Ela , e o feu reinado foi de nove annos. J. chr.
2 Eelle obrou o mal diante do Se- 750-
nhor, (^b) mas nao como os Reis d'If-
i-a^Ij que o tinhão precedido.
3 {c) Contra elle marchou Salma- Anno
na- <Jo
(^) No amo duodécimo d' Accãz^ é-c. Parece
que fe devia efcrevcr, no anno decimo quarto: por- q
que Accáz reinou dczefeis annos : (Cap. XVI., 7^^'
verfo 2.) e no Cap. XVIII. , verfo i. Te verá que
Ofce náo eftava ainda fenáo no terceiro anno do
feu reinado , quando Ezequias fuccedeo a feu pai
Accáz. De Vancb.
( /> ) Mas não como os Heis Ifrael , é^c Por-
que (onforme dizem os Rabbinos na fua chroni-
ca , SederOiâo , efte Rei Ofce confentio que o Po^
vo foíTe a Jerufalem adorar lá o verdadeiro Deos.
Pereira.
Çc) Contra elle marchou Salmanajar ^ &ç» Rei
^t6 Reis,
naíar Rei dos AíTyrios 5 e Ofçe ficou
fendo fervo delle , e lhe pagava tri^
buto.
Anno 4 Mas tendo o Rei dos AíTyrios
do M. defcoberto , que Ofée andava com pen-
anZde ^^^^^"^^s de fe rebellar , e que para fe
J. Chr. livrar do tribqto que lhe pagava todos
7^5- os annos ^ tinha mandado Embaixado-
res a Sua Rei do Egypto , cercou-o ; e
depois de o colher ás mãos , o mandou
amarrado metter n'uma prizão.
5* Tinha Salmanafar feito varias cor^
rerias por todo o paiz ; e chegado que
foi a Samaria , elie a teve cercada tres
annos.
Anno 6 Mas noanno nono d'Ofée tomou
do M. o P\ei dos AíTyrios Samaria, (d) etranf»
ant.de Ifraelitas para a AíTyria, (e)
J.Ghr, e
7^'? dos AíTyrios , immediato fucccííor do Theglathfa^
lafar, a quem o Profeta Ofeas chama fimplesmen-
te Salman , e p Texto Grego de Tobias Enemef".
fãr, Calmet.
(^) E tratifportcu os Ifraelitas para a -AByria.
Aílim <e acabou o Reino d' Ifrael , depois de ter
fubfiíliJo duzentos e íincoenra c quatro annos def-
de Jeraboáo até Oíée. Pereira.
(e) E os poz em Halãy e Habor, Cidades do&
Médos, Lo^Q ainda cntáo eítaváo os Médos íujei-
Liv. IV. Cap. XVII. 317
e €S poz em Hala, e Habor, Cidades
dos Medos, perto do rio Gozan.
7 E ifto foi porque os filhos d'If-
rael tinhao peccado contra o Senhor feu
Deos , que os tinha tirado do Egypto ,
e do poder de Faraó , Rei do Egypto,
e tinhao adorado deofes eftranhos.
8 Elles vivião fegundo os coftumes
das gentes , que o Senhor tinha exter-
minado na entrada dos filhos d'Ifrael,
e fegundo os coftumes dos Reis d' If-
rael, que tinhao imitado as gentes.
9 Tinhao os filhos d'Ifrael ofiendi-
do o Senhor feu Deos : c tinhao edifi-
cado Altos em todas as fuas Cidades,
des
tos aos Reis AfTyrios. Como pódc eílar ifto po-
rém com o que dilTcmos nas Notas ao Capitulo
XV. , que vencido Sardanapálo por Arbáces , fun-
áou efte fobrc as ruinas do Império AfTyrio o Reino
dos Médos? Refponde-fe: que ou oEfcritor fagra-
do 3 quando reduzio eftas Cidades á Media , confi-
derou a Media t)zo como eftava em tempo deSal-
manafar, mas como eftava em feu tempo: ouSal-
manafar as tinha novamente recuperado com outras
daquella Kegiáo. O que também fc pôde prefumir
daquellas do Reino de Babylonia, que fe mencio-
náo no verfo 2^ , as quaes o mefmo Salmanafar
tcrU tomado a Beléfo. Psrpira.
328 Reis.
des da torre dos guardas até ás Cidades
fortes.
10 Tinhâo também levantado efta-
tuas , e pofto Bofques em todos os mais
altos outeiros 5 e debaixo de todas as
arvores copadas.
11 Alli queimavão incenfo fobre os
Altares , á maneira das gentes , que o
Senhor tinha exterminado na entrada
delles: e commettiao acções criminofifr
Umas com que irritavão o Senhor.
12 Adoravão aquellas melmas abo-
minações 5 que o Senhor expreflamente
lhes tinha prohibido , que não fizeíTen-t.
13 O Senhor muitas vezes tinha
feito os feus proteftos em Ifrael , e eni
Juda por todos os feus Profetas, e Vi-
dentes y e lhes tinha dito : Deixai os
voíFos caminhos corrompidos, e voltai
para mim: guardai os meus preceitos,
e as minhas ceremonias , conforme to-
das as Leis que eu prefcrevi a voíTos
pais , e fegundo eu vo-lo tenho declar
rado pelos Profetas meus fervos , que
çu vos enviei.
14 Elles o não tinhâo querido oiir
Liv. IV. Cap. XVII. 329
vir : mas a fua cabeça fe tinha feito du-
ra, e inflexivel, como as de feus pais,
que não haviao querido obedecer ao
Senhor feu Deos.
15- Tinhão rejeitado as fuas Leis,
e opâfto que elle fizera com feus pais,
como também todas as reprefentaçoes ,
que elle lhes mandara fazer. Tinhão
corrido apôs as fuas vaidades , e obra-
do vãmente , fegumdo as Nações de
que eftavão rodeados , não obllante ter-
lhes o Senhor defendido expreflamente ,
que não fizelTem o que ellas faziãu.
16 Tinhão abandonado todas as or-
denações do Senhor feu Deos : tinhão
feito para fi dous bezerros fundidos : ti-
nhão plantado grandes Bofques : tinhão
adorado todos os aftros do Ceo , e ti-^
nhão fervido a Baal.
17 Elles facrificavão feus filhos , e
fuas filhas pelo fogo: davão-fe a adivi-
nhações, e agouros, e fe entregavão a
muito más acções , que commettião dian- .
te do Senhor , de forte que o irritáriía
18 Indignado pois grandemente o
Senhor contra Ifrael , os rejeitou de
diaa-
ajo Reis.
diante da fua face , (/) e não ficou fe-
não fomente a Tribu de Juda.
19 Mas nem elfa mefma Tribu de
Juda guardou os mandamentos do Se-
nhor feu Deos : antes pelo contrario
andou nos erros , e defcaminhos d'lf-
rael :
20 de forte que o Senhor abando-
nou a toda a linhagem dlírael : elle os
affligio, e os deo em preza aos que os
tinhâo vindo esbulhar , até que de todo
Ds lançou da fua prefença.
21 Começou ifto des do tempo que
Ifrael fez cifma , e fe feparou da cafa
de David , e elles conftituírão por feu
Rei a Jeroboão filho deNabat; porque
Jeroboão feparou Ifrael do Senhor , e
os fez cahir n'am grande peccado.
22 Ao depois andarão os filhos d'
Ifrael em todos os peccados de Jero-
boão, e não fe apartarão delles,
A 23 até que em fim repelio o Senhor
a
(/) E não ficou fenão fomente a Tribu de Juda,
Com a dc Levi , e a cie Benjamim , as quaes tcn-
do-fe unido á de Juda , faziáo com cila hum fó
corpo. De Carri Ei^ES.
Liv. IV. Cap. XVII.
alfrael de diante dafua face, como el-
le^inha predito por todos os Profetas
feus fervos , e foi Ifrael transferido do
feii paiz para aAíTyria, como ainda ho-
je eílá.
24 Ora o Rei dos AlTyrios fez vir Annò
gente de Babylonia , de Cutha , d'Avah ,
d'Emath , e de Séffarvaim , e os poz ant. dc
nas Cidades de Samaria em lugar dos ]. Chr.
filhos d' Ifrael. E elles pofíiiírão a Sa- ^77^
maria , e povoarão as fuas Cidades.
2^ Qiiando elles tmhao começado
a habitar nellas , como não temião o
Senhor, o Senhor mandou contra elles
leôes, que os matavão.
26 E avisarão difto ao Rei dosAf-
fyrios , dizendo : Os Povos quetutrans-
ferifte para Samaria , e que mandafte
que habitaíFem nas fuas Cidades, igno-
rão o modo como o Deos defte paiz
quer fer adorado : e efte Deos man-
dou contra elles leões , que os matão,
porque elles não fabem dc que mo-
do o Deos defta terra quer fer adora-
do.
^7 Então lhes deo o Rei dos Af-
33^ Reis.
fyrios efta ordem , e lhes diíTe : (g)
Mandai para Samaria hum dos Sacer-
dotes 5 que vós de lá trouxeftes cativos :
que vá , e que fique com eftes Povos,
para lhes enfinar o culto , que fç deve
dar ao Deos do paiz,
28 Tendo logo vindo hum dos Sa-
cerdotes, que tinhão fido levados cati-
vos de Samaria , ficou efte vivendo em
Bethel , {b) Q efte lhes cnfinava o mo-
do como devião honrar o Senhor.
De-
(^) Mandai pira Samaria hum dos Sacerdotes ,
^'C. AJíim a Vulgata : Dudte illuc unum de Sacer-
dotihus . . . . eí^ v^dat , ò' habitet cum eis , eb^c . Ma$
o Hebreo , e Caldeo , e os Setenta dizem : Dedu^
cite quendam de Sacerdotibus , , <â^ eant , ^ fe^
dcant ibi. Mandai para Samaria hum dos Sacerdo"
les : vá elle coni outros , c fiquem iá , 8cc. Foráo
logo mais do que hum ; mas nomea-fe fó hum,
porque efte era o principal , que governava fobrc
os outros. Calmet.
(/;) E efte lhes en finou o medo como ^ é^c. Def^
te verfo , e dos feguintcs fe pôde conhecer , qual
foi o principio dos Samaritanos , em quanto con-
trapoftos aos ]udtos ; e donde entre eftas duasNa^
çóes procedeo a variedade em pomos de Religião ,
c Difciplina. O Sacer jotc ]udeo que os veio inCp
uuir no culto divino , lhes entregou também os
Livros de Moyfés efcritos nos mefmos caraflcres ,
em que cllcs tinhíio fido efcritos originariamente ,
Liv. IV. Cap. XVII.
29 Depois cada hum deftes Povos
forjou para íi feu Deos ^ e os pozerão
nos Templos dos Altos, que os Sama-
ritanos tinhío edificado : cada Nação
poz o feu na Cidade, onde habitava.
30 (/) Porque os Babylonios fize-
tao o feu Socoth-benoth : (fe) os Cu-
theos o feu Nergel: (/) os d'Emath o
feu Afima:
os
ifto he , nos antigos caracteres ííebreos , ou Fení-
cios, que eráo os da língua da terra em que viviáo.
Os Judeos pelo contrario , como pelo tempo do
cativeiro de Babylonia viviáo entre Caldeos , infen-
fivclmente foráo mudando 0$ antigos caracteres Hc-
breos pelos Caldeos. Daqui nafceo a diHèrença
que ha entre o Pentateuco Samaritano , e o Ju-
daico. Pereira.
(H Porque os Babylonios fzerão o feu Sacoth-
hetwtf) , eb-f. Que em Hebrco foa o mefmo que
Tendas das donzellas : nome com que na opinião
de Grocio , e d' outros hábeis Interpretes , quiz a
Efcritura íigniíicar os lugares onde as donzellas pu-
blicamente fe proítituiáo á honra da deofa Mylit-
ta , conforme dos Babylonios attcfta Heródoto no
Livro I., Cap. CXCIX. Pereíra.
(^) Os Cutheos o feu Nergel, Ifto he, confor-
IDC o mcfmo Grocio com alguns Rabbinos , o fí-
mulacro d' huma deofa em fórma de gallinha. Pe-
reira.
( / ) Oí íi' Emiti) , o feu Jfima, Ifto hc , confor-
334 Rei s.
31 ( ;^ ) os Hcveos fizerâo o feu Ne-
bahaz , e o feu Tarthac. Os de SéiFar-
vaim porém fazião paffar feus filhos pelo
fogo, e os qucimavão (n) Qtn honra d*
Adramélech , e d'Anamélech , deofes
de SélFarvaim.
32 Entretanto não deixavâo eftes
Povos d' adorar o Senhor. EUes efco-
Ihião os ínfimos do Povo para os fazer
Sacerdotes dos feus Altos, e eftes offe-
recião os feus facrificios neftes Tem-
plos.
33 E ainda que elles adoraíTem o
Senhor , elles ao mefmo tempo fervião
aos feus deofes a moda das Nações , do
meio das quaes tinhão fido transferidos
para Samaria.
34 {0) Ainda hoje feguem eftes Po-
vos
me os Rabbinos , o fimulacro d' hum bode , ou d"
hum fatyro. Pere ra.
( m ) Os Heveos fizerao o feu Nebahaz , e o feit
T arthac. Aqueile em figura de cáo , cite em figu-
ra de jumento. Pereira.
(^n) Em honra á: Adramélech , e d' Anaméiech
éx. Em honra do Sol , e da Lua : ambos os quaes
aftros os Orienraes adoraváo em figura do fcxo
mafculino. Pereira.
(0) ^indahaje feguçm ejles Pow^ &ç, M«ir
Liv. IV. Cap. XVII.
Yos OS feus antigos coftumes : elles náo
temem o Senhor , não guardao as fuas
ceremonias ^ nem as fuas ordenações,
nem as fuas leis, nem os preceitos que
elle deo aos filhos de Jacob , que elle
por fobrenome chamou Ifrael :
35" com os quaes elle tinha contra-
tado r. lua alliança , dando-lhes efte man-
dametito expreífo : Guardai-vos de re-
verenciar os deofes eftrangeiros , de os
adorar, de os fervir, e de lhes facrifi-
car :
36 mas rendei todos elles officios
20 Senhor voíTo Deos , que vos tirou
do Egypro por grande poder, e a bra-
ço cftendido: a elle temei, a elle ado-
rai, a elle oíFerecei os voíTos facrificios.
Guar-
tos , e bons Commentadorcs entendem dos Ifraeli-
tas efte vcrfo , e os feguintes. Elle parece que no
Hebreo ha confusão , ou Falta. E com cííeito o
Syriaco diz : Ora os filhos d' Ifrael forão transferi'
dos fora da fua terra até o prcfente dia. pcrque fc-
guião os fcus priív.eiros cojiumes : elles mo temião o
Senhor , e nâo ohvavão fegundo os feus eftatutos ,
nem fecundo as fuas ordenações, nem fegundo a lei ^
nem fegundo o preceito , que o Senhor dera aos filhos
de Jacob , a quem elle por fobrenome chamou IfraeL
Dt Car?xíeres«-
33^ Reis.
37. Guardai as fuás ceremonias , as
fuás ordenações , as íuas leis , e os pre-
ceitos que elle vos deo por efcrito : ob-
fervai-as todos os dias da voíTa vida, e
não tenhais medo algum dos deofes ef-
trangeiros.
38 Não vos efqueçais nunca da al-
liança , que elle fez comvofco ; e não
honreis deofes ellrangeiros.
3 9 Mas temei o Senhor voflb Deos ;
e elle ferá o que vos livre do poder de
todos os voíTos inimigos.
40 {p) Entretanto elles não o ou-
virão , mas feguírão os feus antigos cof-
tumes*
Af.
( p ) Entretanto elles não o ouvirão , Se con-
forme a Nota precedente fe applicarem aos Ifrae-
litas os verfos que precederão , como he evideníc
c|ue fe devem applicar : cíle verío 40. he huma
eontinuaçáo, e confeqiiencia delles: e íó o verfo
41. concerne os Póvos eítrangeiros , que lhes fo-
ráo fubftituidos. O gue he como fe a Eícritura dif-
feíTc : Os filhos d' Ifracl nSo ouvirão a voz do Se*
iihor , mis feguírão os feus antigos coflumes, Poriffo
tile os fez levar do feu Paiz. Pelo contrario eftes
Povos , que forão pofios em feu lugar , temerão o Se-
nhor y mas ao mefno tempo feryirao aos Jeus~idolos ^
ò'C, De Cariuer^s.
Liv. IV. Cap. XVlr. 337
41 Aflim eftes Povos temerão o Se-
nhor, mâs ao mefmo tempo fervírão os
feus Ídolos : porque feus filhos , e feus
netos ainda hoje fazem o que fizerão
feus pais.
CAPITULO XVIII.
Ezequias reftitue o culto do Senhor d fàa
pureza, Sennaquerib fe chega a Jerú"
falem. Difcurjos ímpios , e amea-çado-
res de Ráifaces Official de Sennaque-
rib,
I IVT O anno terceiro d'Ofée filho Anno
1> d' Ela Rei d'Ifrael começou J^^*
a reinar Ezequias filho d'Accáz Rei de ant. de
Juda. J. Chr.
2 Elie tinha vinte e finco annos quan^ 7-7«
do fubio ao throno , e reinou vinte e
nove annos em Jerufalem. Sua mai cha-
mava-fe Abi , e era filha de Zaeca^
rias.
3 E elle fez o que era bom , e gra-
to ao Senhor , fegundo tudo o que tih
nha feito David íeu pai.
4 Elie deftruio os Altos . quebroa
Tom. VL Y as
538 Réis.
Amo as eftatuas , deitou abaixo os Bofques,
• e fez em pedaços a ferpente de metal ,
am. de Movíés tinha fabricado : porque os
J. Chr. filhos d'Ifrael lhe havião queimado in-
7^^' cenfo até então , e elle a chamou No-
héftan.
5* Elie poz a fua efperança no Se-
nhor Deos d'Ifrael : por tanto depois
delle não houve d' entre todos os Reis
de Juda quem lhe foíTe femelhante y bem
aílim como o nãa tinha havido antes
delle.
' 6 Elle fe confervou pegado ao Se-
nhor 5 e não fe apartou dos feus cami-
nhos; antes obfervou os mandamentos,
que o Senhor tinha dado a Moyfés.
7 Por iíTo o Senhor era com efte
Principe , e elle fe conduzio com fabe-
doria em todas as fuas emprezas. Elle
facudio também o jugo do Rei dos Af-
fyrios 5 e mo quiz mais eftar-lhe fu-
jeito.
8 Elle deixou bem aflinados do feu
ferro os Filiftheos , perfeguindo-os até
Gaza 5 e aflblou as fuas terras des da
torre dos guardas até ás Cidades fortes.
No
Liv. IV. Cap. XVIIÍ.
9 No anno quarto do Rei Eze-
quias , que era o fetimo anno d'Oiée
fiiho d'Ela Rei d'Ifrael, veio Salmana-
far Rei dos AíTyrios a Samaria , e li-
tiou-a ^
10 e tomou-a* Porque foi tomada Anno
Samaria a cabo de tres annos , no fexto
anno d'Ezequias ^ que he o anno nove-
no d'Ofée Rei d'lfrael. J. Chr^
11 E o Rei dos AíTyrios tranfpor- 7^^*
tou os Ifraelitas para a AíTyria , e os
fez habitar em Hala, e emHabor, Ci-
dades dos Médos perto do rio Gozan :
12 porque elles não tinhao ouvido
a voz do Senhor feu Deos, m^s tinhao
violado a fua alliança ; enao tinhao nem
ouvido, nem praticado as ordenações,
que Moyíes fervo do Senhor lhes havia
preferi to.
13 No anno decimo quarto do Rei y\nno
Ezequias (a) veio Sennaquerib R.ei do M.
Y ii dos
anr. dc
(4) Feio Sennaquerib , Rcl dos j^Jfyrios , <ò'C, yi^^
Debaixo do mcfmo nome tratão delle Heródoto
no Livro XI. , Cap; CXLÍ. , e Berofo citado por
Jofc no Livro X. das Antiguidades Judaicas , Cap,
L Fereira«
34^ Reis.
dos AíTyrios atacar todas as Cidades
fortes de Juda , e as tomou.
14 Então mandou Ezequias Rei de
Juda Embaixadores ao Rei dos AíTyrios
aLaquis, e lhe diíTe: Eu tenho cahido
em falta : mas retira-te tu de fima das
minhas terras , e eu foíFrcrei tudo o que
tu me impozeres. O Rei pois dos Af-
fyrios ordenou a Ezequias Rei de Ju-
da , que lhe déíTe {b) trezentos talen-
tos de prata j {c) e trinta talentos d'
ouro.
15- E Ezequias lhe deo toda a pra-
ta que fe achou na cafa do Senhor ^ e
nos thefouros do Rei.
ló Nefta occaíião defpregou Eze-
quias das duas meias portas do Tem-
plo do Senhor as chapas d' ouro , de
que elle mefmo as tinha forrado , {d)
e deo-as ao Rei dos AtTyrios.
En-
(^) Trezentos talentos de prata , &c. Que fa-
zem perto de milhão e meio de libras de França.
De Carrieres.
{c) E trinta talemos d' ouro. Que fazem perto
de dous milhões e noventa mil libras. De Car-
HlERRS.
E deo-as ao Rd dos JJlyrios. Sem dúvida
Liv. IV. Cap. XVIIL 341
17 Entretadto o Rei dos Aflyrios
enviou a Tharthan, e a Rablaris, e a
Rábfaces , de Laquis a Jerufalem ao
Rei Ezequias com hum grande numero
de gente de guerra, que tendo chega-
do a Jei-ufalem , fizerao alto ao pé do
aquedufko do tanque fuperior, que eftá
no caminho do campo do lavandeiro;
18 e diíTerao que queriao fallar ao
Rei. Forão ter com elles Ehacim filho
d'HeIcias Mordomo Mor da cafa dò
Rei, Sobua Secretario d'Elkdo, ejoa-
hé ííiho d' Afat Choronifta Mor.
19 E Rábfaces lhes diíTc : Ide di-
zer a Ezequias : Eis-aqui o que diz o
grande Rei , o Pvei dos AlTyrios : Que
confiiaiiça he efta que tu tens ?
20 Acafo tomafte tu a refoluçâo de
te preparares para a batalha ? Mas em
que confias tu para ufiires refiftir-me ?
21 Será no bordão do Rei doEgy-
pto? EíTe naohe mais do que huma ca-
na rachada, que fe alguém íe firma fo-
bre ella, ella fe quebrará, e lhe entra-
ra
para completar a fomma de talentos , a que náo
chegava o cabedal tirado do Templo. Perbira.
34^ Reis.
rá pela mão, e a trarpaflará. Eis-áqui o
que he Faraó Rei do Egypto para to^
dos os que póem nelle a lua confian-
22 Se vós me diíTerdes : Nós po-
mos a noíTa confiança no Senhor nolFo
Deos: não he efte aquelle Deos, cujos
Altares , e Altos deftruio Ezequias , ten-
do intimado efta ordem ajuda, e aje-
rufalem : Vós não adorareis fenão em
Jerufalem, e fó diante defte Altar?
23 Marchai pois agora contra o Rei
dos AíTyrios meu amo : eu vos darei
dous mil cavallos : vede fe podeis achar
fequer tantos homens ^ quantos são ne-
çeílarios para montar nelles.
24 E como podereis vós ter- vos
diante d' hum fó capitão dos últimos
fervos de meu amo ? Será , que tendes
a voíTa efperança no Egypto , por caufa
das fuas carroças, e cavallaria ?
25 Mas podeis vós negar, (e) que
por
( e ) Que por vontade de Deos he que eu vim , ò'C,
A prorpcridade das vidorias de Sennaqucrib fazia
perfuadir a bárbaro, que Deos he que o man-
dava contra Jerufalem , c approvava tpdas aç íuasi
ejçpcdiçócs. Pereira,
Liv. IV. Cap. XVIII. 343
por vontade de Deos he que eu vim a
efte paiz para o deftruir? O Senhor me
diíTe : Entra nefta terra, e devafta tudo.
26 Sobre ifto lhe differão Eliacim
filho d'Helcias5 eSobna, ejoahé: Nós
te fupplicamos (/) que falles a teus fer-
vos em Syriaco , porque entendemos
bem efta língua (g) Q não nos falles
mais em língua Judaica diante do Po-
vo, que nos ouve de fima do muro.
27 Rábfaceslhesrcfpondeo: Acafo
para fallar a voíTo amo , e a vós he que
meu amo me mandou aqui ? E não foi
antes para fallar a eftes homens que ef-
tão fobre o muro, os quaes ferão redu-
zidos a comerem o fcu excremento com-
vofco, e a beberem o fcu mijo ?
28 Rábfaces pois pofto em pé gri-
tou em alta voz, dizendo em língua Ju-
dai-
(/) Qi^^ falles ateus fervos em Syriaco. Ifto hc,
cm Caldaico , como fe confirma dc Daniel II. 4. ,
porque efts era a lingua que le f:Jlava cm Nini-
vc , e no Paço de Sennaquerib. Pereira.
(g) E não nos falles mais em lingim Judaica
diante do Povo , <à-c. Teméráo os OíKciaes d' Rzc-
quias , que ouvindo o Povo as ameaças de Ráb-
faces , fe atcmorizaíTe de forte que perdelíem o
animo. Pereira.
344 Reis.
áaica: Ouvi as palavras do grande Rei,
do Rei dos AíTyrios.
29 Eis-aqui o que diz o Rei : Não
vos feduza Ezequias : porque elle vos
não poderá livrar da minha mão.
30 Não vos deixeis ir atrás defta
coõfiança , que elle vos quer dar , di-
zendo : O Senhor me livrará deite pe-
rigo 5 e efta Cidade nao ferá entregue
nas mãos dos AíTyrios.
31 Vede lá não ouçais a Ezequias.
Porque eis-aqui o que djz o Rei dosAf-
fyrios: Tomai hum confelhoutil , e tra-
tai comigo : vinde render-vos a mim :
e cada hum de vós comerá da fua vi-
nha y e da fua figueira , e vós bebereis
das aguas das voíTas cifternas ,
32 até que eu venha transferir-vos
para huma terra , que he femelhante á
voffii : para huma terra fértil , abundan-
te de pão y e vinho : para huma terra de
vinhas , e d'olivaes : para huma terra
d' azeite 5 e de mel : e vós vivereis, e
não morrereis. Não ouçais a Ezequias ,
que vos engana , dizendo : O Senhor
nos liyrará.
Aca-
Liv. IV. Cap. XVIIL 345'
3 3 Acafo os Deofes das gentes li-
vrarão elles as fuas terras da mão do
Rei dos AíTyrios ?
34 Qaé feito do Deos d'Emath, e
do Deos d'ArfFad ? Que do Deos de
Séffarvaim, d' Am ^ e d' Ava? Livrarão
elles da minha mão a Samaria ?
35" Que Deos fe achará entre todos
os das gentes , que iivraíTe da minha
mão ofeu próprio paiz, para crer que o
Senhor poderá livrar da minha mão a
Cidade de Jerufalem ?
36 Entretanto o Povo efteve em fi-
lencio 5 e não refpondeo huma fá pala-
vra : porque elies tinhão recebido or-
dem do Rei j que lhe não refpondef-
fcm.
37 Depois difto vierão Eliacim fi-
lho d' Helcias Mordomo Mór , Sobna
Secretario d*Eftado 5 e Joahé Choronifta
Mor, ter com Ezequias, {b) rafgados
os veftidos , e lhe referirão as palavras
de Rábfaces.
CA-
(/;) Rafgados os vejlidos. Como era do coftu-
mç , quando fe ouvia alguma coufa dc triftç ,
d'injmiofa a Deos. Pereira.
34^
Reis,
CAPITULO XIX.
Ezequias manda confultar a Ifaias. Éfle
Profeta o conjola, Sennaqutrib marcha
contra a Et ht opta , e blasfema novamen-
te contra o Senhor, Ezequias faz ora-
rão ao Senhor, Ifaias prediz a desfeita
de Sennaquerih, O Anjo do Senhor ex'
termina o eo^ercito dejle Princlpe.
0.bqoi(] - ^
que tendo ouvido o Rei Eze-
quias , rafgou os feus veftidos ,
c coberto de facco entrou na cafa do
Senhor.
;Anno 2 E mandou a Eliacim Mordomo
^^oM. jyj^j. fua cafa, e a Sobna Secretario
;^mes' d' Eftado , e aos mais velhos dos Sacer-
JeJ.C, dotes cobertos de faccos , que foíTem
7^0* ao Profeta Ifaias filho de Amós ,
3 e elles lhes diíTerão : Eis-aqui o
que diz Ezequias: Efte dia he hum dia
de tribulação , d' increpaçao, e de blas-
fémia. Os filhos chegarão ao ponto de
forcejar por fahirem do ventre de fua
mãi: porém efta que eftá com as dores,
nao tem a força que baile para parir.
Liv. IV. Cap. XIX. 347
4 O Senhor teu Deos terá ouvido
as palavras de Ráblaces , que foi en-
viado pelo Rei dos AíTyrios feu amo
para blasfemar o Deos vivo , e para o
infultar com palavras, que o Senhor teu
Deos ouvio : faze pois oração ao Senhor
por efte refto que ainda fe acha.
5* Forão pois os fervos do Rei Eze-
quias ter com Ifaias.
6 E Ifaias lhes refpondeo : Direis
a voflb amo o feguinte: Eis-aqui o que
diz o Senhor : Não temais ellas pala-
vras que ouviftes , nas quaes os fervos
do Rei dos AíTyrios me blasfemarão.
7 (a) Eueftou para lhe enviar hum
efpirito, e elle ouvirá huma nova, de^
pois da qual voltará elle para a fua ter-
ra , e eu o farei perecer á efpada.
8 Voltou pois Rábfaces para o Rei
dos AíTyrios, e achou-o fitiando a Lob^
na : porque tinha fabido que o Rei fe
havia retirado de Laquis,
E
(^a) Eu ejlou para lhe enviar huví efpirito, ^r,,
Hum efpiriro de temor , c d' efpanto ; ou huma
virtude , e huma difpoíiçáo de querer voltar para
irás. A fegunda accepçáo (Jo nome ef piri to ,
348 Reis.
9 E como aSennaquerib visrao no-
vas {b) que Tharaca Rei da Ethiopia
tinha fahido em campanha para vir ata-
callo , refolveo marchar contra cíle Rei ,
{c) e enviou outra vez feus Embaixa-
dores a Ezequias com efta ordem :
10 Direis a Ezequias Rei dejuda:
Vê nâo te deixes feduzir do teu Deos^
no qual tu poes a tua confiança. Nem
tu digas : Jerufalem não ferá entregue
nas mãos do Rei dos Aílyrios:
1 1 porque tu mefmo tens ouvido o
que os Reis dos Affyrios fizerao a to-
das as Nações ^ e como as arruinárao:
Serás tu logo fó o que te poderás fal-
var }
Aca-
aqui mais bem recebida entre os Interpretes. Pe-
reira.
( /; ) Que Tharaca Rei da Ethiopia , é'c. Efta
Ethiopia he mui diverfa do Reino , que hoje tem
efte nome : porque era huma Regtáo na Arábia ,
iguc fe eftendia até o Baixo Eg^ypto. Calmet.
(ff) E enviou outra vez feui Embaixadores aEze-
qurm , <ò*c, A Vulgata nâo exprime formalmente
que 03 enviou owra vez : mas aílim fe colhe do
contexto, e do Hebreo, que diz aqui aíHm : Et
reverfus ejl , m'ffu. O que ao parecer dos dou-
tos Commentadores he hum Hebraifmo , no que
vai Q mefmo' dízcp: Et mfus mifit. Pereira.
Liv. IV. Cap. XIX. 349
12 Acafo os Deofes das gentes li-
vrarão el!es os Povos ^ que meus pais
devaftárão ? Livrarão a Gozan , ou a Ha-
ran , ou a Reíef h , ou aos filhos d'Eden ,
que eftavão em Thelaflar?
13 Qué feito do Rei d'Emathj do
Rei d'Arffad , do Rei da Cidade dc
Séffarvaim, e d' Ana, e d' Ava?
14 Ezequias pois tendo recebido a
carta de Sennaquerib da mão dos Em-
baixadores, leo-a , e foi para o Templo :
eílendeo a carta diante do Senhor,
ij e fez a fua oração diante delle
neftes termos : Senhor Deos d' Ifrael ,
que eftás alTentado fobre os Querubins,
tu es fó o que es o Deos de todos os
Reis do mundo : tu o que fizefte o Ceo ,
e a terra.
16 Inclina a tua orelha , e ouve:
Abre , Senhor , os teus olhos , e vê : Ou-
ve todas as palavras de Sennaquerib ,
que enviou os feus Embaixadores para
blasfemar diante de nós o Deos vivente.
17 He verdade , Senhor , que os
Reis dos AfTyrios deftruírão as Nações;
que aíTolárão todas as fuas terras ;
e
35'o Reis.
18 e lançarão osfeusDeofes nofo*
go, e derão cabo delles; porque elles
não erão Deofes , mas huns fimulacros
depáo, e de pedra feitos pormãos dos
homens.
19 Salva-nos pois agora , Senhor
noíTo Deos , das mãos delle Rei , para
que todos os reinos da terra faibão quei
fó tu es o Senhor Deos.
20 Então mandou dizer Ifaias filho
d'Amós a Ezequias : Eis-aqui o que diz
o Senhor Deos d'Ifrael: Eu ouvi aora-*
ção que tu me fizefte tocante a Senna-
querib Rei dos AíTyrios.
21 Eis-aqui o que o Senhor dilTe
delle : A virgem filha de Sião te def-^
prezou , e te efcarneceo : Jerufalem fa-
cudio a fua cabeça por detrás de ti :
22 Quem cuidas tu que infultafte ?
De quem cuidas que blasfemafte? Con-^
tra quem levantaíie tu a tua voz, e er--
guefte ao alto os teus olhos í Foi con-
tra o fanto d' Ifrael.
23 Tu blasfemafte o Senhor por
meio dos teus fervos , e dilFefte : Eu fu-
bi ao alto dos montes do Libano con>
a
Liv. IV. Cap. XIX. 35-1
a multidão das minhas carroças: eu dei-
tei abaixo os feus altos cedros , e aS
fuas mais fermofas , e notáveis faias:
eu penetrei até á extremidade do feu
bafto arvoredo 5 (d) e cortei o Bofque
do Carmelo :
24 eu bebi as aguas eftrangeiras,
e eu fequei todas as que efcavão fecha^
das, (e) fazendo marchar por ellas as
minhas gentes.
25 Tu logo nãoouvifte dizer o que
eu
(^d) E cortei o Bofque do Carmelo, Hc como fc
dilTclIe: Eu cortei o leu Bofque femelhante ao do
Carmelo. Ou o nome C/irwelo Te póc aqui na fi-
gnificaçáo de lugar fértil , e ameno , n:i qual o
ufurpáo Ifaias, e Jeremias. Pereira.
( e ) Fazendo marchar por ellas as minhas gentes:
Qiier dizer : O meu exercito era táo numcrofo ,
que fecava os rio?. Ou também : Eu paíTei os rios
em feco , por ter mudado o curío ás fuas aguas.
No primeiro fentido efcrcveo depois Juvenal n? Sa-
tyra X. fallando do exercito de Xerxes : Defecijfe
atmes credimus altos epotaque flumina Medo Pran-
dente.
O fegundo fentido he o que Grocio adoptou
de Vatablo. E ifto mefm.o foi o que depois prati-
cou Cyro com os rios Gyndes , e Eufrates , como
kmos em Heródoto I. Cap. CLXXXIX. , e Cap*
CXCI. Pereira,
35^^ Reis.
eu fiz defde o principio : (/) Antes dos
primeiros feculos formei eu efíe proj^
ílo, e agora he que eu o executei. As
fortes Cidades defendidas por hum gran-
de numero de combatentes forão arrui-
nadas como huns outeiros defertos.
26 As mãos dos que eftavão den-
tro y perderão a força : elles ficarão to-
mados de medo y e cobertos de confu-
são: tornárâo-fe como o feno dos cam-
pos , e como a herva verde dos telha-
dos 5 que fe fecou antes que chegaíTe a
amadurecer.
27 Eu previ a tua habitação , e a
tua entrada 5 e a tua fahida , e o cami-
nho por onde tu viefte , e o teu furor
contra mira.
28 Tu me atacafte com huma lou-
ca infolencia , e a tua foberba fubio até
4s rainhas orelhas. Eu te porei pois hum
cir-
(/) Antes dos primeiros feculos formei ea efte
projeão. Nefte , e nos fcguintes vcrfos quer dizct
o Senhor a Sennaquerib , qoe todas as fuà* expe-
dições eftaváo decretadas , epreviftas abaeterno pot
Deos , e que com a ajuda do mefmo Deos he que
elle Sennaquerib tinha alcançado tanta» , cúo^Mm
àes viílorias. Pereira^
Liv. IV. Gap. XIX. 3^
circulo no nariz , e huma mordaça na
boca ; e eu te farei voltar pelo mefmo
caminho por onde viefte.
29 Qumro a ti porém , oEzequias^
eis-aqui o linal que eu te darei : (g)
come nefte anno ò que achares: (h) no
fegundo anno, o que naí:er porli mef-
mo: mas pelo que toca ao terceiro, fe*
meai, e recolhei: plantai vinhaç, eco-
mei do que ellas derem.
30 E tudo o que te ficar da cafa de
Juda, lançará raizcs para baixo ^ e pro-
duzirá o feu fruto para fima.
31 Porque de Jerufalem fahiráo as
relíquias, e do monte de Sião o que fe^
rá falvo : o zelo do Senhor ferá o que
faça ifto.
32 Por tanto eis-aqui o que do Rei
dosAíTyrios diz o Senhor: Elie não en-
trará nefta Cidade : cllc não dcfpedirá
Tom. VL Z fet-
(j^) Come tiefle anno o que achares^ ó^c. O que
achares quercftou do que S.nnaqucrib deíliuio no3
teus campos de Judéa* Pereira.
No fe<^undo armo , o que nafcer por fi mef-
mo. Porque he anno de fc não cultivar a terra,
por fer anno de defcanjo , ou de jubilco, Psreii
35'4 Rei s.
fettas contra osfeus muros: cila naofe-
rá forçada pelos efcudos dos feus , nem
cercada de trincheiras.
3 3 Elie voltará pelo mefmo cami-
nho por onde veio , e elle não entrará
nefta Cidade , diz o Senhor.
34 Eu protegerei eíla Cidade , e
eu a falvarei por amor de mim , e por
amor de meu fervo David.
35* Aquella mefma noite pois (/)
veio o Anjo do Senhor ao campo dos
Af.
(í) Feio o Anjo cio Senhor ao campo dos Jjfy-
rios , <ò'C. Efte Anjo crê-fe que toi o meímo que
em tempo deMoyíes tinha feito remelhante cftra-
go nos primogénitos do Egypto. Exod. xi. 4. Se
cfte Anjo era da claíTc dos bons , ou dos máos,
não acho niílo acordes os Interpretes: como tam-
bém que género de morte folie , o que elle deo
aos Aftyrios. A maior parte dos Padres commcnta-
dores, e todos os Rabbinos são que eftes, c ou-
tros grandes cafti^os , que fe lem nas ELfcrituras,
os executava Deos por algum Anjo das trévas. E
S. Jeronymo fobre o Cap. XXXVII. d* Ifaias , diz
que o Anjo matara os cento e oitenta e finco mil
AíTyrios , fem que nos mortos fe perccbeííe ferida ,
ou lezáo alguma exterior. Que he o que depois
adoptáráo Toílado , c Saliano , dizendo que toda
a ruina fora nas partes interiores mais nobres , co-
mo fnccedem aos que morrem de raios , que mor-
rem fó pela comprefság das partes internas, c po-
Lrv. IV. Cap. XIX. ^ss
AíTyrios , e matou cento e oitenta e fin-
co mil homens: e Sennaquerib tendo-fe
levantado ao amanhecer, vio todos ef-
tes corpos mortos , e fem mais fe deter
foi-fe.
36 E retirou- fe aofeu paiz, e ficou
em Ninive.
37 E quando elle adorava a Nefi-och
feuDeos no feu Templo, Adramelech ,
e Sarafar {k) feus filhos o matarão ás
cftocadas, e fugirão para a Armênia: e
em lugar dellc reinou (/) feu filho Afar-*
hadon.
Z ii CA-
Ia dcfordenaçáo do tecido das fibras mais dclica*
das 5 c dos vafos que cnccrráo o fangue, Veja^-fe
a DilTcfcaçáo dc Calmet Sobre a desfeita do Exer»
cito de Sennaquerib. Pereira.
( Seus filhos o matàrão ás ejiocadas. Dizem
alguns Rabbinos citados por Nicoláo dc Lyra , cflic
iôo foi porque clles fufpeitáráo que o pai os que-
ria facrificar pelo fogo ao mefmo Deos Nefroch.
PEREIR/I.
(/) Seu filho Àfarhadon, Ifaias, xx. i. p cKíh
roa Sétrgon, Psrgiaao
Reis.
CAPITULO XX.
Doença Ezequias, Retrogradação do SoL
Embaixada do Rei de Babylonia, Eze^
quias he reprehendido por ter moftra^
do os feus thefouros a ejies ejlrangeiros*
Morte d"^ Ezequias, Succede-lhe manáf-
fes.
Anno t Eftc tempo adoeceo Ezequias
do M. \S\ de morte : e o Profeta Ifaias
atif dc d'Amós veio ter com elle , e lhe
J. Chr. diíTe : Eis-aqui o que diz o Senhor Deos :
715. Dá ordem ás couías da tua cafa : por-
que tu não vivirás , mas morrerás.
2 Então Ezequias virando o rofto
para a parede ^ fez efta oração ao Se-
nhor :
3 Peço-te, Senhor, lembra-te, te
fupplico, de que modo eu andei diante
de ti em verdade , e com hum coração
perfeito , e que fiz o que era do teu
agrado, {a) Depois derramou Ezequias
grande cópia de lagrimas.
E
( /r ) Depois derramou Ezequias grdtide copia de
lagrim/ís. Todo efte choro cr» , porçjuc perdia Eze-?
Liv. IV. Cap. XX. 35-7
4 E antes que Ifaias tivelTe paflado
ametade do atrio, o Senhor lhe fallou,
€ lhe dííTe:
5' Volta , e dize a Ezequias Con-
ductor do meu Povo: Eis-aqui o que diz
o Senhor Deos de David teu pai : Eu
OUVI a tua oração , e vi as tuas lagri-
mas: e olha que eu te dei faude : daqui
a tres dias irás ao Templo do Senhor:
5 eeu ajuntarei ainda quinze snnos
aos dias da tua vida. Além difto eu te
livrarei a ti ^ e a efta Cidade da mão
do Rei dos AíTyrios : e eu a protegerei
por amor de mim , e por amor de Da-
vid meu fervo.
7 Então diífe Ifaias : (b) Trazei-mc
cá huma maíTa de figos. Elles lha trou-
xe-
quias a efperança de que do fcu fangue nafceria
Chrifto. JJie OfWiis flttus cfi, qutã defperabat Chri-
fiam de fuo femine najciturwn, S. Jehonymo íobre
o Cap. XXXIV. d' Ifaias.
( ) Trazei-me cã huma mâ[fa de fgos. Confor-
me a Arte da Medicina , toda a podridá© applican-
do-fe humas papas de figos paííados , he puxada á
fupcrfice da cútis. Juxta artem medicorum omnis
fanies ficciorihus fieis atque contufis , in cuús fuperfi'
cieinprovocatur. S. jeronymo fobre o Cap. XXXVIIL
à' Ifaiju. Com tudo Grocio , c outros muitos iul-
5?8 Reis.
xerão j (c) e a pozerao fobre a ulcera
do Rei , e efte ficou logo curado.
8 Mas Ezequias tinha antes dito a
Ifaias : Que final terei eu de que o Se-^
nhor me farará , e que dentro de tres
dias irei ao Templo ?
9 Ifaias lhe refpondeo : Eis-aqui o
final que o Senhor te dará para te aíTe-
gurar que elle ha de cumprir a palavra
que diíTe a teu favor : Queres que a fom-
bra fe adiante dez linhas , ou que ella
retroceda dez gráos ?
10 E Ezequias lhe diíTe : Elle he
fácil queafombra fe adiante dez linhas:
não he illo o que eu quero que fe faça ,
fenão que volte atrás dez gráos.
11 Então invocou o Profeta Kaias
O Senhor, (d) ç fez que a fombra vol-
taf-
gão , que os figos longe de poderem fazer bem
ao Rei , lhe fcriáo nocivos. O que admittido , ain-
ja o prodígio crefce mais. Pereira.
( f ) E a pozerao febre a ulcera do Rei. Daqui
inferem os Expofitores , que o mal d' Ezequias era
hum tumor , ou huma inflammação , que huns
querem que foíTe pleuriz , outros efquinencia. Pe-
KEJRA.
(d) E fez que a fombra^ ò'C. Em Ifaias, Cap,
vcrfo 8, fçdiz, que o Sol he quç íCf
Liv. IV. Cap. XX. 35-9
taíTe as linhas , que já tinha paíTado
no
troccdeo. Et reverfus efi Sol decem lineis , per gra-
dus quGS defcenderat. E aflim cntendêrso efte pro-
dígio a maior pane dos Padres ; S. Gregorio Na-
2ianzeno, S. Jeronymo, Santo Afcoftinho, Theo-
doreto , e outros. Mas explicando-fe a Efcritura
nefte Livro Quarto dos Reis pelo nome de Som-
bra ^ a fombra he que fe deve crer retrocedêra. E
que pelo nome de 4^0/ quiz Ifaias fignificar a fua
íombra , fe convence no que pouco antes diz o
Profeta que diíTcra Deos : £cce ego reverti fadam
umbram linear um , per quas defcetiderat in horologio
ylch.íz in Sole , retrorfum decem lineis. Et reverfus
efl Sol decem lineis , per gradus quos defcenderat. Náo
ne novo naEfctiiura tornar o Sol pelos eíFeitos do
Sol. Como quando fe diz, que o Sol ferio fobrc
a cabeça de Jonas, e lhe caufou hum forte calor:
Percufít Sol fuper caput JonaÇy <b' aejiuabat, (Jon.
IV. 8". )
E que náo foi o Sol em íí mefmo que rctro-
cedeo , mas a fua fombra , parece eftar decidido
pelo que a Efcritura refere nos Paralipomenos :
que os Embaixadores de Babylonia vieráo a Jeru-
íalem pedir novas do milagre fuccedido fobre a
terra , ifto he , fobrc a Judéa fcgundo a accepçáo
ordinária delle termo y fobre a terra, Ut interroga-
rent de portento quod acciderat fuper terram. ( n.
Par. XXX 11. ^i.) Porque fe fora o Sol o que tivef-
fe retrocedido, cm todo o mundo fe teria feito fen-
fivcl o milagre : c cniáo era cfcufado vir da Ba»-
bylonia á judéa perguntar por iíTo.
Na verdade , como obfcrva Grocio , para Dcos
5^0 Reis.
{e) no relógio d'Accúz ^ dez gráos
atrás.
Anno 12 (/) Nnqiielle tempo Berodach
^^í. Baladan, filho de Baladan , Rei dos Ba-
^^^^^j^ bylonios 5 enviou huma carta com fcus
J. Chr" preíenres a Ezequias : porque tinha fa-
747. bido que elle h.ívia eftado doente.
11 EEzeauias fe aleo^rou com a fua
vin-
dar hum final a Ezequi.is , rão era necefTario alte-
rar toda a economia co Univerfo: o nne íucceJc-
ria , íe o Sol ^o^^e o que fe moveífe. Lo^o a íom-?
bra he qae fe moveo , e náo o Sol.
Accrefce por uitimo , que deíic modo fe cor-
tão d' huma vez todas as difHciiIdades , que contra
a retrogradação do corpo do Sol íe podem <ormar,
tiradas do íyítema ;;cralmen:e ho)e recebido enire
Filofofos , c Mathematicos. Sobre o que he digna
de fe ler a DiíTertaçáo , que Calmet dedicou a eí-
tc particular allumpto. Pereira.
(e) Relógio à Accaz. Efte relógio fuppóe Sáo
Jeronymo, e S. Cyriilo d Alexandria , que era co-
mo huma efcada , que Accáz pdi d' Ezequias tinha
mandado fazer aonarural , e em tal proporção, que
pela fombra dos deg,ráos Te conhecia queho-as cráo.
E niíto convém a maior parte dos interpretes , em
que cntráo os trcs Dommicanos Pognino , Vata-
blo , e Mílvfnda, P^RRrRA.
(/) Naqu llc 'en p > Berodach Baiidart , eb^. Em
lusar de Berodac por B, íe lè em I latas Merodack
por M. ('r>.i. xxxix. I.) E julgii-fe que eílc he
0 Aíardo^anipad de Ptoiomeo. Pereira»
Liv. IV. Cap. XX. 3Í1
vinda , e lhes moftrou a cala dos aro-
mas, e o ouro, e a prata, e vários bal-
íamos, e os ungentos, e a eíkncia de
feus vafos, e tudo o que podia ter em
feus thcfouros. Não houre nada em to-
do o feu Palacio , nem coufa que foíTe
fua 5 que Ezequias lhes nao fizeíTe ver.
1 4 Depois veio o Profeta Ifaias buf-^
car o Rei Ezequias , e lhe dilTe: Que
te diíTerão eftes homens? E donde vie-
rão elles para te fallar ? tlzequias lhe
refpondeo : Vierao ver-me d' hum paiz
mui remoto, vierão de Babylonia.
E Ifaias contmuou : Que virão
clles em tua cafa ? Refpondeo Ezequias :
Virão tudo quanto ha no meu Palacio:
não ha nada em todos os meus thcfoiH
ros , que eu lhes não moHraíTc.
16 Então diíTe Ifaias a Ezequias;
(g) Ouve a palavra do Senhor.
17 Virá tempo que tudo o cue ha
em
(g ) Ouve a palavra do Senhor. Sc Fzcquias quan-^
do moftrou aos Embaixíidores óc Bjbylonia rodo
O feu precioro icvc alguHia v^iànd^- , ou compla-
cência vá, ná ) era eíta tamanha culpa , que m.ere-
celTe o caftigo dos males , que Dcos lhe predilTe,
Mas quiz Deos por occafúo da imprudência cm
^61 Reis.
em tua cafa , e tudo o que teus pais
ajuntárão até efte dia , ferá tranfporta-
do a Babylonia , fem ficar nada , diz o
Senhor.
18 (h) Teus mefmos filhos , que
fahiráo de ti , e que tu terás gerado,
ferão então tomados (i) para ferem eu-
nucos no Palacio do Rei de Babylo-
nia.
19 Ezequias refpondeoa Ifaias: Não
ha nada que não leja jufto em tudo o
que tu me annuncias da parte do Se-
nhor : haja paz , e verdade em meus
4ias.
20 O refto das acções d'Ezequias ,
o
que tinha cahido , advertillo que foíTc mais acaute-
lado com aquella gente. Duhamel.
(^) Teus mefmos filhos^ à'C. Não íc deve ifto
entender dos filhos propriamente ditos , mas dos
netos , ou terceiros netos d' Ezequias. Porque em
tempo do Rei Joaquim he que Nabucodonofor eK-
pugnou Jerufalem , c levou comfigo para Babylo-
nia o Rei, e Oi Príncipes do fangue real, dosquaes
os mais moços , e os mais eípeciofos , ioráo efco-
Ihidos para íervircm no Paço ao mefrao Nabuco-
donofor. Dan. I. 2,. 4. Calmet.
(í ) Para ferem eunucos no Palacio , eb-f. Ifto
hc, para feryirem no Palacio os empregos quecof»
íumáo fervir os eutiucos, Calhet.
I Liv. IV. Cap. XX. 365
I ofeu grande valor 5 e de que modo man-
dou elle fazer huma pifcina , e hum
aquedufto para dar aguas á Cidade: tu-
do ifto eftá efcrito no Livro dos Annaes
dos Reis de Juda.
I .21 Adormeceo pois Ezequias comAnno
feus pais 5 e em feu lugar reinou feu fi- M.
lho Manáífes. ^J""^:
ant. de
]. Chr,
CAPITULO XXL 6p8.
Impiedade de MandJJes, Ameaças do Se-
nhor contra Jerujalem. Amon Juccede
a MandJJes , e Jofias a Amon.
1 IV/CAnálfes tinha doze annos ,
JLtJL quando começou a reinar, c
elle reinou fincoenta e finco annos emje-
rufalem. Sua mai chamava-fe Haphfiba.
2 E elle obrou o mal diante do Se-
nhor , e adorou os idolos das gentes,
que o Senhor tinha expulfado na entra-
da dos filhos d'Ifracl :
3 e reedificou os Altos, que feu pai
Ezequias tinha deftruido : c levantou
Altares a Baal : e mandou plantar Bof-
(juçSj como tinha feito Acab Rei d'lf-
rael;
3^4 Reis.
rael : e adorou todos os aftros do Cco j
e lhes offereceo facrificios :
4 e conftruio Altares na cafa do Se-
nhor, da qual o Senhor tinha dito: Eu
eftabelecerei o meu Nome em Jerufa-
iem :
5' e dedicou Altares a todos os af-
tros doCeo nos dous átrios do Templo
do Senhor :
6 e fez paíTar feu filho pelo fogo :
e amou adivinhações: c obfervou agou-
ros: e inftituio Pythões : e multiplicou
osarufpices, de forte que elle commct-
tço o mal aos olhos do Senhor , c o ir-
ritou.
7 Poz também o idolo do Bofque,
que tinha plantado no Templo do Ser-
nhor , do qual o Senhor tinha dito a
David , e a Salamão feu filho : Nefte
Templo, e emjerufalem, que eu efco-
Ihi d' entre todas as Tribus dlfrael, he
que eu hei de eftabelecer o meu Nome
para fempre :
8 e eu mais não permittirei que If-
rael ponha o pé fora da terra , que eu
dei a feus pais : cora tanto que elles
guar-
Liv. IV. Cap. XXI. 305-
guardem tudo o que eu lhes mandei , e
toda a Lei y que meu fervo Moyfés lhes
deo.
9 E entretanto elles nao ouvirão :
mas elles fe deixarão feduzir deManáf-
fes para fazerem ainda peior ^ do que
tinhão feito as gentes , que o Senhor
desfez na entrada dos filhos d'Ifrael.
10 Fallou pois o Senhor pelos Pro- jercm^
fetas feus fervos, dizendo: ,Cap.
11 Porque ManálTes Rei de Juda
commetteo eftas abominações ainda mais
deteftaveis , do que tudo quanto os Amor-
rheos tinhão feito antes delle: efezpcc-
car ajuda com as fuas infâmias:
12 eis-aqui o que diz o Senhor Deos
d'lfrael : Eis-ahi eftou eu para lançar
taes pragas fobre Jcrufalem , e fobre
Juda, que todo o que as ouvir, (^) fi-
car-lhc-hão retinindo ambas as orelhas.
13 (Z^) Eu eftcnderei fobre Jerufa-
Icm
(4) Ficar-lhe-bâo retinindo ambas as orelhas.
Como fucccdc ao ouvir algum eftampido repenti-
no , depois do que nos fica huma zoada nos ou-
vidos. Pereira.
ib) Eu eftenderei contra Jerufaletn o cordão de
Samaria, Ifto he era frafc da Eícritura : Eu farei
Reis.
lem o cordão de Samaria , e o pczo da
cala d'Acab : (c) e eu apagarei a Je-
ruíalem, (d) como fe apaga o que eftá
efcrico n'uma taboa: eu paííkrei, e re-
paíTarei muitas vezes o ponteiro por li-
ma 5 para que não fique nada delia.
14 Eu abandonarei os reftos da mi-
nha herança , e os entregarei nas mãos
de feus inimigos: e todos os que a abor-
recem 5 os levarão , e roubarão :
I ^ porque elies commettêrâo o mal
diante de mim , e continuarão em me
irritar des do dia que feus pais fahírão
do Egypto até hoje.
1 6 Outroli derramou ManáíTes ar-
roios
a Jeru falem , e ao Reino de Juda o mefmo que fiz
SL Samaria , e ao Reino d' Ifrael , que foi deítruil-
lo, e acabar com elle dc todo. Pereira.
(c) E eu apagarei ajerufalem, como fe apaga,
^^c. Os Setenta vertem : E eu alimparei Jenifa'
/em, como fe alimpa hum vafo d' alahajiro , que de^
pois fe emborca, para efcorrer, c para fe náo tor-
nar a çujar. Pereira.
(íi ) Como fe apaga o que ejld efcrito n^uma ta-
boa» Os antigos efcreviáo em taboas enceradas : e
efcreviáo com hum ponteiro dc ferro , que d' hu-
ma parte era agudo para cfcrcvcr , c da outra roli-
ço para apagar. Daqui vem a írafe dos Latinos;
Liv. IV. Cap. XXI. 3^7
roios de íangue innocente até encher
delle toda a Cidade de Jerufalem , a
fora os peccados com que elle tinha fei-
to peccar a Juda , fazendo aílim o mal
diante do Senhor.
17 O reflo das acções deManáíTes,
e tudo o que elle fez , (^) e o pecca-
do
In cera prima , fecunda , ima , cu extrema : Ifto hc ,
no principio , na fegunda parte , na ultima. Pe-
KKIKA.
(e) E o peccado que elle commetteo ^ ó^c. Pelo
fegundo Livro dos Paralipomenos , Cap. XXXÍIÍ. ,
verfo II. e fegg. fabemos , que cm caftigo da ido-
latria de ManálTes pcrmittio Deos que osGcneraes
do Rei dos AíTyrios o vieíTcm atacaf cm Jerufa-
lem , e o levaííem cativo a Babylonia prezo com
cadeias. Pofto no cativeiro , e no cárcere reconhc-
ceo ManálTes o feu peccado , chorou-o , e pedio
perdáo a Deos : e o Senhor compadecido da fua
penitencia , o rcftituio em breve a Jerufalem. A ora-
ção que Manáííes fez a Deos no tempo do feu tra-
balho , dizem no mefmo lugar os Paralipomenos,
que ella fe continha nos Livros da Hiftoria dos Reis
d'Ifrael, e nos V^aiicinios do Profeta Hozai. Mas
a que hoje fe lê no fim d' algumas Bíblias com o
titulo Oraç^ão de Mandffes , julgáo os mais attcnta-
dos Críticos , que he diverfa da que os Paralipo-
menos mencionáo. Pelo menos a Igreja nunca a
leve por Canónica, dado que os Gregos a tragáo
no feu Eucologio , c ella náo contenha coufa que
nío fefpirc piedade, e compunção. Pereira,
Reis.
do que el!e commetreo , tudo ifto efta
efcrito no Livro dos Annaes dos Reis
de Juda.
Anno 1 8 Adormeceo ManáíTes em fim com
do M. fçLjg p^jg ^ Q fepultado no jardim de
anr.de ^^^^ 5 no jardim d' Oza : e em feu
3. Chr. lugar reinou feu filho Amon.
^4h 19 Tinha Amon vinte e dous an-
nos 5 quando começou a reinar , e elle
reinou dous annos em Jerufalem. Sua
mãi chamava-le MeíFalemeth , e era fi*
lha d' Haro , de Jetéba.
20 E elle fez o mal diante do Se-
nhor 5 como havia feito Manáfies feu
pai.
21 E andou por todos os caminhos
por onde tinha andado feu pai : e fer-
vio as abominações a que tinhão fervi*
do feus pais, e as adorou.
22 E abandonou o Senhor Deos de
feus pais , e não andou no caminho do
Senhor.
23 E feus fervos lhe armarão huma
traição, e o matarão em íua cafa.
24 Mas o Povo matou todos aquel^
les 5 que tinhão confpirado contra o Rei
Amon^
Liv. IV. Caí>. XXL
Àmon , e conftiruio a Joílas feu filho
para reinar em feu lugar.
25- O refto das acções d' Amon ef-
táefcrito no Livro dosAnnaes dos Reis
de Juda.
26 E o enterrarão np feu jazigo,
no jardim d'Oza : e em feu lugar rei-
nou feu filho Jolias.
CAPITULO XXÍL
Piedade de Joftas. Acha-fe no Teynplo §
LizTO da Lei, Jofi as atemorizado co^ia
fua leitura eonfulta a Profetiza Hulda^
Ofias tinha oito annos , quando Amo
^ começou a reinar, e reinou trin-
ta c hum annos em Jcrulalem. Sua mai ^nf
chamava-fe Idida , e era filha d'Hadaia , J. chr,
de Befecath. 641.
2 E elle fez o que era do agrado
do Senhor , e andou cm todos os cami-
nhos de David feu pai : não declinou
nem para a direita , nem para a efquer-
da.
3 No anno decimo oitavo do Rei
Jofias enviou elle a SaíFan filho d'AsIa,
. Tom. VL Aa fi-
370 Rei?.
Anno filho de MeíTulao , Secretario Jo Tem-
do M. Senhor, dando-lhe eíla ordem:
ant. ie 4 Vai ter com o Pontífice Helcias^
3. Chr. e dize-lhe que faça ajuntar todo o di-
nheiro , que fe tem mettido no Tem-
plo do Senhor , e que os Porteiros do
Templo tem recebido do Povo:
5- e que os meftres da cafa do Se-
nhor o dem aos empreiteiros, para que
eftes o dillribuão pelos que trabalhão
nos reparos do Templo do Senhor:
6 ifto he , pelos carpinteiros , pelos
pedreiros , e pelos que concertão os mu-
ros abertos: e para que também fecom-
^ prem madeiras , e fe tirem pedras dos
caboucos com que fe reAabeleça o Tem-
plo do Senhor.
7 Não os obriguem todavia a dar
conta do dinheiro que recebem ; mas
elles o tenhão em feu poder, e efteja-
fe pela fua boa fé.
8 Então diíTe o Pontifice Helcias a
Saffan Secretario do Templo : (a) Eu
achei
Ça^ Eu achei hum Livro da Lei ^ &c. Todos os
Interpretes aíTcntão , que cfte Livro era o Deutc-
ronomio , ou ao menos os Gapiculos XXVIII^
/
Liv. IV. Cap. XXII. 371
achei hum Livro da Lei na cafa do Se-
nhor : e elle deo efte Livro a Saffan,
que o leo.
9 Depois veio o Secretario SaíFan
ao Rei para lhe dar conta do que elle
lhe tinha mandado, ediíTe-lhe: Os teus
fervos ajuntarão o dinheiro j que fe achou
na cafa do Senhor , e o derão aos In-
tendentes das obras do Templo do Se-
nhor para os diftribuirem pelos oiEciaes.
10 DiíTe mais o Secretario SaíFan
ao Rei : O Pontífice Helcias me deo
hum Livro. E elle Saffan o leo diante
do Rei.
11 E o Rei depois que ouvio as
palavras do Livro da Lei do Senhor ^
rafgou os leus veftidos ,
12 e difle ao Pontificc Helcias , a
Ahicão filho de SaíFan , a Accobór filho
de Micca , a SaíFan Secretario^ e a Afa-
hias oificial do Rei :
13 Ide y confultai o Senhor acerca
Aa ii de
XXIX. e XXX. e XXXI. delle , cfcritos originai
mcnic pela máo dc Moyícs , como parcceo cerio
dos Paralípomcnos. Lihmn Legis Domini per nuh,
num MoyfL ii.Par. ;íxjíiv. 14. Peaeira.
Reis.
de mim, e do Povo, e de todo o Ju-^
da fobre as palavras defte Livro que fe
achou: porque a ira do Senhor fe accen-
deo grandemente contra nós , porque
noíTos pais não ouvirão as palavras def-
te Livro, e não fizerão o qu^ nos fora
preferi to.
14 Então oPontifice Helcias , Ahi-
cão , Accobór , SaíFan , e Afahias forão
ter com a P.^ofetiza Holda , mulher de
Sellum, filho deThecuas, filho d'Araáz
Guarda-Roupa , ( ) a qual habitava em
Jerufalem na fegunda , e fallárão-lhe.
15- E Holda lhes refpondeo : Eis-
aqui o que diz o Senhor Deos d'Ifrael:
I>izei ao homem que vos mandou a
mim :
16 Eis-aqui o que diz o Senhor:
Eis-ahi eftou eu para fazer cahir fobre
efíe lugar , e fobre os feus habitantes
todos os males que o Rei de Juda lea
nefte Livro da Lei :
por-
(^ b) A qual habitava m jerufalem m fegunda\
é^f. Em <]U2l\ fe^^unda^. Dizem huns, que na fc-
guftda cerca da Cidade : outros com S. Jcronymo f
que na fegunda porta do muro. Perbika*
Liv. IV. C AP. XXII. 373
T 7 porque elles me deixarão , e por-
que facnficárão a huns deofes eftrangei-
ros y e me irritárão geralmente em to-
das as íuas obras : e a minha indigna-
ção fe accenderá de tal forte contra ef-
te lugar , que não haja ninguém que a
pofla extinguir.
Io Pelo que toca porém ao Rei dc
Juda 5 que vos enviou a confultar o Se-
nhor, vós lhe direis: Vês-ahi o que diz
o Senhor : Porque tu ouviíle as palavras
defte Livro 5
19 e o teu coração ficou por iíTo
atemorizado, e tu te humilhafte diante
do Senhor , depois de teres ouvido os
males com que elle ameaça efta Cida-
de, e os feus habitantes, aíTcgurando-
Ihes que elles viráó a fer o efpanto, e
a execração de toda a terra : e porque
tu rafgafte os teus veftidos , e choralle
diante de mim , eu te ouvi , diz o Senhor.
20 Por iíTo eu te farei defcançar
com teus pais, e tu feras fepultado em
paz, para que os teus olhos não vejão
os males, que eu tenho de fazer cahir
fobre efte lugar.
CA.
374
R E I s.
CAPITULO XXIII.
^ o fias tendo ajuntado todo o Povo , reno^
va a allianca com o Senhor, Dejlroe as
relíquias da ido hirta , e ordena a cele-
bração da Fafcoa, He morto n*uma ba»
talha, Succede-lhe Jociccdz , e a ^oac-
çdz fuccede Joaquim.
I TT^ Lies pois vierâo contar ao Rei
JCL/ tudo o que efta Profetiza lhes
dilTera. E o Rei tendo feito ajuntar, e
vir a elle todos os Anciãos de Juda , ç
de Jcru falem,
2 foi ao Templo do Senhor acom-
panhado de todos os homens de Juda,
e de todos os que habitavao em Jeru-
falem , dos Sacerdotes , dos Profetas ,
e de todo o Povo , des do mais peque-
no até o maior : e leo diante de todos
elles todas as palavras deíle Livro do
concerto , que fora achado na cafa do
Senhor.
3 E o Rei fe poz em pé {a) fobre
hum degráo y e fez concerto com o Se-
nhor,
{a) Sohrç hum (iegrdo, Ifto he, fobrc o eílr^-?
Liv. IV. Cap. XXIII. 375'
nhor, que elles andariao pelo caminho
do Senhor ^ e obfervariao os feus pre-
ceitos 5 as fuas ordenações , e as luas
ceremonias de todo o leu coração , c
com toda a fua alma , e cumpririão to-
das as palavras do concerto , que efta-
vão efcritas naquelle Livro : e o Povo
efteve pelo pafto.
4 Então mandou o Rei ao Pontífi-
ce Helcias, e aos Sacerdotes da fegun-
da ordem , e aos Porteiros , que lançaf-
fcm fora do Templo do Senhor todos
os vafos 5 que tinhão fido feitos para
Baal 5 e no Bofque , e para toda a mi-
lícia do Ceo : e elle os queimou fora
de Jerufalem no valle de Cedron , e
fez levar as cinzas para Bethel.
5 Abolio também os agoureiros , que
tinhão fido conftituidos pelos Reis d'
Ifrael para facrificarcm nos Altos nas
Cidades de Juda , e em torno de Jeru-
falem ; e os que offereciao incenfo a
Baal, ao Sol 5 áLua, aos doze Signos,
e a todas as eítrellas do Ceo.
Man-
do 5 OU taburno que Salamão tinha mandado pôr
no átrio do Povo. De Carmeres.
R E I
6 Mandou outrofi que fc tiraíTe da
cafa do Senhor o Bofque , e que o le-
vaíTem fora de Jerufalem ao valle de
Cedron , onde tendo-o queimado , e re-
duzido a cinzas , fez lançar eílas fo-
bre os fepulcros do Povo.
7 AíEin mefmo derrubou ascafinhas
dos eíFeminados , que havia na cafa do
Senhor j para as quaes as mulheres te-
ci ão huns como pavilhões do Bofque.
8 E ajuntou o Rei todos os Sacer-
dotes das Cidades de Juda , e profa-
nou todos os Altos , onde os Sacerdo-
tes facriíicavão , defde Gabaa até Ber-
fabé ; e deftruio os Altares das portas
á entrada da cafa de Jofué Principe da
Cidade , que ficava á mão efquerda da
porta da Cidade.
9 Daquelle tempo em diante os Sa-
cerdotes dos Altos não fubião ao Altar
do Senhor na Cidade de Jerufalem;
mas comião fomente do pão afmo no
meio de feus irmãos.
10 Da mefma forte contaminou o
Rei o lugar deToffech, que he no val-
le do filho d'Ennom5 para que ninguera
Liv. IV. Cap. XXIIÍ. 377
facrificaíTe feu filho, ou fua filha a Mo-
loch, fazendo-os paíTar pelo fogo.
1 1 Tirou também os cavallos , que
os Reis de Juda tinhão dado ao So} ,
e cujjs cavalheriças eftavao á entrada
do Templo do Senhor, perto da pcufa-
da do eunuco Nathan-melech , que era
em Farurim ; e queimou as carroças do
Sol.
12 Demais difto deftruio o Rei os
Altares , que eftavao lobre a cúpula da
camará d' Accáz , os quaes os Reis de
Juda tinhão feito; e os Altares que Ma-
náíTes tinha confíruido nos dous átrios
do Templo do Senhor ; e correo defte
mefmo lugar a deitar as cinzas delles
no ribeiro de Cedron.
13 Contaminou também o Rei os
Altos 5 {b) que eftavao á mão direita
do Monte do tropeço , os quaes Sala-
mão Rei d' Ifrael tinha edificado a Af-
taroth Ídolo dos Sidonios , a Camos
tro-
(^) Que ejlavão d mao direita do Monte do tro^
peço. Era o mefmo que o Monte das oliveiras, ou
Ofivete , chamado o Monte do tropeço , ilto he,
o Monte do efcandalo , por cauía das idolatrias 5
gue ncllc infiituíra Salamáo, Fereika.
378 Reis.
tropeço de Moab , e a Meiccom abo^
minação dos filhos d' Ammon.
14 Fez em migalhas as eftatuas ,
deitou abaixo osBolques, e encheo ef-
tes lugares d^oíFadas de mortos.
15 E pelo que toca ao Altar 5 que
eftava em Bethel, e do Alto que tinha
edificado Jeroboão filho de Nabat , que
tinha feito peccar a Ifrael : elle Jofias
deftruio aflim o Altar , como o Alto :
queimou-os, e reduzio-os em cinzas , e
poz também fogo ao Bofque.
16 Tornando Jofias a efte lugar vio
os fepulcros que havia pelo monte , e
mandou tirar osoíFos que eftavão neftes
fepulcros, e os queimou fobre o Altar;
e a efte o profanou fegundo a palavra
do Senhor , pronunciada pelo homem
deDeos, que tinha predito eftascoufas.
Reis 17 Depois diffe Jofias: Qiie monu-
^jY^^ mento he efte que eu vejo ? Os Cida-
Q^^^ dâos daquella Cidade lhe refpondêrao:
XIII. He ofepulcro do homem deDeos , que
12. tinha vindo de Juda , e que tinha pre-
dito o que tu acabas de fazer fobre o
Altar de BetheL
Liv. IV. Cai>. XXIII. 379
1 8 E diíle Jofias : Deixai-o , e nin*
guem toque nos feus olTos. E os íeus
offos ficáião intaftos com os oíTos do
Profeta 5 que tinha vindo de Samaria.
19 Outrofi deftruio Jofias todos os
Templos dos Altos , que havia nas Ci-
dades de Samaria ; e que os Reis d'If-
rael tinhao edificado para irritarem oSe^
nhor ; e elle os reduzio ao mefmo efta-
do , que todos os que havia em Bc-
thel.
20 (^) E matou todos os Sacerdo-
tes dos Altos 5 que nelles curavao dos
Altares; e queimou íobre eftes Altares
oflbs de finados. E feiro ifto, fe reco-
Iheo a Jerufalem.
11 Depois deo Jofias efta ordem ao Anno
Povo, dizendo: Celebrai a Pafcoa em
honra do Senhor voflb Deos, do modo am. de
que J. Chr.
(e^ E matou todos os Sacerdotes dos Altos y ^c.
Dcfte , e do antecedente verío íe colhe primeiro ,
que ainda depois do iranfporte das dez Tribus fi-
cáráo neftcs lugares alguns Ifraeliras , ou vieráo de-
pois para clles com os Sacerdotes. Segundo , <]ue
deltruido o império dosAlTyrios, revindicára ]oíias
cftas Cidades , que antes perccnciáo ao Reino dlfr
racl, DuuAMEu
380 Reis.
que eílá efcrito neíle Livro do concer-
to.
22 Porque des do tempo dos Jui-
zes 5 que julgarão Ifrael , e deíde todo
o tempo dos Reis d' Ifrael , e dos Reis
de Juda ,
23 nunca aPafcoa foi celebrada co-
mo efta que fe fez em honra do Senhor
em Jerufalem , no anno decimo oitavo
do Rei Joíias.
24 Abolio também Jofias os py-
thoes j os adivinhos , e as figuras dos
Ídolos, as torpezas, e as abominações ,
jque tinha havido no paiz de Juda , e
de Jerufalem : para cumprir com as pa-
lavras da Lei j que eftavao efcritas na-
quelle Livro , que o Pontifice Helcias
tinha achado no Templo do Senhor.
2^ Não houve Rei antes de Jofias,
que lhe foíTe femelhante , e que fe con-
verteíTe como elle ao Senhor de todo o
feu coração , de toda a fua alma , e de
toda a fua força , fegundo tudo o que
eftá efcrito na Lei de Moyfés : nem o
tem. havido também depois delle.
2.6 Entretanto a extrema ira , e o
Liv. IV. Cap. XXIII. 3S1
extremo furor do Senhor, que fe tinha
accendido contra Juda por caufa dos
crimes com que ManáíTes o tinha irri-
tado 5 não fe applacou por então.
27 Por ilTo diíTe o Senhor : Eu ar*
rojarei também ajuda de diante da mi-
nha face 5 como arrojei a Ifrael : e eu
abandonarei a Jerufalem j a efta Cidade
que eu efcolhi , e a efta cafa , da qual
eu diíTe : Neila he que o meu Nome cf-
tará prefente.
28 O refto das acções de Jofias, e
tudo o que el!e fez efta efcrito no Li-
vro dos Annaes dos Reis de Juda.
29 (d) Naquelle tempo Faraó Nec- Annõ
cao Rei do Egypto marchou contra o
Rci dos AíTyrios para a banda do Rio
Eufrates: (e) e oRei Joílas lhe foi fa- J.chr.
hir 610.
(J) Naquelle tempo F.ivao Neccao Rei do Egy-
pto ^ ò-c, Delle fe lembra Heródoto no Livro i..
Capítulos XVII. XVIII. eXXV. , dando-lhe dcz-
cfeis annos dc reinado. Pereira.
{e) E o Rei Jofias lhe foi fahir ao encontro^
^•c. S. Jeronymo feguindo o terceiro Livro d' Ef-
dras, que náo he canónico, diz que o Profeta Je-
remias procurara diíTuadir Jofias dcfta jornada , c
cmprcza, mas debalde. Periíiha,
382 Reis.
hir ao encontro; e tendo-lhe dado ba^
talha j (/) foi morto em Magéddo.
30 E feus fervos o levarão morto
de Magéddo a Jerufalem , e o fepultá-
rão no feu jazigo. E o Povo pegou em
Joaccáz filho de Jofias , e elles o ungi-
rão , e o conílituírão Rei em lugar de
feu pai.
3 1 Tinha Joaccáz vinte e tres an-
nos , quando começou a reinar , e rei-
nou tres mezes em Jerufalem. Sua mãi
chamava-fe Amital, e era filha de Jere-
mias 5 de Lobna.
32 E elle fez o mal diante do Se-
nhor , e commetteo os mefmos crimes
que feus pais.
33 E Faraó Neccao o metteo em
cadeias em Rebla , que he no paiz de
Emath , para que elle não reinaíTe em.
Jerufalem , e multou a terra em cem ta-
lentos de prata , e num talento d' ouro.
34 E Faraó Neccao conítituio Rei
a
(/) Ht morto em Magéddo, Morto ctitendc-fe
mortalmenre ferido , dc Torce que levado dalli a
Jerufalem logo morreo, como fe colhe dpsPíUaii*.
pomcnos, 11. xxxv. 25, 24. Psrbira*
Liv. IV. Cap. XXIII. 3S3
aEliacim filho dejofias para reinar em
lugar dejofias feu pai, (^) e lhe mu-
dou o nome em Joaquim. E levando
comfigo a Joaccáz , deo com elle no
Egypto, onde morreo.
35 Joaquim porém deo a Faraó em
prata , e ouro o que tinha impofto por
cabeção fobre a terra para fe pagar a
contribuição que Faraó ordenara : e ti-
rou do Povo prata , e ouro , exigindo
de cada hum á proporção dos feus te-
res, para dar efte dinheiro aFaraóNec-
cao.
36 Tinha Joaquim vinte e finco an- yvnno
nos, quando começou a reinar , e rei- doM.
nou onze annos em Jerufalem. Sua mãi ^^^^'^
chamava-fe Zébida , e era filha de Fa- j"^!^^^
daia de Ruma. co(j,
37 E elle fez o mal diante do Se-
nhor , e commetteo os mefmos crimes
que feus pais.
CA-
E lhe mudou o nome emjoatjum. Em pro-
va , e jfinai do domínio do Rei do Egypto lebre
o Rei de Juda. Aííim mudou também Nabucodo-
nofor o nome de Mathanias no de Sedecias, Adian-;
tc Cap. XXIV., vcrfo 17. Pereira,
384 Reis.
CAPITULO XXIV.
Joaquim he fujtitaão ao Rei de Babylo-'
nia. Morre, Succede-o outro Joaquim.
Nabucodonofor fitia a Jeru falem, Of
t frincipaes habitantes dejla Cidade são
tranfportados a Babylonia, Sedecias hè
pojlo em lugar de Joaquim,
Anno I \i ^ M tempo de Joaquim , (íz)
do M. marchou Nabucodonofor Rei
ant^dc^^ Babylonia, e Joaquim ficou fendo
J. Chr. feu fervo tres annos : e ao depois não
^06, q^i'^ fjiais obedecer-lhe.
2 Então mandou o Senhor humas
quadrilhas de falteadores da Caldéa,
da Syria 5 deMoab, e dos filhos d'Am-
mon j e os fez vir contra Juda para o
extinguirem , fegundo a palavra que o
Senhor tinha dito pelos Profetas feua
fervos. g
( ^ ) Âlarthou Nabucodonofor Rei de Bahyloma ,
é^c, Eftc he o Nabucodonofor filho de Nabopol-
bfar , a quem a celeridade das acções deo entre
os Chronologos o nome de Grande para diíFerença
d' outros do meímo nome , que lhe fuçcedêráo^
Seu pai Nibopollafar he conhecido pelo nome d©
Nabucodonofor o Felbo, Pereira*
Liv. ÍV. Cap. XXIV. 38^
3 E aconteceo ifto errt virtude da
palavra do Senhor contra Juda para d
tirar de diante da íua face porcaufa de
todos os crimes que ManáíTcs tinha com-^
mettido :
4 e por Caufa do fangiie innocente
que elle tinha derramado: pois que el-
le encheo a Jerufalem de fangue de pef-
foas innocentes : por iflb o Senhor não
quiz moftrar-le propicio ao feu Povo.
5 O refto das acções de Joaquim ^
etudo o que elle fez eftá efcrito no Li-
vro dos Annaes dos Reis de Juda. E
Joaquim adormeceo com fcus pais,
6 e em feu lugar reinou (b) feu fi-
lho Joaquim.
7 E o Rei do Ègypto daquelle tem-
po em diante não fahio mais do feu rei-
no : porque o Rei de Babylonia tinha
levado tudo o que era do Rei do Ègy-
pto, (c) des do regato do Egypto até
ô rio Eufrates.
Tom. VI. Bb Ti-
(b) Seu filho Joaquim, Que no Eváíigelho dc
S. Mattheus íe chama Jeconias, Calmet.
(f ) Des do regato do -Egypto , &c, Ifto he,
des do braço do Nilo o mais oriental , que junto
a Pclufig fc mctcç no Eufrates, Saci , e de Carric-
386 R E I 5.
Anno S {d) Tinha Joaquim dezoito an-
do M. nos, quando começou a reinar , e rei-
^^^^^^nou tres mezes em Jerufalem. Sua mal
j^Jji}^^ chamava-fe Nohefta , e era filha d' El-
^c;(j. nathan, de Jerufalem.
9 E elle fez o mal diante do Se-
nhor , e commetteo os mefmos crimes
que feu pai.
10 Naquelle tempo vierao os OfE-
ciaes de Nabucodonofor Rei de Baby-
lonia fitiar Jerufalem , e fizerão huma
circumvallação em torno da Cidade.
11 E veio também Nabucodonofor
Rei de Babylonia com as fuas gentes,
para tomar a Cidade.
12 E Joaquim Rei de Juda fahio,
è veio render- fe ao Rei de Babylonia
eòm fua mãi , feus fervos , feus Prínci-
pes,
res vertem , des àas fronteiras do Egypto, Eu fc-
gui a letra da Vulgata. Pereira.
( <i ) Tinha Joaquim dezoito annos , quando , é'C,
Os Paralipomenos dizem, que ellc tinha então òito
annos, n. Paralip. xxxvi. 9, O que fe he verdadei-
ra liçáo , e não erro dos copiftas , fe pôde conci-
liar, dizendo com Duhamel : que Joaquim tinha
oito annos , quando começou a reinar juntamente
com feu pai c que tinha dezoito , quando come-
çou a reinar fó. Pereira.
Liv. IV. Cap. XXíV.
f)es,.e feus eunucos: e o Rei de Baby-
jortia o recebeo no oitavo anno do feu
Reinado.
13 Mas depois levou de Jerufalem
todos os thefouros da caía do Senhor,
e os thefouros da cafa do Rei : fez pe-
daços todos os vafos d' ouro, que Sala-
mão Rei d'Ifrael tinha feito no Tem-
plo do Senhor 5 conforme o Senhor ti-
nha predito.
14 E transferio toda a Jerufalem,
todos os Principes , e todos os mais va-
lentes do exercito, e dez mil cativos,
e todos os artifices , e lapidarios ; e não
deixou fenão os mais pobres d' entre o
Povo.
15' Transferio outrofi para Babylo-
nia a Joaquim, a mai do Rei, as mu-
lheres do Rei , e os feus eunucos ; e le-
vou cativos de Jerufalem a Babylonia
todos os Juizes da terra :
ló e a todos os homens robuftos em
numero defete mil, e os artifices, e la-
pidarios em numero de mil : todos os ho-
mens de fevera , e de guerra : e o Rei de
Babylonia os levou cativos a Babylonia.
Bb ii E
388 Reis.
17 E conftituio Rei em lugar de
Joaquim aMathanlas feu tio, eliiepo'/;
o nome de Sedecias.
18 Tinha Sedecias vinte c hum an-
nos, quando começou a reinar , e rei-
nou onze annos em Jerufalem. Sua mâi
chamava-fe Amital , e era filha de Je-
remias, de Lobna.
19 E elle fez o mal diante do Se-
nhor , e commetteo os mefmos crimes
que Joaquim.
10 Porque a ira do Senhor fe au*
gmentava cada dia contra Jerufalem , e
contra Juda até chegar a lançallos dc
diante da fua face : (e) e Sedecias fe
rebellou contra o Rei de Babylonia.
CA-
(e) E Sedecias fe rehelloo^ ^e. Dcfta rebclliáa
ò argue a Efcricura nos Paralipomcnos , como d'ul-
tima caufa com que Sedecias incitou a ira de Na*
bucodonQfgr pau vir dcítruic JerufalciD, Pereira*
Livro IV. 389
CAPITULO XXV.
VUimo fitio de Jerufalem por Nabucodo'-
no for. Sede cias he tornado , e levado a
Babylonia, Nabucodonosor poe fogo d Ci-
dade ^ e tranjporta delia os habitantes,
Godolias he conflituido Governador da
paiz. O Povo foge para o Egypto, Joa*
quim he favorecido d* Evilmerodach.
I Nono anno do Reinado de Se- Anno
\<Jf decias , o decimo dia do de- ^® ^*
cimo mez marchou Nabucodonofor Rei In^^dc
de Babylonia com todo o feu exercito ]. Chr.
contra Jerufalem , e lhe poz cerco, e a 59^.
cercarão , e levantarão baterias ao redor
delia.
2 E a Cidade ficou fechada pela cir-
cumvallação que ellc tinha feito até o
undécimo anno do Rei Scdecias ,
3 e até o dia nove do mez : (^)
c vio-fe a Cidade extremamente aper-
ta-
( /í ) £ vxo-fz A Cidade extrmamente apertada da
fome. Então fe crè , que fuccedeo o que Jeremiai
lamenta nosThrenos , ir. ic. Mams mulierein mU
fcricordium coxerunt filios fuos : faCli fuut cibus ca-
rum in çomútione fliae popuíimçi. As mulheres que
Reis.
tada da fome , e não le achava pão pa-
ra o Povo da terra.
4 E aberta que foi brecha , todos
os homens de guerra fugirão de noite
pelo caminho da porta , que eftá entre
os dous muros perto do jardim do Rei,
cm quanto os Caldeos eftavão oçcupa-
dos no cerco á roda dos muros. Fugio
pois Sedecias pela eílrada , que guia
para as campinas do deferto.
5' E o exercito dos Caldeos foi atrás
do Rei 5 e o pilhou na planice de Je-
ricó : e todas as gentes de guerra que
eftavão com eile, forão defmanteladas,
e o defamparárão.
6 Tendo pois apanhado ás mãos o
Rei 5 elles o levarão ao Rei de Baby-
lonia (Z^) a Reblatha. E o Rei deBa-
bylonia (c) lhe pronunciou a fua fen^
tença.
7 Matou os filhos de Sedecias á vif-
ta
de feu são compaííivas ^ cozerão os feus mefmos
filhos , c os comerão. O que fe confirma também
de Baruc, ii. ^. , e d Ezequiel , v. lo. Pereira,
A Rehlaiha. Alguns juígâo que Reblatha
era AparrtcA da Syria. Calmet.
(f ) LÍH proumiçu a fua fmen^a» Declararv»
Liv. IV. Cap. XXV. 39X
ta de feu pai ; (d) é a elle vafou-lhe
os olhos ; e carregado de cadeas o le-
vou para Babylonia.
8 Oanno decimo nono de Nabuco-
donofor Rei de Babylonia , o dia feti-
mo do quinto mez veio a Jerufalem Na-
buzardan fervo do Rei de Babylonia ,
ç General do feu exercito.
9 E queimou a cafa do Senhor, e Atino
o Palacio do Rei , e entregou ás cham-
mas tudo o que havia de cafas em Je-
rufakm. J. Chn
10 E todo o exercito dosCaldeos, 5^8*
que era com eíle General , deitou abai-
xo os muros de Jerufalem.
11 E o mefmo Nabuzardan Gene-
ral do exercito tranfportou para Baby-
lonia todo o refto do Povo , que tinha
ficado na Cidade , e todos os deferto-
res , que fe tinhao paíTado ao Rei de
Babvlonia , e o que ficou da plebe.
E
âo-o Réo de Lcfa Mageftade , como rebelde ao
Império. Pereira.
Çd) E a elle vafou lhe os olhos. Caftigo que de-,
pois ficoa fendo ordinário entre os Reis Godos dc
Heípanha , e os primeiros de Leáo feus fuccelTorc«
noa crimes d' alta traição. Pereira,
392, Reis.
12 E deixou fomente os mais po-
bres da terra para tratarem das vinhas,
ç cultivarem os campos.
13 E os Caldeos fizerao pedaços
as columnas de bronze , que eftavao no
Templo do Senhor , e os feus pedcf-
taes 5 e o Mar de bronze , que eftava
na cafa do Senhor, e tranfportárao pa-
ra Babyloíiia todo o bronze.
14 Levarão outroli as panellas de
bronze, as trolhas , os garfos , as ta*
ças, osgraes, e todos osvafos de bron-
ze que fervião no Templo.
15: E aíEm mefmo levou o General
do exercito os thuribulos , e os cópos:
tudo o que era d' ouro á parte, e tuda
o que era de prata á parte,
16 com as duas columnas, o Mar,
e os pedeftaes, que Salamao tinha fei-
to para o Templo do Senhor : e nefte
pezo de todos os vafos de bronze hum
pezo infinito.
17 Cadacolumna tinha dezoito cor-
vados d* altura ; e o capitel que era de
bronze, tinha tres covados d'alto, fem
çontar os ornatos. O capitel da colu-
Liv. IV. Cap. XXV. 393
mna eftava cercado d'huma rede , e
dentro defta entretecidas varias romans ,
e o todo era de bronze. Os mefcnos or-
natos tinha a fegunda columna.
18 Outrofi levou o General do exer-
cito â Saraias primeiro Sacerdote , e a
Soffonias, {e) que era o fegundo, e a
tres Porteiros;
19 a hum eunuco da Cidade ^ que
commandava a gente de guerra , e a fin-
co dos que eftavão fempre juntos á pef-
foa do Rei 5 os quaes elle achou na Ci-
dade: e aSoíFcr hum dos primeiros Of-
ficiaes do exercito, a cujo cargo eftava
fazer exercicio aos foldados bifonhos do
Povo da terra : e a feíTenta homens dos
principaes do Povo , que fe achavão na
Cidade.
20 Todas eftas peíToas , pegando
nellas o General do exercito Nabuzar*
dan 5 as levou elle ao Rei de Babylo^
nia a Réblatha.
21 E o Rei de Babylonia os man^
dou matar a todos em Réblatha terra
d*
(e) Que era o fcgundo. Para fazer as vezes do
primeiro Sacerdote que era o Pontífice, quando cf-^
3 94 R E I 5.
d^Emath: ejuda foi trasladado fora do
feu paiz.
22 Depois diíto o commando do Po-
vo , que tinha ficado em Juda , o entre-
gou Nabucodonofor Rei de Babylo-
nia a Godolias filho d'Ahicão, filho de
SaíFan.
23 E todos os Officiaes de guerra,
e as gentes que eftavão com elles , ten-
do fabido que o Rei de Babylonia har
via nomeado Governador do paiz a Go-
dolias; a faber: Ifmael filho deNatha-
nias, Johanan filho de Garée, e Saraia
filho de Thanehumeth Netophathites ,
e Jezonlas filho de Maaccathi , vierão
buícallo a Masfa com todas as fuas gen-
tes.
24 E Godolias os aíTegurou com ju^
ramento a elles, e aos que os acompa-
nha vão , dizendo-lhes : Não fe vos de
de fervir os Caldeos : ficai no paiz , e
fervi ao Rei de Babylonia , e vivireis
em paz.
A
te fc achava impedido, coftumava eleger-fe outro,
que foíTe como feu Vigário , ou Subftituto : c a
efte he que chamaváo Segundo Sacerdote. Perei-»
RA*
Liv. IV. Cap. XXV. 39?
2$ A cabo de fete mezes aconte- Anno
ceo que veio a Masfa Ifmahel filho de ^® ^*
'■■ Narhani , filho d'Elifama de fangue real , antes*
e dez homens em fua companhia : e deJ.G;
ferirão a Godolias , que morreo , e tam- 587.
bem aos Judeos , e Caldeos , que efta-
vão com elle em Masfa.
26 E todo o Povo defde o maior
até o mais pequeno com osOfficiaes de
guerra , temendo os Caldeos , fahírão
de Juda , e forão para o Egypto.
27 O anno trinta e fete do cativei- Anno
ro de Joaquim Rei de Juda, o dia vin-^° ^«
te e fete do mez duodécimo , (f) foi ^nt^^dc
quando Evilmerodach Rei de Babylo- j. Çhr^
nia, que ejftava no primeiro anno dofeu 5^^<*
reinado , (g) aliviou a peífoa de Joa-
quim , tirando-o do cárcere.
El.
(/) Foi quando Evilmerodach Rei de Bahylonia ,
fí?c Com eltc mermo nome íizerâo roençáo deftc
Príncipe entre os Profanos Beroío citado por Jofé ,
e Me^áíthenes eirado por Eufebio. Era filho dç
Nabucodonofor o Grande , c foi o cjuc lhe lucce-
deo no throno. Pekeira.
(^) Aliviou a pejfoa de Joaquim , ^ c. Nicoláo
de Lyra , e Toftado , allegando com a tradição dos
Rabbinos, crcm que efta benignidade d' Evilmero-
dach para com Joaquim vinha de que Erilmcro^
39^ Reis.
28 Elie lhe fallou benignamente,
(/;) e poz o feu throno aílima do thro-
no dos Reis , que vivião junto a ellc
em Babylonia.
29 E felio largar osveftidos de que
tinha ufado no cárcere : e elle comia o
pão fempre á fua meza , (i) todos os
dias da fua vida.
30 (fe) Alíígnou-lhe também ali-
men-
áach tinha fido companheiro dc Joaquim no carcc-
le, onde feu pai Nabucodonofor o tinha mettido,
não fei porque crimes. Psrejra.
{h) £poz o feu throno affima, do throno dQsReis^
Poz o throno do Rei Joaquim aflima do thro-
no dos outros Reis , que como vaíTallos afliftiáo no
Paço a ellc Evilmerodach : como depois aífiftio
CriíTo a Cyfo, e como aííiílíráo Póro , e Taxillo
9 Alexandre Magno. Pereira.
.{i) Todos os aias da fua vida. Da fua vida del-
le Joaquim , ou da fua vida delle Evilmerodach?
Os termos da Vulgata , omnibus diebus vitae fuae ,
tanto aqui , como no verfo ^o. parecem referillo
para Joaquim. Mas como a fortuna ^ Joaquim to-
da dependeo da vida d* Evilmerodach , e Evilme-
rodach náo reinou fenão dou? , ou tres annos : dif-
corre Calmet que fe deve ler do Hcbreo, omnibus
diebus vitae ejus , refcrindo-o para Evilmerodach
num , c noutro lugar. Pereira.
ÍK) Ajfí^nou-lhe também alimentos perpétuos, Sc
}oa(jaini comiâ fempre da meza d' Evilmerodach ,
Liv. IV. Cap. XXV. 397
mentos perpétuos , que diariamente lhe
dava o Rei em quanto viveo.
Fim do Livko III. e IV. dos Reis,
que mais lhe era neceíTario para fubfiftir ? Grocio
o cxpòe aflim ; Evilmcrodach dava a Joaquim to-
dos os dias o que lhe era neccíTario para comer,
veftir, e calçar, não fó aelle, mas a todos os fcus
criados , e familia. Porque talvez tíem fempre co-
meria Joaquim com Evilmerodach , e a hum ho-
mem náo baíh fó a meza para íubíiflir. Pereira.